ESPLANADA DOS PROSADORES - ANO III - FEVEREIRO DE 2010

Criação: Carlos Leite Ribeiro

Participação de Vários Autores

do Portal CEN

Arte Final: Iara Melo

 


 

 A nossa literarura infanto-juvenil...

(*) Nelson Valente


A literatura infanto-juvenil tem ocupado um grande espaço nos meios de comunicação de massa, nos últimos anos, devido a fatores históricos como, por exemplo, o bicentenário de nascimento dos irmãos Grimm, o “julgamento” do Lobo Mau por um tribunal de Veneza e o relançamento do desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões, apresentado pela primeira vez há 60 anos.
Aqui no Brasil, a literatura infanto-juvenil parece ter alcançado finalmente o seu merecido lugar, com a consolidação das livrarias especializadas que, apesar do pequeno número, mostram que já temos um público definido e interessado. As vendas crescem de modo constante e expressivo.
Também o surgimento da crítica especializada, nos principais órgãos de imprensa, tem contribuído muito para desmistificar uma falsa realidade, antes lida como verdadeira – a de que a literatura infanto-juvenil era um gênero de segunda categoria.
É preciso, também, que o programa Salas de Leitura, das entidades oficiais, seja reconhecido como um dos caminhos para o incentivo à literatura infanto-juvenil, para que seja ampliado. Essa foi uma das poucas oportunidades em que o governo federal, através do MEC, se preocupou com o assunto.
A população escolarizada no Brasil é deficiente, existindo o fato já bastante divulgado de 4 milhões de crianças dos sete aos 14 anos estarem fora das escolas. Para que o país consiga vencer os graves problemas sociais que atravessa, inclusive o da educação, será preciso que se comece na infância a corrigir tais distorções. O incremento do hábito de leitura seria um dos primeiros passos. Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior. Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. No exterior existem cadeiras de literatura infantil até em nível de pós-graduação. No Brasil, já tivemos nos Institutos de Educação o curso de literatura infantil, mas foi estranhamente desativado. Isso demonstra o quanto a nossa literatura infanto-juvenil é desprezada pelas autoridades. O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura. Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola. Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja. Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição? Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.”
Se antes tínhamos que nos sujeitar à tradução de obras estrangeiras, hoje o que se vê é outra realidade. Desde que pais, professores e pedagogos passaram a se preocupar com o conteúdo dos livros dirigidos às crianças, surgiu em nosso meio editorial o que se pensou que fosse um fenômeno, um boom, mas na verdade, era o florescimento dos nossos competentes autores e ilustradores.
Foi nesse período que surgiu a chamada “corrente realista” na literatura infanto-juvenil. A preocupação moralista e também pedagógica deu lugar aos temas ligados à nossa perspectiva sociocultural. Passou-se a questionar a realidade brasileira por intermédio de um humor feito com bastante seriedade. A questão da fantasia ou realidade deixou de ser relevante, o que importava (e ainda importa) era a criança vista como um ser humano e não como um pré-adulto, ou um adulto miniaturizado.
E onde entra Monteiro Lobato, depois do surgimento dessa corrente?
Simplesmente ele é imbatível. A literatura infanto-juvenil brasileira tem nele o seu divisor de águas. Apesar de ter sido um escritor conservador para os adultos, Monteiro Lobato era modernista para as crianças. E foi o primeiro a criar a fantasia “abrasileirada”, sem trenós, neves e outros elementos estranhos à nossa realidade, numa época em que o pouco que produzia era uma cópia de modelos estrangeiros.
A função social da literatura infantil ultrapassa a sua própria expectativa, pois é na infância que se forma o hábito ou gosto pela leitura.
A existência hoje de uma literatura infanto-juvenil brasileira amadurecida é um fato que merece a maior consideração.
Vivemos o mundo da eletrônica, com todas as facilidades momentâneas. A nossa literatura infanto-juvenil precisa conviver com os novos tempos. No rádio e na TV, infelizmente, também existe uma quase total ausência de espaço para a literatura infanto-juvenil. É preciso que a mídia eletrônica seja estimulada a participar desse importante processo.

(*) professor universitário, jornalista e escritor

 

 

 

FATOS DE MINHA CIDADE

Cida Micossi
 

Fernand e Beatriz formavam um casal comum, respeitavam-se, construíram seu lar: como todo casal da classe social deles, freqüentavam as reuniões na cidadezinha, bailes, eventos no clube. Ele, filho de médico famoso na cidade pequena. Numa época em que todos se empenhavam para que o filho seguisse a bem sucedida carreira do pai, Fernand preferiu administrar a fazenda, pilotar seu pequeno avião e viver em contato com a natureza. A esposa se formara professora, como fazia a maioria das moças da época. Prendada, dedicada ao lar, ao marido. Exímia pianista. Aos quatro meses de gravidez, uma complicação no estado de saúde a fez cair “de cama”. Em vão foram os esforços do sogro: três semanas depois, ela veio a falecer.

Fernand ficou desesperado, dias recluso, até que amigos o convenceram a retornar ao jogo de pólo na “reta” que ligava a cidade às fazendas. Esse esporte era sua paixão, além de pilotar seu próprio avião. Sobrevoava a cidadezinha, a fazenda do pai, logo aterrissava em suas terras. Cuidava do gado e das plantações de café; capinava inclusive. Dizia-se um homem rústico apesar das condições financeiras e das viagens que fizera à Europa. Tinha amigos do povo, gostava das pessoas simples, alguns de seus colonos eram seus amigos.

A vida seguiu assim, entre a saudade e o trabalho, até que um dia ele, conversando com sua cunhada Astir, irmã mais jovem de sua falecida esposa, sentiu algo mais. Olhou-a detalhadamente: era esguia, pele clara, cabelos castanhos ondulados caídos na altura dos ombros. Seus olhos eram verdes, de uma transparência incrível: assim ele a viu, assim ele despertou. Mal se deram conta e despontava o Amor entre os dois: um amor vibrante, cheio de alegrias, compartilhando sentimentos e afinidades, ligados pelo amor à mulher dele que morrera.

O romance seguiu até que se casaram na capela da fazenda: o padre da Comarca se dirigiu até lá, o juiz de paz também. Cerimônia para poucos convidados, como pedia a situação de luto recente em que se encontrava a família.

O casamento era perfeito: Astir se dedicava à administração do lar, tecia lindos bordados em alvíssimo cânhamo, valsava quando aconteciam bailes no clube social da cidade, ensinava os filhos dos colonos a ler e a escrever. A todos encantava sua silhueta esguia e altiva. Ele, o marido, “cultivava-a”, guardava-a como em uma redoma de vidro, tão delicada era.
Certa tarde de domingo, como Fernand tivesse que se dirigir à cidade para participar de um jogo de pólo, deixaram a fazenda e para lá se dirigiram. Estava particularmente linda nesse dia, com uma blusa de cor lilás e calça de montaria em cor preta, como exigia o evento. Nos delicados pés, botas em pelica preta. Astir, como sempre, ficaria no palanque aguardando o amado que na maioria das vezes vencia a disputa. Delicados brincos de ametista, a pedra que apesar de seu valor simboliza a modéstia, guarneciam-lhe muito bem a face.
Vê o marido retornar vitorioso, festejam ali entre amigos e num certo momento ela lhe pede:
− Deixe-me dar uma volta em seu cavalo.
Certamente que ele lhe negaria, pois esse não era o cavalo ao qual ela estava acostumada. Ela tanto insistiu, que Fernand, com um carinho todo especial, permitiu. Saiu pela “reta” cavalgando, porém, num dado momento o cavalo se empinou assustado, fazendo com que a delicada dama se quedasse ao chão.
Fez-se silêncio! Não era possível!
Fernand, no palanque, a tudo assistia, paralisado de terror. Correu até ela, observou um fino fio de sangue que lhe descia pela face empalidecida, chegando a tempo de ouvi-la balbuciar com lágrimas nos olhos já embaçados:
− Fer... Fer... Fer...
 

