

MAGAZINE CEN
Junho 2012
Edição de Carlos Leite Ribeiro
- 6º Bloco -
pág. 7

M.Conceição
Gonçalves Lopes
São Sendim/Vila Real/Portugal
(directamente do Norte de Portugal,aqui envio os poemas em
português e mirandês que é desde 1998 a segunda língua oficial
de Portugal.)
Poema de Outono
|
(Num
dia de sol que antecipava o outono)
Poema de Outonho (mirandés) |
O vento soprou
Tão doce e sereno,
Tocou-me ao de leve
Gerou sentimentos
Dormentes, silentes
Que em voo rasante
Tocaram o chão...
O fundo da alma
Transformou-se em cor de ouro
Ocre ou laranja...
Deu frutos já secos
De um doce amargo
Surgiu o Outono
Na aba do meu coração.
|
L aire
assoprou
Tan doce i sereno,
Topou-me al de lebe
Girou sentimientos
Drumientes, calhados
Que an bolo rasante
Topórun l suolo...
L fondo de l'alma
Streformou-se an quelor d'ouro
Ocre ó laranja...
Dou fruitos yá secos
Dun doce amargoso
Bieno l Outonho
Na borda de l miu coraçon. |

SONHO
Por vezes |
No meu real
atalho da esperança...
SUONHO (mirandés)
A las bezes |
Por vezes
dou por mim a imaginar
O rosto que sonha a palavra escrita
Vou assim num pensar doce e sereno
Envolta em som e de aroma aspergida
E nessas vezes paira uma nostalgia
Em teclas das quais não vejo a cor...
É então que o sol chama por mim
Ou a chuva me convida para a dança
E eu começo caminhando pela vida |
A la bezes
dou por mi a manginar
L rostro que sonha la palabra screbita
Bou assi nun pensar doce i sereno
Ambuolta an sonido i d'oulor arremolhada
I nessas bezes sbolaixa ua nostalgie
An botones de que nun beijo la quelor...
Ye ende que l sol chama por mi
Ó la chuiba me cumbida pa la dança
I you ampeço caminando pula bida
Ne l miu rial atalho de la sperança... |

Renato de Alvarenga
Rio de Janeiro - Brasil
Casa
Tendo passado
por tantos lugares
E não antevendo os que ainda virão,
Busco o significado da palavra "casa"
Enquanto atravesso mais uma transição.
Onde me sinto em casa?
Onde pendurei meus retratos?
Em que paredes rabisquei meus desejos?
Em que corredores deixei meus rastos?
Onde busquei um abrigo (ilusório)
Ao topar com a dureza dos fatos?
Após revirar a minha memória,
Ainda não sabia o que responder.
Porém, ao voltar o meu rosto pro lado,
Descobri que a minha casa é você...
Renato de Alvarenga |

Glória Marreiros
Portimão/Portugal
ESPELHO
A dança dos
anos é feita em meu rosto,
Quando olho no espelho e vejo a idade
Despir os meus sonhos das réstias de jade,
Que outrora soltava o vinho do mosto.
Agora os reflexos emitem desgosto
E luas sem prata, que afeta e invade
Brinquedos deixados no cais da saudade,
Em bancos partidos isentos de encosto.
Aperto os meus seios. São castas sem vida.
A boca é licor derramado na lida
Que tive na terra que nunca encontrei.
Dorida dos anos, parti meu espelho
Com raiva de ver o meu rosto tão velho
Num baile de luas, descrente da lei.
Glória Marreiros |

LEVEDAÇÃO
Cantei os meus versos ainda menina,
No tempo em que o tempo passava sem horas
E a vida era quieta, não tinha demoras,
Porque eu não sabia o que era a rotina.
Os ventos agrestes trouxeram-me a sina
Que lia à lareira comendo as amoras
Do verão que passava, deixando as esporas
Cravadas na alma, por falsa doutrina.
A chuva caía deixando os regatos
Causar, nas encostas, os seus desacatos
Em rios pequenos, formosos, dispersos.
As mós do passado torturam sem dó
Memórias e sonhos desfeitos em pó,
Que amasso e levedam saudades e versos.
Glória Marreiros |

