Implantação da República Portuguesa
5 de outubro de 1910
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro
Formatação: Iara Melo
Na
noite de 4 para 5 de Outubro de 1910
eclodiu em Lisboa um movimento
revolucionário, que culminaria com a
proclamação da República em
Portugal. O rei D. Manuel 2º, que
nessa noite oferecera um banquete em
honra do Presidente da República do
Brasil (Dr. Afonso Pena), no Palácio
das Necessidades (hoje Ministério
dos Negócios Estrangeiros). Foi aí
que o monarca português foi
surpreendido pelo inesperado
acontecimento. Enquanto o ilustre
visitante, assustado com o tiroteio,
corria a refugiar-se no seu navio
São Paulo, o rei permaneceu no
palácio, procurando entrar em
contacto com o seu Governo. Foi
então que soube que diversos
regimentos, entre eles o de
Artilharia 1, tinham aderido já ao
movimento. No Regimento de
Infantaria 16, havia também alguns
aderentes que, abrindo as portas aos
civis e matando o coronel Pedro
Celestino da Costa e o capitão
Barros, acabaram por sair para a
rua, dando vivas à república, e
dirigindo-se a Artilharia 1, onde o
povo também entrara. Este regimento
fora o centro da revolução, que se
estendia agora ao Bairro de
Alcântara. Um grupo de civis,
dirigiu-se para o Quartel da
Marinha, quase em frente do Palácio
das Necessidades, onde os
marinheiros aguardavam os civis,
tendo o comandante do corpo de
marinheiros sido ferido, ao tentar baldadamente evitar a rebelião.
Entretanto, os membros da comissão
revolucionária estavam reunidos em
casa de Inocêncio Camacho. A
revolução estalava por todos os
lados, tanto nos regimentos como na
rua. Muitos civis armados batiam-se
corajosamente. Do lado do Governo,
tudo era indecisões, não tomando
medidas concretas. Apenas o capitão
Paiva Couceiro, com os seus
soldados, aparecia a dar combate aos
revoltosos. O tiroteio continuava,
cada vez mais vivo. O Governo,
desorientado, pediu pelo telefone a
D. Manuel 2º que retirasse para
Mafra, onde se lhe juntou, no dia
seguinte, a rainha-mãe, D. Amélia de
Orleans e Bragança, que estava no
Palácio da Pena, em Sintra. Às duas
horas da tarde, chegou a Mafra a
notícia da proclamação da República
em Lisboa e a constituição do
governo provisório, presidido pelo
Dr. Teófilo Braga. A revolução
republicana triunfara. A Família
Real dirigiu-se para a Ericeira e
embarcou para Gibraltar onde um
barco de guerra inglês os
transportou até ao exílio, em
Inglaterra.
A revolução correu todo o País
e, dentro em pouco, sem grandes
resistências, a República era
proclamada em todas as capitais de
distrito.
Tudo começou e precipitou-se
no reinado de D. Carlos.
No sistema governativo que o
liberalismo havia implantado em
Portugal, o "rei reinava mas não
governava". O poder legislativo,
representado pelo Parlamento,
dominava o poder executivo e reduziu
ao rei a simples chefe da Nação, mas
chefe sem iniciativa alguma. O seu
papel limitava-se a chamar os
ministros ao poder, de harmonia com
as indicações parlamentares. As
lutas partidárias haviam, porém,
comprometido o regime e lançado
sobre ele o descrédito, visto que os
partidos, envolvidos em contendas,
cuidavam mais dos seus interesses do
que dos interesses de Portugal e não
tomavam as medidas que o país
exigia. O rei D. Carlos, que via com
desgosto esta situação, resolveu
intervir e entrar no caminho das
reformas que lhe pareciam urgentes.
Para isso fechou o Parlamento e
chamou ao poder João Franco, que se
solidarizou com ele e iniciou a luta
contra as instituições
parlamentares. Os primeiros decretos
ditatoriais, apesar da sua
importância, provocaram ataques
violentos contra o Governo. Os
partidos, afastados do poder,
iniciaram uma verdadeira luta contra
a ditadura franquista, enquanto os
republicanos, favorecidos pela
situação, aproveitavam o momento
para conquistar novos adeptos entre
os descontentes.
