Nome: Tania
Montandon
Profissão: Psicóloga teórica, Escritora
Quer falar um pouco da terra onde mora?
Ah, Minas
Gerais, "Quem te conhece não esquece jamais".
Moro em Belo Horizonte, perto da praça onde o
Papa João Paulo II pronunciou a inesquecível e
célebre frase para nosso orgulho: "Mas que belo
horizonte!" e, desde então, é conhecida como a
praça do Papa. É uma metrópole com muitas
árvores, morros, localizada perto de riquezas
naturais maravilhosas como várias serras, grutas
e cidades históricas há poucos kilômetros de
distância. Foi uma das precursoras das artes,
principalmente literárias junto com Rio de
Janeiro e São Paulo. Porém, talvez por ser de
uma cultura mais tradicional e conservadora, com
menos recursos e estruturas econômicas, grandes
talentos migraram para o Rio, onde a boemia era
quase unânime entre os artistas da época, que
sempre apreciaram liberdade e oportunidades de
inovação e onde se podia obter mais
oportunidades de divulgação e crescimento no
âmbito cultural. Porém é típico, sempre foi e
acredito que será ser Minas uma terra produtora
de grandes talentos naturalmente, ainda que sem
recursos e foco da mídia. É uma terra de um povo
criativo, hospitaleiro, meio fechado ou
desconfiado à primeira vista. Um povo que se
orgulha de sua terra, cultua a instituição da
família, da educação e da espiritualidade. Uma
terra muito fértil, de clima excelente -
tropical umido - e fazendas magníficas.
Costumamos dizer: "em Minas? Só falta praia!".
Quando começou a escrever?
Sempre tive
facilidade maior nas matérias Português e
Matemática desde o início de minha educação.
Teve a influência de alguém para começar a
escrever?
Uma tia-avó
me disse quando eu tinha sete anos: por que você
não escreve um livro? Jamais esqueci esse
momento. Infelizmente essa tia faleceu ano
passado. Meu avô, que estudou formalmente até o
primário e era marceneiro, excelente (são os
melhores móveis que temos e realmente duram, em
contraposição aos modernos), tinha o defeito de
não resistir aos vendedores de livros e, por
isso, foi bastante criticado pela esposa, filhos
e demais. Todos conhecem a fama dos tais
vendedores de livros da época. Ele comprava
sempre, a esposa brigava porque eram pobres,
tinham oito filhos pra criar, contudo nunca
faltara rica alimentação, educação, presentes
nas ocasiões especiais e era de fato uma família
extremamente rica em alegria, embora simples e
com poucos bens materiais. Então, por conta
própria, ele e os livros, meu avô aprendeu
francês, leu tudo de José de Alencar, Castro
Alves, Machado de Assis, literatura francesa no
original e muito mais. Era uma pessoa
extremamente culta e que valorizava a educação,
as artes, a cultura, a tradição. Infelizmente,
faleceu quando eu ainda tinha quatro anos de
idade. Mas me lembro muito dele! Foi marcante!
Tenho um tio que também gosta muito e incentiva,
marido de uma irmã de minha mãe. Já meu pai
cresceu no sertão seco e miserável nordestino,
interior da Bahia, também de uma família muita
rica em princípios, afeto e valores, embora sem
dinheiro pra consertar a única sandália do pé.
Meu avô paterno não teve oportunidade de avançar
em estudos, sabe ler, escrever e fazer contas
básicas, mas se tornou um grande administrador
das terras que herdara e as fez produzirem mais
que um milagre poderia fazer. É uma região onde
quase não chove e quando chove alaga. O gado
morre de sede ou afogado e a vida de meu avô foi
uma luta incessante de muito amor a terra, à
natureza, aos animais e esforço de cinco da
manhã às seis da tarde trabalhando e
administrando tudo até o fim. Ele também faleceu
ano passado aos 88 anos. Nunca estudou cálculo
nem usou relógio, mas media como ninguém e era
mais pontual que um relógio digital. Meu pai
saiu de lá e veio estudar e trabalhar em Belo
Horizonte, onde tinha uma tia. Acabou fazendo
engenharia elétrica, trabalhou na Cemig,
conheceu minha mãe e obteve uma carreira linda e
exemplar. Os dois. Atualmente, meu irmão
trabalha na Petrobras no Rio, é engenheiro e eu
fiz intercâmbio quando acabei o colegial e lá
sofri um surto psicótico. Voltei, fiz cursinho,
Psicologia, concursos, comecei a trabalhar na
UEMG e tive uma crise, recebendo o diagnóstico
de transtorno esquizoafetivo e estou de licença
ainda. Sempre tive facilidade pra aprender,
tanto em esportes quanto na escola, tenho vários
troféus de tênis, sou faixa preta em Tae Kwon Do
e sempre me destaquei em redação, línguas,
português e matemática. Nunca gostei de festas e
reuniões sociais, preferia e prefiro ler e
escrever.
