O tempo de Carnaval
decorria tradicionalmente entre finais
de Dezembro e começos de Janeiro e os
inícios da Quaresma (*). Havia uma
intensificação de actividades à medida
que esta última se aproximava, em
particular nos dias que mais se
identificam com o Carnaval, que são os
que vão de Sábado Gordo à Quarta-Feira
de Cinzas.
As manifestações do
Carnaval era (e ainda são) muito
variadas, nelas se incluindo cortejos,
representações teatrais burlescas,
competições, repastos, etc. O Carnaval é
um tempo de excessos, com múltiplos
significados. É um período excepcional,
em que se rompe com os padrões da vida
quotidiana, que alvo de sátira. É um
tempo de festa e de exaltação dos
sentimentos, quer através da ingestão de
comida, com grande consumo de carne
principalmente de porco, de bebida, quer
através da sexualidade, a que se alude
constantemente pela palavra e pela
própria exibição do corpo.
O Carnaval, a que se
chama Entrudo nas zonas rurais de
Portugal, é sob todos os aspectos, um
período que contrasta com a Quaresma,
tempo de ordem, de contrição, de
controlo corporal, facto que encontra
expressão na comida tida por apropriada,
ou seja, o peixe.
O contraste do Carnaval
com o quotidiano, o carácter satírico e
mesmo profanador dos seus rituais e
festejos, entre outros casos, quando se
parodiavam cerimónias religiosas, estão
na base de dois tipos de apreciações
bastante diferenciadas quanto ao
significado das suas manifestações.
Enquanto alguns vêem nestas uma espécie
de válvula de escape do sociedade, pois
as críticas e paródias desta época
serviriam para libertar tensões sociais,
permitindo que tudo continuasse na
mesma, outros pensam que elas podem ter
carácter potencialmente subversivo. Tal
sucedeu por vezes, convertendo-se a
farsa em conflito aberto. De qualquer
modo, é um facto que as autoridades há
muito procuram controlar o Carnaval
chegando muitas vezes a proibir algumas
das suas manifestações.
Os festejos carnavalescos
são muito variados. Assim, em Portugal,
ao lado do antigo Entrudo, que ainda
hoje sobrevive em algumas localidades,
com os seus mascarados, críticas e
sátiras, existe um Carnaval urbano,
centrado em desfiles, de onde não está
ausente a crítica, e bailes, onde é
notória a influência do Carnaval
brasileiro. Os aspectos mais subversivos
da ordem social parecem hoje já ser algo
do passado.
No Carnaval é costume
adoptar um rosto diferente por meio de
uma máscara, que tanto serve para nos
divertirmos e fazer rir os outros, como
para muitas pessoas se atreverem a
brincadeiras com pessoas que assim ficam
impossibilitadas de as reconhecer.
Na Antiguidade, a máscara
fazia parte essencial do vestuário dos
actores. Na Itália, perpetuou-se o uso
da máscara, que permitia extravagâncias
por ocasião das festas.
Do século XlV ao século
XVll, em França, a máscara tornou-se uma
tradição, particularmente no Carnaval,
que procedia o início da Quaresma,
período de austeridade.
No Carnaval dos nossos
tempos, muitos foliões ainda usam
máscara nos bailes, corsos e outras
manifestações populares, se bem que a
máscara tenha caído em desuso.
(*) Quaresma é o tempo de
penitência consagrado pelas Igrejas
cristãs, à preparação da Páscoa,
prolongando-se desde4 a Quarta-Feira de
Cinzas até Sexta-Feira Santa. Isto é,
por quarenta dias.