SONHOS FLORIDOS
Carrego um amontoado de anos sobre as costas. São quase
cem. Há lembranças que se desfazem nos declives da minha
memória. Há outras, muito antigas, que permanecem vivas,
como se tivessem nascido neste preciso momento.
Nasci nesta terra maravilhosa. Não digo o nome. Fica
para descoberta do prezado leitor. Passei aqui a minha
infância e guardo religiosamente no meu coração todas as
inspirações que esta paisagem exerceu e ainda exerce
sobre mim.
Depois de muitos anos de ausência, voltei a este
cantinho do meu Portugal. Os sonhos, os meus sonhos,
porque em toda a idade se pode sonhar, começaram a
florir num bailado de recordações repletas de magia,
onde a idade se perde nos recônditos mais íntimos da
minha vontade de viver, para poder contar aos meus netos
e bisnetos o quanto tive de belo nesta natureza ímpar.
Vejo-me novamente a saltar por penhascos e árvores; a
chapinhar nos pegos das ribeiras; a subir as antas que
guardam nos seus seios milenares sonhos que floriram e
outros que ficaram só em botão; a atirar pedras aos
pássaros com uma fisga feita com o elástico duma liga
que roubei à minha mãe. Eram aos milhares as aves que
esvoaçavam nas encostas da serra. Eu não sabia, ninguém
sabia o mal que fazíamos, quando atirávamos sobre as
lindas avezitas. Os piscos, as felosas, as toutinegras,
os gaios e tantas outras aves, eram aos milhares
formando nuvens no céu do céu e no céu da minha
meninice. Eu percorria vários quilómetros por dia, em
busca da descoberta. E descobri a paisagem que envolve o
tempo do meu tempo, onde prevalecem os retratos, nunca
tirados, mas onde vejo a minha infância nítida e
transparente, como era a água daquele tempo.
Depois, eu descia e vinha sentar-me à sombra duma
frondosa azinheira, para almoçar com o meu pai e a minha
mãe. Era quase sempre um pedaço de pão com umas falhas
de toucinho e azeitonas. O pão era feito pela minha mãe
e tinha sabor a sonhos floridos. A água estava numa
infusa de barro para permanecer mais fresca. O tosco
cocharro de cortiça, por onde bebíamos era, naquela
altura, para mim, uma valiosa obra de arte.
Logo que acabavam de comer, lá iam os meus pais ceifar.
As espigas, no seu farfalhar, falavam e cantavam.
Pareciam gente… e eu ouvia, ouvia, os seus melódicos e
dolentes cantares, preparando-se para puderem dar à luz
o pão que mitigaria os desejos de tantos estômagos. As
papoilas, de um vermelho não muito rubro, corriam ao
desvario quando a brisa era mais intensa. O que mais me
intrigava era que ficavam sempre no mesmo lugar. Parecia
magia. Ali tudo era mágico! Até o sol-pôr exercia uma
força poderosa sobre mim, criança de cinco ou seis anos.
Estive em vários países, mas nunca vi um poente tão
fascinante como este da minha terra. O crepúsculo benzia
com os seus soberbos sombreados as copas das sobreiras e
das azinheiras, num adeus ao dia que se ia deitar com as
estrelas, na cama da lua, para voltar novamente,
passadas algumas horas, com o sol no seu bailado de
reflexos.
Eu só ia à vila de tempos a tempos. Às vezes lá ia com o
meu pai, quando ele precisava de comprar umas botas de
sola de pneu. Eu não usava nem botas nem sapatos, mas
corria e saltava por todo o lado. Uma vez calcei as
botas do meu pai e achei que aquilo me atrapalhava muito
e era difícil correr, com aquela geringonça nos pés,
para apanhar uma lagartixa ou outro bicharoco.
A minha avó, já muito idosa, com uma grande corcunda nas
costas, que a fazia andar toda enrolada, passava os dias
a fazer flores de papel, para as grandes festas. As
flores eram tão bonitas que se assemelhavam às papoilas
que corriam com o vento, mas que ficavam no mesmo lugar.
Outras flores faziam lembrar os grandes girassóis que
seguiam religiosamente o Sol no seu dolente andar. Eram
flores tão lidas feitas em papel, que enchiam alcofas e
alcofas. Ali estavam os meus sonhos floridos, numa
paisagem curta mas distinta, onde a história da minha
terra é saboreada por quem vê, com os olhos do espírito,
que as tradições são a alma de povos e gerações.
Nunca pensei voltar a ver as festas da flor. Não sei se
posso chamar e este encanto uma paisagem, porque, na
realidade, eu sei o que é uma paisagem. Na minha
infância eu vivi e vi a mais bela paisagem ou paisagens,
que me marcaram juntamente com as festas da flor, mas eu
não sabia o que era. Era apenas a minha terra semeada de
sonhos, que mais tarde se transformaram em cravos
floridos.
Hoje voltei a ter os meus cinco, seis e sete anos e o
mundo de outrora voltou à minha mente. As lágrimas
marejam-me os olhos, como que a vendar o presente para
ver e reviver o passado.
A vila parece um mar de flores! Até aquela senhora, tão
idosa como eu, me fez lembrar a minha avó… com as suas
alcofas cheias de flores de papel. As janelas parecem
molduras de onde pendem cachos de rosas silvestres,
dálias, hortênsias, malmequeres, papoilas, girassóis e
grandes cravos vermelhos, que tombam nas ruas e sorriem
para quem passa. É preciso saber compreender o sorriso
das flores. Eu sei. Um homem não deixa de ser homem por
gostar de flores e ser sensível a elas.
Ao longe, vislumbro os imensos terrenos caiados de
pérola pelo restolho, que forma uma toalha matizada
pelos raios solares, estendida numa grande mesa, onde as
aves, as aves da minha infância comem os grãos que
ficaram caídos.
Vejo as encostas da serra com os seus penedos. Oiço o
correr da ribeira. Tenho na boca o sabor do pão que a
minha mãe fazia e brinco com os caroços das azeitonas
que comia e me sabiam a mel.
Nestas festas da flor, olho o meu bisneto, que tem seis
anos, e vejo nele a paisagem que marcou a minha
infância, nos seus sonhos floridos.
Glória Marreiros
|

