

Timor Leste
Em 30 de Agosto de 1999, Independente
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Em
30 de Agosto de 1999, Timor Leste
decidiu ser Independente
Há dez anos, o povo do Timor Leste
decidiu, com grande maioria de votos,
que o país deveria tornar-se
independente da Indonésia. O primeiro
contacto europeu com a ilha foi feito
pelos portugueses quando estes lá
chegaram em 1512 em busca do sândalo.
Durante quatro séculos, os portugueses
apenas utilizaram o território timorense
para fins comerciais, explorando os
recursos naturais da ilha. Díli, a
capital do Timor Português, apenas nos
anos 60 do século XX começou a dispor de
luz eléctrica, e na década seguinte,
água, esgoto, escolas e hospitais. O
resto do país, principalmente em zonas
rurais, continuava atrasado.
O que diziam nossos compêndios de
Geografia no tempo da Instrução Primária
(1947)
Timor – Situação: Fica ao Norte da
Austrália, e faz parte do arquipélago de
Sonda. Pertence a Portugal a parte
oriental, chamada a Região dos Belos, os
territórios de Ocussi e Ambeno e as
ilhas de Pulo Jaco e Pulo Cambim.
Superfície: Um quinto da superfície de
Portugal Continental, aproximadamente, e
quatrocentos e cinquenta mil habitantes.
Relevo: O monte mais elevado é o Ramelau.
Portos: Deli, Manatuto, Baucau e Lautem.
Rios: Mota-Lois, Mota-Lació e diversas
ribeiras.
Clima: No interior é benigno, e no
litoral, doentio.
Produções: Café, cana de açúcar,
cereais, cacau, chá, pimenta, petróleo,
ouro, ferro, etc.
Fauna: Serpentes, búfalos, crocodilos,
etc.
Indústria: Trabalhos em esteira,
extracção do sal, etc.
Divisão administrativa e povoações
principais: Esta colónia forma um
distrito autónomo, tendo por autoridade
superior um Governador e por capital
Díli. Além da capital tem ainda os
seguintes centros de população: Manatuto,
Baucau e Lautem.
Até à chegada dos portugueses pouco se
conhece da história de Timor. O
povoamento da ilha remontará ao
Paleolítico, por espécies anteriores ao
Homo sapiens, que só no mesolítico terá
surgido na região. Datam deste período
as mais antigas pinturas rupestres da
ilha, na região de Tutuala. Com a
chegada dos portugueses, inicia-se em
Timor um período propriamente histórico,
pois só então a escrita é introduzida na
ilha. Com a conquista de Malaca, em
1511, importante entreposto muçulmano na
Insulíndia, abre-se aos portugueses o
domínio destes mares e do comércio das
riquezas locais. Só três anos mais
tarde, em 1514, terá ocorrido a chegada
dos portugueses à ilha, provenientes de
Malaca. Estas expedições, que se
prolongaram por toda a primeira metade
do século XVI, foram puramente
comerciais: trocavam-se bens como as
manufacturas metálicas – facas, machados
e outros utensílios – pelo sândalo e
demais produtos como o mel e a cera.
Apenas na segunda metade do século XVI
se dá a fixação dos primeiros
portugueses na ilha. Embora já
estivessem estabelecidas as carreiras
comerciais regulares com Malaca e Macau,
os primeiros povoadores portugueses são
não os comerciantes mas os missionários
franciscanos e dominicanos. O crescente
assédio dos holandeses, obrigou, a
partir do final do século XVI a uma
outra atitude da Coroa Portuguesa em
relação a Timor. A ilha é sucessivamente
atribuída, pelo vice-rei da Índia ou
pelo próprio rei, a um sem-número de
capitães que, durante todo o século
XVII, regem a ilha como território
privativo, sem prestar qualquer tipo de
contas à Coroa, mantendo, contudo, a
ameaça holandesa longe da ilha. Somente
no início do século XVIII, propriamente
dito em 1702, o domínio efectivo da
ilha, com a implantação de uma estrutura
administrativa, militar e judicial, é
consumada pela Coroa portuguesa, quando
o terceiro governador consegue tomar
posse do cargo, contrariamente aos seus
dois antecessores, cujos cargos haviam
sido usurpados pelos capitães. Todavia,
todo o século XVIII se caracterizou pelo
constante clima de agitação e de
revolta. A inépcia dos governadores, as
constantes disputas entre responsáveis
políticos e religiosos e o
descontentamento da população autóctone,
esta instigada pelos holandeses, foi o
cenário que serviu de pano de fundo a
inúmeras revoltas, das quais a de
Cailaco, sufocada em 1726, ficou como a
mais célebre. A instabilidade
aproveitada pelos holandeses para
ocuparem a metade ocidental da ilha, com
excepção dos enclaves de Oecussi e
Ambeno. É neste período da História de
Timor, mais precisamente em 1769, que se
faz a transferência da capital de Lifau,
situada no enclave de Oecussi, para
Díli, na parte oriental da ilha com bom
porto natural, apesar do clima
insalubre. A quase extinção do Sândalo,
e a decadência do seu comércio, vieram
provocar um apaziguamento na agitada
situação da ilha. O avanço holandês, não
obstante algumas querelas pontuais,
susteve-se em Atapupu em 1820. Com o
final do “Ciclo económico do sândalo” a
administração colonial voltou-se, então,
para a agricultura. Tirando partido das
boas condições naturais, introduziram-se
e desenvolveram-se na ilha, culturas
como: o café, a cana-de-açúcar e o
algodão. O correm, simultaneamente,
importantes alterações de carácter
administrativo: Macau e Timor,
separaram-se do Governo da Índia, em
1844, e formam um distrito autónomo que
perdura até 1894, altura em que Timor se
autonomiza como distrito. O rei Carlos
nomeia o major Celestino da Silva para
governador de Timor, período no qual o
território conheceu profundas
transformações, de entre as quais se
destacam o fomento à economia do
território e uma administração mais
efectiva no interior da ilha, acabando
(teoricamente) com o reinado dos régulos
ou caciques. Em 1941, a situação em
Timor volta a conhecer uma grande
agitação. Face à ameaça japonesa, os
governos holandeses e principalmente o
australiano, conhecendo as riquezas e da
importância geoestratégica de Timor,
destacam tropas para a ilha, apesar dos
protestos das autoridades portuguesas.
