Dona Carlota Joaquina
Rainha de Portugal, Infanta
de Espanha,
Princesa do Brasil,
Imperatriz
Honorária do Brasil
Trabalho de Carlos Leite Ribeiro
Nasceu a 25 de Abril de
1775
Carlota Joaquina Teresa
Cayetana de Borbon y Borbon,
esposa de D. João VI, nasceu
em Aranjuez (Espanha) e
morreu em Queluz (Portugal).
Desposou o Príncipe herdeiro
português com apenas 10 anos
de idade, vindo para
Portugal, em 1785. Em fins
de 1805, D. João, na
qualidade de Príncipe
regente, defrontava graves
problemas de política
internacional, em
consequência de Portugal se
achar entre as exigências da
França e da Espanha, por um
lado, e da Inglaterra, por
outro. Nessa crise, a rainha
conluiou-se com alguns
fidalgos para lhe arrebatar
a Coroa. Descoberta a
conjura, o regente
separou-se da esposa,
passando esta a residir no
Palácio de Queluz (*) e
aquele no Convento de Mafra.
Em 1807, quando da primeira
Invasão Francesa, a
transferência da Família
Real para o Brasil obrigou
os dois esposos a viajarem
juntos, mas no Rio de
Janeiro continuaram a viver
separados. Tentou tornar-se
rainha de Espanha, quando
Napoleão Bonaparte forçou
seu pai abdicar, mas nada
conseguindo. Regressou a
Portugal com o marido já
coroado rei, recusou-se a
jurar a Carta
Constitucional, porque
“assentara nunca jurar na
sua vida”. Aliando-se ao
clero e à nobreza, urdiu a
chamada “Conspiração de Rua
Formosa”, descoberta em
Abril de 1822. Foi-lhe
fixada residência na Quinta
do Ramalhão (**) (entre o
Estoril e Sintra). Ainda
nesse retiro, conspirou com
o filho mais novo, D.
Miguel, no movimento
conhecido como Vilafrancada.
As Cortes reagiram,
declarando a perda da
cidadania portuguesa de
Carlota Joaquina. Pouco
tempo durou o efeito desse
ostracismo. Derrubada a
Constituição, o próprio D.
João VI foi buscá-la à
Quinta do Ramalhão e
instalou-a no palácio da
Bemposta (***) (Lisboa). Em
Queluz, tramando outra
conspiração absolutista
originou a 30 de Abril de
1824, conhecida por Abrilada.
O rei dominou a situação,
apoiado pelos embaixadores
francês e inglês, nomeando
então uma regência,
presidida por sua filha
Isabel Maria. D. Pedro I do
Brasil, herdeiro da Coroa
portuguesa, após a morte de
D. João VI, em 1826,
outorgou uma Carta
Constitucional a Portugal e
abdicou em favor de sua
filha, Maria da Glória, que
contava então sete anos.
Combinou o casamento desta
com o tio D. Miguel, exilado
em Viena. D. Miguel, ao
chegar a Lisboa declarou-se
rei absoluto, o qual deu
origem às lutas liberais em
Portugal. Carlota Joaquina
auxiliou D. Miguel no que
pode, mas morreu sem
assistir ao desfecho da
guerra civil.
Para realizar o projecto
chamado de Floridablanca
pelo qual se conseguiria uma
aliança duradoura entre
Espanha e Portugal foi
assinado um tratado no qual
estabelecia dois casamentos
entre infantes espanhóis e
portugueses; a Espanha daria
ao príncipe Dom João a
princesinha Carlota; e
Portugal daria ao Príncipe
Dom Gabriel, filho do Rei
Carlos III, Dona Mariana
Vitória irmã de Dom João; na
época destes acordos Dona
Carlota tinha 8 anos de
idade e Dona Mariana tinha
15; esses casamentos levaram
dois anos para se
consumarem; só ocorreram
após a assinatura do
"tratado" entre a Rainha
Maria Vitória de Portugal e
o Rei Carlos III de Espanha.
Em 17 de Março de 1785 o
Conde de Louriçal que era
ministro português na corte
de Madrid pediu a mão de
Dona Carlota para casamento
em nome de Dom João; e o
Conde Fernan Nunes
embaixador espanhol em
Lisboa pediu a mão da
infanta portuguesa Dona
Mariana Vitória em nome do
príncipe Dom Gabriel.
Carlota teve que submeter-se
aos chamados "exames
públicos" para o acordo
matrimonial, quando
respondeu durante 4 dias,
cerca de uma hora por dia a
perguntas sobre religião,
geografia, história,
gramática, língua
portuguesa, (não se esqueça
que ela era espanhola)
espanhol e francês; as
apresentações dos dois
casais aconteceram no dia 8
de Maio de 1775 na cidade
portuguesa de Vila Viçosa na
fronteira com a Espanha. No
dia seguinte, o casamento
foi aceito pela Igreja
através da bênção dada por
um cardeal. Os festejos
duraram quatro dias, durante
o dia se realizavam
torneios e touradas, e a
noite haviam reuniões
musicais que na época se
chamavam "serenins", bailes
e representações líricas.