Os ódios avolumaram-se e
levaram a uma conjura revolucionária
em 28 de Janeiro de 1908. Esta
conjura foi descoberta pela polícia,
que prendeu numerosos republicanos
de vulto. O desespero dos vencidos
extravasou e arrastou-os a uma acção
hedionda. No dia 1º de Fevereiro
desse ano, quando a Família Real
desembarcava no Terreiro do Paço
(Lisboa), vinda de Vila Viçosa
(Alentejo), o rei D. Carlos e o
príncipe herdeiro, D. Luís Filipe,
foram abatidos por um grupo de
criminosos, que ainda feriram também
o infante D. Manuel (mais tarde
rei). Este crime monstruoso
interrompeu bruscamente o reinado de
D. Carlos 1º, tão glorioso nos faustos nacionais.
Subiu então ao trono o infante
D. Manuel, na altura apenas com 19
anos e que nunca sonhara vir a ser
rei. Sem experiência política,
aceitou a solução que lhe foi
imposta, demitiu João Franco e
organizou um ministério de
concentração, com homens
pertencentes a todos os partidos. Os
ministros, porém, não deram
importância às eleições que se
realizaram. O resultado foi
dividirem-se as opiniões, com o que
ganharam apenas os republicanos, que
enviaram ao Parlamento numerosos
deputados. Renovaram-se as lutas
partidárias e voltou-se à situação
anterior. A administração do país
tornou-se cada vez mais precária, a
anarquia mais intensa, a
desorganização mais clara e
deplorável. D. Manuel 2º procurou
baldadamente deter a derrocada que
ameaçava a Monarquia. E como o
problema social se agravara, tentou
melhorar a situação dos operários,
pensou na criação de uma Repartição
do Trabalho, chamou a Portugal o
sociólogo Leão Poindard para estudar
a vida do país e propor as medidas a
adoptar. Estas iniciativas e outras
a que se consagrou não acalmaram os
espíritos nem diminuíram o mau-estar
da sociedade portuguesa. Os
republicanos intensificaram a
propaganda, multiplicaram as
sociedades secretas, conquistaram
adeptos nos meios militares e civis,
compraram armamento e prepararam-se
para a revolução.
No dia 5 de Novembro de 1910
foi implantada a República
Portuguesa
Governo Provisório
Proclamada a República no dia 5 de
Outubro de 1910, foi organizado um
governo Provisório, presidido pelo
Dr. Teófilo Braga, que tinha
atribuições de Chefe de Estado.
Desse ministério faziam parte:
Bernardino Machado, António José de
Almeida, Afonso Costa, Correia
Barreto, Basílio Teles, Azevedo
Gomes e António Luís Gomes.
As raízes do republicanismo
português, encontram-se já na
corrente esquerdista das Cortes
Gerais de 1820, e depois, com
progressiva evidência, na ideologia
setembrista e na Patuleia, tendo por
ideia-base o governo pelo e para o
povo. Resultou essencialmente , da
frustração em relação em relação à
política dos monárquicos
constitucionais e à sua relutância
em levar a cabo medidas inovadoras
por receio de que isso pusesse em
causa os interesses que detinham. Em
1820 muitos políticos e intelectuais
portugueses consideraram, por isso,
que só a concretização dos ideais
republicanos viabilizaria as
mudanças necessárias. Tal
perspectiva saiu reforçada com a
implantação da República em Espanha,
em 1868 e em França em 1870, com a
Comuna de Paris em 1871, as lutas
entre os partidários da monarquia e
a divulgação de ideias socialistas.
Depois das primeiras tentativas, nos
anos 70, de formação de um partido
republicano, só em 1880 se unem as
várias tendências e se publica o
primeiro programa do então chamado
Partido Republicano Unitário. As
comemorações do 3º centenário da
morte de Camões em 1880 irão ter um
papel fundamental na expansão do
republicanismo e na consolidação do
seu ideário expresso na publicação
do manifesto-programa que irá
vigorar até à implantação da
República.
O derrube da Monarquia, iminente
desde 1906, e apesar do fracasso de
1908, viria a resultar do empenho
dos chefes do Partido Republicano,
sempre à frente dos acontecimentos e
da iniciativa política, da Maçonaria
e da Carbonária, com pelo menos a
conivência dos dissidentes
progressistas. António José de
Almeida, Afonso Costa e Bernardino
Machado estiveram na sua direcção
política; Luz de Almeida, António
Maria da Silva e Machado Santos, na
agitação civil; Cândido dos Reis,
Machado Santos e Miguel Bombarda na
acção militar, tendo o primeiro
assumido a chefia e despoletado os
acontecimentos de 4 de Outubro de
1910 – a dada altura da luta,
julgando a causa perdida,
suicidou-se. Machado Santos, crente
no crescente apoio popular, na
medida da sua resistência às forças
monárquicas fragilizadas,
entrincheirou-se na Rotunda com os
seus poucos homens, acabando por
sair vencedor. José Relvas proclamou
às nove horas da manhã de 5 de
Outubro de 1910, do edifício dos
Paços do Concelho de Lisboa.
Portugal é uma República, cuja
soberania, una e indivisível, reside
no povo, que a exerce segundo as
formas previstas na respectiva
Constituição. Os órgãos de soberania
da República Portuguesa são o
Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo e
os Tribunais.
As lutas políticas que se seguiram à
proclamação da República produziram
grande intranquilidade na sociedade
portuguesa. Em Janeiro de 1915, por
causa da transferência de certos
membros do exército, a oficialidade
de Lisboa, protestou e entregou as
espadas ao Presidente da República.