Hilda Persiani
O Colar de Perolas
Recebi como
presente de noivado,
Era costume receber um mimo, na ocasião,
Um lindo colar de pérolas nacarado,
Que me ornamentaram o colo e o coração.
Nas ocasiões especiais eu o ostentava
Com faceirice e com que felicidade
Depois de usá-lo, no escrínio o guardava,
Sentindo nas mãos sua tênue suavidade;
Até que um dia, para tristeza minha,
O fecho arrebentou, as perolas rolaram;
Por coincidência, logo de noitinha,
O noivado rompeu-se, eu sozinha,
Meus olhos em lágrimas debulharam
E uma a uma como as perolas, jorraram !...
Hilda Persiani |

Receita
O tempo passou depressa, envelheci,
Os sonhos foram ficando para trás,
Sinto-me feliz porque ainda estou aqui,
Vou prosseguindo com meu sorriso audaz...
Minha receita é prática:-- Muita alegria,
Uma chávena bem cheia de esperança,
Não coloque na receita, nostalgia ;
Não esqueça de colocar desconfiança;
Pra compensar, coloque sonho e doçura,
Um pouco de saudade, não em demasia.
Essa receita não leva, amargura...
Cozinhe tudo com fé e confiança.
A maneira de servir essa iguaria
É sorrindo...Que vida longa, alcança ...
Hilda Persiani |

Ivan Jubert Guimarães
São Paulo - Brasil
A NOITE DOS NAMORADOS
Namorar é
muito bom, é gostoso, como é bom amar.
Seja aquele primeiro amor de nossa infância,
Quando ainda nem aprendêramos a beijar,
E pela timidez, namorávamos mais à distância.
O namoro mais atrevido começou na adolescência,
Quase sempre era proibido com a mãe da moça
vigiando,
Acreditando que a filha ainda possuía toda
inocência,
E cada vez que se afastava continuávamos nos
amassando.
Veio a mocidade e à procura pela menina direita,
Aquela que pensávamos fosse para casar.
Pegar na mão no primeiro encontro não era coisa
aceita,
Imagina o tempo e a saliva que se gastava para se
beijar.
A fase adulta acontece e traz muita
responsabilidade,
O namoro fica mais sério e toma ares de noivado;
E a gente vai ficando tenso e começa a sentir
saudade,
Do tempo dos namoros doces e quentes do passado.
Mas o amor dessa fase é mais forte que o vento,
Te doma, te amarra e te prende sem que você repare.
E ao se dar conta já está no altar, é seu casamento,
E você prometendo fidelidade até que a morte os
separe.
Os anos passam, as bodas chegam, os filhos crescem.
E você olha para ela, companheira de toda uma vida,
Algumas rugas no rosto, os cabelos que embranquecem
E você sorri e pensa como ela é ainda tão querida!
E assim a vida se passa para os corações
apaixonados;
Um respeito que nunca morre, um amor que se
enobrece,
E que no dia e, principalmente, na noite dos
namorados,
Você se lembre que um grande amor sempre cresce.
Ivan Jubert Guimarães |