Dentro desses festejos,
durante uma das noites de
núpcias, a princesa Carlota
agrediu o esposo, mordeu-lhe
fortemente a orelha e atirou
um castiçal no rosto do
marido. Depois desse
episódio, foi feito um ato
adicional ao contrato de
casamento, permitindo que
Dona Carlota pudesse ter sua
primeira relação sexual com
o marido aos 14 anos podendo
voltar atrás caso assim ela
quisesse ou seja: se ela
quisesse fazer sexo antes
dos 14 anos, poderia. Um
certo Padre José Agostinho
de Macedo, imprimiu uns
folhetos contando esse caso
da noite de núpcias de forma
brincalhona e sarcástica com
o titulo "O gato que cheirou
e não comeu" (o texto é de
um mau gosto terrível é tão
grosseiro que eu não tive
coragem de reproduzir aqui);
a princesa, indignada com o
escrito mandou dar uma surra
de chicote nas nádegas do
padre, despi-lo em praça
pública e aplicar uma
"seringada" de pimenta do
reino no seu clérigo
traseiro e depois soltá-lo
nu no Bairro das Marafonas.
O Padre José Agostinho foi
socorrido por uma actriz
cómica do Teatro da Rua dos
Condes, Maria da Luz que
depois veio a ser amante do
vigário humilhado. O
matrimónio, é claro, foi um
fracasso. A vida sexual do
casal só começou realmente,
cinco anos depois, quando
Carlota menstruou pela
primeira vez.
Apesar dos desentendimentos
permanentes do casal, não só
no campo pessoal, mas também
no aspecto político, eles
conseguiram passar 36 anos
casados, embora durante os
últimos anos da união não
houvesse mais convivência
entre eles.
Mau
grado ser espanhola, ela foi
a «portuguesa» que mais
antecipou a moralidade sem
preconceitos, a mesma moral
que hoje é nosso apanágio, e
a gestão livre das
mentalidades, abanando uma e
outras até aos alicerces com
um comportamento livre e
fascinante.
Carlota Joaquina em Buenos
Aires... Os ingleses não
deixaram, por Theresinha de
Figueiredo
O VICE-REINADO DO PRATA
(...) A Inglaterra aproveita
a crise de autoridade
proporcionada pela fase
napoleónica e começa a
remover os últimos
obstáculos à conquista plena
dos mercados antes vedados
da América. Depois de atacar
a colónia holandesa do Cabo,
que já fora lusa, uma
esquadra britânica
desembarca forças em 1806,
em Buenos Aires. No ano
seguinte repete a operação.
A presença inglesa estava
lançada no Prata. Antes
mesmo de chegar à capital da
colónia, Rio de Janeiro, a
corte de Lisboa decreta a
abertura dos portos, em 1808
e estabelece na colónia um
governo europeu e
metropolitano. O ministro
inglês Strangford conseguira
não só o acto relativo aos
portos, mas o encaminhamento
dos Tratados chamados de
aliança e amizade, firmados
em 1810. Eram concedidas às
mercadorias britânicas
direitos de entrada
inferiores aos que incidiam
sobre as mercadorias da
metrópole. As acções da
Inglaterra na luta pela
emancipação das colónias
ibéricas da América
exterioriza o domínio que
vinha exercendo na esfera
comercial. Um exemplo da
associação da Inglaterra
naquela luta foi a
participação de um almirante
inglês no comando da frota
que transportou as tropas de
San Martin do Chile ao Peru.
Essa mesma frota serviu à
consolidação do poder do
príncipe D. Pedro no Brasil.
Operou para submeter as
províncias do norte e
nordeste ao governo do Rio
de Janeiro e contra a
própria frota lusa no
Atlântico.
Carlota Joaquina quis ser
rainha em Buenos Aires mas
os ingleses não gostaram da
ideia
O grupo mercantil de Buenos
Aires imporia, com as forças
das circunstâncias e a
própria força, o direito de
comerciar com todos os
povos. O Vice-Reinado
organizado sob o sistema de
comércio livre com a
metrópole, dá assim o
primeiro passo para a
autonomia. Após a
independência do poder
político, as colónias
hispano-americanas começaram
a traficar com os ingleses
que abasteceram os seus
mercados. Os navios
espanhóis ficaram
impossibilitados de navegar
no Atlântico já dominado
pelos ingleses.
Da queda da monarquia
espanhola à consolidação da
autonomia platina transcorre
um período em que o comércio
daquela área se desenvolve
extraordinariamente com a
Inglaterra e o Brasil. O
movimento pela autonomia
liderado por Buenos Aires e
vitorioso, somado às novas
condições comerciais,
agravam ainda mais a
situação de desequilíbrio já
existente entre as
províncias do litoral e as
do interior. As do litoral
colhem os benefícios da
liberdade de comércio: -
enriquecem e desenvolvem. O
grupo mercantil dirigente da
revolução e possuidor de
meios materiais para manter
forças militares, resiste e
combate remanescentes
espanhóis, estendendo a
emancipação a outras áreas e
subordinando-as em muitos
casos. As do interior com
sua indústria precária fora
prejudicada pelo sistema de
livre comércio. Empobrecia
gradualmente. Nelas reinavam
a desordem e o caudilhismo e
os seus produtos ficavam
onerados pelos fretes de
transporte e taxas cobradas
sobre eles em Buenos Aires.