 



A escrita e a interpretação de textos
 na elaboração do trabalho de conclusão de curso
Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)


            É preciso, em primeiro lugar, considerar que não existe uma língua única, por exemplo: uma língua portuguesa.  Existem vários dialetos e um dialeto privilegiado que é a Norma Culta que, no nosso caso, é o objeto central para escrevermos nossos artigos, monografias, dissertações.
            Por outro lado, há uma diferença notável entre fala, que é basicamente improvisada quando não se está numa situação estritamente formal, como na defesa de uma monografia e a escrita que é o princípio rígido da organização formal. E, inclusive, é importante lembrar que a fala varia de nível social, de região, de profissão, etc.
            A escrita, recordemos, veio para ficar e é, até hoje, arma poderosíssima nas mãos de quem a domina. A escrita sempre foi muito vigiada e, inclusive, muitos foram parar na fogueira da Inquisição por escreverem o que não era permitido.
            Com a invenção da imprensa e, depois, a explosão da mídia, a escrita se popularizou, uma vez que a sua democratização é “uma exigência fundamental da sobrevivência dos valores – e da produção de riquezas – da civilização” como afirma Carlos Alberto Faraco.
            Mesmo assim, continuamos “vigiados” e, se voltássemos no tempo, o primeiro homem que esculpiu a primeira letra na pedra, hoje teria de ir para a escola para aprender gramática, como se grafa corretamente as palavras.
            Além da correção ortográfica e gramatical, três aspectos importantes diferenciam a escrita da fala:

a unidade temática
a organização dos parágrafos
a estrutura da sentença

Para escrever bem, é fundamental que tenhamos o hábito de ler muito, porque toda
leitura traz conhecimento e, assim, será mais fácil produzir um texto, pois teremos dados que, intencionalmente ou não, farão aparecer o fenômeno da intertextualidade e, por outro lado, temos que nos lembrar de que a linguagem tem funções: referencial, poética, metalingüística, etc.
            Para escrever bem, torna-se necessário ser um bom leitor e, ainda, ter certo conhecimento da Norma Culta, porque ela constitui segundo Gnerre “O arame farpado que impede a ascensão social”.
            Precisamos, então, aprender a ler muito e não só ler, mas ler e apreender a significação profunda dos textos, aprimorando-nos na capacidade de reconstruí-los e reinventá-los.
Nesse sentido é necessário lembrar que existe uma gama de significações implícitas, muito mais sutis, diretamente ligadas à intencionalidade do emissor. O texto nos remete ao engajamento do autor/leitor com relação aos enunciados que produz, à maneira, enfim, como representa a si mesmo ao outro e ao mundo por meio da linguagem.
Deste modo, a atividade de interpretação do texto deve sempre se fundar na suposição de que o emissor tem determinadas intenções e de que uma decodificação adequada exige justamente a captação dessas intenções por parte de quem lê: é preciso compreender-se o QUERER DIZER com um QUERER FAZER.
Embora os textos de conclusão de curso privilegiem a objetividade, por maior que ela seja, haverá uma certa subjetividade, porque cada texto abre a perspectiva de uma multiplicidade de interpretações ou leituras. Assim, precisamos estar preparados para ver as marcas lingüísticas (datação, simbologia, tempos e modos verbais, entonação, redundâncias intencionais, etc) que são pistas para uma decodificação adequada.
Tanto o professor quanto o aluno têm que estarem preparados para dar conta do universo da escrita seja ela literária ou científica. A primeira pressupõe um grau de subjetividade maior e, nesse sentido, é bom lembrar que o termo subjetividade só foi incorporado pelas academias no século XVIII, uma vez que a escrita científica, como o projeto, o artigo científico, a monografia, a dissertação e a tese de doutorado exigem uma objetividade maior.
Talvez aqui seria bom colocar que, para fundamentação de um bom trabalho de conclusão de curso, antes de iniciá-lo, temos que escolher um tema, delimitando-o e, depois, começar a seleção dos livros que servirão como suporte para a nossa pesquisa e, ao iniciar as leituras, precisamos nos lembrar das famosas fichas de livros para que, depois, não precisemos voltar aos livros, procurando dados para corroborar nossas afirmações.
             Nesse aspecto, finalmente, é fundamental lembrar que, quanto mais lemos um texto, mais significados absorvemos e, aos poucos, vamos reconstruindo o texto e, por outro lado, vamos reconstruindo-o até que possamos recriá-lo e, por assim dizer, tornarmos o seu co-autor.E, por outro lado, aumentaremos o domínio da língua-padrão que melhora a nossa integração com a história da arte, da cultura e da civilização moderna.







