FATOS DE MINHA CIDADE
Cida Micossi
Fernand e Beatriz formavam um casal
comum, respeitavam-se, construíram seu
lar: como todo casal da classe social
deles, freqüentavam as reuniões na
cidadezinha, bailes, eventos no clube.
Ele, filho de médico famoso na cidade
pequena. Numa época em que todos se
empenhavam para que o filho seguisse a
bem sucedida carreira do pai, Fernand
preferiu administrar a fazenda, pilotar
seu pequeno avião e viver em contato com
a natureza. A esposa se formara
professora, como fazia a maioria das
moças da época. Prendada, dedicada ao
lar, ao marido. Exímia pianista. Aos
quatro meses de gravidez, uma
complicação no estado de saúde a fez
cair “de cama”. Em vão foram os esforços
do sogro: três semanas depois, ela veio
a falecer.
Fernand ficou desesperado, dias recluso,
até que amigos o convenceram a retornar
ao jogo de pólo na “reta” que ligava a
cidade às fazendas. Esse esporte era sua
paixão, além de pilotar seu próprio
avião. Sobrevoava a cidadezinha, a
fazenda do pai, logo aterrissava em suas
terras. Cuidava do gado e das plantações
de café; capinava inclusive. Dizia-se um
homem rústico apesar das condições
financeiras e das viagens que fizera à
Europa. Tinha amigos do povo, gostava
das pessoas simples, alguns de seus
colonos eram seus amigos.
A vida seguiu assim, entre a saudade e o
trabalho, até que um dia ele,
conversando com sua cunhada Astir, irmã
mais jovem de sua falecida esposa,
sentiu algo mais. Olhou-a
detalhadamente: era esguia, pele clara,
cabelos castanhos ondulados caídos na
altura dos ombros. Seus olhos eram
verdes, de uma transparência incrível:
assim ele a viu, assim ele despertou.
Mal se deram conta e despontava o Amor
entre os dois: um amor vibrante, cheio
de alegrias, compartilhando sentimentos
e afinidades, ligados pelo amor à mulher
dele que morrera.
O romance seguiu até que se casaram na
capela da fazenda: o padre da Comarca se
dirigiu até lá, o juiz de paz também.
Cerimônia para poucos convidados, como
pedia a situação de luto recente em que
se encontrava a família.
O casamento era perfeito: Astir se
dedicava à administração do lar, tecia
lindos bordados em alvíssimo cânhamo,
valsava quando aconteciam bailes no
clube social da cidade, ensinava os
filhos dos colonos a ler e a escrever. A
todos encantava sua silhueta esguia e
altiva. Ele, o marido, “cultivava-a”,
guardava-a como em uma redoma de vidro,
tão delicada era.
Certa tarde de domingo, como Fernand
tivesse que se dirigir à cidade para
participar de um jogo de pólo, deixaram
a fazenda e para lá se dirigiram. Estava
particularmente linda nesse dia, com uma
blusa de cor lilás e calça de montaria
em cor preta, como exigia o evento. Nos
delicados pés, botas em pelica preta.
Astir, como sempre, ficaria no palanque
aguardando o amado que na maioria das
vezes vencia a disputa. Delicados
brincos de ametista, a pedra que apesar
de seu valor simboliza a modéstia,
guarneciam-lhe muito bem a face.
Vê o marido retornar vitorioso, festejam
ali entre amigos e num certo momento ela
lhe pede:
− Deixe-me dar uma volta em seu cavalo.
Certamente que ele lhe negaria, pois
esse não era o cavalo ao qual ela estava
acostumada. Ela tanto insistiu, que
Fernand, com um carinho todo especial,
permitiu. Saiu pela “reta” cavalgando,
porém, num dado momento o cavalo se
empinou assustado, fazendo com que a
delicada dama se quedasse ao chão.
Fez-se silêncio! Não era possível!
Fernand, no palanque, a tudo assistia,
paralisado de terror. Correu até ela,
observou um fino fio de sangue que lhe
descia pela face empalidecida, chegando
a tempo de ouvi-la balbuciar com
lágrimas nos olhos já embaçados:
− Fer... Fer... Fer...
A escrita e a interpretação de textos
na elaboração do trabalho de conclusão
de curso
Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)
É preciso, em primeiro
lugar, considerar que não existe uma
língua única, por exemplo: uma língua
portuguesa. Existem vários dialetos e
um dialeto privilegiado que é a Norma
Culta que, no nosso caso, é o objeto
central para escrevermos nossos artigos,
monografias, dissertações.
Por outro lado, há uma
diferença notável entre fala, que é
basicamente improvisada quando não se
está numa situação estritamente formal,
como na defesa de uma monografia e a
escrita que é o princípio rígido da
organização formal. E, inclusive, é
importante lembrar que a fala varia de
nível social, de região, de profissão,
etc.
A escrita, recordemos, veio
para ficar e é, até hoje, arma
poderosíssima nas mãos de quem a domina.
A escrita sempre foi muito vigiada e,
inclusive, muitos foram parar na
fogueira da Inquisição por escreverem o
que não era permitido.
Com a invenção da imprensa
e, depois, a explosão da mídia, a
escrita se popularizou, uma vez que a
sua democratização é “uma exigência
fundamental da sobrevivência dos valores
– e da produção de riquezas – da
civilização” como afirma Carlos Alberto
Faraco.
Mesmo assim, continuamos
“vigiados” e, se voltássemos no tempo, o
primeiro homem que esculpiu a primeira
letra na pedra, hoje teria de ir para a
escola para aprender gramática, como se
grafa corretamente as palavras.
Além da correção ortográfica
e gramatical, três aspectos importantes
diferenciam a escrita da fala:
a unidade temática
a organização dos parágrafos
a estrutura da sentença
Para escrever bem, é fundamental que
tenhamos o hábito de ler muito, porque
toda
leitura traz conhecimento e, assim, será
mais fácil produzir um texto, pois
teremos dados que, intencionalmente ou
não, farão aparecer o fenômeno da
intertextualidade e, por outro lado,
temos que nos lembrar de que a linguagem
tem funções: referencial, poética,
metalingüística, etc.
Para escrever bem, torna-se
necessário ser um bom leitor e, ainda,
ter certo conhecimento da Norma Culta,
porque ela constitui segundo Gnerre “O
arame farpado que impede a ascensão
social”.
Precisamos, então, aprender
a ler muito e não só ler, mas ler e
apreender a significação profunda dos
textos, aprimorando-nos na capacidade de
reconstruí-los e reinventá-los.
Nesse sentido é necessário lembrar que
existe uma gama de significações
implícitas, muito mais sutis,
diretamente ligadas à intencionalidade
do emissor. O texto nos remete ao
engajamento do autor/leitor com relação
aos enunciados que produz, à maneira,
enfim, como representa a si mesmo ao
outro e ao mundo por meio da linguagem.
Deste modo, a atividade de interpretação
do texto deve sempre se fundar na
suposição de que o emissor tem
determinadas intenções e de que uma
decodificação adequada exige justamente
a captação dessas intenções por parte de
quem lê: é preciso compreender-se o
QUERER DIZER com um QUERER FAZER.
Embora os textos de conclusão de curso
privilegiem a objetividade, por maior
que ela seja, haverá uma certa
subjetividade, porque cada texto abre a
perspectiva de uma multiplicidade de
interpretações ou leituras. Assim,
precisamos estar preparados para ver as
marcas lingüísticas (datação,
simbologia, tempos e modos verbais,
entonação, redundâncias intencionais,
etc) que são pistas para uma
decodificação adequada.
Tanto o professor quanto o aluno têm que
estarem preparados para dar conta do
universo da escrita seja ela literária
ou científica. A primeira pressupõe um
grau de subjetividade maior e, nesse
sentido, é bom lembrar que o termo
subjetividade só foi incorporado pelas
academias no século XVIII, uma vez que a
escrita científica, como o projeto, o
artigo científico, a monografia, a
dissertação e a tese de doutorado exigem
uma objetividade maior.
Talvez aqui seria bom colocar que, para
fundamentação de um bom trabalho de
conclusão de curso, antes de iniciá-lo,
temos que escolher um tema,
delimitando-o e, depois, começar a
seleção dos livros que servirão como
suporte para a nossa pesquisa e, ao
iniciar as leituras, precisamos nos
lembrar das famosas fichas de livros
para que, depois, não precisemos voltar
aos livros, procurando dados para
corroborar nossas afirmações.
Nesse aspecto, finalmente,
é fundamental lembrar que, quanto mais
lemos um texto, mais significados
absorvemos e, aos poucos, vamos
reconstruindo o texto e, por outro lado,
vamos reconstruindo-o até que possamos
recriá-lo e, por assim dizer, tornarmos
o seu co-autor.E, por outro lado,
aumentaremos o domínio da língua-padrão
que melhora a nossa integração com a
história da arte, da cultura e da
civilização moderna.
Djor
J.R.Cônsoli
Cautelosamente entrei!... Um vento frio
passou pelas janelas entreabertas
balançando as cortinas suaves e
transparentes. A noite lá fora já andava
alta, do parapeito da janela podia-se
vê-la clara e pontilhada de estrelas. O
quarto era um ambiente aconchegante,
acolhedor... Sobre a mesinha, encostada
na parede, a luz da lua brincava com o
peixinho dourado do aquário. A cama,
cuidadosamente arrumada, os lençóis
finos, o travesseiro grande e
acolchoado. Um par de chinelos
simetricamente emparelhados jazia em
cima de um pequeno tapete com motivos
orientais. Uma poltrona de veludo azul
formosamente trabalhada fazia o canto
direito junto à janela, ladeada por um
abajur de pé, de madeira entalhada, com
incrustações metálicas douradas e cúpula
de linho creme. Do outro lado, um grande
quadro milimetricamente ajustado na
parede, compunha o ambiente com o tom
vivo do campo de flores silvestres que
representava. Uma atmosfera serena
cercava o local, reinava absoluta paz
entre aquelas quatro paredes. Poderia se
dizer com absoluta precisão que algo de
celestial pairava no ar, embalsamado com
fragrâncias de rosas. Por vários anos
Djor ocupara aquele aposento... Sua
extrema retidão, sua grande sabedoria e
autoconhecimento fizeram dele um ser
muito especial. Naquela noite, durante
um jantar em sua homenagem, após seu
discurso de agradecimento, Djor nos
deixou!... Assim, repentinamente!...
Fora chamado para outros afazeres em
esferas mais sutis... E eu, um de seus
vários discípulos, ali me encontrava a
procura dos seus documentos para os
trâmites legais.
Sombrinhas
Juçara Medeiros Lasmar
Sombrinhas, assim se chamavam pois eram
usadas para que as mocinhas e senhoras,
cujas peles eram alvas primando sempre
pela brancura, se cobrissem do sol em
seus passeios vespertinos.
Hoje, quando o bronzeado é a
característica de beleza, elas, as
sombrinhas, continuam tendo a sua
utilidade, porém diferente. Sombras, não
fazem mais, apesar de continuarem a ter
este nome.
Olhando de minha janela a chuva que cai
sem cessar, vejo várias parecendo um
desfile interminável de cores. Lindas,
coloridas, com estampas variadas de
flores, geométricas, algumas bem
humoradas em seus desenhos, outras mais
clássicas, de uma só tonalidade.
Elas cobrem sim, cobrem os rostos, os
corpos de quem olha, como eu, com
curiosidade, tentando descobrir quem
está passando nesta manhã chuvosa.
Que mistérios se escondem embaixo das
sombrinhas que cobrem da chuva? Será que
ainda se roubam beijos debaixo delas,
como nos idos tempos de nossas avós?
Penso que não, os tempos são outros, os
beijos são explícitos. Nada mais há para
esconder. Estamos no século vinte e um
onde tudo pode ser dito e mostrado. Nós,
mulheres conquistamos nossa
independência.
Mas... continuamos misteriosas...
Escolhemos com esmero nossas sombrinhas,
que vão nos cobrir da chuva, e talvez,
de algum olhar furtivo, ao cruzarmos com
alguém nas chuvas do caminho, num
delicioso e clandestino flerte.
Juçara Medeiros Lasmar
Belo Horizonte – MG
juccara@taskmail.com.br
AMIZADE I
Eduardo de Almeida Farias
A amizade essa forma de relacionamento
tão autenticamente humana, poderá estar
sendo posta em perigo, nestes tempos
chamados de modernos, quando se corre
tanto na procura da realização de um
determinado status.
