MAGAZINE CEN

 

Junho 2012

Edição de Carlos Leite Ribeiro

- 11º Bloco -

pág. 12

 

 

 


Ilda Maria Costa Brasil

 

PENSAR A VIDA


Pensar a vida... E como?
Questionamentos e expectativas!?...
Pensar a vida é tal qual manusear,
delicadamente, as páginas de um livro.
A cada dia, emoções diferentes,
vivências repletas de bons
e ruins momentos e, até mesmo,
rupturas com o trivial, o rotineiro.
Ainda que tenhamos convivido
muitos e muitos anos com alguém,
esse pode surpreender-nos.
Atitudes e gestos amáveis,
quando lhe convém e pode tirar proveitos;
indiferença e hostilidade,
quando não se faz necessária
a nossa ajuda ou presença.
Pensar a vida é autoanalisar-se.

Ilda Maria Costa Brasil

 

 

Eliane Gonçalves

 

Kadê meu par?


Ocê me convidô
Pra festa dessi arraiá
Mais eu tava prucurandu
Meu homi pra dançá

O danadu escafedreu
Escurregô que nem kiabu
Tô aki catandu o môço
No meiô na murtidão

Oiá lá o disgramildu
Assanhadu ke nem besta
Pakerando a noivinha
Bunitinha pra daná

Venha cá cabra da pesti
A dança vai começá
Pegu já ocê no laçu
Se ocê discunversá


Eliane Gonçalves

 

 

Quando não se ama


Quando não se ama
Tudo é simples demais
Nada tem real motivo
Ou até justificativa

Quando não se ama
O pronome pessoal - Você
É substituído por - alguém
Como justificativa de desamor

Quando não se ama
Fere-se em nome do egoísmo
A sensibilidade morre sufocada
Pela miopia do EU excêntrico

Quando não se ama
Tudo pode e se auto-justifica
Como desculpas e razões
Na amnésia de um passado

Quando não se ama
O choro vira apenas lágrima
A solidão vira plena ausência
A vida apenas um momento

Quando não se ama
Não se entende a fragilidade do outro
A necessidade de um colo quente
De um abraço forte de fiel sentimento


Eliane Gonçalves

 

 

 

SONETO DO AMOR MORTO


Flores roxas sob o teu rosto
Morto na fotografia
Resplendem quais círios tristes
De face siderada e doentia.

Vã quimera deste meu amor
Um cadáver que eu carrego
Junto ao meu peito inquieto
Túmulo de devastadora dor.

Triste fim de quem amou os ventos!
Vazia é a minha ilusão soturna
E débeis os mais puros sentimentos!...

Olhos teus perenes e inertes
Na moldura dourada e fria
De um amor morto numa fotografia...

(da série Meu Amor Entrevado na Melancolia)

Izabella Zanchi
A Arte é Longa

A Vida é Breve.

 


Ruth Farah Nacif Lutterback
Cantagalo-RJ-Brasil

 

O SOL E A LUA


Se Catulo da Paixão
em que seus versos dizia
que o Sol é homem machão
e a Lua mulher vadia,
por essa observação
em que o poeta não mente,
constatamos a razão
desse confronto evidente.

Desde o começo do mundo,
o Sol nos dá seu clarão;
a Lua em sono profundo,
nos deixa na escuridão.
De manhã, pontualmente,
vê-se o Sol aparecer.
Mas a Lua, fatalmente,
não tem hora pra nascer.

O Sol é respeitador;
jamais teve a ousadia
de ver da noite o esplendor
ou mesmo fazer espia.
Mas a Lua, audaciosa,
anda no céu de dia;
não se importa a curiosa
de faltar com a harmonia.

O velho, Sol sempre o mesmo:
com real austeridade,
não sai caminhando a esmo,
é símbolo da verdade.
Já a Lua hoje é inteira
e amanhã vem só metade,
disfarçando, de maneira
que esconde a realidade...

Ele próprio desconfia
que ela tem um outro amor,
pois bem sabe que a vadia
não vai aonde ele for.
Mesmo assim desiludido
não lhe nega o seu farol
sendo por todos sabido:
luz da Lua vem do Sol.

Das manchas que a Lua tem
a ciência diz: talvez...
Desconfia o Sol, porém,
que alguma coisa ela fez.
Ao mencionar essa origem,
ele diz a toda gente:
_Até nem sei se ela é Virgem!
Desconfio de um parente...

Por ser ele o rei do dia,
a sua presença é vida;
a Lua acaba a alegria
e a Terra fica perdida.
Mas poetas sonhadores
também lhe dão realeza:
Deusa da noite, de amores,
Rainha da natureza...

