Íntimas auto-conversas

Tania Montandon


Emoções. Sentir, sentir, sentir... Mentir! Mente ir... sem censuras a reprimir. Sofrer, sofrer, dizer. Dizer, escrever, comunicar, entrar em comum união com o ar e ir, a viver, a mentir para si sem ao menos o suficiente disso saber. Comunicar aos cordatos as vozes irracionais que só o estitisticamente 1% da população pode... perceper, vivenciar de fato e sofrer o que sãos dizem ser enefável, fora do discurso, da fala, da linguagem. Decisão de desafiar essa pretensão e fazer possível, seja pela arte - visível ou não - o (in?!)compreensível entrar para o mundo do diálogo - inside the world, words, insight - e do ser sujeito e cidadão, humano, com defeitos e virtudes, porém dentro da civilização. Nada de exclusão, forclusão, fora exclusão! Gritar o que de comum possui com tantos que não conseguem essa expressão por demais escutar que são forcluídos, incapazes, inválidos à sociedade. Como Foucault, enterrar a razão no solo da desrazão. Coragem! Porque quando se atreve a entrar, há sempre o gigantesco risco do buraco negro, abismo vil puxar para um labirinto sombrio e, como Alice no País das Maravilhas, achar a saída é rara exceção à custa de muita confusão. Chega de embromação! Que seja sob ou sobre pressão, a expressão é mister produzir-se.

Um tumulto é detestável, deve-se lançar mão de hábitos de civilidade, mesmo se sentindo confusa. Como quando há uma discordânca de línguas numa reunião e o presidente pede, pra manter a unidade, que todos falem em francês. Pode ser mau francês, talvez o francês nem contenha palavras que exprimam o pensamento dos falantes. Mas o falar francês impõe certa unformidade, ordem. Assim o é na linguagem da convenção social: - Tudo bem? TUdo, e vc?, respondendo no mesmo francês...

Desconhecendo tal 'francês' ou linguagem de civilidade, mesmo quando falado monossilabicamente, de mediato suspeito das insiceridades. Conversar tolices com alegria só se for pra tomar nota e depois escrever algo sarcástico sobre e dar risadas junto aos papéis e canetas, amigos confiáveis sem opinião formada sobre tudo e abertos a novas ideias e traços.

Sentir-se extremamente constrangida, inclusive fsicamente, sentindo uma vontade que surge à revelia de ter uma oportunidade de se auto-afirmar arde e inquieta pateticamente a postura na cadeira. Ora se olha uma pessoa ora outra, tentando se introduzir na conversa, abre a boca, treme e a fecha novamente. Por que não se pergunta minha opinião? Que sabem eles sobre os efeitos das substâncias que Eu tomo e não Eles? Sempre há alguém menos tolo que percebe tudo isso, esse circo aculturado de imbecilidades entre gestos, falas e seus opostos. Alguém que vê, como numa radiografia, os ossos e as costelas do desejo de auto-afirmação, destacando-se em negro por entre a carne essa tênue névoa que a convenção deposita sobre o vivo desejo de 'entrar' na conversa. Mas por que ajudaram?!

Afogo-me num mar de fogo. Sem que mnha angústia seja aplacada por algum bálsamo, mnha vida se extinguirá diante o rochedo da cruel sociedade capitalista e nervos do ombro direito tensos, doloridos, como carregando o mundo sobre ele. Tensos como cordas de violão. Mas um toque e arrebentarão.

Ditame: usar o ardil usual - ser amável!

O que há de mais sério na vida? O amor imperioso e recíproco do homem pela mulher? O que é mas impressionante que isso, trazendo em seu cerne a semelhança da morte? Deve-se penetrar na ilusão da louca paixão com olhos brilhantes, entrar na dança das tolices e enfeitar a roda com ignorância e grinaldas?!

Cada um move a seu modo, conforme seus atributos e limites que lhe são próprios. A busca deve dirigir-se ao florescimento da subjetividade, fortalecimento, criação ou recriação de uma identdade singular do sujeto que possa exercer com digndade o Verbo que comanda sua vida e destino, adornado pelos imprevistos e dores adversas (acompanhadas do consequente aprendizado disso tudo provindo).

