A frota, já preparada por D. João II para a grande Viagem à Índia,
encontrava-se então reunida na praia do Restelo (Belém – Lisboa).
Compunha-se de 3 naus (S. Gabriel, São Rafael e Bérrio) e uma barcaça de
mantimentos, levando todas, aproximadamente, uma tripulação de 170 homens.
Era seu almirante Vasco da Gama, e piloto, da nau da capitania, Pêro de
Alenquer. Assim constituída, e depois de desfraldadas as velas, em que se
via a Cruz de Cristo, a armada partiu de Belém com destino à Índia, no dia 8
de Julho de 1497.
A 22 de Novembro, dobrava o Cabo da Boa Esperança, a 15 de Abril de 1498
aportava em Melinde, e a 20 de Maio do mesmo ano chegava finalmente a
Calecute (Índia), depois de ter visitado toda a costa oriental da África.
Estava descoberto, por mar, o Caminho do Oriente.
Os Lusíadas - Canto V
1 - Parte de Belém a expedição do Gama
"Estas sentenças tais o velho honrado
Vociferando estava, quando abrimos
As asas ao sereno e sossegado
Vento, e do porto amado nos partimos.
E, como é já no mar costume usado,
A vela desfraldando, o céu ferimos,
Dizendo: "Boa viagem", logo o vento
Nos troncos fez o usado movimento.
2
"Entrava neste tempo o eterno lume
No animal Nemeio truculento,
E o mundo, que com tempo se consume,
Na sexta idade andava enfermo e lento:
Nela vê, como tinha por costume,
Cursos do sol catorze vezes cento,
Com mais noventa e sete, em que corria,
Quando no mar a armada se estendia.
3
"Já a vista pouco e pouco se desterra
Daqueles pátrios montes que ficavam;
Ficava o caro Tejo, e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais enfim que mar e céu.
4 - Em alto mar
"Assim fomos abrindo aqueles mares,
Que geração alguma não abriu,
As novas ilhas vendo e os novos ares,
Que o generoso Henrique descobriu;
De Mauritânia os montes e lugares,
Terra que Anteu num tempo possuiu,
Deixando à mão esquerda; que à direita
Não há certeza doutra, mas suspeita.
Os Lusíadas - Canto VII
1 - Chegada da frota à Índia
Já se viam chegados junto à terra,
Que desejada já de tantos fora,
Que entre as correntes Indicas se encerra,
E o Ganges, que no céu terreno mora.
Ora, sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora,
Já sois chegados, já tendes diante
A terra de riquezas abundante.
2 - Elogio a Portugal
A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no inundo;
Não digo ainda no mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça, ou pouca obediência
Da Madre, que nos céus está em essência;
3
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal