Revista "Dia do Nordestino"

Editor: Carlos Leite Ribeiro

Arte Final: Iara Melo

 

 

 

Não sou Nordestino – Carlos Leite Ribeiro
 

Nem tão-pouco brasileiro. Mas recordo a primeira vez que visitei Salvador - BA.
Numa noite de um surpreendente luar, apanhei um avião de Fortaleza - CE para Salvador. O espectáculo foi surpreendente, pois um luar assim, nem o pessoal de bordo do avião via há muitos anos. Estava tudo claro, melhor ainda, tudo prateado. Para mim, um espectáculo maravilhoso e inesquecível.
Quando cheguei a Salvador, notei que o cheiro desta cidade era diferente do de Fortaleza – um cheiro que me era familiar.
No outro dia, logo pela manhã, fui visitar parte da cidade e junto ao mar notei que este cheirava ao mar de Portugal, aliás, comecei a notar que tudo que me rodeava cheirava a Portugal. Fiquei também intrigado pois, tudo que era antigo em Salvador me parecia que já lá tinha passado ou estado. No Mercado Modelo, o subterrâneo não me surpreendeu; não “conheci” o elevador Lacerda, mas, no cimo na Praça dos Governadores, “reconheci” o Palácio destes, assim com o panorama que lá de cima se avista, incluindo o Forte São Marcelo. Nesta praça, por graça, o Haroldo perguntou-me já que eu “conhecia” Salvador antigo, se sabia ir para a Baixa do Sapateiro, e logo apontei para o lado esquerdo: "É por ali !”. Outros pormenores de Salvador, por mais estranho que pareça “reconheci-os”, nomeadamente o Solar do Unhão, cuja capela logo afirmei que tinham alterado a traça antiga.
Mas o que me surpreendeu mais, foi quando visitei a Casa da Torre de Garcia d´Ávila. Eu conhecia tudo, mesmo o que está em ruínas. Desde a Casa que foi restaurada, a capela hexagonal até ao cruzeiro que lhe fica em frente (apanhou com um raio) e cuja base é feita de um tipo de pedra macia, do tipo da nossa pedra de ançã. Desta Casa da Torre, muitos pormenores poderia contar, como onde ficavam os celeiros, onde guardavam as carruagem e os estábulos dos cavalos; na parte inferior do restaurado edifício, onde ficavam os criados e os escravos, etc.
Talvez numa outra reencarnação tivesse sido baiano ou tivesse morado lá.
Talvez não acreditem, como eu não queria acreditar.
Dois anos depois voltei a Salvador e a sensação foi a mesma.
Carlos Leite Ribeiro

Nota: Em outra terra das que conheço no Brasil notei o "cheiro a Portugal" como me pareceu cheirar em Salvador BA.

 

 

 

 
Ah, Como é Bom Ser NORDESTINA!

* Iara Melo


Nordeste do meu Brasil,
Abençoada sou por tua filha ser,
E se mil vezes voltasse a nascer,
Era a ti que iria escolher.
 
Não há lugar,
Nem povo mais puro e belo,
Há sol, há mar, há calor humano.
Há cor morena, negra, branca, mulata,
Somos índios, cafuzos, mestiços.
Há frevo, maracatu, coco, baião, xaxado, forró,
Cirandas em Itamaracá.
Há tambores anunciando a alegria,
Do raiar ao findar do dia,
A felicidade brada macia.
 
Como é bom ser NORDESTINA!
Ver o pôr do sol beirando o Rio Capibaribe,
Comer tapioca nas ladeiras de Olinda,
Canjica, pamonha, pé-de-moleque, milho verde,
Nas festas juninas de Caruaru,
Nossa gigante capital do forró,
Ao som de Luiz Gonzaga, nosso eterno Rei do Baião.

Deixar-se banhar nas madrugadas invernosas dos
Festivais de Inverno de Garanhuns,
Por branda chuva que cai silenciosa,
Umedecendo o espírito de cultura harmoniosa,
Ouvindo Lenine cantar Leão do Norte,
"Eu sou mameluco, sou de Casa Forte,
sou de Pernambuco, eu sou o Leão do Norte".

Em pleno sertão pernambucano,
Tomar banho nas esplendorosas cachoeiras
De Triunfo, onde se fabrica a melhor
Rapadura do Brasil e se convive
Com um povo de um carisma inigualável.
Você vai adorar, se lá for um dia!
 
