Compositor e interprete de
música popular portuguesa,
ficando célebres as suas canções
de protesto, antes e depois do
25 de Abril de 1974. Adriano
Correia de Oliveira foi um dos
mais importantes intérpretes do
fado de Coimbra. As baladas
“Trova do Vento que Passa” ou
“Canção com Lágrimas” são marcos
da canção de intervenção. Cantou
poemas de Manuel Alegre e
António Gedeão. As suas músicas
provam que, na arte, não basta
agradar: é preciso tocar um
nervo público. As suas canções
de intervenção foram das mais
criativas de sempre. Adriano
Correia de Oliveira pertenceu ao
grupo dos transgressores.
Quebrou todas as regras e
arriscou o próprio físico. Para
ele, a música tinha uma função
social: devia denunciar
injustiças ou ser um repositório
de emoções. Adriano Correia de
Oliveira foi, acima de tudo, um
homem simples. Talvez por isso
não tenha a notoriedade de
outros cantores da sua geração.
Abordava as canções como pedaços
de vida. Tinham de ser
relevantes para a sociedade.
Adriano compunha para deixar um
traço. Compunha por pensar que
esse traço podia despertar no
outro uma emoção, uma
perplexidade, uma repulsa.
Adriano Correia Gomes de
Oliveira nasceu no Porto, em 9
de Abril de 1942, filho de
Joaquim Gomes de Oliveira e de
Laura Correia. Ainda muito novo
foi viver para Avintes, onde fez
a escola primária. Depois de
completar os estudos
secundários, inscreveu-se no
curso de Direito da Universidade
de Coimbra. Gostava de
participar na vida cultural da
Universidade. Cantou no Orfeão
Académico de Coimbra e fez
teatro. Não tardou a descobrir o
fado. A sua voz triste era
perfeita para o tom romântico e
contemplativo da tradição
coimbrã. No início da década de
60 tornou-se militante do PCP.
Era um homem de esquerda que
gostava da luta política.
Moldado por convicções
inabaláveis lutou sempre contra
um país que vivia adormecido. Em
1962, participou nas greves
académicas e concorreu às
eleições da Associação Académica,
através da lista do Movimento de
Unidade Democrática (MUD). Todas
estas movimentações levaram-no a
gravar, no seu terceiro álbum,
uma das baladas fundamentais da
sua carreira, “Trova do Vento
que Passa”, com poema de Manuel
Alegre. Versos como “Há sempre
alguém que resiste / Há sempre
alguém que diz não” entraram no
espírito de todos os que
ansiavam pela liberdade. Foi o
hino do movimento estudantil.
Em 1966 casou-se com Matilde
Leite, com quem teve dois
filhos. Veio para Lisboa, onde
pretendia retomar o curso. Como
ainda estava no primeiro ano,
foi obrigado a cumprir o serviço
militar. Nunca parou de gravar e
de ajudar os movimentos
estudantis na luta contra o
regime salazarista. Em 1969, o
álbum intitulado “Adriano
Correia de Oliveira” foi
considerado o melhor disco do
ano, o que o levou a participar
no famoso programa de televisão
“Zip-Zip”. Depois de ter
terminado o serviço militar,
arranjou emprego no gabinete de
imprensa da Feira Internacional
de Lisboa (FIL). Nesse mesmo ano
decidiu avançar com o álbum “O
Canto e as Armas”. Habituado a
gravar discos com canções
independentes umas das outras,
Adriano Correia de Oliveira
gravou um álbum conceptual,
construído à volta de um poema
de Manuel Alegre. Foi uma opção
arriscada, tanto artística como
politicamente, já que Manuel
Alegre era um autor proibido.
Depois de “O Canto e as Armas”,
Adriano continuou a produzir
discos políticos que denunciavam
a realidade portuguesa, tendo
marcado a existência de muitos
que o ouviram. “São grandes
aqueles que modificam a vida das
pessoas”, lembra a historiadora
Irene Pimentel. Chegou a
Revolução de Abril, e Adriano
Correia de Oliveira já podia
cantar, com alegria, a
liberdade. Participou em vários
espectáculos, em Lisboa e no
Porto. Sempre considerou que a
cultura deveria ser para todos e
fez os possíveis por espalhá-la
pela população. Em 1974 fundou o
“Colectivo de Acção Cultural” e
andou pelo País, com o apoio do
Partido Comunista, a anunciar a
Revolução. Era a época do PREC e
de todas as utopias. Em 1975
recebeu o prémio de melhor
artista do ano, atribuído pela
revista britânica “Music Week”.
Mas nem por isso se deixou
paralisar pela prisão das
recordações. Continuou o seu
combate contra a injustiça
social, com uma sofreguidão de
gozar o “tempo que passa”. No
fim da década de 70 Adriano
fundou a cooperativa artística
Cantarabril, o sonho da sua
vida, mas não tardaram os
problemas internos que
culminaram na sua expulsão, em
1981. Nunca deixou de ter
projectos, mas a morte
interrompeu-os. Morreu em
Avintes em 16 de Maio de 1982.
Algumas canções cantadas por
Adriano Correia de Oliveira
Lira; E alegre se fez
triste; Canção com
lágrimas; Canção da
fronteira; Canção
terceira; Cantar de emigração
(este parte, aquele
parte); Erguem-se muros; As
mãos; Menina dos olhos
tristes; Pensamento; Porque; Emigração
(Quando no silêncio das noites
de luar); Tejo que levas as
águas; Trova do vento que
passa; Canção tão simples (Quem
poderá domar ...); Capa negra,
rosa negra; Pátria; Por Aquele
Caminho, etc.
Trova Do Vento Que Passa
(António Portugal / Manuel
Alegra)
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
o vento nada me diz.
La-ra-lai-lai-lai-la,
la-ra-lai-lai-lai-la, [Refrão]
La-ra-lai-lai-lai-la,
la-ra-lai-lai-lai-la. [Bis]
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal