Em 1939, Albert Einstein informou ao
presidente dos Estados Unidos, Franklin
Roosevelt, que talvez fosse possível
construir uma bomba atómica.
Em 1945, um homem genial inventava uma
bomba capaz de destruir toda a vida no
planeta.
No início da década de 40, um grupo de
cientistas foi ao Novo México para
tentar detonar uma bomba atómica, antes
que os alemães construíssem a sua.
Muitos cientistas, tentando escapar do
nazismo e do fascismo, encontraram
abrigo nos Estados Unidos, onde
continuaram suas pesquisas. Enrico Fermi
era um deles. Em 1942, foi o primeiro
físico a produzir uma reacção atómica em
cadeia, sob controle, comprovando assim
a teoria de Einstein. A experiência
secreta aconteceu em Chicago.
Na Alemanha, uma experiência semelhante
havia fracassado. Em silêncio, os
americanos continuaram as pesquisas em
Los Alamos, Novo México.
A pergunta que os cientistas precisavam
responder era a seguinte: uma reacção em
cadeia, não controlada, poderia ser
usada para fazer uma bomba? Havia quem
temesse que a bomba faria explodir todo
o planeta. Ao mesmo tempo, os americanos
anteviam a possibilidade de usar a bomba
contra o Japão, forçando, assim, o fim
da guerra.
Em Julho de 1945, dois aparelhos foram
levados, secretamente, até o deserto do
Novo México. Os americanos estavam
ansiosos para testar a nova invenção. A
explosão foi tão poderosa que chegou a
ser vista de três estados americanos.
Pouco após os testes, em 6 de Agosto de
1945, os americanos lançaram a bomba
sobre Hiroshima e três dias mais tarde
em Nagasaki.
Havia começado a era nuclear.
No dia 6 de Agosto de 1945, Hiroshima no
Japão, assistiu a um episódio terrível:
uma bomba atómica. Às 8h15m17s a tal
bomba foi lançada por um avião americano
que escapou dos radares japoneses. A
bomba explodiu a 617 metros do solo,
sobre o centro da cidade. A temperatura
chegou a 5,5 milhões de graus
centígrados. Tudo o que se encontrava a
500 metros do epicentro da bomba foi
incinerado. Quase ninguém sobreviveu num
raio de 800 metros. Menos de uma hora
depois da explosão, mais de 60 mil
pessoas haviam morrido. A explosão
liberou enorme quantidade de radiação.
Ao todo, morreram cerca de 300 mil em
consequência directa do ataque. Quem não
morreu queimado, sofreu mais tarde com
os efeitos da radiação (queda dos
cabelos e cancro são os mais comuns).
Três dias depois, em 9 de Agosto, a
operação se repetiu em Nagasaki, na ilha
de Kyushu, também no Japão. Quarenta mil
habitantes da ilha morreram. Isso porque
o terreno montanhoso protegeu o centro
da cidade.
Uma pequena quantidade de massa, quando
multiplicada pela velocidade da luz
(cerca de 300 mil quilómetros por
segundo) ao quadrado, pode ser
convertida em uma enorme quantidade de
energia (E=mc²). A fórmula que consagrou
Albert Einstein entre leigos,
demonstrada em artigo publicado em 1905,
permaneceria 27 anos sem ser comprovada
até fertilizar a mente de cientistas
que, aos poucos, visualizaram nela uma
potente aplicação militar. "Não é
impossível que, com corpos cujo
conteúdo-energia [conteúdo energético] é
variável em alto grau (e.g. com sais de
radium), a teoria possa ser testada com
sucesso", prevê Einstein no terceiro
artigo que compõe os anos mirabilis.
A partir da Segunda Guerra Mundial, a
bomba atómica passou a ser almejada como
trunfo militar e sinonimo de poderio
económico. Difícil é precisar quando
surgiu a ideia de transformar a teoria
na prática, mas há fortes indícios que a
descoberta da ficção nuclear, em 1939,
tenha sido o principal catalisador dessa
reacção.
Antes, porém, muitas foram as
contribuições para que a imagem do
quebra-cabeças fosse concluída físico
neozelandês Nelson Ernest Rutherford foi
o grande mentor, em 1932, do irlandês
Ernest Walton e do inglês John Cockroft
que, pela primeira vez, produziram a
divisão nuclear artificial completa de
um núcleo atómico, através do
bombardeamento de núcleos de lítio com
protões (acelerador de partículas),
originando núcleos de hélio e produzindo
uma pequena quantidade de energia, como
demonstrava E=mc². Foi também sob a
supervisão de Rutherford, em Cambridge,
que o físico inglês James Chadwick,
descobriu os neutrões no núcleo do
átomo. Justamente por essas partículas
serem semelhantes em massa aos protões,
mas desprovidas de carga eléctrica, que
essa descoberta permitia que o núcleo
fosse bombardeado e dividido sem haver
tanta repulsão deste com os neutrões
(como no caso do bombardeio de protões,
com carga positiva), o que produzia a
liberação de uma quantidade superior de
energia.