Ah, como é bom ser NORDESTINA!!!
 
É pena que muitos não receberam tal dádiva,
Vivem em gélidos  frios corações "desérticos"
Nunca viram o luar do sertão.
Pensam que nordestino é triste, é infeliz, é só seca.
Que nossa paisagem restringisse a cactos,
Que nosso chão é rachado e seco.
Que nossas casas são de palha, sem cimento.
 
Existem sim, mas nestas há um coração FELIZ,
Sem ódio, sem guerra, sem ranger de dentes.
Há sempre a FÉ de que um dia Deus enviará a chuva,
E aos céus as mãos se erguerão,
Agradecendo humildes incansáveis preces.
 
Você desconhece a força deste POVO NORDESTINO.

Mas se um dia lá for visitar,
Será recebido de braços abertos,
Sem mágoas, sem rancores da "sorte".
Não zombarão do seu sotaque "esquisito",
Do seu artigo definido utilizado
Antes do nome próprio.
 
Você é que não conhece bem o nordestino.
Ouve jornais, vê miséria e generaliza.
Apiedasse, zomba do nosso povo
Por falar "devagar, arrastado" e dizer "ôxente",
Chama-nos de "paraíbas",
NÃO SABE QUANTO NOS HONRA,
"SERMOS PARAÍBAS!!!".


Pobre de você, quando a cheia chega,
Quando a chuva não vem,
Começa a reclamar e por não ter a nossa garra,
Sofre e chora sem parar,
Maldiz da sorte, do governo, esbraveja,
Esquecendo de que um dia
"Julgou" e maldisse da  "sorte" Nordestina,
Até querendo dele se separar!!!
Porém, o nordestino perdoa e bem recebe, quem
Não teve a honra de ser filho de tão nobre solo.

Não tome o meu desabafo
como brado revoltado,
Só precisava dizer-lhe que nos desconhece,
E o quanto é honroso ser Nordestino.
 
AH, COMO É BOM SER NORDESTINA!

E a esperança não se finda,

de um dia voltar e em ti:

VIVER!

***

Portugal, 08/10/2009

* Iara Melo, nasceu em Garanhuns, Pernambuco,

Nordeste, Brasil.

 

 

SOU NORDESTINA

Fátima Feitosa


Tenho orgulho, sou nordestina...
Me banho nas águas deste mar
Aprendi o verbo amar conjugar
Sou poeta ativa, mulher menina.
 
Debruçada na ponta deste mapa
Que delimita meu querido Brasil
Aqui aportei no mês de abril...
O sotaque dengoso não me escapa.
 
O sol daqui desponta em ouro...
O céu é pintado de um azul anil
A paisagem pintada em quadro
 
Neste chão piso e me enquadro
As matas cantam num assovio
Nordeste, meu lugar, é tesouro.

 

 

Como dizia meu pai:
É "impréssionante!"
TecaMiranda


Dizem que nordestino é burro e preguiçoso,
burrice e preguiça existem em todos os cantos do Brasil.
Nas montanhas das gerais, nas praias do Rio e do Espírito Santo,
no corre-corre de São Paulo, nos rios do Pantanal,
nas serras gaúchas e pelas matas da Amazônia.
Mas gostam de dizer que nordestino é burro e preguiçoso.
Uma região de grandes poetas, excelentes romancistas,
ótimos pensadores, incomparáveis músicos e artistas em geral.
Será que a alegria, a criatividade,
o talento para tantas artes causem inveja?
Será que o jeito nordestino de ser,
de saber bem trabalhar e bem descansar,
possa ser chamado de preguiça?
Preguiça é "a inatividade de uma pessoa".
Burrice "é preconceito travestido de conhecimento".
Preconceito "é causado pela ignorância, isto é,
o não conhecimento do outro que é diferente".
E o povo nordestino é diferente!
É um povo acolhedor, cantador e encantador,
esperto e de inteligência natural.
Um vencedor por nascer na região mais pobre do Brasil
e se destacar!
Oxente, uai!


TecaMiranda, uma mineira com sangue nordestino.