A MÃE DO ZÉ MORREU
Zé ficou triste com a morte da mãe, uma velha senhora,
matriarca, que criara todos os seus filhos sob suas asas. Nunca
houve nada que mãe do Zé deixasse de fazer pelos filhos. A
última palavra era sempre a dela para resolver qualquer
pendência ou pequenos desacertos familiares.
Todos acatavam sua decisão embora genros e noras não gostassem
muito daquela interferência.
Mas agora, lá estava ela, mortinha devido a um ataque fulminante
do coração que não lhe deu tempo de escolher como gostaria de
ser sepultada.
Zé e os irmãos e irmãs, discutiam o que deveriam fazer, mas não
chegavam a um acordo. Não possuíam um jazigo e isso já era
motivo de discussão na família, com cada um empurrando acusações
para o outro.
Tudo deveria seguir seu curso normal com o sepultamento da mãe
de Zé. Mas aí alguém falou: “por que não cremar o corpo?” E a
discussão saiu dessa pergunta: “É, por que não?”
Uma das noras chegou até a comentar que a cremação sairia mais
barato do que manter um túmulo com flores, velas, limpeza, além
do que se veriam obrigados a sempre fazer uma visita no dia de
Finados. Após essa argumentação quase toda a família já estava a
favor da cremação. Menos o Zé. Zé era o mais velho dos irmãos e
fora criado para ser o sucessor da mãe nas decisões importantes
da vida, mas agora era uma decisão sobre morte e Zé não sabia
bem o que fazer, nem o que queria.
Uma cunhada arriscou: “você poderia jogar as cinzas no mar”. Sua
mãe iria adorar.
- Mamãe odiava o mar! – respondeu o Zé.
- Jogue as cinzas nos jardins, entre as flores, então.
- E deixar que o vento espalhe mamãe por aí? Não! Vamos
sepultá-la.
Essa discussão toda se dava enquanto alguém arrumava o corpo da
mãe dentro do caixão e uma vez arrumado, Zé parecia ver a mãe se
mexendo como se quisesse dar a palavra final. Zé olhou para o
caixão e decidiu: “Está bem! Vamos cremar mamãe!”
Foi um alívio geral e quando chegou o momento da cerimônia e
aquela música suave ia tocando e o caixão descendo, ouviu-se uma
voz perguntar quem iria retirar a urna com as cinzas da matrona
e outra voz respondeu que seria o Zé, é claro, pois havia sido
dele a palavra final.
De fato sobrou para o Zé, ninguém queria a tal caixinha com os
restos mortais de sua mãe. Zé não sabia o que fazer com aquilo.
Ficou sabendo que naquela caixinha, não havia somente as cinzas
de sua mãe, pois o caixão fora queimado junto, as roupas da mãe
também, incluindo os sapatos e aquele colarzinho que ela tanto
gostava de bolinhas de madeira. Chegou à conclusão que deveria
ter mais cinzas de objetos do que do corpo da mãe. E não tinha
jeito de separar uma cinza da outra. Então, Zé sacudiu bem a
urna, para que as cinzas se misturassem de vez. Foi para seu
carro, a mulher carrancuda do lado odiando viajar com as cinzas
da ex-sogra. Zé apoiou a caixinha na capota do carro do lado,
para abrir sua porta, entrou no carro, deu a partida e saiu, não
antes sem dizer: “Adeus mamãe!”
Ivan Jubert Guimarães
www.pensamentoliberal.com.br
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LUIZ POETA – Luiz Gilberto de Barros
Marechal Hermes – Rio de Janeiro
(Luiz Gilberto de Barros – às 9h e 1 min do dia 25 de dezembro
de 2011 para o meu amaddo irmão literário Adilvo Mazini)
TENTATIVAS POÉTICAS
Um poeta
sempre torna sentimentos,
Fragmentos de lirismos que se aninham
Às ideias que lhe brotam nos momentos
Em os versos que ele canta... passarinham.
Nesse voo que se sublima em ousadias
A poesia se constrói desse cimento
Metafísico que torna almas vazias
Moradias de sublimes pensamentos.
A palavra é o passo do poeta,
Ela injeta na pele da poesia
O orvalho de uma lágrima inquieta
Numa pétala sutil de fantasia..
Tentativas de compor deixam sementes:
São palavras que fazem da folha avulsa,
Um jardim, onde as ideias inocentes
Se diluem noutra lágrima... que pulsa.
E o poeta – jardineiro criterioso –
Dessa terra tão fértil do coração
Faz o amor, num toque terno e poderoso
Renascer da solidão de um simples... grão.
Luiz Poeta |

SARA SAMIRA
Vinha o trem. Serpente riscando longe.
Sol de meio-dia, cheio na face rosada, olho de vidro, trôpego
reflexo, tremeluzente, suor descendo bolha-bolha, desenhando
estrias , córrego de angústias.
E apitava. Fumaça clara varando o verde.
Via-se a cachoeira, faca de ponta prateada furando o chão,
quedando lá embaixo, estrondo constante acordando o tempo.
Mochila parda, bota barrenta com laço solto, chapéu de couro,
larga calça cáqui amarrotada e a peixeira arranhando a coxa.
Vinda de trem, festa de chegantes, mas ele partia, Sara Samira
no peito e na cabeça... batendo morena no átimo de cada impulso.
Sara Samira... um gosto suspirar seu nome.
Vira-a a primeira vez descendo caminho da lagoinha, o cesto de
vime na cabeça, repleto de frutas , tangerina amarela, da doce,
Sara Samira... o peito saltando da blusa, cabelo liso- preto,
voando no vento- sombra-de-mangueira, olhos negro-perolados,
líquidos, limpos como uma noite de lua, nus, magoados de
não-sei-quê.
E o trem chegou, gente saiu-entrou-rindo-chorando-chorando-rindo.
Olhou atrás, mas já não via o verde emoldurando a choupana; não
ouvia o monocórdico pio da juriti tamborilando abandonos... não
tinha certeza da partida, mas se foi num pulo, como um sim que
nega mas consente, a lágrima tímida olhando no canto da vista
vermelho-azul.
Sara Samira... doce como a tangerina.
- Quer uma ?
O riso respondeu no lugar da palavra.
Depois, a sombra, o arrulho das águas nas pedras ... e o corpo
moreno e liso de Sara Samira.
O pai não queria.
Jurou matar.
Adaga saudita, maldita, que por fim varou-lhe o coração.
- Foi ele, Samira, caiu, se feriu... morreu...sem querer...
Mas ela emudeceu, volveu o olhar, chorou sem soluços e sumiu...
no salto da cachoeira.
- Sara ! Samira ! Sara...Samira... Sa...
O trem se ia leve e sonâmbulo já meia-noite. Mas para onde ?
Lá embaixo o vale, as casas, o rio, o precipício e o trem
cruzando...- Sara Samira, não tive culpa... a adaga, o corte, o
sangue... Saltou do alto do rochedo, sumiu na escuma.
Lá embaixo o vale, as casas, o rio... talvez tangerinas.
O trem sumiu na sinuosidade de mais um destino sem perspectiva.
Na próxima parada, menos um passageiro.
Ninguém viu o corpo tomar lá de cima, trezentos metros no
abismo... talvez tangerinas...Sara Samira.
Luiz Poeta
|

Carlos Lúcio Gontijo
Santo António do Monte-MG/BR
MARES DO AMANHÃ
Os mares
precisam da certeza da praia
Na raia das horas os projetos avançam
Amores e sonhos carecem de tempo
Não suportam o desalento da pressa
Exigem a promessa de uma amanhã
Algo que lhes meça a grandeza futura
Sem as sombras da elipse da morte
Nem apocalipse sobre a sorte do encontro
Carlos Lúcio Gontijo |

A VEZ DO MAR
No imenso mar de águas e gente
Viver é tão ingente quanto navegar
Quem não sente o contratempo não caminha
Tudo se aninha ao entender natural da maré
O conhecimento jamais se sobrepõe à fé
É preciso ter fé para aprender o vento
A síntese da matemática não está na exatidão
Já que só é entendida no acerto da repartição
Bom jangadeiro não se dispõe a enfrentar
tempestade
Reconhece humildemente quando a vez é do mar
Só os incautos se entregam ao simplismo da
vontade
A humanidade não avança pela tecnologia
Mas pela magia multiplicadora da divisão
Mola propulsora da verdadeira felicidade
Quando toda vaidade cede espaço à convivência
Uma ciência dependente do amor ao próximo
Carlos Lúcio Gontijo |

