O General António de Sousa Neto frente a suas fileiras, no dia 11 de Setembro de
1836, depois da vitória da Batalha do Seival (Arroio Seival - Bagê):
"Bravos companheiros da 1ª Brigada de Cavalaria!
Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de
Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais de nossa província, faz derramar
sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo fazê-la presa de
suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as vezes que seus vis satélites se têm
apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal
desengano os faça desistir de seus planos infernais.
São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o mais atroz.
E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os rio-grandenses,
estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um
governo tirânico, arbitrário e cruel, como o actual. Em todos os ângulos da
província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou
morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste
solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa independência
provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade,
e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder
absoluto.
Camaradas! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal, devemos ser os
primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual
fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e independente,
com o título de República Rio-Grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas
se fará competentemente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República
Rio-Grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!
Campo dos Menezes, 11 de setembro de 1836 – António de Sousa Neto,
coronel-comandante da 1ª brigada".
Recuamos aos anos entre 1835 a 1845, em plena Guerra dos Farrapos ou
Farroupilha. Vencida a resistência dos índios guaranis, as fazendas de gado
espalharam-se pelo território gaúcho. O Rio Grande do Sul tem também importante
participação nas lutas da Independência. No entanto, ao sentir seu crescimento
barrado pelo centralismo do Império, entra em conflito com o poder central da
Guerra dos Farrapos, entre 1835 a 1845. Posteriormente, envolve-se também na
Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870…
António de Sousa Neto
António de Sousa Neto, nasceu em Rio Grande a 11 de Fevereiro de 1801, e morreu
em Corrientes (Argentina), no dia 2 de Julho de 1866. Foi um político e militar
brasileiro, um dos mais importantes nomes do Rio Grande do Sul. Nasceu na
estância paterna, em Capão Seco, no distrito de Povo Novo, da actual cidade de
Rio Grande, onde é lembrado pelo CTG General Netto (de Povo Novo).
Era filho de José de Sousa Neto, natural de Estreito (São José do Norte) e de
Teutónia Bueno, natural de Vacaria. Por parte de pai era neto de Francisco
Sousa, natural de Colónia do Sacramento. O seu bisavô, Francisco de Sousa
Soares, fora oficial de Auxiliares no Terço Auxiliar da Colónia do Sacramento e
que casara, em 1791, com Ana Marques de Sousa , na capela da Fortaleza São João.
Descendia, pelo lado materno, do português João Ramalho que vivia em São Paulo,
antes do povoamento e que casou com a índia Bartira (Isabel) filha do cacique
Tibiriçá. Também pelo lado materno, descendia do paulista capitão-mor Amador
Bueno da Veiga.
Participou da reunião que decidiu pelo início da Revolução Farroupilha em 18 de
setembro de 1835, na "Loja Maçónica Filantropia e Liberdade". É reconhecido por
seu árduo trabalho neste confronto que durou quase dez anos (de 1835 a 1845),
como o segundo maior líder revolucionário.
Era o general da primeira brigada do exército liberal republicano. Após a
Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes a
11 de setembro de 1836. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo
comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio
Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.
Abolicionista ferrenho, foi morar no Uruguai após a guerra, com os negros que o
acompanharam por livre vontade. Continuou com a criação de gado. Fora
requisitado, juntamente com seu exército pessoal, em 1864 pra lutar na Guerra do
Paraguai. Na batalha de Tuiuti, foi ferido a bala e mandado para um hospital em
Corrientes, Argentina, onde morreu.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Nota: Em laboração final “Estado do Rio Grande do Sul – um Estado pouco
conhecido pelos portugueses continentais”.