Com o pretexto da militarização da ilha,
o Japão invade o território em Fevereiro
de 1942 e prolonga a sua ocupação por
mais três anos e meio, ou seja, até
Setembro de 1945. Terminada a ocupação
nipónica, que se saldou pela devastação
e a perda de milhares de vidas,
retomou-se praticamente o mesmo modelo
de desenvolvimento anterior ao conflito;
uma lenta recuperação devido à ausência
de meios técnicos e de capitais. O
isolamento da ilha e a repressão da
administração portuguesa não
conseguiram, no entanto, suster a
influência dos movimentos de libertação.
Nos anos da década de 60, começaram a
chegar à ilha os primeiros ecos dos
movimentos anticoloniais africanos e uma
consciência independentista apodera-se
da população timorense, embora de
carácter muito menos activo do que em
África.
A queda da ditadura portuguesa em 25 de
Abril de 1974, vem impulsionar o
movimento independentista, surgindo
simultaneamente outros movimentos que
apoiam quer a continuação do território
na esfera portuguesa – naturalmente
sobre outras condições – quer a
integração na Federação Indonésia. Os
vários movimentos na terreno não se
entendem e extremam-se posições: O
movimento pró-independentista – FRETILIN
– rompe a coligação que estabelecera com
o movimento pró-português e proclama a
insurreição armada. Enquanto as
autoridades portuguesas abandonam Díli,
a Indonésia começa uma operação de
destabilização na ilha, com vista a uma
posterior anexação, e a Fretilin,
pressionada e isolada, declara a
independência unilateral da ilha, em 28
de Novembro de 1975.
Passados apenas 10 dias, com o pretexto
do auxílio a uma corrente pró-indonésia
reprimida, os três ramos das forças
armadas da Federação Indonésia invadem
violentamente o território e instalam um
governo provisório – naturalmente
manipulado por Jakarta – que integra
Timor Leste na federação como a 27ª
província indonésia.
A invasão é veementemente condenada em
todas as instâncias internacionais e a
ONU, por via do Conselho de Segurança,
reconhece o direito à autodeterminação
de Timor Leste, convida a Indonésia a
retirar as suas tropas e, enquanto o
conflito não é sanado, continua a
considerar Portugal como potência
administrante. Apesar das inúmeras
condenações, o exército indonésio
prossegue a ocupação e beneficia da
conivência de potências regionais, como
por exemplo a Austrália, cujo governo,
em 1978, reconhece a integração de Timor
na Federação Indonésia.
A resistência timorense, impotente face
ao contingente e meios bélicos do
invasor, é forçada a refugiar-se nas
montanhas, onde desenvolve uma guerrilha
que conta com o incondicional apoio da
população. A década de oitenta é um
período de terror para a população
timorense. As vagas de violência e
repressão sucedem-se, como resposta às
acções pontuais da guerrilha, sendo a
população civil a grande mártir. A
comunidade internacional vai, embora de
forma muito lenta, tomando conhecimento
da situação que se vive na ilha. Mas o
acontecimento que colocou de novo Timor
Leste nas páginas e nos ecrãs dos
grandes meios de comunicação mundial
foi, a 12 de Novembro de 1991, o
massacre do Cemitério de Santa Cruz. A
violenta repressão dos indonésios sobre
a população que levava a enterrar um
estudante abatido pelo exército
indonésio, foi filmada e divulgada em
todo o mundo. Sob a pressão da
comunidade internacional e do governo de
Lisboa, o governo indonésio, teve de
ceder …
A causa da liberdade e independência de
Timor Leste tornou-se crescentemente,
desde o massacre do cemitério de Santa
Cruz, o mais forte movimento de unidade
e solidariedade nacionais depois do 25
de Abril de 1974. Os dias apaixonantes e
trágicos de fins de Agosto e princípios
de Setembro de 1999 constituíram, para
milhões de portugueses, uma experiência
e uma aprendizagem únicas sobre o papel
e a força da mobilização popular no
evoluir das sociedades e dos
acontecimentos, ainda que estes
ocorressem a dezenas de milhar de
quilómetros de distância. Esta é,
também, a boa ocasião para sublinhar o
papel insubstituível da política e dos
políticos no curso da História. Têm sido
justamente sublinhadas as enormes e
decisivas coragem e firmeza, do
primeiro-ministro António Guterres, do
ministro Jaime Gama e do Presidente
Sampaio, nos dias dramáticos que
antecederam e se seguiram ao referendo
de 30 de Agosto de 1999, acordado com as
autoridades indonésias sob a égide da
ONU, e cujos resultados o poder
indonésio da época tentou esmagar pela
força.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
– Marinha Grande – Portugal
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