 

 

 

Canção do Agreste
(Andra Valladares)
 

Enxada no ombro,
peso da vida...
Na minha lida,
quente é o chão.
A terra é morta,
o sol castiga.
Meus pés descalços
sofrem na estrada.
Felicidade?!
Não tenho não...

Meus passos tecem
triste destino,
desde menino
levo essa cruz...
A seca é "braba",
maltrata a gente,
seja clemente
meu bom Jesus!

Seja clemente
com essa gente
que no sertão
vive a lutar.
Mande a chuva
fecundar a terra,
pra esse tormento 
amenizar.

Às vezes penso
que na cidade
teria chances
de me "aprumá"...
Mas sem estudo
nenhum preparo,
minha amarga sina
não irá mudar...

Vi muitos cabras
que em vão partiram,
deixando os ninhos
ao “Deus-dará”.
Mulheres, filhos,
sem paz nem pão,
na atroz espera
de dias bons...

Nesse agreste,
sou homem-bicho
que cava a sorte
com as próprias mãos.
Tosco, sedento,
porém honrado,
aos meus não deixo
à danação.

Por isso clamo,
meu Bom Senhor,
pra esse pedido
agraciar:
“Mande a chuva
fecundar a terra...
pro meu trabalho
frutificar.”

 


 


A goiaba de papai - Tania Montandon
 

Estávamos papai e eu ao léu, no quintal de casa, quando aquela perfeita vistosa madura grande goiaba do pé do vizinho invadiu atrevidamente o desejo alimentício frugal de papai. Seus olhos vibravam... produzindo faíscas de brilho, sobrancelhas arqueadas, a saliva transbordando.
A lembrança de sua meninice campesina, as inúmeras vezes em que se esbaldou e empanturrou-se, trepado em frutuosos galhos de variados vizinhos, resgatou-lhe a nostalgia, a sensação da perda de tais joviais prazeres abandonados pelo destino.
Fitou-me, viajante e desejoso. Eu, então garotinha urbana e ingênua, extasiada em ver no rosto de papai tamanha alegria infantil causada pela preciosa frutinha, não pude evitar oferecer-lhe uma compreensiva emulação:
– Realmente, papai! É uma goiaba linda e apetitosa!
Não precisou de mais. Papai, afobado:
 – Está no ponto para se arrancar. Se esperar mais apodrecerá.
Olhou para a churrasqueira encostada ao muro que dá para o vizinho e a goiabeira, olhou para mim, olhou para a amadurecida goiabinha e soltou uma doce proposta:
– Quem sabe se a gente puser a cadeira sobre a churrasqueira e você, filhinha esperta do papai, sobe e apanha a danada. Que tal?
Na inocência de minha primeira década de vida e na confiança de que papai sabia de tudo, coloquei a bamba cadeira sobre a churrasqueira de tijolos e a galguei em busca da bichinha.
Tchibum!!!
A cadeira escorregou da churrasqueira, eu escorreguei da cadeira e caí dentro da impiedosa assadeira de carne. Um de seus ferros pontudos rasgou-me a carne da perna num só golpe surpreendente. Uma só questão saiu-me boca a fora:
– Papai, vai ficar marca? Vai ficar marca?
Quando vi o sangue saindo pela nova fresta, produzi aquele berreiro! Está doendo! Ai! Papai doía-se em nervosismo, desespero e condolência. Correu carregando-me para o hospital, aquele vento era tão doloroso...; e após uma hora de escândalos e suores, o curativo estava feito.
Enfaixou-me quase toda a perna. Foram uns quatorze pontos. Quando mamãe chegou do trabalho, eu estava com uma perna toda enfaixada brincando de bambolê.
O mais interessante foi que, na semana seguinte, fui ao quintal e vi a goiaba toda podre caída da árvore.
– Mesquinha ela, não?