Três anos mais tarde, o físico italiano
Enrico Fermi conseguiu capturar neutrões,
bombardear o núcleo de urânio e
descobrir a existência de novos
elementos radioactivos, que chamou de "transurânio".
Seus progressos científicos chamaram a
atenção da física Lise Meitner e dos
químicos Otto Hahn (Nobel de Química de
1944) e Fritz Strassmann, todos alemães,
que começaram a investigar quais seriam
os elementos radioactivos que surgiam
após o urânio ser bombardeado com
neutrões. Mas foi apenas no fim de 1938
que Hans pediu os conselhos da física
judia e de seu sobrinho, o também físico
Otto Frisch – ambos vivendo na Suécia
naquele momento– para concluir que o que
estava ocorrendo era, de fato, uma
ficção do núcleo de urânio, que
originava bário e kriptónio, liberando
grande quantidade de energia. A
descoberta foi compartilhada com Niels
Bohr, chefe do Instituto de Física
Teórica da Universidade de Copenhague,
em Estocolmo, onde trabalhavam os
físicos alemães. Bohr, físico
dinamarquês, em 1931, publicara sua
teoria que mostrava que o isótopo do
urânio-235, tinha mais poder de ficção
que o urânio-238 e deveria ser o foco
das pesquisas. Mais tarde, em 26 de
Janeiro de 1939, Bohr anunciou o feito
durante a 5ª Conferência de Física
Teórica que ocorreu em Washington.
Intitulada Desintegração de urânio por
neutrões: novos tipos de reacção
nuclear, a descoberta foi publicada no
periódico científico Nature em 11 de
Fevereiro de 1939.
Corrida pela bomba: A resolução de mais
uma peça chave na compreensão do
funcionamento do núcleo atómico auxiliou
o alemão Werner Karl Heisenberg (Nobel
de Física em 1932, pela descoberta de
formas alotrópicas do hidrogénio) a
perceber que o enriquecimento do urânio
235 seria "o único método de produzir
explosivos mais poderosos em inúmeras
ordens de magnitude que os explosivos
mais fortes conhecidos". Respeitado pela
academia e reconhecido como o maior
físico teórico da época, Heisenberg
desempenhou um papel estratégico na
história da bomba atómica.
O fato do desenvolvimento da bomba
atómica poder dar a vitória à nação que
a detinha e seus aliados, inflamou os
ânimos de militares e cientistas
norte-americanos, que acreditavam que os
nazistas, nesse contexto, seriam os
candidatos mais aptos a vencerem aquela
corrida, afinal os alemães tinham
descoberto a ficção nuclear, tinham
acesso a minas de urânio, contavam com
Carl von Weizsacker – filho do
sub-secretário de Estado alemão, que
estaria reproduzindo trabalhos
americanos com urânio –, além de
Heisenberg e da liderança de Adolf
Hitler. A ameaça parecia suficiente para
mobilizar um esforço de cientistas e
militares em torno da construção de uma
poderosa arma de destruição em massa,
embora sua viabilidade ainda fosse
duvidosa.
Einstein assina carta escrita por
Szilard endereçada ao presidente
Roosevelt em 1939
Depois de receber o Nobel em 1938 por
suas contribuições à física, Fermi deixa
seu país natal para viver com sua esposa
judia nos Estados Unidos. Ele e os
físicos húngaros Leo Szilard e Eugene
Wigner (Nobel de Física de 1963),
naturalizados americanos, pesquisavam na
Universidade de Columbia uma reacção
nuclear em cadeia que retro alimentaria
a ficção de núcleos de forma contínua. A
provável viabilidade de ampliar o poder
da ficção de núcleos de urânio foi
compartilhada com Albert Einstein, que
concordou em assinar uma carta, escrita
por Szilard ao presidente Franklin
Roosevelt, pedindo cautela e "uma acção
rápida por parte do governo", uma vez
que a reacção em cadeia "conduziria
também a produção de bombas, sendo
concebível – embora muito menos certo –
que bombas extremamente potentes de um
novo tipo possam ser produzidas por este
meio". O documento, escrito em 2 de
Agosto de 1939 e entregue oito dias
depois, também alertava para a
necessidade de acelerar o trabalho
experimental, fornecendo recursos
financeiros, firmando parcerias entre
institutos de pesquisa e laboratórios
industriais, e investindo em reservas de
urânio – disponíveis no Canadá e na
(antiga) Checoslováquia e,
principalmente no Congo Belga. Fato para
o qual os alemães já teriam atentado,
uma vez que as minas da Checoslováquia
estariam tomadas por eles.