A verdade bem sabida,
pela falta se diria:
Sem Sol, nós não temos vida,
e sem Lua, a poesia.
Comparando essa aliança
de sonho e realidade,
o Sol é pai da Esperança
e a Lua, mãe da Saudade !

Ruth Farah Nacif Lutterback

 

 

O CORCEL VIRTU


Contam que nasci por acaso. Uma semente trazida pelo vento caiu no solo fértil e fresco. Cresci esbelta! Minha silhueta realçava na campina e eu, muito mais alta do que as ervas, distraía-me vendo os pequenos animais brincando na relva macia. Borboletas multicores faziam evoluções sem perturbar a paz do campo. Comecei a pensar no futuro. Seria o único e apreciado Ipê do Ronca Pau.
Mas, certo dia, sofri o rude golpe do machado deitando-me por terra. Ouvi vozes masculinas com a esperança de colher muito milho na nova roça. Não reclamei por saber a importância do cereal para as pessoas e certos animais.
Depois me senti recompensado quando me transformaram numa linda vassoura. Elegante e bonita ostentava uma vasta cabeleira de piaçaba. Ganhei até um nome bonito - Virtuosa. Choviam elogios: ­ Virtu, como você varre bem! Eta vassourinha boa!...
E lá ia eu, ora por mãos delicadas, ora por dedos desajeitados. Sempre bem humorada, limpava dentro e fora da casa. Como dizem os humanos: “Era pau pra toda obra.”
Vendo o milharal todo pendoado, reconheci que valeu meu sacrifício.
Meses depois, a lavoura secou e eu gasta e cansada. Mãos abrutalhadas me atiraram numa beira de telhado deixando-me amargurada! Permaneci ali até que um temporal arremessou-me ao solo quase me quebrando toda.
Num dia de festa, fui aproveitada na churrasqueira. Mudei de cor e perdi as últimas fibras do cabelo, sofrendo o vexame do que diziam de mim.
Reduzida a um cabo abandonado, considerei-me inútil e desprezada. É o fim (pensei).
Qual não foi a minha surpresa, quando um lindo menino louro aproximou-se de mim. Pude, então, ver o brilho de duas continhas azuis a me fitar. Montou-me e saiu galopando pelo terreiro, levando-me a todos os recantos do Sítio como se eu fosse um lindo corcel.
Apesar de transformada em cavalinho de pau, senti-me útil novamente pois servi para fazer uma criança feliz!...

Ruth Farah Nacif Lutterback

 

 

JOSÉ FELDMAN
MARINGÁ/PARANÁ/BRASIL

 

Simplesmente Sentindo


Quando sentir o vento tocar seus ouvidos,
sou eu
sussurrando o meu amor por você.

Quando sentir as gotas da chuva sobre seu rosto,
são as minhas lágrimas
que te encharcam com meu amor.

Quando sentir o calor de um dia de verão,
é o meu corpo
te abraçando e
te dando o calor de meu coração.

Quando olhar pela janela de seu quarto
e vir as estrelas piscando,
são meus olhos
que piscam como as estrelas
as palavras
“Eu te amo!”

Quando passear pelo parque
e vir uma árvore,
abrace-a e feche os olhos,
estará abraçando a mim,
meu corpo, meu coração
junto a si.

E se olhar para o alto desta árvore
ouça o farfalhar das folhas
É minha voz dizendo:
Eu sou teu para todo o sempre,

Volta para mim!


José Feldman

 

 

Uma vez conheci um anjo!



Uma vez conheci um anjo.
Não tinha asas e nem auréola,
mas tinha um olhar de anjo.

Uma vez conheci um anjo.
Era meiga, sincera,
e falava coisas tão bonitas
que sentia meu coração derreter.

Uma vez conheci um anjo.
sorria como só os anjos sabem sorrir,
e fazia biquinhos tão encantadores
que a vida parecia se tornar mais leve.

Uma vez conheci um anjo.
Ela viu algo dentro de mim,
que ninguém conseguia ver.
Viu beleza e amor.

Uma vez conheci um anjo.
E nos abraçamos,
nos beijamos,
cantamos juntos
e olhamos a lua
com olhar de apaixonados.

Uma vez conheci um anjo.
Juntamos nossas coisas,
e fomos morar juntos,
em um mundo angelical.

Uma vez conheci um anjo.
Tivemos gatos e cachorros,
presente dos céus para nós.
Mas estavamos juntos,
e nos amavamos.

Alguns morreram
outros apareceram em nossas vidas
e enfrentamos a vida juntos
Mas nos amavamos,
e tudo era benção dos céus.

Uma vez conheci um anjo.
A situação se apertou
e fomos para outra cidade.
Caminhavamos pelos parques,
riamos com novos amigos,
batalhando eramos felizes.

Uma vez conheci um anjo.
Voltamos ao seu lugar de origem.
Mas ríamos, cantavamos,
nos amavamos,
nos divertiamos,
mas estavamos ficando velhos.

Uma vez conheci um anjo.
Kika morreu.
Lad morreu.
Gwyddion morreu.
Cerydween morreu.
Bastet morreu.
Baby morreu.
Bibo morreu.
Floquinho morreu.
Fluffy morreu.
Eramos felizes e nos amavamos,
e riamos, e bebiamos e nos beijavamos.

Uma vez conheci um anjo,
e agora sei o que é sofrer
por querer um anjo.
O preço foi muito alto
Meu anjo morreu.

Uma vez conheci um anjo.
Hoje sei que são trevas,
Como a noite é escura,
fria e triste.
O que é solidão.

Uma vez conheci um anjo...


J
José Feldman

 

 

Juraci Martins

 

NO SIDERAL


Lá no campo a vida é poesia
Quando sedo o sulino vem soprar...
E os raios da esperança tocam a alma
Convidando a desvendar essas magias.

Nessa hora na visão se descortina
Um mundo de azul e verde mar,
Enchendo de cor e lume as retinas.
Levando a alma poética a se inspirar!

Cantar a vida estimula sentimentos...
Bordam as flores, os quintais e as alcovas
Banhando-nos num mar do encantamento
Ante a vida solidária que sempre se renova.

E sobre esse mundo em translação
Somos viajeiro do espaço sideral
Para na amplidão do cosmo meditar
Vendo o sol que se enterra no horizonte

Nas manhãs das taperas sinto em mim
A brisa,que de manso vem soprar
Carregadas pelo cheiro dos capins
Do tempo lindo que me fez amar

Na vida tudo passa, bem sabemos...
Tudo é matéria que vai se decompor
Saibamos elevar então, o pensamento
E agradecer a Deus, a vida e o amor!


Juraci Martins

 

 

Deus sabia


Deus até sabia
que eu poderia
em vez de ser luz,
ser a cruz.
Mas mesmo assim,
amou-me até o fim.

Deus até sabia
que eu poderia
em vez de ser fermento,
ser tormento.
Mas mesmo assim
amou-me até o fim.

Deus até sabia
que eu poderia
em vez de ser
sal da terra,
promover a guerra,
mesmo assim
amou-me até o fim.

E por esse gesto leal,
Incondicional,
pude sentir
a dimensão de seu amor
e então
viver e servir
e assim perseverar
até o fim.


Juraci Martins

 

 

Cida Micossi
Santos/SP/BR

 

Sentimento


Doce sentir ou triste porvir
Leva-nos à loucura
Outras vezes insana procura
Dar vazão, ardente vulcão
Docilidade, entrega, doação
A todos o que importa
É que o sentimento bata à porta.


Cida Micossi

 

 

Tocando a alma


Só minh’alma pode saber
O vazio que tenho no peito
Vazio que mora em meu ser
E espero um dia ter jeito

Há tanto tempo que almejo
Livrar-me dessa tortura
Trocar abraços e beijos
Ser tratada com doçura

Enquanto isso não ocorrer
Minha alma fica a esperar
Mil beijos a receber
De alguém que possa me amar


Cida Micossi

 

 

Sandra Almeida
Cacoal- Rondônia/BR

 

Eternidade


Quando eu partir para a eternidade,
quero ir devagarzinho, sem medos,
de estar indo e deixando saudade,
quero ir leve, deixando meus segredos.

Nessa viagem deixarei meu abraço,
num gesto secreto de minhas mãos,
em seu corpo, num sublime entrelaço.
Minhas lágrimas ocultas secarão.

Quero ir sorrindo pra vida nova.
Sei que te encontrarei repentinamente,
pois a cada dia nosso amor renova.
E no infinito há sempre uma semente!

Nosso encontro será um grito mudo,
meticulosamente executado pelos anjos.
Os ventos do verão ao ouvido dirão tudo,
numa fração de segundos... arranjos!


Sandra Almeida

 

 

Vestimentas do Amor...


Pra se escrever, vestir, falar de amor
há que ser irradiado de luz e calor.
Despir-se de todos os medos e desilusões.
A vida? Com leveza e intensas emoções!

Olhar o céu,tentando acariciar a Lua,
com olhar sonhador, perdido e alma nua,
andar no deserto, beijando o horizonte.
Desfazer todo enigma num rompante!

Andar só, sentindo-se acompanhado,
fugir pra um jardim da alma descampado,
anunciando esse “frenesi” por todos os poros.
Recriando a vida, recitando versos sonoros.

Pra ser inteligente,ele deve ser platônico,
deixando os limites pragmáticos atônitos.
Assim a poesia flui, com passos avantajados,
deixando no papel versos in-ve-ja-dos!