Djor

J.R.Cônsoli
 

Cautelosamente entrei!... Um vento frio passou pelas janelas entreabertas balançando as cortinas suaves e transparentes. A noite lá fora já andava alta, do parapeito da janela podia-se vê-la clara e pontilhada de estrelas. O quarto era um ambiente aconchegante, acolhedor... Sobre a mesinha, encostada na parede, a luz da lua brincava com o peixinho dourado do aquário. A cama, cuidadosamente arrumada, os lençóis finos, o travesseiro grande e acolchoado. Um par de chinelos simetricamente emparelhados jazia em cima de um pequeno tapete com motivos orientais. Uma poltrona de veludo azul formosamente trabalhada fazia o canto direito junto à janela, ladeada por um abajur de pé, de madeira entalhada, com incrustações metálicas douradas e cúpula de linho creme. Do outro lado, um grande quadro milimetricamente ajustado na parede, compunha o ambiente com o tom vivo do campo de flores silvestres que representava. Uma atmosfera serena cercava o local, reinava absoluta paz entre aquelas quatro paredes. Poderia se dizer com absoluta precisão que algo de celestial pairava no ar, embalsamado com fragrâncias de rosas. Por vários anos Djor ocupara aquele aposento... Sua extrema retidão, sua grande sabedoria e autoconhecimento fizeram dele um ser muito especial. Naquela noite, durante um jantar em sua homenagem, após seu discurso de agradecimento, Djor nos deixou!... Assim, repentinamente!... Fora chamado para outros afazeres em esferas mais sutis... E eu, um de seus vários discípulos, ali me encontrava a procura dos seus documentos para os trâmites legais.


 

 


Sombrinhas

Juçara Medeiros Lasmar 
 

Sombrinhas, assim se chamavam pois eram usadas para que as mocinhas e senhoras, cujas peles eram alvas primando sempre pela brancura, se cobrissem do sol em seus passeios vespertinos.
Hoje, quando o bronzeado é a característica de beleza, elas, as sombrinhas, continuam tendo a sua utilidade, porém diferente. Sombras, não fazem mais, apesar de continuarem a ter este nome.
Olhando de minha janela a chuva que cai sem cessar, vejo várias parecendo um desfile interminável de cores. Lindas, coloridas, com estampas variadas de flores, geométricas, algumas bem humoradas em seus desenhos, outras mais clássicas, de uma só tonalidade.
Elas cobrem sim, cobrem os rostos, os corpos de quem olha, como eu, com curiosidade, tentando descobrir quem está passando nesta manhã chuvosa.
Que mistérios se escondem embaixo das sombrinhas que cobrem da chuva? Será que ainda se roubam beijos debaixo delas, como nos idos tempos de nossas avós?
Penso que não, os tempos são outros, os beijos são explícitos. Nada mais há para esconder. Estamos no século vinte e um onde tudo pode ser dito e mostrado. Nós, mulheres conquistamos nossa independência.
Mas... continuamos misteriosas... Escolhemos com esmero nossas sombrinhas, que vão nos cobrir da chuva, e talvez, de algum olhar furtivo, ao cruzarmos com alguém nas chuvas do caminho, num delicioso e clandestino flerte.