Depois dessa, outras três cartas foram
endereçadas ao presidente
norte-americano, com o intuito de
reforçar a urgência de investimentos em
pesquisas de energia atómica antes que a
Alemanha nazista o fizesse. Não é certo
que a carta, apenas, tenha desencadeado
os acontecimentos posteriores. Alguns
pesquisadores acreditam que Einstein não
era bem visto pelo governo
norte-americano por ser tido como
comunista (leia reportagem sobre a vida
de Einstein). Assim, sua carta não teria
influenciado nos acontecimentos
posteriores. É fato que a carta só
chegou às mãos do presidente, por
intermédio de Alexander Sachs, em 11 de
Outubro do mesmo ano. Szilard e Wigner,
no entanto, acreditavam que apenas
Einstein poderia ser ouvido pelo
presidente da nação.
Após o documento, o governo de Roosevelt
criou o Comité de Estudos de Energia
Atómica e, em Fevereiro de 1940, uma
pequena verba de US$ 6 mil foi liberada
para pesquisas sobre energia atómica com
envolvimento das forças armadas. Em
Agosto de 1942 surgia o Projecto
Manhattan, a pedido do presidente
norte-americano, para somar esforços de
cientistas e militares dos EUA, Canadá e
Grã-Bretanha em torno da utilização da
energia nuclear e apoiado com uma verba
de US$ 133 milhões. Liderados pelo
físico Robert Oppenheimer, filho de um
imigrante alemão, estava um grupo de
cientistas altamente qualificados,
incluindo os já mencionados Szilard,
Fermi e Bohr, além de Luis Alvarez
(Nobel de Física, 1968), Willard Libby
(Nobel de Química em 1960) e Hans Bethe
(Nobel de Física em 1967). Einstein, ao
contrário do que se possa pensar, não
foi convidado a participar do projecto.
Pouco antes, em Fevereiro do mesmo ano,
a Alemanha faria o encontro do Conselho
de Pesquisa Reich sobre física nuclear,
iniciado por Heisenberg com a palestra
"Física nuclear como armamento", quando
falou das propriedades explosivas da
ficção nuclear do urânio 235. Em outras
ocasiões, o mesmo cientista, reunido com
outros especialistas e representantes do
governo alemão, reafirmaria que a
pesquisa em física nuclear poderia
contribuir para esforços de guerra mas,
ao explicar como a bomba poderia ser
construída, apontou os altos custos que
seriam necessários a sua produção, como
o uso de toneladas de urânio, o que
inviabilizaria o projecto.
Até a bomba sair do papel para a área de
testes estima-se que mais de 100 mil
pessoas estiveram envolvidas
directamente no Projeto Manhattan, que
consumiu um total de US$ 2 biliões até
sua utilização. No final de 1942, testes
com urânio e grafite comprovaram a
obtenção bem sucedida de uma reacção em
cadeia, cuja energia era medida pouco
antes de a reacção ser interrompida. O
primeiro e decisivo teste da bomba
nuclear de plutónio ocorreu em 16 de
Junho de 1945, no deserto do Novo México
em uma área isolada. Diz-se que
Oppenheimer e outros cientistas,
localizados a quase 10 quilómetros do
local, puderam ver, ouvir e sentir o
impacto da explosão da primeira bomba
atómica, com 60 cm de diâmetro, 180 cm
de comprimento e quatro toneladas de
peso.
Assustados, fascinados e preocupados com
as consequências da explosão de uma
bomba com efeitos reais, em 17 de Julho
de 1945, Szilard e outros 69 cientistas
assinam uma petição ao presidente dos
Estados Unidos na qual expõem sua
preocupação com o uso da bomba. "Até
recentemente, temíamos que os Estados
Unidos pudessem ser atacados por bombas
atómicas durante esta guerra e que nossa
única defesa seria contra atacar com os
mesmos meios. Hoje, com a derrota da
Alemanha, este perigo foi evitado. (...)
A guerra deve ser rapidamente concluída
com sucesso e o ataque com bombas
atómicas pode ser um método efectivo.
Sentimos, no entanto, que tais ataques
contra o Japão não podem ser
justificados, ao menos que não sejam
aceitos os termos impostos ao Japão
depois da guerra, de forma pública e
detalhada, e que o Japão recuse a
oportunidade de se render".