Lembra-se do seu 1º trabalho literário?
Creio que a
publicação do meu livro de poesias.
Tem livro (s) impresso (s) (editora e ano)?
Um livro de
poesia "Viagem ao léu" pela editora Armazém de
Idéias, 2005, produção independente.
Tem livro(s) electrónico(s) (e-books) ?
Participei
da 8ª Antologia digital de Blocos Online
"Saciedade dos Poetas Vivos vol. VIII" acessível
no site.
Como vão ser editados?:
Fale-nos um pouco de si, como pessoa humana?
Sou tímida, sensível, sincera, apaixonada por
literatura, natureza e animais. Adoro novidades,
aventuras, aprender sempre. Um eterna aprendiz
da arte de ser feliz, apenas a semente
deixando-se amadurecer naturalmente.
Sou a sombra de meu ser, como também sou sua
luz; perco-me ao escurecer nas entrelinhas de
uma cruz. Esta, que nem minha é, acompanha-me
nos breus fecundos do que a muitos assusta.
Projectos literários para o ano 2009 ?
O que vier e der e puder...
Como Escritor (a)?
Só escrevo com emoção. Quando o momento é bom,
sinto mais prazer; quando estou abafada por uma
sensação ruim, pode ser considerado desabafo.
Porém, o que sinto é alívio e prazer de qualquer
jeito. O desabafo desgasta mais e me é saudável
porque é nessas horas que descubro partes
desconhecidas de mim.
Tem prémios literários?
Ganhei um livro de Blocos Online por uma frase
premiada.
Tem Home Page própria (não são consideradas
outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?
Conhece as vantagens que os Autores do CEN têm
em ter sua Home Page ou (e) Livro (s)
electrónicos, nos nossos sites?
Ainda não.
Que conselho daria a uma pessoa que começasse
agora a escrever ?
Paciência,
perseverança, força, humildade.
Para terminar este trabalho, queira fazer o
favor de mandar um pequeno (e original) trabalho
seu (em prosa ou em verso) ?: -
Infância dourada eterna
Eu me chamo Tania, nasci em Uberaba, tive a
infância mais rica que uma criança jamais
poderia sonhar em ter. Vivia numa mansão à qual
acompanhei a construção elaborada e fiscalizada
em cada detalhe por meu pai, que é engenheiro e
perfeccionista. Mudamos pra esse castelo lindo
quando eu tinha 2 anos de idade - e me lembro
tanto! Com um pinheiro de verdade na entrada,
não fesses de plástico de apartamentos, não. Um
enorme que dava até a varandinha com as plantas
da mamãe lá da sala de visitas do segundo andar
que raríssimas vezes usávamos para não estragar
e manter bonita para as visitas. A grade de
entrada era branca, ainda não conhecíamos esses
controles eletrônicos de abrir o portão. Papai
descia do carro para abri-lo. Fez até uma
casinha de cachorro no quintal enorme, onde
aprendi a andar de bicicleta. Primeiro com 2
rodinhas, depois com uma até que me liberaram e
a emoção da liberdade nas duas rodas não cabia
em mim, explodia na alegria vibrante do brilho
dos meus olhos. Meu irmão me ensinava futebol,
mamãe punha uma piscina móvel azul. Ela não
ficava muito à vontade nela, mas eu e meu irmão
mergulhávamos como se fosse o mar ou uma piscina
olímpica, com submarinos, tropas, filhos e
muitos outros amigos de nossas fantasias
construídas juntos. Não existia água aquecida
pra piscina, eu saía roxa literalmente batendo o
queixo e o papai me esquentva no colo e dizia
que eu era como um ratinho e eu ficava quentinha
de novo. Ah, como era festa quando a Lu aparecia
pra nadar na piscina com a gente e brincar de
cabelereiro e o que fosse. Bom a casa do
cachorro virou depósito, pois na época mamãe
tinha medo de cachorro. Num dia especial, eu no
berço, minha prima (hoje minha madrinha de
crisma) disse que ia morar com a gente lá, eu
não sabia falar ainda, só: aquel, aquel - seu
nome é Raquel e morou lá conosco e foi tão bom.
Naquele castelo que o papai fez, com tanto
esmero, havia tanta vida e alegria em mim que
transbordava e eu queria tudo e mais, não queria
perder nada, dormir era perda de tempo. Papai
gravava eu e meu irmão cantando desafinados no
seu gravador daqueles enormes, antigos, que nem
existe mais, depois de eu insistir sem cessar
dias e horas a fio. O meu irmão cantando o pato
aqui pato acolá com o nariz entupido ficou tão
lindo, pena que a fita estragou. Mamãe chegava
do trabalho todo dia com uma recepção e tanto,
pois todo dia trazia algum presente, uma bala
diferente pra chupar no domingo ou um
brinquedinho de plástico ou revista em
quadrinhos, que felicidade! Nunca deixou de
levar algo, um dia disse que era surpresa e
ficamos empolgados, curiosos e excitados, até
que finalmente nos apresentou o chocolate
surpresa e ficamos encantados, começando a
entender que as palavras podiam ter mais de um
significado. Ah, o castelo, mesmo após 15 anos,
ao voltar lá, estava igual, não mudaram nada,
exceto o pinheiro de natal que sumira. Na
verdade, foi então que vi que não era uma
mansão, era uma casa simples de dois andares num
morro enorme, o quintal era pequeno e a piscina,
hehe, acho que daria pra eu me sentar nela
talvez, meio com medo de quebra-la. O castelo
não mudou, eu mudei, de casa, de cidades, de
escolas, de mentalidade. Contudo, continuo me
chamando Tania, sendo a mesma pessoa porém
diferente, com milhares de outras vivências
somadas a essas e uma tristeza por não ter
conseguido tornar-me a princesa que tanto daria
orgulho aos que amo, agora cheia de defeitos e
sabendo menos da vida que naquela época. Ah,
sim, eu já fui sábia, mas cresci e fiquei
ignorante, contaminada por um mundo que naquele
tempo eu desconhecia, felizmente. O pinheiro não
é mais ele, morreu. O castelo é o mesmo, os
heróis-papai, mamãe, primos e outros, são os
mesmos, eu sou a mesma. Nunca deixei de ser a
Tania, aquela que não come comida e adora bala e
sorvete, que quando tem sono encosta e dorme,
deixando quem está perto constrangido, aquela
que por vezes é tão sincera que assusta, é
sensível e ainda sente ciúmes do irmãozinho (tão
pequenininho de quase 2 metros), briga e chora
como se o mundo fosse acabar até perder o
fôlego. Sou aquela Tania que não resiste a um
esporte radical, aventura, adrenalina... Hoje
tenho mais medo de pessoas, talvez por conhecer
uma realidade de injustiças, desigualdades e
tantas coisas que não compreendo nem consegui a
ela me adaptar. Sou também a criança de sonhos,
fantasias mil e, por ter perdido o direito com a
'adultidade', recebo punição por remédios ou o
que faça-me voltar à realidade, fria e cruel.
Então um dia descobri que aqui, bem aqui, na
literatura, não serei repreendida por viver
minha subjetividade que desobedeceu às regras da
sociedade. Ai, palavras, escrita, como poderia
eu estar viva sem essa arte inventiva e, em mim,
tão instintiva?!
sou um
poema incompleto
que tenta até ser discreto
cobre os olhos com fita escura
pra se esconder, sem cura
eis que a vida me puxa a fita
vejo meus amigos na lida
desistir não é a saída boa
ou perderei a valsa que soa...
no ouvido de quem sente
a música do que é ser diferente
e, ciente, envolve-se na arte
entrega da alma a melhor parte
sabe que a gente também sente
e melhor sabe o que é amizade... |
2009
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