Trabalho e pesquisa de
Carlos Leite Ribeiro
Formatação: Iara Melo
Salvador foi fundada por Tomé de
Sousa, em 1549 e, foi durante mais de 200 anos, sede do Governo-geral do Brasil.
No primeiro século de sua existência, girou em torno da exportação do açúcar,
pois as plantações de cana haviam-se expendido ao longo dos rios que desaguam na
Baía de Todos os Santos. Para isso, a cidade contava com um porto bem
localizado, naturalmente protegido do Atlântico por um promontório.
Posteriormente, desenvolveu-se a cultura do tabaco, na região periférica à Baía,
ocupando as terras impróprias para a cana-de-açúcar, ao mesmo tempo que, pelo
sertão, foi-se expandido a criação de gado, intensificando o movimento
portuário. No final do século XVll, a cidade sofreu novo impulso com a
construção de palácios, igrejas, conventos e solares. Em 1763, com a
transferência da capital do Brasil para o Rio de Janeiro, diminuiu o ritmo de
seu crescimento. Contudo, ainda no século XVlll, Salvador começou a exportar
ouro e diamantes provenientes da chapada Diamantina. No início do século XlX, o
porto exportava, açúcar, tabaco, couro, madeira e oleaginosas. Em 1829, a cidade
passou a ter iluminação pública a óleo, para em 1862 passar a gás. Na altura,
foi implantado o serviço telegráfico. Em 1912, sob a intervenção federal, sofreu
vários bombardeamentos, devido às reacções da população.
Salvador fica situada à entrada da Baía de Todos os Santos, e ocupa a ponta da
península que se estende ao Norte e a Leste desta. O terreno em que foi
edificada a cidade, apresenta dois níveis: a Cidade Baixa, que fica na faixa
litorânea, e a Cidade Alta, aproximadamente a 70 metros acima do nível do mar.
Nesta parte da cidade, concentra as funções portuárias e comercial,
principalmente os retalhistas. Aí também se encontram bancos, escritórios, o
Mercado Modelo e a feira de São Joaquim.
A Cidade Alta é formada sobretudo por bairros residenciais, mas conta também com
órgãos administrativos, escritórios e comércio dedicado ao turismo. A Cidade
Baixa e a Cidade Alta são ligadas por ladeiras, modernas rampas, dois
funiculares e o Elevador Lacerda, que data de 1873. Entre as principais
atracções turísticas, estão as igrejas, como a abadia de São Bento, do século
XVl, a catedral Basílica Maior e a igreja do Desterro, do século XVll; as
igrejas da Ordem Terceira de São Domingos, do Convento de São Francisco, da
Ordem Terceira de São Francisco e do Bonfim, todas do século XVlll. Os fortes
mais procurados são os de Santo António da Barra (1536) e os de Santa Maria, São
Marcelo, São Pedro e São Diogo, todos do século XVll. São também locais
turísticos o convento do Desterro, o convento da Lapa, o Solar do Unhão, a
Reitoria, a Baixa do Sapateiro, o Largo do Pelourinho e a Rampa do Mercado.
Entre as praias da cidade, destacam-se as de Amaralina, Arembepe, Armação,
Paraguaçu, Boa Viagem, Farol da Barra, Itapuã, Ondina. Piatã e Pituba. Muito
visitada também é a Lagoa do Abaeté.
