

Aqualtune
Aqualtune era uma princesa, filha do rei do Congo. No século XVI, devido às rivalidades entre os vários reinos e tribos, o reino do Congo sempre era palco de lutas. Em uma delas, para defender seu reino, Aqualtune foi à frente de batalha, comandando um exército de dez mil guerreiros. Contudo, foi derrotada, aprisionada com seus soldados, e feita escrava pelos portugueses.
A bordo do porão úmido de um navio negreiro, foi obrigada a ter relações sexuais com um escravo, trazida grávida para o Recife, arrematada em leilão, e levada por seu proprietário para um engenho de açúcar situado na região de Porto Calvo, ao sul do Estado de Pernambuco.
Como era forte e saudável Aqualtune foi destinada à reprodução de futuros escravos, como ocorre com bons cavalos de raça. As escravas não possuíam família, cidadania, ou qualquer direito. Tampouco podiam escolher um companheiro, sendo obrigadas a aceitar estupros e relações não consentidas. Em se tratando das negras, havia também o mito de serem mulheres super sexuadas. Neste sentido, eram, tão-somente, objetos sexuais dos seus proprietários.
Devido aos maus tratos e péssimas condições de vida do período escravocrata luso, muitos negros fugiam das fazendas, se embrenhavam mata adentro, formando focos de resistência em todo o Nordeste brasileiro e avançando, ainda, pelo Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Quando Aqualtune chegou ao Brasil, por volta de 1600, cerca de quarenta escravos fugidos chegaram à Serra da Barriga, uma região de grande extensão territorial (com cerca de duzentos quilômetros quadrados), onde havia palmeirais, solo fértil, vegetação abundante e nove rios. Por essa razão, escolheram o lugar para viver, formaram vários povoados fortificados e deram-lhe o nome de Quilombo de Palmares. A região não ficava muito distante de Porto Calvo, localizando-se em parte das terras de Pernambuco e de Alagoas. Foi o maior quilombo das Américas, um local onde os negros podiam viver em liberdade.
Aqualtune, nos últimos meses de gravidez, preparou a fuga com alguns companheiros, e dirigiu-se ao Quilombo dos Palmares. Lá, organizou um Estado Negro e, naquele território, teve sua ascendência real reconhecida, rituais e tradições respeitados, passando a chefiar uma das povoações que levou seu nome: Mocambo de Aqualtune. Isto porque, nos quilombos, os governos eram dados àquelas pessoas que, em África, tinham tido um passado de chefia.
Por volta de 1670, havia cerca de cinqüenta mil pessoas nos quilombos, dentre ex-escravos, índios e brancos fugidos da lei. A maior aldeia quilombola, por sua vez, possuía duas mil casas. Tais povoados duraram um século, foram autossuficientes em termos de alimentação, e resistiram aos colonizadores lusos e batavos.
Segundo a historiografia, Aqualtune teve várias filhas e filhos, entre os quais, Gana Zona e Ganga Zumba. Em 1655, Sabina, uma de suas filhas, deu à luz Zumbi – o futuro herói da resistência de Palmares. Na ocasião, o quilombo preparava sua defesa contra uma das investidas dos holandeses.
Zumbi cresceu livre e passou a infância ao lado do irmão mais novo – Andalaquituche – brincando, pescando e caçando em terras quilombolas. O líder negro resistiu durante quinze anos, recusou duas propostas de paz, e foi morto pelos portugueses no dia 20 de novembro de 1695, decapitado, e sua cabeça exibida como troféu de guerra.
A princesa Aqualtune morreu em uma das batalhas comandadas pelos paulistas para a destruição dos quilombos. Sua aldeia foi queimada em 1677, e ela, já idosa, faleceu lutando pela libertação dos escravos.
Fontes consultadas:
AQUALTUNE. Disponível em:
http://www.portais.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1327.46 Acesso em: 12 set. 2009.
http://africaeafricanidades.wordpress.com/2007/10/03/aqualtume/ Acesso em: 10 set. 2009.
http://abagond.wordpress.com/2007/09/19/aqualtune/ Acesso em: 9 set. 2009.
http://www.portalafro.com.br/aqualtune.htm Acesso em: 12 set. 2009.
http://www.overmundo.com.br/banco/aqualtune Acesso em: 10 set. 2009.
http://br.groups.yahoo.com/group/historia_africa/message/23 Acesso em: 11 set. 2009.
Mulher negra tem história. Disponível em:
http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/mn_mn_t_histo01.htm Acesso em 11 set. 2009.
Mulheres guerreiras capoeiras. Disponível em:
http://www.afroartbrasilcapoeira.com/curiosidades/texto7.htm Acesso em: 9 set. 2009.
SCHUMAHER, Shuma; BRAZIL, Érico Vital (Org.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.