Muitos são os factores que podem
concorrer para a perda de tão
inestimável bem. Entre eles, e, a título
de exemplo, podemos citar o declínio do
espaço público, “ou a sua reconfiguração
em bases tecnológicas”. À maneira que o
homem é tolhido ou impedido de usufruir
certos espaços, ou perde a convivência
do trabalho em comum, fica mais pobre e
desprotegido. Está se alienando
gradativamente, ou deixando escapar
ainda que inconscientemente, um bem
inestimável que é a amizade.
E o que será melhor que a verdadeira
amizade? Ter amigos é talvez a melhor
fortuna com que os céus nos podem
brindar, e, é claro que, a palavra amigo
é algo muito abrangente, é “plus”. É
talvez na procura por esse
relacionamento que as pessoas inventaram
clubes sociais, fazem festas, tudo um
pretexto para um relacionamento
interpessoal, ou a prática da amizade.
Nas pequenas cidades e em especial nas
pequenas vilas e lugarejos, todas as
pessoas se conhecem, e tem na prática da
solidariedade um bem comum. O que já não
acontece nas cidades de grande ou de
médio porte. Até vizinhos da mesma rua,
da mesma quadra que, se vêem
diariamente, em sua maioria, mal se
cumprimentam.
Também a Igreja em sua milenar sabedoria
percebeu que são de vital importância as
pequenas comunidades religiosas, para um
melhor relacionamento e a prática de um
saudável convívio. É nesse ambiente
quase familiar que, melhor poderão
alavancar as práticas à verdadeira
amizade. Ainda assim há pessoas que
resistem a deixar seu casulo de
frieldade, frieza que contribui para o
ser humano ser mais triste e infeliz.
Os amigos muitas das vezes se conhecem
mais que os próprios familiares e
cônjuges. As verdadeiras amizades criam
entre si um sentimento forte de
lealdade, ao ponto de colocarem os
interesses do outro acima de seu próprio
interesse. A amizade é um sentimento
difícil de explicar. Entre os amigos
existe “ o verdadeiro amor, também
conhecido como amor philéo═ amor de
irmão.
Como já dizia o filósofo Leandro
Coimbra, o homem é livre porque << a
vida social lhe permitiu interpor entre
a sensação e o ato a demora e a riqueza
do pensamento. O homem não é uma
inutilidade num mundo feito, mas obreiro
de um mundo a fazer>>. E ninguém
constrói um mundo melhor, sozinho.
Portanto é fundamental a amizade entre o
ser humano se é que realmente queremos
um mundo melhor, sem divisões de raças,
crenças, ou classes sociais.
A amizade é tão simples como isto: é
respeito, é parceria, é muito, muito
simples. Mas então porque tão
difícil?...
No doce embalo da saudade
Heralda Víctor
Um canto qualquer perdido num espaço de
tempo...
Na verdade nem seria possível precisar
para onde se evadiam os pensamentos
sempre que eram tocados por aquela
música eleita para ser a canção de uma
história de amor.
Num lampejo de lucidez, em algumas
ocasiões parte de si desejava impor o
orgulho e relutava, mas a outra metade
insistia no ritual das lembranças e
convencia sempre.
No silêncio da noite o passado vinha
marcar presença no embalo da suave
melodia. A lua, convidada de graça,
espreitando a madrugada compactuava com
tudo iluminando com estrelas o bailado
sedutor na mente que insistia em
relembrar.
Um coração vencido entregue à emoção
celebrando o ontem, encarcerado nas
grades das lembranças acolhe a voz amada
entre risos e devaneios.
Tanta felicidade experimentada na beleza
de instantes.
Quanta cumplicidade naquele romance.
Parecia perfeito!
Sorri embevecida...
Sorrateiramente, uma lágrima atrevida,
quebra a magia do momento e desliza em
liberdade dando início a um pranto
descomunal...
O CIRCO DOS SIGNOS
Joaquim Moncks
Para compreender Poesia não é necessário
alto substrato cultural. Importante é
que se tenha vontade de viver o poema,
prosear com os duendes que o ocupam, o
que propicia em nós essa sensação
diferenciada a que denominamos
"estranhamento".
O leitor é um forasteiro à sala de
mistérios. Torna-se necessário ligar
neurônio a neurônio, concentrar-se na
proposta que a poesia encerra.