A Igreja de Nosso Senhor do Bonfim – Uma promessa do Capitão Teodozio Rodrigues
de Faria deu início a irmandade de devoção ao Nosso Senhor do Bonfim em 1745 e
às romarias de peregrinação ao templo a partir de 1754. A imagem do santo, feita
sob encomenda em Setúbal, Portugal, chegou em 1740 e foi colocada na Igreja de
Nossa Senhora da Penha, na Ribeira. A construção da Igreja de Nosso Senhor do
Bonfim durou 14 anos e o tempo foi inaugurado com a entronização da imagem, em
1754. As torres, porém, só foram concluídas em 1772. Sua fachada, voltada para o
centro da cidade, é parcialmente revestida de azulejos brancos portugueses de
1873, que contrastam com a pedra morena dos cunhais, portais, contornos e parte
frontal. A pintura do teto da nave é uma obra-prima do mestre Franco Velazco. A
sala de ex-votos, por sua vez, é uma prova de fé de milhares de peregrinos que
aí estiveram agradecendo graças alcançadas. A tradição de amarrar uma fita no
pulso com três nós, repetindo em cada um deles o pedido, é sagrada entre os
católicos e entre os praticantes do candomblé. Na segunda quinta-feira de
Janeiro após o Dia de Reis, uma procissão de baianas de acarajé acompanhada pelo
povo sai numa caminhada de oito quilómetros da Igreja de Nossa Senhora da
Conceição da Praia em direcção à Igreja do Bonfim. Tipicamente vestidas e
levando potes brancos com flores e água, as baianas lavam o adro e as escadarias
do templo em meio a cantorias e saudações. O Hino ao Senhor do Bonfim é uma
música sagrada, sendo cantado em solenidades religiosas e cívicas do povo
baiano.
Em 29 de Março de 1549, chegava à enseada do Porto da Barra a frota que conduzia
Thomé de Souza e os que, com ele, vinham fundar a Cidade do Salvador.
A cidade, que foi a Capital do Império Português na América e a Capital do
Atlântico Sul, não é assim o resultado da evolução de um grupo vicinal às
categorias de povoado, vila e, finalmente, cidade. Já nasceu com todas às
prerrogativas de sede de governo, local de decisões políticas e administrativas.
Com Thomé de Souza (que acumulava o título de Governador, o de Capitão desta
capitania que fora doada a Francisco Pereira Coutinho e revertera ao domínio
pleno da Coroa ) chegaram cerca de mil homens - entre voluntários, marinheiros,
degredados, soldados, e sacerdotes. Este grupo, mais a tripulação da nau de um
certo Gramatão Teles, que viera dar notícias da Fundação decidida em Lisboa,
somado ao que restava da Vila do Pereira, fundada treze anos antes pelo
donatário e mantida pela liderança do "Caramuru", e que implanta a cidade e lhe
dá vida.
Apesar de fundada em 1549, noventa e seis anos depois da data que livros
didácticos convencionaram como sendo a do fim da Idade Média, a Cidade do
Salvador ainda foi influenciada por muitos e muitos factores medievais na
escolha do sítio do seu núcleo inicial e no sistema de defesa que nele se
desenvolveu.
Os planos discutidos na metrópole e aqui implementados pelo "mestre de risco e
pedraria" que foi Luís Dias, determinavam, basicamente, a construção de uma
"fortaleza grande e forte". A preocupação com a defesa superava todas as outras.
A habitação e a circulação ficavam em segundo plano, subordinadas aos propósitos
de segurança militar para a "cabeça da colónia do Brasil" e para as frotas que
buscavam abrigo da baía de Todos os Santos nas suas rotas para o Oriente, seja
pelo caminho do Cabo da Boa Esperança, seja pela rota do Pacífico, contornando o
extremo sul da América.
Foram estas ideias que determinaram a escolha do ponto mais alto da costa em
torno do golfo, para nele situar a cidade. Preferiu-se o local que oferecia
maiores facilidades naturais à defesa, tanto dos possíveis ataques pelo mar,
quanto das investidas dos índios agredidos com os novos fatos da presença
colonizadora.
Limitou-se a cidade, ao sul, pela porta de Santa Luzia, no sítio onde,
actualmente, a rua Chile encontra-se com a Praça Castro Alves. Ali, a escarpa
natural, hoje desaparecida com as muralhas do próprio largo e as das ladeiras da
Conceição e da Montanha, compunha a defesa em acidente natural que se estendia
por toda a face oeste desse núcleo básico - a "montanha da cidade".
Pela face leste, uma escarpa de menor porte, uma barroca pequena - e por isto
Barroquinha - também apoiava a defesa em sistema integrado com a "vala na
cidade", curso d'água nascente onde se fizeram as Hortas de São Bento, no local
do primeiro matadouro que por lançar ali os seus restos baptizou o curso de Rio
das Tripas.