Passados dias, o general Pimenta de
Castro constituiu um ministério
quase todo composto de militares e
inaugurou um governo de ditadura, de
acordo com o Presidente, Dr. Manuel
de Arriaga. Mas os partidos,
vendo-se afastados do poder, fizeram
em 14 de Maio uma revolução e
triunfaram e, o Dr. Manuel de
Arriaga foi forçado a resignar.
Em 5 de Dezembro de 1917, o major
Sidónio Pais, antigo professor da
Universidade de Coimbra e ministro
de Portugal em Berlim, após uma
revolução vitoriosa, constituiu um
governo conservador, e, pouco
depois, foi eleito Presidente da
República. Desejoso de pacificar a
família portuguesa e acabar com a
desordem política, tomou medidas
notáveis de governo e reprimiu a
anarquia administrativa.
Estas providências não fizeram
desaparecer os ódios partidários,
ódios que tiveram como desfecho o
assassinato de Sidónio Pais, no dia
14 de Dezembro de 1919, na Estação
do Rossio, em Lisboa.
Depois deste acontecimento, os
partidos políticos voltaram ao
poder, mas não conseguiram evitar a
continuação das desordens nas ruas,
no Parlamento, nos serviços
administrativos.
No dia 28 de Maio de 1926, rebentou
em Braga um novo movimento
revolucionário, dirigido pelo
general Gomes da Costa, que se
propunha terminar com as lutas
políticas que perturbavam a vida da
Nação.
Este movimento teve apoio unânime
das forças de terra e mar, alastrou
por todo o País e terminou por uma
vitória retumbante, coroada pela
entrada triunfal de Gomes da Costa
em Lisboa. Instituiu-se um governo
nacional e começou um novo período
da República.
Em 25 de Dezembro de 1928, o
marechal Óscar Carmona, chefe do
governo desde de Julho de 1926, foi
eleito Presidente da República. Em
27 de Abril do mesmo ano, tomou
posse de ministro das Finanças o Dr.
Oliveira Salazar (professor da
Universidade de Coimbra). Estes dois
homens criam o chamado Estado Novo,
que na opinião de Salazar: “(…)
estabelece a paz, assegura
firmemente a ordem, saneia a
atmosfera moral, cerca de dignidade
a acção política, firma o crédito do
Estado”.
A Constituição de 1933: “ (…) Nação
portuguesa constitui um Estado
independente, cuja soberania só
reconhece como limites, na ordem
interna, a moral e o direito, e na
internacional, os que derivam das
convenções ou tratados livremente
celebrados ou do direito
consuetudinário livremente aceite. A
soberania reside em Nação e tem por
órgãos o Chefe de Estado, a
Assembleia Nacional, o Governo e os
Tribunais.
O Chefe de Estado é o Presidente da
República, eleito por sete anos,
pela Nação. Compete-lhe: - Nomear e
demitir o Presidente do Conselho e
os ministros; marcar o dia para as
eleições; convocar e dissolver a
Assembleia Nacional; promulgar e
fazer publicar as leis; etc.
À Assembleia Nacional, composta de
deputados eleitos por quatro anos,
compete fazer as leis,
interpretá-las, suspendê-las e
revogá-las; tomar as contas
respeitantes a cada ano económico;
aprovar as convenções
internacionais; etc. Tem como órgão
auxiliar a Câmara Corporativa,
composta por técnicos especializados
nos diversos serviços, os quais
devem dar parecer sobre todas a
propostas e projectos de lei que
forem apresentados à Assembleia
Nacional.
O Governo, constituído pelo
Presidente do Conselho e ministros,
referenda os actos do Presidente da
República, faz decretos-leis,
superintende no conjunto da
administração pública, etc.
Os Tribunais são compostos por
juízes irresponsáveis nos seus
julgamentos.
Nesta Constituição foi integrado o
Acto Colonial, que regula a
administração das províncias
ultramarinas, define direitos e
garantias dos indígenas, trata da
economia e finanças das colónias,
etc.
Óscar Carmona, confiou plenas
poderes a Salazar, que foi senhor
absoluto do País de 1932 a 1968.
desenvolveu um planeamento económico
que não resolveu o problema social –
a imigração dos trabalhadores
portugueses acelerou-se a partir de
1960 – e reduziu ao silêncio toda a
oposição política. A partir de 1959,
sobretudo, sinais mais fortes de
descontentamento passaram a
manifestar-se, embora toda a
tentativa de rebelião fosse
impiedosamente esmagada. Por outro
lado, enquanto as potências
coloniais davam início à
descolonização do seu império,
Portugal, com Salazar, permaneceu
apegado ao seu império de além-mar,
em grande parte africano. Dois anos
antes de sua morte em 1970, doente,
Salazar foi substituído por Marcelo
Caetano, seu alter ego.
Até que chegámos ao dia 24 de Abril
de 1974 …
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Hino Nacional "A PORTUGUESA"
MÚSICA: ALFREDO KEIL
POESIA: HENRIQUE LOPES MENDONÇA
Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal! Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas! Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

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Arte Final: Iara Melo

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