Havia, ainda, uma diferença
entre o porto do estuário e
as províncias litorâneas não
dotadas de alfândegas. Elas
não auferiam, por isso, os
mesmos benefícios de troca
com o exterior.
Essa contradição minou a
unidade do Vice-Reinado, que
se fragmenta após a sua
autonomia.
O sistema comercial firmado
na função da alfândega de
Buenos Aires e a primazia da
cidade portuária
correspondia a uma liderança
sobre a nação recém nascida
e contra essa liderança
levantariam todos os
prejudicados: - O Paraguai,
a Banda Oriental, as
Províncias do interior.
Buenos Aires defrontaria
sérios obstáculos ao
desenvolvimento. De um lado,
a luta contra os
remanescentes espanhóis; do
outro, o desequilíbrio
interno com as partes em
luta pondo em perigo a
própria autonomia.
Enquanto confusão e tumulto
geram a nacionalidade
argentina, no Brasil
corresponde a um período de
desenvolvimento pacífico; de
consolidação de reformas, em
que o príncipe D. João,
regente e depois rei, esboça
o aparelho de Estado, firma
a autonomia da Corte sobre a
extensa área geográfica da
colónia; estrutura a sua
administração sempre com o
apoio da Inglaterra,
consegue alcançar
empreendimento externos,
como a conquista de Caiena e
a expansão para o sul. Ao
mesmo tempo, D. Carlota
Joaquina aproveitando as
circunstâncias e as
condições dinásticas,
pretende estabelecer um
trono para ela em Buenos
Aires. A crise, no Brasil,
deflagraria mais adiante e
demandaria imensos esforços.
Na área platina vinha de
longe: - a autonomia apenas
a fez explodir. Se a maioria
das províncias do interior
se colocavam dependentes da
cidade portuária sem
condições de resistência,
outras desde cedo repudiaram
a liderança de Buenos Aires
como Lima, Paraguai e Alto
Peru. Esta é uma das
explicações para a guerra
contra o Paraguai
empreendida na segunda
metade do século XIX pelo
Brasil, Argentina e Uruguai.
O antagonismo económico e
social impôs a separação
política. Depois de 1617,
quando o Paraguai se separou
administrativamente de
Buenos Aires, ficou privado
do contacto directo com o
Atlântico e manteve-se
isolado sem conseguir
superar essa dificuldade,
apesar do comércio com os
portugueses.
A crise era generalizada: -
o retrocesso do sector
industrial era consequência
exclusiva da crescente
entrada de mercadorias
estrangeiras que regulavam
no mercado colonial as
relações de oferta e
procura. Enquanto na Europa
a decadência do artesanato é
superada com o surgimento da
manufactura nacional, nas
colónias não aconteceu este
factor substituição.
Do outro lado do estuário
surge o protesto de
Montevideu, que com o passar
do tempo ganha impulso e
começa a rivalizar com
Buenos Aires. No fim do
século XVIII, a luta da
cidade oriental manifesta-se
abertamente. No início do
século XIX, a rivalidade
cresce entre os dois portos.
Buenos Aires acusa
Montevideu de "maus
patriotas, piores súbditos,
espanhóis só de nome,
traidores ao Rei e à Nação"
e até mesmo de "colónia
inglesa". Mas as crónicas da
época apontam a entrada, em
Montevideu, em 1805, de 22
navios norte americanos.
Onze deles transportavam
escravos. Em 1806, este
número cresce para trinta.
Vinte transportavam
escravos. Desde os fins do
século XVIII, o Prata vinha
merecendo os cuidados e as
atenções norte-americanas,
que via nesse amplo mercado
uma área pela qual devia
lutar.
A nova política comercial
espanhola continha a semente
da contradição. A
prosperidade metropolitana
induz o movimento pela
autonomia das colónias. O
desenvolvimento delas
continha, por sua vez, a
semente da penetração
inglesa e seu domínio
posterior. Como o grupo
mercantil portenho aceitara
e se beneficiara das medidas
do novo sistema de comércio,
ela aceitaria e se
beneficiaria do sistema
imposto pela expansão
inglesa. Sem constituir
capital comercial suficiente
para construir a produção
manufactureira, mantendo
unicamente a esfera da
circulação comercial, a
burguesia portenha seria
empresária de uma revolução
pela autonomia frustrada,
reduzida ao plano político.
A Argentina constituiria –
como o Brasil – dependência
económica e financeira da
Inglaterra, por todo o
século XIX. E em grande
parte do século XX, quando
representou o último suporte
do imperialismo inglês nesta
parte do continente – o
último a ceder lugar ao
norte-americano.
(Therezinha B. de
Figueiredo)
CARLOTA NÃO É MAIS AQUELA
(Cartas Inéditas) - artigo
de MARCOS STRECKER
Cartas inéditas mostram nova
imagem de Carlota Joaquina,
a mulher de d. João 6º,
tratada comummente como
rainha "devassa".
Após dois séculos de
"ataques à honra" de Carlota
Joaquina, a historiadora
Francisca Nogueira de
Azevedo procura reabilitar a
imagem da princesa do
Brasil. Ela prepara o
lançamento de "Carlota
Joaquina – “Cartas
Inéditas", que reúne a
correspondência privada e
política da mulher de d.
João 6º. A professora da
UFRJ fez uma extensa
pesquisa que incluiu
arquivos de Madrid, Sevilha,
Buenos Aires, Petrópolis e
do Rio de Janeiro. Ela acha
que a reabilitação faz
sentido dentro do avanço da
"história de género", o que
também estaria por trás de
um novo olhar que a França
tem sobre Maria Antonieta,
por exemplo. A compilação é
um dos principais
lançamentos do pacote de 19
livros que serão lançados
dentro das comemorações dos
200 anos da chegada da
família real ao Brasil. Para
celebrar a data, o Rio será
palco de uma série de
eventos em 2008. O início
oficial será em Novembro, em
Portugal, coincidindo com a
data em que a família real
portuguesa partiu para o
Brasil.
Cartas mostram Carlota
"delicada"
Historiadora reúne 145
cartas inéditas e diz que
princesa "transgrediu o
espaço permitido às mulheres
de sua época"
Para professora da UFRJ,
Carlota foi vítima da
"historiografia liberal,
masculina, que tem pouca
tolerância com o contrário"
Devassa, má, intrigante,
feiticeira, feia, vulgar,
perversa, despótica,
libidinosa, grosseira,
depravada. Não há (poucas)
palavras para descrever a
mulher de D. João 6º. A
personagem já ocupa um lugar
claro no imaginário popular.
E agora, se depender da
historiadora Francisca
Nogueira de Azevedo, esse
"assassinato moral" que já
dura 200 anos vai acabar por
aqui. É o que ela tenta
provar em "Carlota Joaquina
- Cartas Inéditas" (Casa da
Palavra), livro que integra
o pacote comemorativo dos
200 anos da chegada da
família real ao Brasil. Ao
reunir 145 cartas trocadas
pela princesa do Brasil, a
professora da UFRJ pretende
definitivamente apagar a
imagem que a actriz Marieta
Severo deixou no filme
"Carlota Joaquina - Princesa
do Brazil", de Carla
Camurati. Além das crónicas
de Luiz Edmundo, uma das
principais vozes
antilusitanas do período
joanino, a verve
anticarlotista rolou solta
no essencial "D. João 6º no
Brasil" (Topbooks), de
Oliveira Lima, e em
biografias como "Carlota
Joaquina, a Rainha
Intrigante" (1949), do
inglês Marcus Cheke, e
"Carlota Joaquina, a Rainha
Devassa", de João Felício
dos Santos (1968).
Com a nova edição, a
historiadora também avança
em relação a seu livro
anterior, "Carlota Joaquina
na Corte do Brasil"
(Civilização Brasileira,
2003), pintando agora um
retrato mais humano e
pessoal da mãe de d. Pedro
1º. Para a professora,
Carlota foi vítima da
"historiografia liberal,
masculina, que tem pouca
tolerância com o contrário,
especialmente em relação às
mulheres". Para ela, "por
temperamento e atitudes,
Carlota transgrediu o espaço
permitido às mulheres de sua
época". Isso não significa,
porém, que o personagem não
fosse difícil. "Ela era uma
pessoa extremamente
temperamental, a
correspondência mostra
isso", concede Azevedo.
Final do século 18
O livro chega às livrarias
em Outubro e colige a
correspondência que vai do
final do século 18, quando
se inicia a crise entre as
coroas ibéricas, aos últimos
anos de estada de Carlota
Joaquina no Rio de Janeiro.
As cartas estão divididas em
três grupos: particulares,
de gabinete e políticas. No
primeiro caso, mostram uma
mãe amorosa e mulher
afectuosa que não hesita em
chamar o príncipe regente de
"meu amor". No segundo bloco
está a correspondência com o
seu secretário José Presas,
que revela o quotidiano da
vida na corte. Na última
secção estão as sua
primeiras investidas na
esfera pública, ainda em
Portugal, até o final de sua
atuação na América. Os
textos permitem, por
exemplo, acompanhar o
projecto "carlotista":
torná-la regente da Espanha,
sediando o governo no
Vice-reino do rio da Prata.
Pode-se identificar nos
textos a resistência dos
sectores que apoiam ou não o
projecto, como as
estratégias do Gabinete do
Príncipe Regente,
principalmente do Conde de
Linhares, e do embaixador
inglês Lorde Strangford para
impedir a consolidação do
projecto. Para a
organizadora do livro, os
textos deixam claro a
independência e habilidade
de Carlota Joaquina no jogo
político.
