O Infante D. Henrique,
nasceu no Porto no dia 4 de Março de 1394 e
morreu na Vila do Infante (cabo de Sagres)
em 1460. Quinto filho de D. João I e de D.
Filipa de Lencastre, foi quem mais
contribuiu para a expansão ultramarina
portuguesa. Induzido por motivos económicos
e razões de fé, concebeu e em parte realizou
na África as expedições que deviam levar os
portugueses à costa do Malabar (Índia) e
desviar o comércio das especiarias do
Mediterrâneo para o Atlântico. A expedição e
tomada de Ceuta, em 1417, teve como
objectivo principal a posse de áreas
agrícolas produtoras de cereais
panificáveis, de que Portugal era
deficitário. A ideia de difundir o
cristianismo e de reatar a tradição de
defesa do mesmo contra o islamismo seu
combate, quando em 1415 contava apenas vinte
e um anos. Foi somente depois da conquista
de Ceuta que se consagrou ao desenvolvimento
dos trabalhos náuticos, fundando a Escola de
Sagres, que funcionava como base de dados
que se ia completando conforme os
navegadores os navegadores iam navegando.
Seus empreendimentos realizados entre 1450 e
1460, deixou o litoral africano explorado
até ao cabo das Palmas.
Vinte anos foram
necessários para que Portugal se recuperasse
da sua perda e retomasse com D. João II a
obra dos Descobrimentos. Grande organizador,
nunca tomou parte em nenhuma viagem
marítima, apesar de chamado pelos
historiadores ingleses e depois consagrado
como Henrique – o Navegador.
D. Henrique viveu na
transição entre duas épocas: uma Idade Média
em que prevalecem as motivações guerreiras e
religiosas e uma Idade Moderna que assiste à
afirmação dos valores do Renascimento e do
primeiro capitalismo. É natural que esse
dicotomia se reflicta também na
personalidade do Infante, embora em grau que
desconhecemos. De facto, as interpretações
dos historiadores continuam controversas.
Tradicionalmente, seguiu-se sem hesitações o
panegírico do cronista Eanes de Zurara,
encomendado por D. João V e escrito ainda em
vida do Infante. É apresentado aí como um
homem exemplar que juntava, a um gosto
inesgotável pelo estudo, as qualidades de um
autêntico cavaleiro medieval, destemido na
guerra, obstinado nas decisões, piedoso,
casto e abstémio. Uma outra fonte menos
citada, a carta que D. Duarte escreveu a D.
Henrique antes da partida para Tânger,
dá-nos um retrato mais humano e mostra-no-lo
com qualidades e defeitos, nomeadamente
falador, desordenado e influenciável.
As dúvidas que se
levantam sobre a personalidade do Infante,
voltam a pôr-se a propósito do seu retrato
físico. A figuração mais habitual é com um
grande chapeirão do tipo borgonhês, cara
pensativa, cabelo e bigode aparados. Assim
aparece num manuscrito da “Crónica de Feitos
de Guines” de Zurara, e como tal foi
identificado nos Painéis de São Vicente de
Fora. Mas há outras fontes para a
iconografia henriquina. Na estátua que é
suposto representá-lo, no portal sul do
Mosteiro dos Jerónimos, surge de cabeça
descoberta, com longos cabelos e barbas. Por
fim, a estátua jacente que encima o seu
túmulo no Mosteiro da Batalha, mostra um
homem de rosto cheio e cara totalmente
rapada. Qual destas representações
corresponde à verdadeira efígie do Infante
D. Henrique é, provavelmente, um enigma sem
solução, mais um mistério a alimentar a
larga produção historiográfica de que tem
sido objecto e que parece longe de estar
esgotada.
Em Marrocos, é armado
cavaleiro, juntamente com os irmãos mais
velhos D. Duarte (que depois foi rei) e D.
Pedro. No regresso a Portugal, recebe o
ducado de Viseu e o senhorio da Covilhã,
cimentando assim uma poderosa casa
senhorial, que, ao longo da sua vida, será
reforçada com novos e variados rendimentos.
Em 1416 foi encarregue do governo e
manutenção de Ceuta, a partir de Portugal e,
dois anos depois, é-lhe entregue a
administração da Ordem Militar de Cristo
(que sucedeu à Ordem dos Templários). Nesse
ano de 1418, volta a Ceuta, comandando uma
expedição de apoio à cidade, que era objecto
do primeiro grande cerco muçulmano. Já em
Portugal, e tendo visto contrariados pelo
pai os seus intentos de conquistar
Gibraltar, organizou, para actuar nessa
zona, uma armada particular de corso, de que
tirará bastante proveito. Iniciada a
exploração dos arquipélagos da Madeira e dos
Açores, virá a ser o primeiro donatário da
ilhas atlânticas. Em 1433, seu irmão, o rei
D. Duarte, concedera-lhe também o monopólio
da pesca do atum, no Algarve, e isentara-o
do pagamento do quinto das presas tomadas
pelos seus corsários, privilégios que vinham
juntar-se ao exclusivo do fabrico e venda de
sabão em todo o Reino que lhe fora atribuído
por seu pai D. João I.
