APRENDIZADO:
UM
ABRAÇO
NA
VIDA
Cruzo
cedo
o
portão
da
faculdade.
Em
seguida,
fito
o
pátio
por
instantes
e
logo
dirijo-me
à
sala
de
aula.
Tardarão
os
colegas
de
turma
a
vir;
o
mesmo
posso
dizer
acerca
do
mestre.
Sento-me
na
segunda
fileira
à
frente
do
grande
quadro
e
começo
a
retirar
da
bolsa
o
material
que,
em
aproximada
hora
e
meia,
deverei
passar
a
utilizar.
Estou
exausto
após
o
trabalho
no
funcionalismo
público
cumprido
em
outra
universidade.
Ponho
então
os
fones
nos
ouvidos,
de
modo
a
poder
deliciar-me
com
o
som
da
mais
autêntica
música
erudita,
a
qual
costuma
embalar
diversos
de
meus
mais
prazerosos
momentos.
Minutos
depois
deito
a
cabeça
sobre
os
braços
cruzados
e,
já
com
o
volume
sonoro
das
canções
mais
brando,
inicio
um
descanso.
Visto
ter
eu
estatura
demasiado
alta
para
dormir
numa
das
cadeiras
do
recinto,
a
incômoda
posição
na
qual
insisto
em
continuar
faz-me
acordar
reiteradamente.
Mais
tarde,
o
ruído
referente
à
chegada
de
colegas
me
desperta
de
modo
efetivo.
Por
conseguinte,
pomo-nos
em
círculo,
com
o
fito
de
podermos
discutir
sobre
alguns
acontecimentos
recentes
na
política
nacional.
Contudo,
por
permanecer
de
fronte
à
lousa
negra,
mantenho
o
olhar
fixo
contra
a
mesma;
denuncia
ela
traços
de
giz,
sobras
de
aulas
pretéritas.
A
noite
chega
aos
poucos,
a
fim
de
assumir
o
turno
laboral
deixado
pela
tarde,
enquanto
esta
concomitantemente
toma
o
rumo
de
casa,
desejando
descansar.
Os
três
colegas
percebem-me
a
distração
e
põem-se
a
encarar
junto
comigo
a
lousa
então
morta.
Afinal,
há
algo
que
a
curiosidade
não
faça?
Lâmpadas
externas
ao
recinto
estão
acesas,
mas
as
internas
permanecem
apagadas.
Em
consequência,
sentimo-nos
esdruxulamente
cativados
pelas
trevas
à
nossa
frente,
como
se
névoa
espessa
emanasse
do
citado
quadro,
vindo
de
encontro
a
nós,
presas
fáceis.
Parecemos
perdidos
nas
entranhas
de
uma
densa
floresta,
indefesos
contra
seus
perigos
e
agruras.
Estamos
absortos
pelo
breu
gélido
do
quadro
negro
vazio.
Em
estado
letárgico,
somos
incapazes
de
estabelecer
qualquer
tipo
de
comunicação
com
qualquer
ser
humano,
inclusive
entre
nós
mesmos.
Nossa
cultura
e
essência
foram
sopradas
pelos
ventos
da
ignorância
vindos
da
janela
aberta.
De
repente,
após
vários
minutos,
forte
clarão
se
firma
no
local,
despertando
todos
os
quatro
de
forma
abrupta
e
livrando-nos
da
prisão
hostil
chamada
exclusão
sócio-cultural.
Isto
porquanto
o
mestre,
ínfimos
segundos
atrás,
acendeu
as
luzes
para
dar
início
à
aula,
parecendo
a
claridade
emanar
de
uma
lanterna
não
raro
portada
por
equipe
de
salvamento
em
mata
fechada
e
vasta.
Por
momentos
vi-me
encarnado
em
indivíduos
postos
à
margem
dos
prazeres
e
necessidades
da
vida
em
sociedade.
Solidão,
fome
e
horror
acompanharam
a
mim
e
meus
colegas
por
um
período
que,
conquanto
curto,
travestia-se
de
eternidade.
Desconhecia
a
perspectiva
de
busca
por
um
ideal
e
sentia-me
fadado
ao
conformismo.
Cidadania
e
dignidade
estavam
fora
de
minha
posse
ou
propriedade.
Pude
vislumbrar
a
essencialidade
que
tem
a
educação
–
bem
do
qual
não
se
pode
dispor
sem
sacrifício
da
sanidade
físico-mental,
e
mesmo
da
vida.
Paulo
Oliveira
Caruso |