Outros amores
E as inúmeras histórias de
adultério? Para a
historiadora da UFRJ, até aí
há controvérsias. "Mesmo com
o Sidney Smith (comandante
das tropas navais britânicas
no Rio), com quem disseram
que ela tinha tido um
relacionamento, peguei
várias cartas e nenhuma
correspondência me parece
suspeita nesse sentido",
diz. "Agora, acredito que
tenha tido outros amores,
uma mulher exuberante como
ela era. Mas era uma mulher
muito ciosa da etiqueta, foi
criada para ser rainha da
Espanha, vinha de uma das
cortes mais ilustradas da
Europa naquele momento. Era
muito bem preparada." Em
resumo, a professora acha
que as cartas não corroboram
a fama de ninfomaníaca da
monarca: "Na esfera privada,
é difícil conhecer detalhes
de sua vida. Grande parte
dos livros que lia eram de
carácter religioso. Ela
frequentava a igreja, era
muito preocupada com a
etiqueta, com o papel dela
enquanto rainha. Acredito
que tenha tido um amante,
mas essas coisas abertas,
como libertinagem, acho que
é um exagero". Francisca
Nogueira de Azevedo procura
se inserir em uma tendência
de reavaliar o papel
histórico de grandes
mulheres, à luz da
historiografia de género.
Como aconteceu na França com
Maria Antonieta.
Mas Jean Marcel Carvalho
França, professor de
história na Universidade
Estadual Paulista, em Franca
(SP), é cauteloso com essa
reabilitação: "O d. João 6º
também foi penalizado,
chamado de banana, idiota,
porco, sem iniciativa... E
ninguém discutiu se isso era
uma posição antimasculina.
Esse negócio da história do
ponto de vista do género é
muito complicado, às vezes
todo mundo sofreu, mas
pode-se achar que alguém
sofreu sozinho", disse.
Jean Marcel acha que o
leitor pode se surpreender
com o tom afectuoso e
carinhoso das cartas, que
"dão a conhecer uma Carlota
Joaquina que realmente não
se conhece, uma pessoa
delicada, com preocupações
familiares, preocupada com
os filhos, numa relação
afectuosa com D. João 6º". A
respeito da actuação
política, ele considera que
não há surpresas. Poucos
meses antes de se
completarem 200 anos da
viagem apressada (ou bem
calculada, segundo alguns
historiadores) da corte
portuguesa, que mudou a
história do Brasil, a imagem
de D. João 6º aparentemente
já está recuperada. Se
Carlota também vai conseguir
limpar sua imagem, só o
leitor pode julgar. Para Jean Marcel, "ela odiou o
Brasil. Isso as cartas não
mudam".
MARCOS STRECKER
Em
1785, casou-se em Madrid por
procuração em 27 de Março e
em Lisboa em 9 de Junho em
pessoa com a Infanta Carlota
Joaquina de Bourbon, de 10
anos, filha de Carlos IV de
Espanha e de Maria Luísa de
Parma, embora não
consumassem o casamento
senão em 1790.
Baptizada Carlota Joaquina
Teresa Cayetana de Borbon y
Borbon, a infanta nascera em
Aranjuez, em 25 de Abril de
1775, e morreu no palácio de
Queluz em 7 de Janeiro de
1830, estando sepultada em
São Vicente de Fora.
D. Carlota Joaquina teve
três filhos e seis filhas.
Em 1793, D. João VI,
aliou-se à Espanha no
combate à Revolução
Francesa, que ameaçava todas
as monarquias europeias. Em
1801, Napoleão, que
reiniciara a luta contra a
Inglaterra, e procurava
aliados, convenceu a Espanha
a atacar Portugal naquela
que ficou conhecida como a
Guerra das Laranjas e D.
João VI, não tendo condições
de enfrentá-la, pediu a paz,
prometendo fechar seus
portos à Inglaterra.
Contudo, a economia
portuguesa estava
profundamente ligada à
Inglaterra e também corria o
risco de ver seus portos
bloqueados pela poderosa
armada inglesa. Ao mesmo
tempo, Carlota Joaquina,
fiel a suas origens
espanholas, conspirava na
corte portuguesa e procurou,
inclusive, tomar a regência.
D. João VI tentou ganhar
tempo, mas em 1806 Napoleão
I fez-lhe um ultimato: ou
fechava os portos à
Inglaterra ou a França
invadiria Portugal.
O
Casamento - de Assis Cintra
(nota: factos não
inteiramente confirmados)
(...) Os festejos duraram
quatro dias, achando-se
presentes as duas famílias
reais, a de Portugal e a de
Espanha, bem como a
fidalgaria e a burguesia
rica de ambos os países. De
dia, realizavam-se festas,
torneios, touradas; de
noite, reuniões musicais,
que naquele tempo se
chamavam serenins, bailes e
representações alegóricas e
líricas. Depois das festas.
D. João e Carlota Joaquina,
recém-casados, partiram para
Lisboa. Mas o príncipe
português ia mal-humorado,
pois em Viçosa, ainda no dia
da benção nupcial, explodira
um escândalo, dando motivo a
falatórios durante muito
tempo.
Que escândalo teria sido
esse? - Como teria estreado
na vida de aventuras essa
menina de 10 anos, que mais
tarde seria rainha de
Portugal e do Brasil, e
esposa adúltera do
sereníssimo e
conformadíssimo rei D. João
VI?
Seria mesmo escandalosa, aos
10 anos de idade, essa
malsinada Carlota Joaquina?
Dizem as crônicas antigas e
a tradição histórica que
sim.
Os artífices portugueses,
ajudados por espanhóis e
franceses, construíram junto
ao pavilhão dos reis, o dos
noivos, no qual, lado a
lado, se apreciavam dois
lindos aposentos nupciais.
Os estofados mais vistosos,
as sedas mais belas, as
rendas caríssimas, broquéis
riquíssimos, tudo que
poderia encantar a vista e
agradar o corpo na maciez de
um conforto principesco, aí,
nesses dois apartamentos
vizinhos, podia ser
encontrado e apreciado. E
nessa histórica noite de 9
de junho de 1785,
acompanhadas das famílias
reais, as duas princesinhas,
a de Portugal e a de
Espanha, ingressaram nos
respectivos aposentos. Logo
depois, os príncipes foram
chamados pelas camareiras e,
com o cerimonial do
protocolo, penetraram nas
alcovas nupciais. E enquanto
se fechavam as portas do
pavilhão dos noivos, lá
fora, no pavilhão das
festas, continuava, numa
linda canção de amor, o
serenim
das damas fidalgas e dos
nobres cavaleiros das duas
côrtes reunidas de Portugal
e Espanha. E a cantoria,
mesmo de propositada
intenção, ali perto dos
aposentos nupciais, baixava
em meia voz, e ia morrendo
em surdina, como final de um
serenim de amor, cantado no
dedilhar de guitarras e
bandolins. Eis então que, lá
do pavilhão nupcial, gritos
de mulher aflita, seguidos
de um urro retumbante de dor
agoniada, se fizeram ouvir,
espicaçando a curiosidade
dos cavalheiros e damas da
sala de festas. Aos gritos
sucederam-se gemidos, e de
repente, como um fantasma,
um vulto de mulher, em
roupas de seda de Veneza e
rendas de Holanda, deixava o
pavilhão dos noivos e
rapidamente atingia o
pavilhão dos reis de
Espanha.
Quem seria? O que seria?
Tais eram as interrogações
que imediatamente brotaram
de todas as bocas cortesãs.
E ainda perduravam as
interrogações de curiosidade
quando surgiu no salão de
festa, ofegante e pálida,
trêmula e desconcertada, a
senhora condessa de Badajoz,
açafata da princesa Carlota
Joaquina.
Ia, numa pressa nervosa,
gaguejando a todo o
instante:
- Onde está o cirurgião-mór?
E na arquejante gagueira lá
foi repetindo a pergunta até
que surgiu a figura
rubicunda e gordalhuda do
cirurgião-mór.
- Que há, sra. Condessa?
- Depressa, Sr. cirurgião,
depressa, que o nosso
príncipe D. João está
morrendo, esvaindo-se em
sangue e a nossa princesa D.
Carlota está hirta como
defunta no quarto de sua
Majestade el-rei de Espanha.
Lá se foi o cirurgião. E os
cortesãos, aflitos e
torturados pela curiosidade,
esperaram pela explicação do
caso de tamanho escarcéu.
Somente muito depois é que o
escândalo correu de boca em
boca, e a explicação
contentou regiamente a
curiosidade dos
bisbilhoteiros da Côrte.
No dia seguinte, a condessa
de Badajoz, muito
reservadamente, contava o
caso ao seu favorito Marquês
de Marialva e este o
transmitia ao amigo padre
José Agostinho de Macedo, de
cuja boca ferina e
indiscreta Portugal inteiro
recolheu a tragédia nupcial
do príncipe D. João, E no
famoso convento de Odivelas,
do qual era assíduo devoto,
o padre narrava o episódio à
sua favorita, soror
Angelina, entre sorrisos
maldosos e comentários
picantes:
- Então, meu padre
Agostinho, sua alteza o
príncipe foi ferido na noite
do casamento?
- Ora se foi... A condessa
de Badajoz, açafata da
princesa Carlota Joaquina,
ouviu dela própria a
história contada tim-tim por
tim-tim...
- E o padre como o soube?
- Pelo Marialva, que o ouviu
da açafata condessa de
Badajoz. Foi assim: O
príncipe D. João,
recolhendo-se ao aposento
nupcial, quis naturalmente
prestar à esposa a mesma
homenagem que o cunhado, no
aposento vizinho, estava
prestando à princesa D.