Quando a vez é do ladrão
Desde 1977, toda vez que lançamos um livro nos deparamos
com a dura realidade da não existência de política
voltada para a produção literária. É inexplicável, por
exemplo, o fato de os autores independentes pagarem pela
impressão de seus livros e, ao enviar exemplares para
divulgação em escolas e bibliotecas públicas ou
comunitárias, ter que enfrentar as altas taxas cobradas
pelo Correio brasileiro.
Não foi diferente agora com a edição do romance “Quando
a vez é do mar”, que foi enviado a diversas cidades do
Brasil e até do exterior, sob o régio pagamento feito
com nossos próprios recursos e sem qualquer subsídio,
como se o autor estivesse sendo alvo de uma cruel
punição oficial, pela ousadia de escrever em país de tão
poucos leitores.
Pois bem, numa dessas remessas de livros, houve um
curioso e inesperado assalto a carteiro, com os ladrões
surrupiando 18 livros no paradisíaco solo de Camboriú,
em Santa Catarina. O Correio nos devolverá a quantia
relativa ao valor declarado mais a tarifa de postagem,
mas fica a sensação de impotência diante do quadro de
violência que assola a nação brasileira.
Infelizmente, não chegamos ao estágio de assistir a
ladrões roubando livros por obsessão pela leitura, pois
o que ocorreu é fruto do crescimento da venda pela
internet e o consequente aumento de entrega de
mercadoria pelo serviço de correio, transformando os
carteiros em alvo fácil para os assaltantes. Foi o que
se deu em Camboriú, onde os exemplares do romance
“Quando a vez é do mar” chegaram quando a vez era
literalmente dos ladrões.
Aliás, é bom que se diga, que pela dificuldade em se
apurarem casos como os do contraventor Carlinhos
Cachoeira, somos levados a acreditar que os ladrões são
figuras realmente prestigiadas por todos os setores da
sociedade brasileira, não escapando nem mesmo a grande
mídia brasileira, que se alicerça em parâmetros
seletivos dentro de sua decantada missão investigativa.
Ou seja, costuma agir com parcialidade, fazendo uso
político de seu acervo de informações, conforme deixamos
grafado no romance “Jardim de Corpos” editado em 2009.
Tudo no Brasil se nos apresenta sob a égide do levar
vantagem em tudo, princípio comportamental pelo qual se
explica a total falta de princípios. Nem mesmo as
festejadas feiras do livro Brasil afora se salvam do
signo da desonestidade e da esperteza. Não raro, os
autores verdadeiros, os idealistas batalhadores do mundo
das letras, são chamados a cumprir o papel de bela
cereja a enfeitar e legitimar o bolo (no sentido de
bolada) que será dividido com os bafejados pela sorte de
contar com o apoio dos holofotes da grande mídia.
Prova inconteste disso foi o que se verificou na7ª Feira
do Livro de Bento Gonçalves, neste mês de maio de 2012.
A feira, que contava com recurso total de R$220 mil para
sua realização, houve por bem destinar R$170 mil ao
“escritor” Gabriel O Pensador, elevado à condição de
patrono da feira. A quantia em total discrepância com a
disponibilidade de recursos levou o escritor Fabrício
Carpinejar a desistir de participar do encontro,
enquanto o Ministério Público resolveu barrar o
pagamento, analisado como incompatível com os gastos
totais da conceituada feira. O problema, claro, não
estava no cachê a ser recebido por Gabriel O Pensador,
mas na sua disparidade diante dos recursos de que a
feira dispunha, descortinando-nos uma visão imperial,
onde ao rei não interessa o que acontece com os súditos.
Mas tal imbróglio é coisa de peixe grande: os
tubarões-martelo do pregão cultural, que se dão ao
direito de abocanhar quase todo o montante dos
famigerados parcos recursos investidos em cultura pelo
governo brasileiro. E ai de quem tentar mexer para
fatiar mais democraticamente o bolo!
Enfim, na condição de autor independente há 35 anos, só
nos resta mesmo prosseguir em nossa caminhada. No dia
oito de junho, lançaremos o romance “Quando a vez é do
mar”, em Santo Antônio do Monte, centro-oeste de Minas
Gerais. Depois, em agosto, iremos a Teresina, no
distante e hospitaleiro Piauí. E entre um lançamento e
outro, continuaremos a postar exemplares de livros pelo
Correio, ainda que a vez se nos revele, explicita e
desabridamente, do ladrão.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br |