O limite norte da cidade, conquanto tenha apresentado alguns pontos de
controvérsias entre historiadores, ficou perfeitamente definido em pesquisas e
interpretações mais recentes. Esteve, ainda que por breve tempo, na porta de
Santa Catarina, no limite actual. entre a Praça Municipal e a Rua da
Misericórdia, junto da esquina com a Ladeira da Praça. Daí foi logo avançando
para a actual. Face esquerda do Palácio Arquiepiscopal, onde bem mais tarde foi
levado para o meio do declive, hoje ocupado pelo Largo do Pelourinho, onde podem
ser encontrados restos da muralha fortificada.
A conjuntura que inspirou a fundação da Cidade do Salvador e sua locação neste
ponto da costa do Brasil foram elementos básicos do traçado do seu destino.
Ainda hoje, quem nela habita está, naturalmente, vinculado àquelas opções.
Hão de ser especificamente referidos os jesuítas da primeira leva e os Oficiais
do Senado da Câmara.
Quando D. João III iniciou o trabalho de por ordem e dar rentabilidade ao
império que alcança a sua maior amplitude no reinado anterior de D. Manuel 1º,
cuidou de se prover de respaldo religioso para as terras do Brasil, da África e
da Índia. As ordens que vinham da Idade Média, apoiados em uma visão
contemplativa da Fé, já tinham dado o melhor da sua presença. Surgia àquele
tempo uma nova visão caquéctica, criada por Inácio de Loiola: a Companhia de
Jesus. Nela, o rei de Portugal buscou homens para mandar ao ultramar.
De início, lhe foram dados os padres Francisco Xavier e Simão Rodrigues. O
primeiro, logo viajando para o Oriente, seria o Apóstolo das Índias, com marcada
presença em Goa e no Japão. O segundo organizou a "assistência" de Portugal, e a
ele se deve o recrutamento e o envio do Padre Manoel da Nóbrega chefiando os
jesuítas que vieram na armada da fundação.
Saltando na Barra e exercendo os primeiros ministérios na "maneira de igreja"
que já encontraram em devoção a Nossa Senhora da Graça, os inacianos foram dos
primeiros a se transferirem para cidade que se fundava e, certamente, os
responsáveis pela fisionomia da sua face setentrional, com a locação do seu
colégio e da sua igreja. A eles coube não só o trabalho de pregação, como todo o
aparelho pedagógico da colónia, aspecto em que exerceram o monopólio até a
expulsão de 1759.
O Senado da Câmara, ou seja, os vereadores da cidade merecem, na história destes
primeiros tempos, referência muito destacada e específica.
Em uma estrutura de governo absoluto, quando o rei podia tudo sobre as pessoas e
as coisas, funcionava, paralelamente, um colegiado eleito a que cumpria a
administração civil da cidade. E, mais do que isso: além da vigilância ao bom
cumprimento das posturas que elaborava, ainda lhe era inerente a fiscalização do
bom cumprimento dos ofícios dos servidores do Reino. Ao ponto de ser disposição
específica o fato da cadeia pública ter que funcionar, necessariamente, no mesmo
prédio das suas reuniões, como forma directa e material de colocar, sob
permanente vigilância, qualquer possível abuso de autoridade. Estas atribuições
aos vereadores da cidade dão bem a medida da importância do seu papel naqueles
dias iniciais.
Cabe, ainda, uma referência especial à Santa Casa da Misericórdia, ou Casa da
Santa Misericórdia para usar a expressão coeva. O Concílio de Trento ordenando
as chamadas "obras de misericórdia" como que legislou sobre o que, hoje,
chamaríamos de "obrigações providenciarias" dos estados em que a religião
católica era culto oficial.
O estado português não tinha nem vocação, nem condição para implementar tais
serviços. A instituição das Misericórdias, que vinha do tempo do milagre da
rainha Isabel, era a naturalmente indicada para tais encargos.
Funcionando como polo gregário, agência de prestígio e organização de serviços
públicos, a Misericórdia da Bahia, desde os primeiros dias da fundação da
cidade, desempenhou todos aqueles papéis que a tornaram supletiva da actividade
assistêncial de um poder público que se voltava, fundamentalmente, para a
actividade fiscalista destinada a enriquecer, cada vez mais, um Reino
deslumbrado com suas conquistas.
