Nasceu em Lisboa no Real Paço
das Necessidades a 16 de
Setembro de 1837, onde também
faleceu a 11 de Novembro de
1861, sendo baptizado na capela
do mesmo paço a 1 de Outubro
seguinte pelo cardeal patriarca
de Lisboa D. Fr. Patrício da
Silva, capelão-mor da rainha D.
Maria II. Era filho desta
soberana, e de seu marido,
el-rei D. Fernando. Chamava-se
D. Pedro de Alcântara Maria
Fernando Miguel Rafael Gonzaga
Xavier João António Leopoldo
Victor Francisco de Assis Júlio
Amélio.
Educado primorosamente, assim
como seus irmãos, pelos melhores
professores de Lisboa, e
principalmente por sua mãe, que
teve sempre a justíssima
reputação de excelente
educadora, revelou desde muito
novo as brilhantes qualidades
que o ornavam, a sua notável
inteligência, a sua tendência
para um perseverante estudo, e
as mais nobres e mais elevadas
qualidades de espírito e de
coração. Foi jurado e
reconhecido príncipe real e
herdeiro da coroa pelas cortes
gerais a 26 de Janeiro de 1838,
tendo de idade pouco mais de 4
meses.
D. Pedro V tinha apenas 15
anos, quando faleceu D. Maria
II, sua mãe. Até 1955, data em
que completou 18 anos, governou
como Regente seus pai, D.
Fernando II (Príncipe consorte).
Assumido o poder, D. Pedro V
revelou-se logo um monarca de
raras e grandes qualidades.
As virtudes e o seu interesse em
bem servir Portugal tornam-no
amado e respeitado de todos os
portugueses. Ao começar o seu
curto reinado, houve em Lisboa
duas terríveis epidemias que
tantas vítimas causaram: a
cólera-mórbus em 1856 e a febre
amarela em 1857. Enquanto muita
gente, com medo do flagelo,
abandonava a capital, ia D.
Pedro V correndo os hospitais a
visitar os doentes, a todos
confortando e protegendo num
belo exemplo de caridade e
abnegação.
Entretanto, junto à costa de
Moçambique foi encontrado o
navio francês Charles et George,
que se empregava no tráfico
indigno da escravatura. Pelas
autoridades portuguesas foi
ordenado o legal apresamento
daquele navio e a detenção do
seu respectivo comandante.
Porém, a França exigiu a
libertação não só do barco como
do comandante, e ainda o
pagamento de certa indemnização.
O Governo Português, a fim de
evitar um conflito armado,
apresentou o seu protesto, e
depois cedeu às exigências.
D. Pedro V, foi também um grande
protector da instrução pública.
Criou muitas Escolas de Ensino
Primário, algumas das quais eram
mantidas à sua custa.
Fundou o Curso Superior de
Letras (Faculdade de Letras) e o
Observatório Astronómico da
Ajuda.
Também foi neste reinado que se
inaugurou a primeira via férrea,
de Lisboa ao Carregado, e o
telégrafo eléctrico para o
estrangeiro, em 1856.
D. Pedro V faleceu em 11 de
Novembro de 1861, com 24 anos de
idade e 6 de reinado. Era viúvo
da rainha D. Estefânia . Não
tendo deixado descendência,
sucedeu-lhe seu irmão D. Luís.