Tania Montandon
Jacobina, interior da BA, uns 300km de Salvador

 

 

"O MATUTO QUE SE ESPANTOU COM AS MULHERES DO RECIFE"
Um cordel de Tchello d'Barros (Maceió  - AL - Brasil)


Pra contar essa estória
Ó musa da poesia
Dai-me a inspiração
Por favor me seja a guia
Assoprando no ouvido
Deste que em ti confia 
 
Vamos contar sobre Rui
Ruivinho era o apelido
Descendente de holandês
De uma negra foi parido
Pixaim loiro e mulato
Sardento e esmilingüido
 
Vivia lá no Agreste
E tentou criar galinha
Mas a sua vocação
Foi criar galo de rinha
Nesse esporte proibido
Muito respeito ele tinha
 
Ruivão das penas vermelhas
Seu galo de estimação
Vencia todas as lutas
Foi um galo campeão
Eram dupla conhecida
Por Ruivinho e Ruivão
 
Mas com o passar do tempo
Começou a decadência
Ruivão foi perdendo rinhas
Perdeu a sua potência
Cantava fora de hora
Acabou a competência
 
Ruivinho então decidiu
O belo galo vender
E alguém lá no Recife
Certamente ia querer
Comprar o galo famoso
Antes de ele morrer
 
Ruivão foi num saco verde
Só a cabeça de fora
Estava um pouco apertado
Furou o saco na espora
No ônibus pra Recife
A duplinha foi embora
 
Até hoje nenhum deles
Tinha ainda viajado
Ruivão queria cantar
Pois estava assustado
Ruivinho lhe dava milho
Pra ele ficar calado
 
Chegou na rodoviária
Foi logo se informar
O endereço de um mercado
Para o galo alguém comprar
E assim pegou o metrô
Que é mais fácil pra chegar
 
O galo se sentiu zonzo
Nesse trem em disparada
No vagão chacoalhando
Já não entendeu mais nada
Cantou alto quanto pode
Assustando a gentarada
 
E os dois foram expulsos
Logo no próximo ponto
E por causa da zoada
Ruivão já estava tonto
Compraram um saco d'água
Sem nem pedir um desconto
 
Deu de beber para o galo
Que logo se acalmou
Ruivinho olhou para os lados
E um mercado avistou
Era a Casa da Cultura
Onde ele adentrou
 
Ao tentar vender o galo
Pelo guarda foi barrado
Pois vender bichos ali
Não era autorizado
E se tentasse insistir
Na cela ia trancado
 
O galo ficou nervoso
E o saco d'água bicou
E bem na cara do guarda
É que a água esguichou
Correram logo dali
Pois o clima esquentou
 
E foram se esconder
Na barraca de um fiteiro
Que sugeriu um lugar
Que parece um formigueiro
No mercado São José
Vende o galo bem ligeiro
 
A confusão começou
No caminho do mercado
Pensou o galo Ruivão
Que seu fim tinha chegado
Pois viu ele numa esquina
Rodando frango assado
 
Com a espora pontuda
Abriu um rombo no saco
E escapuliu dali
Para se salvar de fato
Ruivinho correu atrás
Armando o maior barraco
 
Na rua havia um desfile

O que era eu não sei
Não era Maracatu
E nem Folia de Rei
Tinha uma faixa estranha:
"Dia do Orgulho Gay"
 
Nessa parada feliz
Viu mulheres bem bonitas
Mas olhando bem de perto
Eram meio esquisitas
Umas muito maquiadas
Outras com laços e fitas
 
E o galo fugitivo
Pelo desfile entrou
Entrou também o seu dono
Que então se assustou:
Isso é Frevo ou Caboclinho?
Onde é que eu estou?
 
Subiu num carro alegórico
Com moças usando tanga
Berrou se alguém viu um galo
Respondeu uma baranga:
Aqui não se solta o galo
Aqui se solta a franga
 
E disse uma de bigode:
Não vi galo nem jacu
Nem outro tipo de ave
Muito menos urubu
Mas se seguir futucando
Vai encontrar um peru
 
Uma mulher musculosa
Tinha o sovaco raspado
Disse: aqui não tem galo
Nem perdido nem achado
Você só vai achar pintos
Dos de pescoço pelado
 
E outra do peito grande
Que era siliconada
Foi lhe dizer com respeito
Para não ser despeitada
Que viu um pintão no bloco
Do Galo da Madrugada
 
Outra do peito pequeno
Menor do que um pequi
Estava de top less
Com marquinhas bem ali
E disse: eram duas peças
Tirei uma outra vesti
 
Uma pelada peluda
Usando só a calcinha
Disse: na falta do galo
Conheça uma amiga minha
Veja como é recatada
Mas no fundo é bem galinha
 
Outra espetaculosa
Muito forte e muito alta
Disse que não viu o galo
E com seu jeito peralta
Disse: na falta de bicho
Bicha aqui é o que não falta
 