Três semanas após os testes no deserto
norte-americano, caiam sobre Hiroshima e
Nagasaki em 6 e 9 de Agosto de 1945,
respectivamente, as bombas atómicas,
mesmo sem ter sido dada a chance do país
se render. Acredita-se que o ataque
surpresa a Pearl Harbor, nos EUA, pelos
japoneses, em 1941, que levou os
americanos a entrarem, definitivamente,
na Segunda Guerra Mundial, teria
motivado a experimentação em massa de um
advento científico de custo astronómico
e de potência pouco previsível, que não
poderia ser engavetado.
A explosão assustou leigos e cientistas,
envolvidos ou não no projecto que a
desenvolveu. A subida do cogumelo de
fogo a mais de 1200 metros do solo,
matou mais de 210 mil habitantes, deixou
outros milhares afectados pelos efeitos
da radiação pelas próximas gerações e
marcou o início de uma era militar e
científica sem precedentes.
Em 30 de Abril de 1945, em meio à tomada
de Berlim pelas tropas soviéticas, Adolf
Hitler cometia suicídio, e o almirante
Doenitz formava novo governo, pedindo o
fim das hostilidades. A capital alemã é
ocupada em 2 de Maio. Alguns dias
depois, no dia 7, a Alemanha rendia-se
incondicionalmente, em Reims.
A Segunda Guerra estava praticamente
terminada. Os conflitos restantes
aconteciam no Pacífico. E foi no Japão,
mais precisamente em Hiroshima e
Nagasaki, que a humanidade conheceu a
mais terrível criação da tecnologia. Em
06 de Agosto de 1945, era lançada a
primeira bomba atómica em alvo humano.
A Guerra estava no fim, e Hiroshima
permanecia intacta. O governo
incentivava todos a manter as actividade
quotidianas. Nesse momento, os japoneses
ouviram o alarme indicando a aproximação
de um avião inimigo. Era um B-29,
baptizado de "Enola Gay", pilotado por
Paul Warfield Tibbets Jr. Do avião, foi
lançada a primeira bomba atómica sobre
um alvo humano, baptizada "Little Boy".
Instantaneamente, os prédios
desapareceram junto com a vegetação,
transformando Hiroshima num campo
deserto. Num raio de 2 quilómetros, do
hipocentro da explosão, tudo ficou
destruído. Uma onda de calor intenso,
emitia raios térmicos, como a radiação
ultravioleta.
Um dia após a explosão, os escombros em
Hiroshima eram cobertos por uma ténue
cortina de fumaçaOs sobreviventes
vagavam sem saber o que havia atingido a
cidade. Quem estava a um quilómetro do
hipocentro da explosão, morreu na hora.
Alguns tiveram seus corpos
desintegrados. O que aumentou o
desespero dos que nunca vieram a
confirmar a morte de seus familiares.
Quem sobreviveu, foi obrigado a conviver
com males terríveis. O calor intenso
levou a roupa e a pele de quase todas as
vítimas. Vários incêndios foram causados
pelos intensos raios de calor emitidos
pela explosão. Vidros e metais
derreteram como lavas.
Uma chuva preta, oleosa e pesada, caiu
ao longo do dia. Essa chuva continha
grande quantidade de poeira radioactiva,
contaminando áreas mais distantes do
hipocentro. Peixes morreram em lagoas e
rios, e pessoas que beberam da água
contaminada tiveram sérios problemas
durante vários meses.
O cenário da morte era assustador. As
queimaduras eram tratadas com mercúrio
cromo pela falta de medicamento
adequado.
Não havia comida e a água era suspeita.
A desinformação era tanta que muitos
japoneses saíram de suas províncias para
tentar encontrar seus familiares em
Hiroshima. Corriam o maior risco
pós-bomba: a exposição à radiação.
Não se sabe exactamente porque Hiroshima
foi escolhida como alvo inaugural da
bomba atómica. Uma explicação
considerada plausível, é pelo fato de a
cidade estar centrada em um vale. As
montanhas fariam uma barreira natural, o
que ampliaria o poder de impacto da
bomba. Consequentemente, conheceriam a
capacidade de destruição nuclear com
mais precisão. Outra explicação é
baseada no fato de Hiroshima ainda não
ter sido atingida por nenhum ataque.
Isso, aliado à protecção das montanhas,
daria a medida exacta da destruição da
bomba nunca antes testada.
De concreto, sobraram os horrores de uma
arma nuclear, com potência equivalente a
20 mil toneladas de dinamite. Ainda
hoje, passados 66 anos da explosão da
primeira bomba atómica, o número de
vítimas continua sendo contabilizado, já
ultrapassando 250 mil mortos.