Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Emanuel Viana Teles Caetano Veloso, nasceu em
Santo Amaro BA (Brasil) no dia 7 de Agosto de 1942. Compositor e cantor,
principal figura do chamado “grupo baiano”. Obtém seu primeiro êxito com a
canção “De Manhã”, gravado por Leni de Andrade. Em 1967, provocou polémicas
cantando a sua composição “Alegria, Alegria”, em que usou, para acompanhá-lo,
guitarras eléctricas. Foi nessa época que surgiu o movimento musical que
recebeu o nome de “tropicalíssimo”, comandado por Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Torcato Neto, Gal Costa, Tomzé e outros. Compôs “Tropicália”, Superbacana”, “É
proibido, proibir”, “Objecto não Identificado”, “Baby”, “Irene”, “Cinema
Olímpia”, “Os Argonautas”, “Não Tenho Medo”, “Sampa”, “Menino do Rio”, “Queixa”
entre muitas outras. Musicou os filmes “Proezas de Satanás na Vila do Leva a
Trás” (com Gilberto Gil), de Paulo Gil Soares; “São Bernardo”, de Leon Hirsezman
e “ A Dama do Lotação”, de Neville de Almeida”.
Desde o início da carreira, Caetano Veloso, sempre demonstrou uma posição
política activa e esquerdista, ganhando por isso a inimizade do regime militar
instituído no Brasil em 1964 e cujos governos perduraram até 1985. Por esse
motivo, as canções foram frequentemente censuradas neste período, e algumas até
banidas. Em 27 de Dezembro de 1968, Caetano Veloso e o parceiro Gilberto Barros,
foram presos, acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira
brasileira. Foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no
Rio, e tiveram suas cabeças raspadas. Ambos foram soltos em 19 de Fevereiro de
1969, quarta-feira de cinzas, e seguiram para Salvador, onde tiveram de se
manter em regime de boca calada, sem aparecer nem dar declarações em público. Em
Julho de 1969, após dois shows de despedida no Teatro Castro Alves, nos dias 20
e 21, Caetano e Gil partiram com suas mulheres, respectivamente as irmãs Dedé e
Sandra Gadelha, para o exílio na Inglaterra. O espectáculo, precariamente
gravado, se transformou no disco Barra 69, de três anos mais tarde. Antes de
partir para o exílio, em Abril e Maio de 1969, Caetano Veloso gravou as bases de
voz e violão do próximo disco, Cantarolando com Caetano Veloso, que foram
mandadas para São Paulo, onde o maestro Rogério Duprat faria os arranjos e
dirigiria as gravações do disco, lançado em Agosto - um dos únicos que não traz
uma foto sua na capa. No repertório, destaque para as canções Atrás do trio
eléctrico (lançada em Novembro em compacto simples com Torno a repetir), Irene
feita na cadeia em homenagem à irmã, o grande sucesso Marinheiro só, e
regravações de Carolina, de Chico Buarque (regravada muitos anos depois no CD
Prenda minha) e o tango argentino Cambalache. A canção Não identificado, desse
mesmo disco, foi lançada em Novembro em compacto simples, juntamente com Charles
anjo 45, de Jorge Ben, em dueto com o próprio. Além disso, também trabalhou como
produtor musical, com João Gilberto (João voz e violão), Jorge Mautner (Antimaldito),
Gal Costa (Cantar, cujo espectáculo originado deste também foi dirigido por ele)
e a irmã Maria Bethânia (Drama - Anjo Exterminado, com faixa-título da autoria),
caracterizando-se também por numerosas canções gravadas por outros intérpretes.
Em Janeiro de 1972, Caetano Veloso retornou definitivamente ao Brasil, após
haver visitado o país em Agosto de 1971, onde participou de um encontro
histórico, ao lado de João Gilberto e Gal Costa, realizado pela extinta TV Tupi.