Amélia Luz
Pirapetinga/MG/Brasil
VOZES DO RIO DE JANEIRO
Esta terra tem
segredos,
guardados com a chave dos tempos!
Rio é reserva de vida a esbanjar
na fala, no grito, histórias perdidas
no bater repetido das ondas do mar...
A colonização, os jesuítas, a catequização,
a luta negra das mãos escravas!
Nas páginas históricas do Brasil
teve Rei e Corte e cheiro de majestade
o progresso se expandiu e a elevou
Sede de Governo do Reino Unido Brasil,
Portugal e Algarve, uma Europa
Fincada no coração da América....
Maquiada hoje pela modernidade
mostra a sua face bela com sol, sal, areia e mar,
relíquia dos séculos rodeada de montanhas...
Monumento geográfico natural
reconhecido como tesouro inestimável,
defende-se da sanha comercial
preservando a natureza, seu ninho de beleza.
Rio é porto-cidade, levando e trazendo,
ampliando fronteiras para o mundo.
Rio é tarde no cais, é o chegar dos navios,
é o regresso à terra firme que acolhe,
depois de dias de olhar perdido no convés,
num cenário repetido de águas e céu aberto.
Amo essa terra através das gerações
que por aqui passaram e deixaram tantas marcas...
E o Cristo Redentor a abençoar a baía,
virou, de repente, Maravilha do Mundo
enquanto a Garota de Ipanema
continua sendo o seu hino imortal!!!
Amélia Luz |

NADA
Martelo cego
o meu ego
a ninguém me apego
e a escravidão renego!
Despetalo a flor,
de mim sou caçador,
o que tenho a propor?
Sou nada, arco-íris sem cor!
Martelo o prego com coragem
na parede que não existe
penduro um quadro
que vazio já não tem imagem...
Tento limites transpor
superando a dor
nessa vida quixotesca
de Sanchos e Rocinantes...
Luto contra o imaginário
perdida que estou
entre moinhos de vento
em noites de tempestades...
Jogo lanças no vazio e
sem querer mato os meus sonhos
apagando o pavio!
Na verdade a vida é tudo
que se transfigura em nada...
Amélia Luz |

ANTONIO PAIVA
RODRIGUES
FORTALEZA/CEARÁ/BRASIL
Loucuras De amor
Ele afirma não
ser poeta, mas...
Li no teu semblante
Uma mensagem oculta.
Terna doce e refrescante
Pensei, cá com meus botões
Será que ela esqueceu os senões
Dos prazeres, alegrias e sensações
Que fizerem palpitar nossos corações.
Poetas vivenciam...
A nossa vida é assim: Cheia de virtudes, defeitos e
trejeitos
Não esqueçamos jamais, como sofre um coração no
peito
De quem ama sem preconceitos, puro como o ar
rarefeito.
Que se encontra nas mais altas montanhas, do orbe
perfeito sem rejeito. Amar e ser amado, uma arte
criada pelo Senhor sem defeitos... Que desprezamos,
por ciúme ou despeito e por sermos imperfeitos. Mas
a saudade e o aconchego nos deliciam com um amor
perfeito.
Poetas não temem...
Sublime, eterna, gloriosa, bela, inteligente e
graciosa, amo-te!
Sem ter medo de ser feliz, onde miro te vejo,
desejo-te profundamente. Dia e noite sou feliz, mas
sem tua presença, pareço uma grande cicatriz.
Perturba, machuca, dilacera, dói em minha alma,
sinto-me infeliz de longe ao se aproximar, coração a
palpitar, desejo te beijar toda fagueira, faceira,
semblante a brilhar, pensa é hora de amar.
Poetas amam e sentem...
Amar desesperadamente entre gemidos, sensações e
beijos ardentes
Sugar nossas forças com um magnetismo imanente,
nossos olhos brilham reluzentes. Pedindo mais
carícias, nossos corpos entram em êxtase, e uma
sensação nos faz cerrar os dentes é o orgasmo, o
prazer, que só o amor proporciona a gente que ama a
gente.
Antonio Paiva Rodrigues |