O Infante foi o grande
impulsionador e responsável pela expedição a
Tânger, em 1437, que redundará num enorme
fracasso, tendo sido obrigado a deixar o
irmão mais novo, D. Fernando, prisioneiro
dos muçulmanos, como refém da promessa de
entrega de Ceuta, no entanto, preferirá não
devolver a praça marroquina, mesmo com o
sacrifício da vida de D. Fernando. A sua
atitude em relação a outro seu irmão, D.
Pedro, também não é pacífica: apoia-o quando
ele assume a regência por morte de D.
Duarte, tendo recebido, aliás, inúmeras
benesses, entre as quais o cargo de
fronteiro-mor em todos os lugares da Beira,
em 1440 e o exclusivo da exploração
comercial dos territórios a sul do Bojador,
em 1443. Quando se agrava, porém, a tensão
entre D. Afonso V e o tio D. Pedro, que
culminará em 1449, deste último na Batalha
de Alfarrobeira, D. Henrique aparece ao lado
do jovem rei, sendo, indirectamente,
responsável pelo infeliz desenlace do
conflito. Os proventos da sua casa senhorial
não param, entretanto de crescer, recebendo
do rei e sobrinho as ilhas Berlengas e
Baleal, em 1449, o exclusivo da pesca do
coral, em 1450 e, direitos sobre os moinhos
de vento em parte do curso do rio Tejo, em
1451. Em 1468, já com 64 anos, participa na
expedição comandada por D. Afonso V que toma
a cidade de Alcácer Ceguer, colaborando em
mais um episódio daquele que fora o grande
projecto da sua vida: a conquista do Norte
de África.
Sabemos hoje que as
viagens de expansão realizadas até 1460, ano
da morte do Infante, não foram
exclusivamente da sua iniciativa. Parece, no
entanto, indiscutível que, apesar dos seus
interesses irem prioritariamente para a
política expansionista em Marrocos, o
Infante D. Henrique teve um papel
fundamental no arranque do movimento
expansionista, o que contraprova pelo facto
de, no período que se segue ao seu
falecimento, o ritmo das viagens de
descoberta ter abrandado de forma notória.
Têm, no entanto, vindo a ser corrigidas
algumas ideias-feitas que cresceram com a
mistificação da sua figura. Assim, a
formação que possuía no domínio das
ciências, e até das práticas náuticas deve
ter sido muito limitada; a lendária “escola
de Sagres”, espécie de universidade de
marinharia, não passa de uma invenção sem
fundamento, nada prova que tenha sido gizado
no seu tempo um plano para atingir a Índia;
apesar de apodado de o “Navegador”, as suas
viagens não foram além do Norte de África.
Nada disso apouca,
porém, o relevo da sua acção decisiva para a
empresa colectiva que levará à “abertura do
mundo”. O seu nome está associado aos
momentos mais importantes da primeira fade
da expansão, em que investiu parte dos seus
rendimentos da sua casa senhorial. Em 1419
(ou no ano seguinte) marinheiros ao serviço
do Infante reconhecem (ou redescobrem ?) o
arquipélago da Madeira e, entre 1427 e 1432,
o dos Açores. Deste cerca de 1421, que
navios seus fazem exploração na costa de
África, procurando ultrapassar o cabo
Bojador, até aí limite dos mares conhecidos,
objectivo que se concretizará, em 1434, numa
expedição chefiada por Gil Eanes, escudeiro
de D. Henrique. Nos dois anos seguintes,
começa a exploração da área a sul do cabo
recém-ultrapassado, mas a partir de 1436,
dá-se uma interrupção nas viagens de
expansão provocada, em grande parte, pela
malograda expedição a Tânger e pelos
conflitos políticos que se seguem à morte de
D. Duarte, em 1438. Só em 1441 as viagens de
descobrimento recomeçaram, usando-se desde
então o navio mais adequado, a caravela, o
que permitiu avançar mais decididamente para
sul. Em 1444, já tinha sido atingido a foz
do rio Senegal e no ano de 1460, data em que
o Infante D. Henrique morreu em Sagres,
homens seus tinham chegado ao litoral da
Serra Leoa e descoberto o arquipélago de
Cabo Verde.
A partir de
determinada altura, os navegadores
portugueses, para evitar os ventos
contrários (ventos Alísios) que sopram em
movimento contrário aos ponteiros de
relógio, em Cabo Verde rumavam para
ocidente. Um desses marinheiros notou que em
determinada altura, começa a surgir pássaros
e peixes que não se encontravam em oceano
aberto; além do recuo das marés. Havia para
aquelas bandas terras, que ainda não tinham
sido exploradas…