No entanto, há uma função educacional no
decurso do poema, como ocorre em toda
afluência literária: o encontro com
palavras, que estão escondidas dentro
dele. Traduzem a tentativa de trazer ao
mundo a ideia a ser transmitida.
Os vocábulos se apresentam à
consideração do leitor. E muitos são
desconhecidos, estranhos ao dia-a-dia.
Só resta uma saída: ir ao "amansa-burro",
que é como os antigos chamavam –
carinhosa e jocosamente – o dicionário.
É aí que a gente se torna menos
estrangeiro ao circo dos signos.
(Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2008/2010)
PRESENÇA DE DEUS
Humberto Rodrigues Neto
É curioso observar uma flor e examinar
detidamente a perfeição que ela exibe em
cada detalhe, seja no seu formato, na
harmônica simetria da corola, das
pétalas, do cálice, dos estames, no
delicado perfume que exala, e do
gracioso conjunto de folhas que completa
o conjunto a envolve. Pode, às vezes,
não exalar qualquer fragrância, mas isso
não lhe tira o encanto, conforme
podemos sentir diante da beleza quase
mística de uma orquídea!
Da mesma forma, ficamos extasiados
quando, diante da grandeza do mar,
presenciamos a regularidade com que as
marés se sucedem umas às outras,
crescendo e decrescendo de volume ao
sabor de ondas que, calmas ou bravias,
derramam-se pelas praias, num sucessivo
fluir e refluir de espumas, crespas e
brancas, a encher nossos olhos de
ternura e encantamento.
A mesma admiração sentimos quando
estendemos os olhos para a natureza e
pomo-nos a apreciar pássaros das mais
diversas espécies e plumagens e nos mais
diferentes tamanhos, a brindar os nossos
ouvidos, quando canoros, com os
harmoniosos gorjeios de suas gargantas
privilegiadas, impossíveis de serem
reproduzidos por qualquer instrumento
musical que o homem possa inventar.
Não menos deslumbrante é estendermos o
nosso olhar para o céu de uma clara
noite de verão e deliciar-nos com aquele
estupendo espetáculo de milhares de
estrelas fosforescendo nas alturas, como
se fossem alfinetes de prata fincados
numa imensa almofada de veludo negro! E
como peças perfeitamente ajustadas a
essa fantástica máquina celeste, vão
girando durante a noite, na cadência de
uma marcha perfeita, sem risco de
colisão entre um astro e outro.
Depois de analisarmos todas as
perfeições que este mundo maravilhoso
nos oferece é que refletimos o quão
pequeninos e insignificantes somos
diante da majestática beleza do
universo, e quão equivocados estão
aqueles que, julgando-se donos da
ciência e da verdade, ainda têm a
sacrílega petulância de afirmar que tudo
isso se originou de meras situações de
acaso bem sucedidas!
Mas eu lhes digo: Deus existe, sim! Só
não podem vê-Lo nem senti-Lo em tudo que
nos rodeia aqueles que não O amam!
Literatura: atração quase
fatal!
Lígia Antunes Leivas
Gosto da Literatura.
Ela retira os biombos que escondem o
nosso outro lado.
E revestida de pura autenticidade,
ornamenta-se com a mais atraente
indumentária para dar abrigo à essência
dos sentimentos sem máscaras. Além do
que, desenhar os silêncios e
não-silêncios da alma sem ligar
importância alguma para o que de nós
poderá 'ser dito', é o mais inconteste
ato de coragem e ousadia e de muito
respeito do escritor por ele próprio e
pelo próximo.
Gosto da Literatura.
É ela a linguagem artística que permite
aflorarem as emoções mais subjetivamente
guardadas entre as quatro paredes do
nosso inquieto e indomado coração.
Refúgio, consolo, fuga, jogo lúdico,
dom, necessidade, desabafo, exaltação,
denúncia, sentido de permanência no
mundo, ou apenas sonho, ficção ou
dissimulação da realidade?... Que
importa? Ela é ARTE!
A ARTE da PALAVRA! E em sendo ARTE,
permite que nos entreguemos muito mais
fortemente à chama do AMOR pela VIDA!