Mariana. Porém, D. Mariana,
com 16 anos e mais sabida
que a outra, já se
conformara previamente com
as homenagens próprias de
todo o noivado, ao passo que
D. Carlota Joaquina, menina
de 10 anos, ignorando o
protocolo e rebelde às
conveniências, não aceitou o
jogo e, logo na primeira
investida, aplicou uma
violentada dentada na orelha
do marido e, em seguida, aos
gritos, meteu o castiçal de
prata da cabeceira na testa
de D. João, abrindo-lhe uma
brecha. Vendo-o
ensangüentado, fugiu para o
pavilhão dos reis de
Espanha, ainda em trajes de
dormir e lá se estatelou num
ataque de histeria...
- E agora, padre Zé
Agostinho, e agora como vai
ser?
- Já está tudo arranjado,
soror Angelina. Gente de
sangue azul não se aperta
por tão pouco. Ficou
assentado que sua alteza
Carlota Joaquina terá quarto
de solteira e recusará a
visita do príncipe consorte
até completar os 14 anos. É
o que consta do ato
adicional do casamento,
assinado em 12 de maio, dois
dias depois da trágica noite
nupcial. Isso, naturalmente,
só será válido enquanto a
princesa o quiser...
- Como é, padre Agostinho?
- É assim mesmo, soror
Angelina, porque a
princesinha Carlota Joaquina
poderá romper o protocolo
antes dos 14 anos,
tornando-se mulher na
amplitude de suas
prerrogativas e percalços.
Será, apenas, uma questão da
sua vontade, quando ela
tiver...vontade.
(...)
Carlota Joaquina estava fula
de raiva. O príncipe D.
João, calmo, bondoso,
risonho, procurava
acalmá-la. Era inútil, e
inútil porque não se acalmam
espanholas enfurecidas
quando provocadas no seu
amor próprio. E aquele
folheto que circulara por
todo Portugal e saíra mesmo
fora do reino, chalaceando o
incidente escandaloso da sua
noite nupcial, golpeara
fundo o seu amor próprio de
mulher e de princesa.
- E você acha, João, que o
que está aí não me ofende?
O príncipe D. João, olhando
a capa do folheto
incriminativo, respondeu
sorrindo:
- Não vejo ofensa, Carlota.
Carlota Joaquina tremeu de
raiva. Todo o mundo via
alusões naquele livrinho, e
só o príncipe não via. Ele
só, mais ninguém.
- Então esse título não é
escandaloso? Não se refere à
nossa noite de núpcias em
Vila Mimosa?
D. João levantou o folheto
até o rosto e leu em voz
alta:
- “O gato que cheirou e não
comeu”.
- Aí está a ofensa.
- Pois não vejo nada. Isso é
bobagem de algum malandro
sem eira nem beira. Eu não
sou gato, você não é gata, e
aqui só há coisas de gato...
Carlota Joaquina não pôde
mais e num ímpeto arrancou o
livrinho das mãos do
príncipe. Abriu-o ao acaso e
espumando de raiva, gritou
nas bochechas do marido:
- Pois leia isto.
D. João aproximou-se e leu
os seguintes versos:
Cante-se por toda a parte
A mordida na orelha dada;
A gatinha mordeu o gato
Na noite duma embrulhada.
E o gato só cheirou,
Miou e miou de dor,
Com uma brecha na cabeça
E nas ventas um fedor.
Reis, príncipes e bispos
Cantai a história berrante
Do gato que só cheirou
E apanhou no mesmo instante.
- Você
viu? Não há alusões? bramiu
Carlota Joaquina.
Mas o príncipe D. João,
achando graça nos versos,
desandou uma gostosa
gargalhada.
- Quá... quá... quá... quá...
A princesa então saiu dos
aposentos do príncipe, onde
se achava, depois de lhe
dizer quase em soluços de
furor:
- Pois o caso será resolvido
por mim. Você vai ver, João.
E resolveu de fato. Mandou
chamar à sua presença o
mordomo do palácio, o famoso
João Couto e disse-lhe:
- Preciso que você me
arranje uma pessoa de
confiança para um serviço
reservado.
- Alteza, respondeu o
mordomo, o meu filho
Antoninho é de toda
confiança.
- Pois que venha falar-me.
No dia seguinte apareceu no
palácio o famoso Couto da
Judiaria, rapagão forte,
destemido e barulhento.
Carlota Joaquina mostrou o
folheto e perguntou-lhe se
sabia quem fora o autor
daquele pasquim.
- Ora, Alteza, isso é do
padre José Agostinho.
- Do orador sacro?
- Esse mesmo, Alteza. Lisboa
inteira sabe disso.
- Mas esse padre então é um
devasso?
- Esse padre, Alteza, tem
mais vícios do que cabelos
na cabeça. É devasso,
arruaceiro, ladrão,
anarquista, indecente...
- Mas é padre. Se não fosse,
eu mandaria matá-lo. Como é
padre, quero apenas
castigá-lo.
- Com uma surra, Alteza?
- Não. A surra é uma
vingança banal. Que castigo
você se lembraria de dar a
um padre indecente?
- Se Vossa Alteza me permite
a liberdade, eu falaria.
- Pois fale.
- Alteza, o rei D. Pedro I
de Portugal, antepassado do
príncipe vosso esposo, numa
ocasião, quis castigar o
bispo do Porto, que era um
devasso. Mandou expô-lo nu,
depois de chicoteá-lo, no
largo da Sé, aos olhos da
plebe.
- Mas isso não é o bastante.
Eu quero mais. Ouça, Couto,
pegue com o auxílio de
alguns criados do Paço esse
padre indecente, dê-lhe uma
surra de chicote nas
nádegas, aplique um clister
de pimenta do reino, e
solte-o nu no bairro das
marafonas.
(...)
E assim foi castigado o
padre José Agostinho de
Macedo, famoso escritor e
orador sacro de Portugal e
ao mesmo tempo famigerado
devasso e rival de Bocage em
poesias obscenas. O António
Couto, acompanhado de
criados do Paço, cumpriu as
instruções da princesa
Carlota Joaquina. O padre
José Agostinho, solto nu na
via pública, pulando de dor
em consequência do clister
de pimenta, foi socorrido
pela actriz Maria da Luz,
cómica do Teatro da rua dos
Condes, de quem se tornou
amante depois disso.
(...)
Tempos depois, o acaso
colocou o padre José
Agostinho frente a frente
com a princesa Carlota
Joaquina. E o padre, todo
meloso, disse à futura
rainha:
- Alteza, já ouviu falar da
agressão de que fui vítima?
- Ora, reverendo, a sua vida
deve preocupar o sr.
bispo... Aproveite que ele
vem vindo e conte os seus
problemas a ele. E
virando-se para o prelado:
- O notável orador sacro
padre José Agostinho
perguntou-me se ouvi falar
na agressão de que foi
vítima. V. Excia . ouviu, sr.
bispo?
E o bispo, depois de fungar,
tomando uma pitada de rapé,
respondeu, rindo:
- Corre pela cidade de
Lisboa que o padre José foi
vítima de um castigo do
diabo.
- De um diabo de saias,
resmungou com os seus botões
o padre José Agostinho que
sabia ter sido o Couto um
mandatário de uma dama de
elevada hierarquia...
(...)
(*)
Palácio de Queluz: Desde
sempre concebido como um
Palácio de Verão, a Queluz
acorria frequentemente a
Corte para assistir a
serenatas, cavalhadas e
espectáculos de fogo preso,
por ocasião das comemorações
dos santos patronos, em
especial São Pedro, e dos
aniversários natalícios das
"Pessoas Reais". Com o
incêndio do Palácio da Ajuda
em 1794, o Príncipe Regente
D. João VI (1767-1826) e D.
Carlota Joaquina (1775-1830)
vêm habitar Queluz em
permanência. Ergue-se um
segundo piso sobre a ala
Robillon para aposentos da
Princesa D. Carlota Joaquina
e dos nove filhos do casal e
do qual só resta o andar
nobre sobre a Fachada de
Cerimónias, uma vez que tudo
o mais ardeu num incêndio em
1934.
(**) O
Palácio do Ramalhão pertence
ao ciclo de obras
neoclássicas de Sintra,
dinamizado pelo seu primeiro
proprietário, Luís Garcia de
Bivar, que ampliou um velho
casal agrícola já aí
existente em 1470, e fez
erigir o conhecido Aqueduto
do Ramalhão (1744), foi
transformado em recinto
palaciano depois de 1768,
aquando da posse de D. Maria
da Encarnação Correia, na
fase da estada do escritor
William Beckford (1787).
Aqui estagiou amiúde D.
Carlota Joaquina, após 1802,
tendo vivido desterrada
depois de recusar jurar a
Constituição de 1822.
Edifício com fachadas e
frisos neoclássicos,
decoradas com grinaldas do
estilo Luís XVI, preserva
jardins ainda com certo
sabor aristocrático e, na
sala do refeitório, pinturas
a fresco de carácter
exótico, atribuíveis ao
pintor Manuel da Costa, um
dos decoradores do Palácio
de Queluz.
(***)Palácio da Bemposta
(Lisboa). Em 1803 aqui
habitava e tinha a sua corte
o príncipe regente D. João,
futuro Rei D. João VI. Já
depois do regresso da
Família Real, em Junho de
1821, D. João VI voltou para
o Palácio da Bemposta no
qual, com o objectivo de o
tornar mais habitável,
mandou efectuar várias obras
nos anos de 1822, 1824 e
1825, principalmente nos
quartos por detrás da Capela
e no andar nobre voltado
para a parte do jardim.
Neste Palácio
desenrolaram-se os factos
políticos mais importantes
da época de D. João VI como
sejam os decorrentes da
chamada Vila-Francada e os
da Abrilada e aqui morreu D.
João VI, em 10 de Março de
1826.
Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro - Marinha Grande -
Portugal
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