Uma tal de Drag Queen
Rebolava tão formosa
Viu milho na mão de Rui
E disse espalhafatosa:
Só gostamos de sabugo
E beijou-lhe escandalosa
 
Uma mão desmunhecada
Trouxe uma pena do galo:
Ô moço do saco verde
vim apenas avisá-lo:
Vi o galo na sinaleira
Acredite no que eu falo
 
Ruivinho foi ao farol
Onde o Ruivão cantou
E agarrando o bichinho
O parceiro resgatou
E fugiu dessas mulheres
Com as quais se espantou
 
Não quis mais vender o galo
Correu pra sua cidade
Onde a sorte de Ruivão
Teve o destino mudado
Hoje é um reprodutor
Sendo o mais requisitado
 
E nosso amigo Ruivinho
Nunca se recuperou
Das mulheres do desfile
Que no Recife encontrou
Cidade de cabra-macho
Que pelo jeito mudou
 
Tchello d'Barros

 

 

BALDES VAZIOS
Carmo Vasconcelos
 

Tão agreste é a paisagem do Sertão,
Que molda p’la dureza o sertanejo,
Amaciado sob a lua e o seu beijo
Em noites de luar e sedução!
 
Mandacarus erguem-se magistrais,
Orgulhosos da suprema realeza,
Espelhando desse povo a nobreza
Da força e da coragem sem iguais!
 
É árdua a luta e é madrasta a seca!
Na mão, baldes vazios... Olhar sedento...
Mas não por frouxo, o sertanejo peca!
 
E mesmo quando a lama vira pedra,
No São Francisco a esperança é sustento,
E é mais à míngua d’água que a fé medra!

 

 

 

MEU NORDESTE

Joana Rodrigues Alexandre Figueiredo
 

Meu Nordeste é minha sina
Tem floresta que descortina
Ora verde ora cinza,
Ora mata ora carvão,
Para mim é uma mina
E mora dentro do meu coração.

Meu Nordeste ressequido
A cada dia tão sofrido
Mas repleto de emoção,
A cada dia mais amado
A cada dia mais querido,
Sempre rico de inspiração.

Meu Nordeste sem fronteiras
Cheio de mulheres guerreiras
Que o defendem com precisão
Talvez seja o sofrimento
Ou quem sabe, o tormento,
Que as fazem tomar a certa decisão.

Meu Nordeste é meu jardim
Tão precioso e tão estimado por mim,
Onde as mulheres são flores
Lindas, coloridas e perfumadas,
Todas inspiram carinho e amores
Por serem sensíveis e bem amadas.

 



 
De: S.S. Potêncio  (Delegado CEN em Natal)  
 
“...Nóis fumo ó mercado da Rócas ...”
Nóis fumo ó mercado da Rócas,
P'ra fazê um troca-troca, da nossa literatura...
Ali xiguêmo, à pois intão!?...
E foi com muita emoção, que fizêmo a transação!
Purquê nois tem lá muita cultura..
- Pendurada no cordel, tinha versos em papel...
P'ra fazê um troca-troca, da nossa literatura...
Tinha poema rimado, tinha livro já usado, e disco de pedra e vinil.
 Tinha muita poesia, de gente que nós nem sabia
Que um dia lá existia!...
Era um tár de Luis d’ Camões, e outro de Luis Carlos Guimarães...
E outro Da Cunha Lima, que das leis ele tá por cima!...
Até do Camara Cascudo, lá tinha de um todo,... um tudo!
Foi uma beleza pura!...
- fazê lá um troca-troca, da nossa literatura...
- Nóis fumo ó mercado da Rócas,
Et fizêmo lá um troca-troca, da nossa literatura...
De repente, por entre a gente...
Do mercado da Ribeira, xigou uma turma inteira,
Com mãos e braços repletos, de panfletos com sonetos...
Do tar Machado de Assis,... que escreveu pelos Brasis,
E até lá du Santos Reis, também vimo aparecê...
Um porreta estrangeiro, que por ser um português,
Ali virou nosso freguês!
À  pois... Nóis fumo ó mercado da Rócas,
P'ra fazê um troca-troca, sem gastá nem um tostão...
Purquê isso nois não tinha não, só um trocado na mão!,...
Da venda do outro dia, quando fumo em romaria...
Ao bairro da Cidad'Alta, onde Sebo lá não falta,
P'ra fazê a transação...
- Intremo na Conceição, ali por trás da Igreja.
Assim nóis lá discubrimo, que  tem livro que é um mimo...
Tem até lá obra primo, do prémio da literatura...
Fiquemo até cum inveja!
De tanta literatura, de cordel e do pincel,
Pois lá tem também pintura...
P'ra fazê um troca-troca, c’ua nossa literatura.
Muita coisa nóis ali vimo,  é bestial, é massa!... é sensacional,
Poder viver em Natal...
-  à despois que nóis viêmo de Portugal.
Autor: Silvino Potêncio – NATAL – 1999/2000 
 
Nota: o autor é Emigrante Português de Trás-Os-Montes, nascido em Caravelas de Mirandela e passou a residir em Natal a partir de 07 de Outubro de 1979.



 

 

Passageiros da Agonia

Simone Pinheiro


Acorda no meio da noite,
o homem desesperado
com o choro intermitente,
do pequeno filho amado
que sem ter o que comer,
chora a fome na barriga,
vazia e inchada de dar dó.

No rosto da mulher amada,
naquele sertão perdido,
do resto do mundo esquecido,
nenhuma lágrima corre
pois, passado tanto tempo
de promessas não cumpridas,
secou junto com a esperança
de dignidade e fartura
daquele povo sofrido.

Sai o dia, cai a noite,
no sertão entristecido,
onde o povo reunido
reza por chuva abundante,
pra molhar a terra torrada
e fartar a mesa vazia,
acabando de vez com a fome,
dessa gente tão sofrida,
que pela vida passa,
sentindo na própria pele o que é ser,
um passageiro da agonia!...

 

 

 

A VIDA DE UM GRANDE POETA
Mercêdes Pordeus
Recife/PE
 
Belarmino era daqueles inteligentes meninos
no banco de uma escola poucos dias sentou,
Mas, que aos quatro cantos desse nosso país,
o seu forte brado de poeta nordestino ecoou.
 
Menino brejeiro, sua fama foi muito longe,
Do seu sertão não saiu, antes o assumiu.
Ali ele nasceu e morreu, sua vida construiu,
Exerceu suas profissões poeta e agricultor.
 
Belarmino, era daqueles homens fortes,
Que a morte sorrateira leva-os embora.
Mas depois o chora com pena... Triste,
Por ter privado o mundo de sua sorte.
 
Ele escrevia com o seu grande coração.
E expressou os desejos de uma criança,
Versejou sobre a imortalidade do poeta,
Seus costumes nos trabalhos do sertão.
 
Expôs seu amor pela natureza com beleza.
Com a sensibilidade de poeta, suas proezas.
Terreno íngreme, certamente o percorreu.
Poeta, repentista, cordelista, assim cresceu.
 
Pombal, zona rural de Paulista, engrandeceu.
Toda a Paraíba por ele foi sempre honrada
Fez da Fazenda da Várzea da Serra seu canto
E foi nesse canto que ao paraibano encantou.
 
Mas, sua fama não só aí ficou, foi bem além.
Seu brio de sertanejo se propagou, fora brilhou.
Com seu carisma, Belarmiino o seu vôo alçou.
Foram oitenta e oito anos que na terra brilhou!

Obs: Retrato do persistente nordestino.

 


 

Nordestinos diferentes
Paulo Marcelo Paulek
 

Somos povo de esforço magnífico;
Que faz do dia um grande sacrifício;
Quase sempre sem vertente,
Que não mata a sede de nossa gente;
Lutamos bravamente contra nosso oponente...

Este sol que fascina, e ilumina.
Muitos outros continentes;
Este povo é diferente
Tudo é na grande humildade
Sem perder nossa lealdade;

E viveremos o ano inteiro
O que importa que somos guerreiros
Para um dia ainda ver o nosso terreiro...
Cheio de flores e nos canteiros.
Nosso povo é assim; cheio de encantos...

Esperamos um dia sair desta realidade;
E quem sabe neste dia há terra voltar a brotar
Vendo também a asa branca cantar..
Este canto livre de um dia de verão
Onde o sol será apenas mais um anfitrião...