D. Pedro V foi duque de
Saxe-Coburgo-Gotha, grão-mestre
das ordens militares de Cristo,
S. Bento de Avis e S. Tiago da
Espada; grã-cruz das da Torre e
Espada e de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa;
cavaleiro da ordem do Tosão de
Ouro, de Espanha, e da ordem
Suprema da Santíssima Anunciada,
de Sardenha; cavaleiro de
primeira classe, em brilhantes,
da de Hohenzollern; grã-cruz das
ordens do Cruzeiro do Sul, do
Brasil; de Santo Estevão de
Hungria, da Áustria; da Águia
Negra, de Saxónia Real; do Leão
Neerlandês, dos Países Baixos;
do Falcão Branco, de Saxe-Weimar;
da Legião de Honra, de França;
de S. Fernando e Mérito, de Duas
Sicílias. D. Pedro V respeitava
os homens políticos importantes
do seu tempo, e era grande
respeitador de Alexandre
Herculano, a quem visitava
frequentes vezes, entretendo com
o notável historiador discussões
científicas; passava largas
horas, quando estava em Mafra, a
consultar crónicas e outros
livros antigos daquela valiosa
biblioteca. Dedicava-se à
música, tocando excelentemente
piano; era notável na esgrima,
bom atirador, e desenhava com
gosto e facilidade, possuindo o
dom especial de caracterizar uma
pessoa ao primeiro repente com
três ou quatro traços, ficando
do seu lápis muitas caricaturas
notáveis pela graça e pela
rapidez e firmeza do traço. A
caça era um dos prazeres seus
mais predilectos. Foi ele que
aboliu por completo o beija-mão,
etiqueta palaciana que era um
dos restos legados pela
soberania absoluta, e recusou-se
a confirmar a pena de morte. Não
queria ver os cidadãos, entre os
quais era ele o primeiro,
dobrarem o joelho na sua
presença, porque essa vénia só
pertence à Divindade como só a
ela pertence tirar a vida aos
homens. Entendia que a cerimónia
do beija-mão era um acto de
servilismo indigno de todo o
homem que se preza, como
entendia que à justiça humana
unicamente compete corrigir os
delinquentes, pela reclusão e
pelo trabalho, para os restituir
à sociedade, purificados e
prestativos.
Acerca do saudoso monarca
publicaram-se muitos escritos:
Reinado e ultimos momentos de D.
Pedro V, por José Maria de
Andrade Ferreira, Lisboa, 1861;
Noticia da doença de que faleceu
sua majestade el-rei o senhor D.
Pedro V, por Bernardino António
Gomes, Lisboa, 1862; Elogio
historico de sua majestade el‑rei
o senhor D. Pedro V, protector
da Academia Real da Sciencias,
proferido na sessão publica de
26 de abril de 1863 pelo socio
efectivo Luiz Augusto Rebello da
Silva, Lisboa, 1863; Memorias
para a historia d'el rei
fidelissimo o senhor D. Pedro V
e seus augustos irmãos, etc.,
por Francisco António Martins
Bastos, Lisboa, 1863; Tributo
portuguez no transito do senhor
D. Pedro V, poemeto por A. F. de
Castilho; saiu na Revista
Contemporanea, tomo V, pág. 399
a 411, e em separado; Palavras
de D. Pedro V, Lisboa, 1859;
foram coligidas e publicadas com
introdução e notas, por J. J.
Ferreira Lobo; contem todos os
discursos e alocuções do
monarca; D. Pedro V, por
Henrique Freire; 5.ª edição,
Lisboa, 1884; Oração funebre nas
exequias do rei de Portugal o
senhor D. Pedro V celebradas
pela irmandade do Santissimo
Sacramento da freguezia de S.
Nicolau em 30 de janeiro de
1862, pelo padre Antonio Maria
d'Almeida, Lisboa, 1862; Oração
funebre nas exequias, que a
camara da villa de Penella
mandou celebrar para sufragar a
alma do senhor D. Pedro V,
Lisboa, 1862; Oração funebre nas
exequias solemnes pelo eterno
descanço de Sua Majestade D.
Pedro V, celebradas na egreja
cathedral do Salvador de Beja,
pelo padre Alexandre Ramos.
parocho de Santa Maria da Feira,
da mesma cidade, Lisboa, 1863.
Há outras orações recitadas nas
solenidades fúnebres realizadas
no Porto, Aveiro, e outras
cidades de Portugal e Brasil. No
estrangeiro também apareceram
algumas obras a respeito do
saudoso monarca. José Silvestre
Ribeiro, na sua obra Historia
dos estabelecimentos
scientificos, litterarios e
artisticos de Portugal, volumes
XII e XVI, fez várias
referências a el-rei D. Pedro V,
sobretudo a respeito da fundação
das escolas das Necessidades e
de Mafra.
Fonte: Dicionário Histórico,
Corográfico, Heráldico,
Biográfico, Bibliográfico,
Numismático e Artístico.