Sandra Almeida

 

 

MARIA MAMEDE
Maia–PORTO–Portugal

 

COMO O POVO ESCOLHIDO…


Como o povo escolhido
errei
quarenta anos
no deserto
à espera da terra
prometida
e ao correr dos dias
chamei vida
nuns braços que sonhei…
ó desenganos
e perdida, tão perdida
eu acordei
sem idade, sem pátria
sem esperança
sem oásis de alma
e sem bonança
só deserto
fim de vida
onde cheguei!...

Maria Mamede

 

 

Cecília Rodrigues
Viseu/PORTUGAL

 

Diário de um Cão Feliz (vestindo a pele do meu cão)


Meu nome é Snoopy,
Hoje fui premiado. Minha dona deu-me um abraço. Hoje ela estava diferente, sem aquele ar preocupado e com aquele ar repreensivo ausente.
Fiquei tão feliz…só queria que ela entendesse o meu olhar, ia ver escrito nele, o meu agradecimento e o meu afeto. Só queria poder falar para expressar todo o meu sentimento.
Eu sei que ela me ama, mesmo que não o demonstre a todo o instante, mesmo que pareça distante.
Sei que sou um cão de sorte, porque sou peça importante, isto a gente sente.
Ainda hoje, cansei de bater á porta, não sei porque não me ouviam. Humildemente enrolei-me sobre o tapete de entrada e pacientemente esperei. Tinha a certeza, de que estava alguém
em casa, estavam distraídos ou tinham adormecido, resultado de muitas horas de trabalho de meus donos.
-Ainda não contei o porquê estar a bater á porta: -“ logo cedo, incomodo todos para sair de casa e ir dar a minha voltinha matinal “, logo, logo, estou de volta… e lá estou eu a incomodar novamente, mas fazer o quê? – Não tem outro jeito. Sou apenas um cão! Ainda bem que todos compreendem.

Cecília Rodrigues – Publicado em –“Veleiro de saudades”2011-
Este foi o primeiro capítulo vestindo a pele de um cão, (o meu cão).

 

 

Este foi e será o último capítulo do Snoopy… partiu no dia 17 de Maio 2012
(Capítulo V IN-Veleiro de saudades 2012)



A vida de um cão, começa sempre por …”hoje”
Sempre num qualquer dia, o hoje tem que existir, porque sempre que algo acontece, eu digo da mesma forma …hoje …hoje …e segue-se a história.

Capítulo VI
___Estas palavras acima, pertencem a um capítulo passado.

“Hoje” é o meu sexto e último capítulo:

Tenho andado cansado, triste, mesmo muito exausto.
Acho que é o peso da idade.
Nestes quase quinze anos de vida, tenho sido um cão feliz. Muitos passeios de carro, muitos amigos, daqueles que quando deixam de nos ver, perguntam sempre por nós.
Acho que vou ter que os abandonar, não me sinto bem de saúde. O meu coração está a atraiçoar-me, às vezes sinto falta de ar, o meu peito ofegante parece que vai explodir.
Os meus donos, já me levaram ao veterinário, tenho que tomar uns comprimidos, talvez melhore, mas não parece…
Já se passaram alguns dias, e ainda estou muito fraco, minhas patas não me obedecem, quase sempre tenho que ser carregado ao colo, essa parte eu até que gosto (quem não gosta de um
colinho?).
Já há dias que não consigo dormir descansado, esta aflição me atormenta, atormenta todos aqui em casa. Não me deixam sozinho, estou sempre acompanhado pelo carinho dos meus
donos, impotentes, nada podem fazer, a não ser esperar o que reserva o futuro.
Sinto, que estou, me despedindo do meu relvado á volta do prédio, dos meus passeios até á praia, dos carinhos recebidos de todos os vizinhos…tantas crianças que me adoram (eu
também adoro as crianças).
Hoje estou indo em direção do nada, não consigo perceber, só sei que estou meio tonto desequilibrado…
Acho que vão decidir o que é melhor para mim, sei que o farão por amor. Não me querem ver sofrer e eu ficarei eternamente agradecido…vou descansar!
O melhor disto tudo é que sei, vou estar dentro do coração de cada um dos que conviveram comigo tantos anos, sei que nunca os dececionei, sempre dei e recebi carradas de amor e
carinho de toda a gente.
“Hoje” foi um dia difícil, muitas lágrimas ainda tombam pelas faces…mas logo vão compreender que vou estar bem e vou estar sempre presente nas boas lembranças dos anos
passados, das gargalhadas às minhas brincadeiras, dos incómodos matinais para ir á rua e voltar, das namoradas que deixei…foi bom, “Valeu a Pena!

Snoopy-Por Cecília Rodrigues (17/11/1997-17/05/2012)

 

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