Ao lado deste que fora uma das maiores influências, participou em 1981 do álbum
Brasil, do seu mestre João Gilberto. O disco, que contou também com a presença
de Gil e Bethânia, foi lançado pela gravadora WEA, paralelamente à estreia da
peça O percevejo, do poeta russo Vladimir Maiakóvski, com a participação de Dedé
Veloso como actriz, e alguns poemas musicados pelo próprio Caetano. Um deles, O
amor, se tornaria sucesso na voz de Gal. Em 1974 lançou, ao lado de Gil e Gal, o
disco Temporada de verão, gravado no Teatro Castro Alves, em Salvador, com
destaque para a regravação de Felicidade, de Lupicínio Rodrigues, e as inéditas
De noite na cama (que seria regravada posteriormente por Marisa Monte e Erasmo
Carlos, novamente obtendo êxito) e O conteúdo, ambas de sua autoria. A
Tropicália seria retomada no álbum Tropicália 2 (1993), que comemorou os vinte e
cinco anos do movimento e trinta anos de amizade entre Caetano e Gil, e ainda
retomando a parceria entre ambos, contendo algumas doses de experimentalismo
(Rap popcreto, Aboio, Dada, As coisas), uma crítica à situação política do país
(Haiti - rap social da dupla), uma homenagem ao cinema (o movimento Cinema
novo), ao carnaval baiano (Nossa gente - também gravada pela banda Cheiro de
amor com sucesso), ao poeta Arnaldo Antunes (As coisas - cuja letra foi musicada
de um trecho deste livro homónimo), e ainda ao músico Jimi Hendrix, com Wait
until tomorrow. Anteriormente, ambos já haviam lançado um compacto simples com
as canções Cada macaco no seu galho (Riachão), também inclusa no repertório
deste, e Chiclete com banana (Gordurinha e Almira Castilho). Em 1973,
apresentou-se no evento Phono 73, série de espectáculos promovidos pela
gravadora Philips com todo o elenco desta, no Anhembi (São Paulo), onde ele
cantou a canção Eu vou tirar você deste lugar, do ícone considerado brega Odair
José. Um compacto simples com as musicalizações para “Dias, dias, dias” (com
citação para Volta, de Lupicínio Rodrigues) e Pulsar (Augusto de Campos) saiu
encartado em Caixa preta (Edições Invenção), obra do poeta em parceria com Júlio
Plaza; quatro anos depois, também saiu acoplado ao livro Viva vaia (editora Duas
Cidades), que seria então publicado por Augusto. Participou de um espectáculo
com Gilberto Gil na Nigéria (1977), onde passaram cerca de um mês. Em Abril, foi
publicado pela editora “Pedra que ronca o livro “Alegria, alegria”, com uma
série de artigos, manifestos e poemas de Caetano, além de entrevistas com ele,
realizada pelo conterrâneo, amigo e poeta Waly Salomão. Em 1979, apresentou-se
em um festival na TV Tupi defendendo a canção Dona culpa ficou solteira, de
Jorge Ben, onde foi vaiado e a canção desclassificada. A década de 70 foi muito
importante para carreira de Caetano, e para toda a MPB. Entre as canções de
Caetano mais representativas desse período, estão, entre outras: “Louco por
você”, “Cá-já”, “A Tua presença morena”, “Épico”, “It's a long way”, “Um índio”,
“Oração ao tempo”, “A little more blue”, “Nine out of tem”, Maria Bethânia,
Júlia/ Moreno, “Minha Mulher”, “Tigresa”, “Cajuína”, “You don't know me” e
“London London”. Ao lado dos colegas Gilberto Gil e Gal Costa, lançou o disco
Doces Bárbaros, do grupo baptizado com o mesmo nome e idealizado pela irmã Maria
Bethânia, que era um dos vocais da banda. O disco é considerado uma obra-prima;
apesar disso, curiosamente na época do lançamento (1976) foi duramente
criticado. Ao longo dos anos, o lema Doces Bárbaros foi tema de filme com
direcção de Jom Tob Azulay, DVD e enredo da escola de samba GRES Estação
Primeira de Mangueira em 1994, com a canção “Atrás da verde-e-rosa” só não vai
quem já morreu (paráfrase do verso de Atrás do trio eléctrico, gravada em 1969),
puxadores de trio eléctrico no carnaval de Salvador, apresentaram-se na praia de
Copacabana e numa apresentação para a rainha da Inglaterra. O quarteto Doces
Bárbaros era uma típica banda hippie dos anos 70. Inicialmente o disco seria
gravado em estúdio, mas por sugestão de Gal e Bethânia, foi o espectáculo que
ficou registado em disco, sendo quatro daquelas canções gravadas pouco tempo
antes no compacto duplo de estúdio, com as canções “Esotérico”, “Chuckberry
Fields Forever”, “São João Xangô Menino” e “O seu Amor”, todas gravações raras.