Fora de portas, a "praia" e o caminho do conselho. Na "praia", os estaleiros
onde se faziam e consertavam naus de todos os calados, usando a boa madeira das
matas do vale do Jaguaribe. Na Ribeira dos Galeões, hoje ocupada pelos edifícios
de capitania dos Portos, carpinteiros e calafates, vindo de Portugal e seus
aprendizes que se formam na Bahia fazem urcas, caravelas, patachos e quanto mais
tipo de embarcação lhe fosse encomendado. Na estreita rua, colada ao sopé da
montanha, o atestado do carácter internacional da cidade.
Quando a administração Portuguesa retirou Tomé de Souza do encargo que lhe
cometera, a cidade já estava implantada e, já merecendo que dela se gostasse.
Inclusive o próprio fundador que declara em frase registada por Frei Vicente do
Salvador : "... verdade é que eu o desejava muito, e me crescia água na boca
quando cuidava em ir para Portugal; mas não sei que é que agora se me seca a
boca de tal modo que quero cuspir e não posso".
A história da cidade de Salvador inicia-se 48 anos antes de sua fundação oficial
com a descoberta da Baía de Todos os Santos, em 1501. A Baía reunia qualidades
portuárias e de localização, o que a tornou referência para os navegadores,
passando a ser um dos pontos mais conhecidos e visitados do Novo Mundo. Isso
fomentou a ideia de construção da cidade. O rei D. João III, então, nomeou o
militar e político Thomé de Sousa para ser o Governador-geral do Brasil e
fundar, às margens da Baía, a primeira metrópole portuguesa na América.
Em 29 de Março de 1549, a armada portuguesa aportava na Vila Velha (hoje Porto
da Barra), comandada pelo português Diogo Alvares, o Caramuru. Era fundada
oficialmente a cidade de Cidade do São Salvador da Baía de Todos os Santos, que
desempenhou um papel estratégico na defesa e expansão do domínio lusitano entre
os séculos XVI e XVIII, sendo a capital do Brasil de 1549 a 1763.
O trecho que vai da actual. Praça Castro Alves até a Praça Municipal, o plano
mais alto do sítio, foi escolhido para a construção da cidade fortaleza. Thomé
de Souza chegou com uma tripulação de cerca de mil homens – entre voluntários,
marinheiros soldados e sacerdotes, que ajudaram na fundação e povoação de
Salvador.
Em 1550, os primeiros escravos africanos vieram da Nigéria, Angola, Senegal,
Congo, Benin, Etiópia e Moçambique. Com o trabalho deles, a cidade prosperou,
principalmente devido a actividade portuária, cultura da cana de açúcar e
comercialização o algodão o fumo e gado do Recôncavo.
A riqueza da Capital atraiu a atenção de estrangeiros, que promoveram expedições
para conquistá-la. Durante 11 meses, de Maio de 1624 ao mês de Abril de 1625,
Salvador ficou sob ocupação holandesa. Em 1638, mais uma tentativa de invasão da
Holanda, desta vez com o Conde Maurício de Nassau que não obteve êxito.
A cidade foi escolhida como refúgio pela família real portuguesa ao fugir das
investidas de Napoleão na Europa, em 1808. Nessa ocasião, o príncipe regente D.
João abriu os portos às nações amigas e fundou a escola médico-cirúrgica,
primeira faculdade de medicina do País.
Em 1823, mesmo um ano depois da proclamação da Independência do Brasil, a Bahia
continuou ocupada pelas tropas portuguesas do Brigadeiro Madeira de Mello. No
dia 2 de Julho do mesmo ano, Salvador foi palco de um dos mais importantes
acontecimentos históricos para o estado e que consolidou a total independência
do Brasil. A data passou a ser referência cívica dos baianos, comemorada
anualmente com intensa participação popular.
Dos planos iniciais de D. João III, expressos na ordem de aqui ser construída "A
fortaleza e povoação grande e forte", o compromisso foi cumprido por Thomé de
Souza e continuado pelos que os sucedem. São filhos de Catarina e Caramuru, que
se misturaram com os negros da mãe África e legaram à Salvador a força de suas
raças criando um povo "gigante pela própria natureza".
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
– Marinha Grande – Portugal