Pelotas, RS, BR
Amor à Pátria
Muriel Elisa Távora Niess Pokk
Minha avó nasceu na Alemanha e até a
adolescência lá viveu. Depois, mudou-se
para a França. Lá percebeu que o custo
de vida e as dificuldades enfrentadas
eram as mesmas de onde viera. No
apartamento em que moravam não havia
calefação nem água quente.
Vovó trabalhava como feirante
vendendo peixes. Enquanto o dono da
barraca trazia mãos enluvadas, ela
sentia suas mãos congelarem e os dedos
doerem muito (por causa do frio
intenso), ao manusear o pescado.
A neve, segundo minha avó, é igual à
lama, só que é uma “lama” branca. Ela
contava que, ao ir trabalhar, seus pés
afundavam na neve e que, muitas vezes,
eles afundavam tanto, que a neve chegava
até perto dos joelhos. Para cada passo
dado era um grande esforço despendido.
Para ganhar a vida, seus pais se
tornaram agricultores, mas, a cada ano,
vinha o frio intenso acompanhado de neve
e a plantação morria. Cansados dessa
luta insana, resolveram vir para o
Brasil. Assim que chegaram aqui, meu
bisavô comprou uma chácara.
Traumatizado com os prejuízos que
tivera na Europa, ele cultivou apenas
uma pequenina parte do terreno. Com
alegria, viu as sementes darem seus
frutos. Ao colher o que plantara, vendo
seus esforços recompensados, meu bisavô
chorou de emoção. Na segunda semeadura
plantou em grande quantidade legumes,
frutas, verduras etc. Viu as plantinhas
romperem a terra, crescerem, florirem e
finalmente viu toda a colheita à sua
espera... Emocionado, ajoelhou-se e
beijando o solo disse à minha avó: -
“Este País é bom, sua terra é
abençoada!”.
Contei esta história para dizer que
os estrangeiros que vêm morar no Brasil
- não importa de onde venham - valorizam
o nosso país, que os acolhe como se
fossem seus filhos.
Causa-me muita estranheza que
algumas pessoas nascidas no nosso Brasil
não o saibam valorizar, não consigam ver
as coisas boas que nele há.
Sou a favor da democracia e do
direito de se falar e escrever
livremente. Entretanto, creio que se
deva tomar cuidado ao se levar a público
palavras que desmoralizam a nação em que
se vive e o seu povo.
Como querermos que os outros países
nos respeitem, se nós mesmos não nos
respeitarmos e não respeitarmos o nosso
próprio País?
Jornais, revistas, sites etc, são
veículos de grande circulação. Não nos
esqueçamos que esses textos publicados
serão também novamente divulgados
através da televisão, da imprensa, de
telegramas, cartas, e-mail, telefonemas.
Eles chegarão, de uma forma ou de outra,
a vários municípios, estados e países.
Ao fazermos, por escrito, comentários
jocosos, não podemos, nem devemos
generalizá-los, não podemos estendê-los
a toda uma população de forma geral, não
temos o direito de indiscriminadamente
injuriar a todos. Ao generalizarmos,
insultamos a população em massa e isso
significa que estamos insultando também
a todos os estrangeiros que aqui vivem,
e, esse direito, democracia nenhuma nos
dá.
Não somos iguais! Nem mesmo os
irmãos gêmeos univitelinos são iguais.
Eles são parecidos fisicamente, mas seus
gênios, seus sentimentos são diferentes,
o modo de ver a vida é diferente, e,
suas digitais são diferentes. Não é
porque algumas pessoas têm vícios
reprováveis, que todos nós devamos
tê-los também. Senão vejamos: seriamos
todos assassinos, assaltantes, tarados,
estupradores, pedófilos, seqüestradores,
viciados, ladrões etc, etc.
Sou brasileira, adoro o meu País. Não
gosto que falem mal de um povo tão
sofrido e massacrado por tantas
agruras.
É comum que pessoas que morem em ruas,
bairros, cidades, estados e países onde
não estejam bem se mudem. Eu mesma mudei
de bairro quando me senti estressada por
não conseguir dormir por causa do
barulho dos barzinhos à noite. Ao
mudar-me encontrei a paz desejada.
Aconselho a todos que não estiverem
satisfeitos com o lugar onde moram, a
mudarem-se o mais rápido possível para
um local que corresponda às suas
expectativas.
Texto registrado em cartório