JOÃO HÉLIO
Vida de criança é seiva de esperanças para entes queridos, os
pais são diretrizes! Raízes multifárias de bonanças
sacrossantas, norteando lucilente rutilância dos aprendizes.
Semeando, regando o coração com paz e amor, Orientador de
andanças sem relutâncias e destemor,
É ciclo fasto de venturas, alegrias sem temor; vida linda feita
com alegria e vigor no dia a dia, na seara sagrada da luz
emanada irradiam, em derredor de si a ingenuidade que acaricia;
os corações a pulsar na introspecção sadia.
Vida genitura, fruto do amor fraternal e carnal, abençoado por
Deus, nosso Pai Celestial. Na vida embrionária pulsa com ser
condicional, vendo o mundo um diamante descomunal. Entre
passeios e distrações, vem o prazer divinal terra de paz
decantada, mas abarrotada de marginal Cirineico buril jamais
feriu o palmilhar da cor anil, nem as esperanças da criança ser
feliz e gentil.
No alvorecer da vida jamais imaginou surpresa, tranquilo, com a
mãe em harmonia aspirava beleza, da pátria do verde e amarelo
tudo se declina na destreza. O livre arbítrio deixa o homem a um
passo do mal, Torna-o animal e dependente da própria natureza
animal. Age pelo instinto, pelo espírito mal, como fosse
natural, sem contemplação, sem compaixão é maligna tristeza.
Repentinamente, voraz, avança com animal destreza; para
transportes para satisfazer seu instinto bestial, não importa
quem esteja à maldade cega é imoral, expulsa com frivolidade os
passageiros e uma criança. Com tantas esperanças de viver, ser
feliz se desespera. Na destreza se vale de um cinto que vira
insegurança. Preso ao objeto, um corpo pequerrucho se debatia e
tremia,
Dores terríveis infiltravam-se em suas entranhas. O corpo
inocente era dilacerado com tremenda artimanha; João Hélio era a
vítima dos algozes brutais, cruéis, e desumanos, carcomamos sem
corações, e com muita sanha. Aos pedidos de socorro, mais
velocidade empreendia, o pequeno João gemia, sofria, dores
dilacerantes, suas carnes eram destruídas pela violência e sua
vida jazia, fruto da maldade dos insanos assassinos.
Hélio não resistiu! A dor da família foi descomunal e a cena
brutal comoveu todo País. Foi necessário se esvair a vida de um
pequenino para as autoridades repensarem na intranquilidade, na
violência que se apossaram dos nossos destinos. Querido João
Hélio tens o caminho do Céu aberto para ti, pois Jesus em sua
clemência sempre afirmava: "Deixai vir a mim as criancinhas,
pois elas herdarão o Reino dos Céus”. E lá estarás com toda
certeza!
Antonio
Paiva Rodrigues
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Zeila Fátima Pereira Giangiácomo.
Sorocaba (S.P.)
FARÓIS
Olhos úmidos
de ternura
Derramando arco-íris no meu céu
Encharcando de mar o meu deserto
Rodopiando luz no meu carrossel...
Olhos que sorriem a cada encontro
Espalhando sol num dia a despertar
Olhos que entoam a canção mais doce
Que sempre teimam ir, no desejo de ficar...
Olhos guerreiros, valentes faróis
Acalmando tormentas no rude velejar
Acendendo vida pendente em lampiões
Resgatando a paz e sossegando o mar...
Cúmplice da cama, num só bem-querer
Cobre minhas ânsias com a textura d’alma
Beijando meus desejos até o adormecer!
Olhos nos olhos, sorvidos em turbilhão
Como astros navegantes, em torrentes de amplidão
Circuitando em tênues fios, as luzes do coração!
Zeila Fátima Pereira Giangiácomo |

CHORO E CHANTILI
No veludo do tapete
Na textura de carícias
Pés massageiam delícias...
Bocas plantam emoções...
Tilintam puros cristais
Entre murmúrios macios
Ao pé do ouvido aquecido
De néctar embevecido...
Informatização de última geração
Atenção! Luzes, cores, som, ação!
Virtual e informal, cadê a cena real?
Deletou-se o tapete, a lareira, a excitação!
Ah... conecta- se o silêncio...
Os pés plantados no chão
Vazio interno entre as mãos
O olhar na solidão!
Zeila Fátima Pereira Giangiácomo |
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