Brincar com palavras é uma arte, uma criação, ação de atividade, criatividade. Como toda criação, é difícil. Nem todos conseguem. Faz parte da saúde mental, não sintoma de psicose.

Sempre soube que era diferente das outras pessoas, nascida cega, surda, muda para as coisas comuns e com olho de águia pro extramundo. Perto dos outros como alguém durante um sonho, vivendo de irrealidades. Mas quem sabe definir o que seja de fato realidade? Se numa plantação há estragos provocados por buracos que coelhos fazem, como, sem matar os coelhos, como se pode afastá-los? Gaiolas, gaiolas sempre...

Só, diante a velha antagonista presente: a vida. Sou como um pássaro marinho sem pouso, desgarrado e só. Sossego, exagero de sossega-leão de remédios em dose cavalar, digamos. Seroquel, (ser o que?), quetiapina (Que Tia Pina Cruel!)
*→ser cruel: quando se toma, algo se encobre - como a pálpebra encouraçada de um lagarto - e pesa sobre a intensidade de se tentar olhar, obscurecendo as luzes, formas, cores, turvadas como efeito de photoshop no computador. As veias de mnha testa intumescem de raiva, reparei no embaçado espelho. As sombrancelhas tornaram-se surpreendentemente visíveis e destacadas sobre a tez. Pude ver, sem o desejar, a óbvia fragmentação de minha mente tomando vez. Sentimentos que desonrariam um monge ou uma freira faziam-me como o topo duma montanha encoberto pela neblina e abateram-se sobre o recente entusiasmo, empalidecendo a cor de um ser vivo, ressecando os lábios onde tnha acabado de passar protetor com brilho, dando-me aquele ar esbranquiçado amordaçado pelo inexistir humanamente, afogado em fluidos lacrimais meio internos meio externos. Ainda assim, não cedera, encontraria um esqueleto e, com olhos autisticamente fixos na tormenta, penetrara naquelas trevas, até o fim. Morreria na monstruosidade sim, jamais alcançaria novamente a humanidade. Deveria ser culpada, então, como se não me tivesse esforçado honestamente e dado o melhor de mim, até que nada mais de válido restasse-me a dar? É permissível, enquanto viva, pensar que falarão, lembrarão de mim por uns dois anos depois de minha morte? E o que são dos anos, na verdade, para o infindo passar dos séculos, olhando da cama estereotipada da alheia casa?

Até a pedrinha que chutamos sem atenção perdurará mais que Manoel de Barros. Nossa pequena luz brilha na grandiosa galáxia, assim como o Sol ou mesmo a menor delas. O tempo, ah, o tempo! Refletindo bem, sua quantidade não é o que faz diferença relevante. Apenas cada lampejo de luz fica de fato repercutindo pela eternidade, seja de brilho cegante ou faíscas de mínimos instantes. Qual a relevância de uma vida aventurar-se no cume de seu limite e esgotar toda sua força até desfalescer sem pensar muito se acordaria ou não e percebesse, pelo comichão na ponta do dedo do pé, que ainda vivia? Nada exigia mais, além de simpatia e chocolate. E alguém pra ouvir a história de seus tormentos e labutas naquele instante; ou apenas uma companhia em slêncio empático, cúmplice, solidário. Estava disposta a tirar a armadura, mescladas a raivas e outras emoções prontas a serem elaboradas, organizadas e finalmente nomeadas, além das renomeadas existentes desde que o primeiro humano percebeu-se como tal. No princípio, habituara-se a manter distância como bolha de prudência dessas tenazes energias que alteram a mente e toda a gente as verbalizam ou substantivam ou adjetivam como emoções, do latim 'movere', o que faz ação de mover o comportamento. Fortes, pungentes e perigosas demais pro meu gosto. Não, Guimarães Rosa, não é viver que é muito perigoso( como disse em Grande Sertão Veredas), é sentir que é de perigoso a fatal. Contudo, gradualmente, sente-se atração a aproximar-se delas cada vez mais profundamente, entender prudência nunca foi meu forte mesmo.

 

 

 

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