Juçara Medeiros Lasmar
Belo Horizonte – MG
juccara@taskmail.com.br

 

 


AMIZADE I

Eduardo de Almeida Farias
 

A  amizade essa forma de relacionamento tão autenticamente humana, poderá estar sendo posta em perigo, nestes tempos chamados de modernos, quando se corre tanto na procura da realização de um determinado status.
Muitos são os factores que podem concorrer para a perda de tão inestimável bem. Entre eles, e, a título de exemplo, podemos citar o declínio do espaço público, “ou a sua reconfiguração em bases tecnológicas”. À maneira que o homem é tolhido ou impedido de usufruir certos espaços, ou perde a convivência do trabalho em comum, fica mais pobre e desprotegido. Está se alienando gradativamente, ou deixando escapar  ainda que inconscientemente, um bem inestimável que é a amizade.
E o que será melhor que a verdadeira amizade? Ter amigos é talvez a melhor fortuna com que os céus nos podem brindar, e, é claro que, a palavra amigo é algo muito abrangente, é “plus”. É talvez na procura por esse relacionamento que as pessoas inventaram clubes sociais, fazem festas, tudo um pretexto para um relacionamento interpessoal, ou a prática da amizade. 
Nas pequenas cidades e em especial nas pequenas vilas e lugarejos, todas as pessoas se conhecem, e tem na prática da solidariedade um bem comum. O que já não acontece nas cidades de grande ou de médio porte. Até vizinhos da mesma rua, da mesma quadra que, se vêem diariamente, em sua maioria, mal se cumprimentam.
Também a Igreja em sua milenar sabedoria percebeu que são de vital importância as pequenas comunidades religiosas, para um melhor relacionamento e a prática de um saudável convívio. É nesse ambiente quase familiar que, melhor poderão alavancar  as práticas à verdadeira amizade. Ainda assim há pessoas que resistem a deixar seu casulo de frieldade, frieza que contribui para o ser humano ser mais triste e infeliz.   
Os amigos muitas das vezes se conhecem mais que os próprios familiares e cônjuges. As verdadeiras amizades criam entre si um sentimento forte de lealdade, ao ponto de colocarem os interesses do outro acima de seu próprio interesse. A amizade é um sentimento difícil de explicar. Entre os amigos existe “ o verdadeiro amor, também conhecido como amor philéo═ amor de irmão.
Como já dizia o filósofo Leandro Coimbra, o homem é livre porque << a vida social lhe permitiu interpor entre a sensação e o ato a demora e a riqueza do pensamento. O homem não é uma inutilidade num mundo feito, mas obreiro de um mundo a fazer>>. E ninguém constrói um mundo melhor, sozinho. Portanto é fundamental a amizade entre o ser humano se é que realmente queremos um mundo melhor, sem divisões de raças, crenças, ou classes sociais.  
A amizade é tão simples como isto: é respeito, é parceria, é muito, muito simples. Mas então porque tão difícil?... 
 

 

 

No doce embalo da saudade

Heralda Víctor


Um canto qualquer perdido num espaço de tempo...
Na verdade nem seria possível precisar para onde se evadiam os pensamentos sempre que eram tocados por aquela música eleita para ser a canção de uma história de amor.
Num lampejo de lucidez, em algumas ocasiões parte de si desejava impor o orgulho e relutava, mas a outra metade insistia no ritual das lembranças e convencia sempre.
No silêncio da noite o passado vinha marcar presença no embalo da suave melodia. A lua, convidada de graça, espreitando a madrugada compactuava com tudo iluminando com estrelas o bailado sedutor na mente que insistia em relembrar.
Um coração vencido entregue à emoção celebrando o ontem, encarcerado nas grades das lembranças acolhe a voz amada entre risos e devaneios.
Tanta felicidade experimentada na beleza de instantes.
Quanta cumplicidade naquele romance.
Parecia perfeito!
Sorri embevecida...
Sorrateiramente, uma lágrima atrevida, quebra a magia do momento e desliza em liberdade dando início a um pranto descomunal...

 

 

 


O CIRCO DOS SIGNOS

Joaquim Moncks

 

Para compreender Poesia não é necessário alto substrato cultural. Importante é que se tenha vontade de viver o poema, prosear com os duendes que o ocupam, o que propicia em nós essa sensação diferenciada a que denominamos "estranhamento". 
O leitor é um forasteiro à sala de mistérios. Torna-se necessário ligar neurônio a neurônio, concentrar-se na proposta que a poesia encerra.
No entanto, há uma função educacional no decurso do poema, como ocorre em toda afluência literária: o encontro com palavras, que estão escondidas dentro dele. Traduzem a tentativa de trazer ao mundo a ideia a ser transmitida.
Os vocábulos se apresentam à consideração do leitor. E muitos são desconhecidos, estranhos ao dia-a-dia. Só resta uma saída: ir ao "amansa-burro", que é como os antigos chamavam – carinhosa e jocosamente – o dicionário.
É aí que a gente se torna menos estrangeiro ao circo dos signos.
 
(Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2008/2010)

 



PRESENÇA DE DEUS

Humberto Rodrigues Neto
 

É curioso observar uma flor e examinar detidamente a perfeição que ela exibe em cada detalhe, seja no seu formato, na harmônica simetria da corola, das pétalas,  do cálice, dos estames, no delicado perfume que  exala, e do gracioso conjunto de folhas que completa o conjunto a envolve. Pode, às vezes, não exalar qualquer fragrância, mas isso não lhe tira o encanto, conforme podemos  sentir diante da beleza quase mística de uma orquídea!
 
Da mesma forma, ficamos extasiados quando, diante da grandeza do mar, presenciamos a regularidade com que as marés se sucedem umas às outras, crescendo e decrescendo de volume ao sabor de ondas que, calmas ou bravias,  derramam-se pelas praias,  num sucessivo fluir e refluir de espumas, crespas e brancas, a encher nossos olhos de ternura e encantamento.
 
A mesma admiração sentimos quando estendemos os olhos para a natureza e pomo-nos a apreciar  pássaros das mais diversas espécies e plumagens e nos mais diferentes tamanhos, a brindar os nossos ouvidos, quando canoros, com os harmoniosos gorjeios  de suas gargantas privilegiadas, impossíveis de serem reproduzidos por qualquer instrumento musical que o homem possa inventar.
 
Não menos deslumbrante é estendermos o nosso olhar para o céu de uma clara noite de verão e deliciar-nos com aquele estupendo espetáculo de milhares de estrelas fosforescendo nas alturas, como se fossem alfinetes de prata fincados numa imensa almofada de veludo negro! E como peças perfeitamente ajustadas a essa fantástica máquina celeste, vão girando durante a noite, na cadência de uma marcha perfeita, sem risco de colisão entre um astro e outro.
 
Depois de analisarmos todas as perfeições que este mundo maravilhoso nos oferece é que refletimos o quão pequeninos e insignificantes somos diante da majestática beleza do universo, e quão equivocados estão aqueles que, julgando-se donos da ciência e da verdade, ainda têm a sacrílega petulância de afirmar que tudo isso se originou de meras situações de acaso bem sucedidas!
 
Mas eu lhes digo: Deus existe, sim! Só não podem vê-Lo nem senti-Lo em tudo que nos rodeia aqueles que não O amam!
 

 



Literatura: atração quase fatal!

Lígia Antunes Leivas

 

Gosto da Literatura.
Ela retira os biombos que escondem o nosso outro lado.
E revestida de pura autenticidade, ornamenta-se com a mais atraente indumentária para dar abrigo à essência dos sentimentos sem máscaras. Além do que, desenhar os silêncios e não-silêncios da alma sem ligar importância alguma para o que de nós poderá 'ser dito', é o mais inconteste ato de coragem e ousadia e de muito respeito do escritor por ele próprio e pelo próximo.

Gosto da Literatura.
É ela a linguagem artística que permite  aflorarem as emoções mais subjetivamente guardadas entre as quatro paredes do nosso inquieto e indomado coração.
Refúgio, consolo, fuga, jogo lúdico, dom, necessidade, desabafo, exaltação, denúncia, sentido de permanência no mundo, ou apenas sonho, ficção ou dissimulação da realidade?... Que importa? Ela é ARTE!
A ARTE da PALAVRA! E em sendo ARTE, permite que nos entreguemos muito mais fortemente à chama do AMOR pela VIDA!