O rio não é mais igual ao Tejo...
Ele corre mal, não existe nada imortal;
O que podemos fazer é esperar...
Quem sabe um dia tudo isso tudo acabar...
E quando tudo voltar ao normal...

Queremos ver a asa branca voar...
Para um dia quem sabe;
Nós contar, para os filhos de essa terra pensar...
Que tudo que se passou aqui era apenas...
Um canto de ninar...

 



 

Um Nordestino Cortador de Cana

Iraí Verdan
 
Bem cedo se levanta,
o nordestino cortador de cana.
Toma puro o seu café,
feito da garapa
da melhor cana caiana,
por sua bondosa mulher.
 
Veste a velha calça,
desbotada e tão surrada!
De nódoas, amontoadas
que mal se vê a cor!
 
Põe o velho chapéu
de palha desfiada.
Calça as botas de lona,
que ganhou
na colheita passada...

 
Afia a enxada,
o facão e a foice
pra render mais, o “trabaio”.

Atrela o burro à carroça.
põe o café e a comida
no pequeno balaio.
 
Vai pela estrada
vencendo o medo,
ainda na madrugada
sempre de “orelha em pé”.
Quando alguém por ele passa
ainda tão cedo
dá um cordial bom-dia,
cheio de alegria e fé!

 
Ao som da sinfonia
da alegre passarada,
vai tocando o seu burro
nos caminhos, na estrada.
Vai tentando imitar
os cantos indecifráveis
das aves nos gorjeios
em leves murmurar.

 
Antes da luta começar,
chega na primeira eira
do grande canavial.
Olha para o céu agradecido
por Nosso Senhor ajudar.
Por mais aquele dia,
com sua ajuda ganhar.

 
Pernas e costas ainda doem
do facão empunhar.
Corre rápido a enxada
ao redor das touceiras...
Arranca com a foice
o mato, e as folhas secas,
rodopiando-as no ar!

 
Salta veloz do formigueiro,
espanta as abelhas Jataí.
Mata a cobra peçoienta
que fez o seu ninho ali...
No toque da ferramenta,
foge pro meio do mato,
o calango assustado
com medo do homem
e da sua foice marrenta...

 
Esse é o dia-a-dia
do menino triste
de sonho perdido, que outrora
queria morar no Piauí.
É o tr
abalhador destemido
de agora
da extenuante colheita!
Que ora agradecido
pelo bem que a vida lhe dá.
enquanto corta a cana
lamenta a opção desfeita...

 
De volta pra casa
o Nordestino Cortador de cana,
trilha cansado,
o mesmo caminho.
Vence o medo, guarda o sonho
de um pintor se tornar,
Enquanto tece outro
para seu filho querido
melhor destino trilhar.

Magé, RJ,10/08/2008

 


 

A SÚPLICA DO NORDESTINO

Luíza Soares Benício de Moraes


Grande Deus te peço
castiga aos culpados
não a mim, Senhor!
pois tenho lutado...

Amo meu País
tenho trabalhado
e muito suor
tenho derramado!

Dá-me outra morte
não essa infame
"secando de fome!
Eu, que sou tão forte.

Castiga o governo
que a Ti não terme
que fecha os ouvidos
aos nossos gemidos
Que nos desafia
com sua arrogância
que nos atrofia
para a nebdicância!

Justiça! Senhor!
Para o nordestino!
povo tão correto,
que busca um destino
hoje e no passado
sempre construindo...
Onde tem Brasil!
Vão nos consumindo.


 

 

Prof. Francisco Garcia

Muito agradeço pela parte que me toca, como bom nordestino que sou, e tenho um orgulho danado de ser nordestino. Este mundo em que vivemos é o melhor lugar do mundo, aqui tem de sobra, o que exatamente falta em muitos lugares do mundo: CALOR HUMANO e muita gente inteligente. Daqui saem caravanas de intelectuais para o mundo todo. Abraços a todos,

Prof. Garcia.

 

 


 

 

Fundo Musical: Leão do Norte

Composição: Lenine e Paulo César Pinheiro

Intérprete: Lenine

 


Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou o boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo no baque solto de Maracatu
Eu sou um alto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
E vou dando um cheiro em meu bem
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte
Sou Macambira de Joaquim Cardoso
Banda de Pife no meio do Canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão
Eu sou mameluco...

 

 

 

 

 

Livro de Visitas

Arte Final: Iara Melo

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