Nos anos 80, cresceu a popularidade no exterior, principalmente em Israel,
Portugal, França e África. Comandou, em 1986, ao lado de outro dos grandes
cantores de sua geração, o carioca Chico Buarque, com quem gravou um antológico
disco ao vivo em 1972, na apresentação do programa Chico e Caetano (TV Globo). O
sucesso deste acabou por originar o álbum Melhores momentos de Chico e Caetano,
que contou com a participação especial, dentre outros, de Rita Lee, Jorge
Benjor, Astor Piazzolla, Elza Soares, Tom Jobim, Luiz Caldas, o grupo Fundo de
Quintal e Paulo Ricardo. Além deste, neste ano lançou dois discos: Totalmente
demais, originado de um espectáculo acústico (Outubro de 1985) que fora gravado
no hotel carioca Copacabana Palace. Este disco, lançado para o projecto Luz do
Solo inclusive, foi o primeiro grande sucesso da carreira, que vendeu cerca de
250 mil cópias e que trouxe regravações de canções que fizeram sucesso na voz de
outros cantores, com destaque para a faixa-título, proibida pelo regime militar
havia três anos, e ainda Caetano Veloso, também conhecido como Acústico, pelo
selo Nonesuch, que trouxe regravações dos antigos sucessos neste formato. Este
disco contou com a participação especial de três músicos: Tony Costa (violão),
Marcelo Costa e Armando Marçal (percussão). Lançado inicialmente nos EUA, onde
foi gravado, foi distribuído no Brasil somente quatro anos depois (Outubro de
1990) e obteve boa recepção crítica, originando um espectáculo na casa carioca
Canecão, que seria reiniciado em Abril de 1991. Nesse mesmo mês, no dia 21, dia
de Tiradentes, fez uma apresentação em homenagem ao Dia da Terra, que contou com
a participação de cerca de cinquenta mil pessoas, realizado na enseada do
Botafogo, no Rio de Janeiro. Em 1981, o disco Outras palavras atingiu a marca de
cem mil cópias vendidas, tornando-se o maior sucesso da carreira até então e lhe
garantiu o primeiro Disco de Ouro. A vendagem deste disco foi impulsionada pelos
sucessos “Lua e estrela” e “Rapte-me camaleoa”, esta última composta em
homenagem à actriz Regina Casé. Neste disco também homenageou a também actriz
Vera Zimmerman, com a canção “Vera Gata, a língua portuguesa”, numa incursão
poética vanguardista (com a faixa-título), o estado de São Paulo (Nu com a minha
música), o poeta Paulo Leminski (Verdura), a cultura do candomblé e umbanda
(Sim/não), o grupo Os Trapalhões (Jeito de corpo) e o cantor francês Henri
Salvador (Dans mon ile), a quem também homenagearia na canção “Reconvexo”,
gravada por Maria Bethânia. Nessa mesma época, causou polémica ao se desentender
com a imprensa especializada (jornalistas e poetas como Décio Pignatari com quem
se reconciliaria em 6 de Dezembro de 1986, José Guilherme Merquior - que o
acusou de "pseudo-intelectual que tenta usurpar a área do pensamento", e Paulo
Francis). Participou como actor, em 1982, do filme Tabu, de Júlio Bressane, onde
interpretou o compositor Lamartine Babo, e sete anos depois, de “Os Sermões” –
“A História de António Vieira”, como Gregório de Matos, também de autoria de
Júlio. No ano seguinte, inaugurou o programa Conexão Internacional, da extinta
TV Manchete, numa gravação realizada em Nova Iorque, onde entrevistou Mick
Jagger, cantor do grupo Rolling Stones. Em fins de 1988 - Dezembro, a editora
Lumiar publicou um songbook (livro de canções), produzido por Almir Chediak,
desmembrado em dois volumes e com as letras e cifras de 135 músicas. Três anos
depois, veio Caetano Veloso, acompanhado pelos músicos da Banda Nova, com
destaque, dentre outras, para “Podres poderes”, “O pulsar”, a regravação de Nine
out of ten (gravada originalmente no álbum Transa, de 1972), O quereres, uma
homenagem ao pai com “O homem velho”, “Comeu”, “Shy moon e Língua”, uma
homenagem à língua portuguesa. Estas duas últimas contaram com as participações
especiais de Ritchie e Elza Soares. Valendo-se ainda do filão engajado da
pós-ditadura cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro
da versão brasileira de “We Are the World”, o “hit estadunidense” que juntou
vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projecto Nordeste Já
(1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de
criação colectiva, com as canções Chega de Mágoa e Seca d´Água. Elogiado pela
competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela
incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.
A década de 80 foi o momento em que Caetano começou a lançar seus discos e fazer
shows maiores no exterior. Dentre as gravações mais representativas deste
período na carreira do artista, e para toda a MPB, estão, entre outras: “Os
outros românticos”, “O estrangeiro”, José, Giulieta Massina, “O ciúme”, “Eu sou
neguinha”, “Ele me deu um beijo na boca”, “Outras Palavras”, “Peter Gast”,
“Eclipse oculto”, “Luz do sol”, “Jasper”, “Queixa”, “O quereres”, “O homem
velho”, “Trem das cores”, “Noite de Hotel”, “Este amor”, “Rapte-me camaleoa”,
“Língua e Podres Poderes”.