Pelotas, RS, BR

 



Amor à Pátria

Muriel Elisa Távora Niess Pokk

                                     
    Minha avó nasceu na Alemanha e até a adolescência lá viveu. Depois, mudou-se para a França.  Lá percebeu que o custo de vida e as dificuldades enfrentadas eram as mesmas de onde viera. No apartamento em que moravam não havia calefação nem água quente.
    Vovó trabalhava como feirante vendendo peixes.  Enquanto o dono da barraca trazia mãos enluvadas, ela sentia suas mãos congelarem e os dedos doerem muito (por causa do frio intenso), ao manusear o pescado.
    A neve, segundo minha avó, é igual à lama, só que é uma “lama” branca. Ela contava que, ao ir trabalhar, seus pés afundavam na neve e que, muitas vezes, eles afundavam tanto, que a neve chegava até perto dos joelhos. Para cada passo dado era um grande esforço despendido.
    Para ganhar a vida, seus pais se tornaram agricultores, mas, a cada ano, vinha o frio intenso acompanhado de neve e a plantação morria. Cansados dessa luta insana, resolveram vir para o Brasil. Assim que chegaram aqui, meu bisavô comprou uma chácara.
    Traumatizado com os prejuízos que tivera na Europa, ele cultivou apenas uma pequenina parte do terreno. Com alegria, viu as sementes darem seus frutos. Ao colher o que plantara, vendo seus esforços recompensados, meu bisavô chorou de emoção. Na segunda semeadura plantou em grande quantidade legumes, frutas, verduras etc. Viu as plantinhas romperem a terra, crescerem, florirem e finalmente viu toda a colheita à sua espera... Emocionado, ajoelhou-se e beijando o solo disse à minha avó: - “Este País é bom, sua terra é abençoada!”.
    Contei esta história para dizer que os estrangeiros que vêm morar no Brasil - não importa de onde venham - valorizam o nosso país, que os acolhe como se fossem seus filhos.
    Causa-me muita estranheza que algumas pessoas nascidas no nosso Brasil não o saibam valorizar, não consigam ver as coisas boas que nele há.   
    Sou a favor da democracia e do direito de se falar e escrever livremente. Entretanto, creio que se deva tomar cuidado ao se levar a público palavras que desmoralizam a nação em que se vive e o seu povo.
    Como querermos que os outros países nos respeitem, se nós mesmos não nos respeitarmos e não respeitarmos o nosso próprio País?
    Jornais, revistas, sites etc, são veículos de grande circulação.  Não nos esqueçamos que esses textos publicados serão também novamente divulgados através da televisão, da imprensa, de telegramas, cartas, e-mail, telefonemas. Eles chegarão, de uma forma ou de outra, a vários municípios, estados e países. Ao fazermos, por escrito, comentários jocosos, não podemos, nem devemos generalizá-los, não podemos estendê-los a toda uma população de forma geral, não temos o direito de indiscriminadamente injuriar a todos. Ao generalizarmos, insultamos a população em massa e isso significa que estamos insultando também a todos os estrangeiros que aqui vivem, e, esse direito, democracia nenhuma nos dá.
    Não somos iguais! Nem mesmo os irmãos gêmeos univitelinos são iguais. Eles são parecidos fisicamente, mas seus gênios, seus sentimentos são diferentes, o modo de ver a vida é diferente, e, suas digitais são diferentes. Não é porque algumas pessoas têm vícios reprováveis, que todos nós devamos tê-los também. Senão vejamos: seriamos todos assassinos, assaltantes, tarados, estupradores, pedófilos, seqüestradores, viciados, ladrões etc, etc.       
Sou brasileira, adoro o meu País. Não gosto que falem mal de um povo tão sofrido e massacrado por tantas agruras.        
É comum que pessoas que morem em ruas, bairros, cidades, estados e países onde não estejam bem se mudem. Eu mesma mudei de bairro quando me senti estressada por não conseguir dormir por causa do barulho dos barzinhos à noite. Ao mudar-me encontrei a paz desejada. Aconselho a todos que não estiverem satisfeitos com o lugar onde moram, a mudarem-se o mais rápido possível para um local que corresponda às suas expectativas.
 
Texto registrado em cartório
 

 

 

 

 

 
 

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