Massacre (de Judeus) em Lisboa
19 de Abril de 1506

Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro
Arte Final: Iara Melo

Pesquisas
históricas indicam que a
presença judaica em Portugal
remonta ao século VI antes da
era cristã, sendo anterior à
formação do reino de Portugal.
No século XII, sob o comando de
Afonso Henriques, Portugal
torna-se uma nação e surgem as
primeiras comunidades judaicas
em Lisboa, Oporto (actual
Porto), Santarém e Beja.
Durante o reinado de Afonso
Henriques, os judeus vivem
momentos de tranquilidade e
prosperidade, possuindo também
um sistema comunitário autónomo
no qual o grão-rabino era
indicado pelo rei. Neste
período, o grão-rabino Yahia Ben
Yahia foi escolhido ministro das
Finanças, sendo também
responsável pela colecta de
impostos no reino. A tradição
implantada por Afonso Henriques,
de escolher judeus para a área
financeira e de manter um bom
relacionamento com as
comunidades judaicas, é seguida
por seus sucessores.
Massacre em Lisboa - Damião de
Góis
Antes que el Rei fosse de Lisboa
para Almeirim, ordenou Tristão
da Cunha por capitão de uma
armada, da qual, e do que nesta
viagem se fez se dirá adiante,
no ano de mil quinhentos e oito,
em que tornou. Pelo que nestes
dois capítulos, que são já
derradeiros desta primeira parte
tratarei de um tumulto, e
levantamento, que aos dezanove
dias de Abril, deste ano de mil
quinhentos e seis, em Domingo de
Pascoela fez em Lisboa contra os
cristãos-novos, que foi pela
maneira seguinte.
No mosteiro de São Domingos da
dita cidade estava uma capela a
que chamava de Jesus, e nela um
crucifixo, em que foi então
visto um sinal, a que davam cor
de milagre, com quanto os que na
igreja se acharam julgavam ser o
contrário dos quais um
cristão-novo disse que lhe
parecia uma candeia acesa que
estava posta no lado da imagem
de Jesus, o que ouvindo alguns
homens baixos o tiraram pelos
cabelos de arrasto para fora da
igreja, e o mataram, e queimaram
logo o corpo no Rossio. Ao qual
alvoroço acudiu muito povo, a
quem um frade fez uma pregação
convocando-os contra os
cristãos-novos, após o que
saíram dois frades do mosteiro,
com um crucifixo nas mãos
bradando, heresia, heresia, o
que imprimiu tanto em muita
gente estrangeira, popular,
marinheiros de naus, que então
vieram da Holanda, Zelândia, e
outras partes, ali homens da
terra, da mesma condição, e
pouca qualidade, que juntos mais
de quinhentos, começaram a matar
todos os cristãos-novos que
achavam pelas ruas, e os corpos
mortos, e os meio vivos lançavam
e queimavam em fogueiras que
tinham feitas na Ribeira e no
Rossio a qual negócio lhes
serviam escravos e moços que com
muita diligência acarretavam
lenha e outros materiais para
acender o fogo, no qual Domingo
de Pascoela mataram mais de
quinhentas pessoas.
A esta turma de maus homens, e
dos frades, que sem temor de
Deus andavam pelas ruas
concitando o povo a esta tamanha
crueldade, se ajuntaram mais de
mil homens da terra, da
qualidade dos outros, que todos
juntos segunda-feira continuaram
nesta maldade com maior crueza,
e por já nas ruas não acharem
cristãos-novos, foram cometer
com vaivéns e escadas as casas
em que viviam, ou onde sabiam
que estavam, e tirando-os delas
de arrasto pelas ruas, com seus
filhos, mulheres, e filhas, os
lançavam de mistura vivos e
mortos nas fogueiras, sem
nenhuma piedade, e era tamanha a
crueza que até nos meninos, e
nas crianças que estavam no
berço a executavam, tomando-os
pelas pernas fendendo-os em
pedaços, e esborrachando-os de
arremesso nas paredes. Nas quais
cruezas não se esqueceram de
meter a saque as casas, e roubar
todo o ouro, prata, e enxovais
que nelas acharam, vindo o
negócio a tanta dissolução que
das igrejas tiraram muitos
homens, mulheres, moços, moças,
destes inocentes, despegando-os
dos Sacrários, e das imagens de
nosso Senhor, e de nossa
Senhora, e outros Santos, com
que o medo da morte os tinha
abraçado, e dali os tiraram,
matando e queimando sem nenhum
temor a Deus assim a elas como a
eles.
Neste dia pereceram mais de mil
almas, sem que na cidade alguém
ousasse de resistir, pela pouca
gente de sorte que nela havia
por estarem os mais dos honrados
fora, por causa da peste. E se
os alcaides, e outras justiças,
queriam acudir a tamanho mal,
achavam tanta resistência, que
eram forçados a se recolher a
parte onde estivessem seguros,
de não acontecer o mesmo que aos
cristãos-novos. (…)
Passado este dia, que era o
segundo desta perseguição,
tornaram terça-feira este
danados homens a prosseguir a
sua crueza, mas não tanto quanto
nos outros dias porque já não
achavam quem matar, pois todos
os cristãos-novos que escaparam
desta tamanha fúria, serem
postos a salvo por pessoas
honradas, e piedosas que nisto
trabalharam tudo o que neles
foi.”»
PORTUGAL E
OS JUDEUS - Jorge Martins
VOLUME 1 (dos primórdios da
nacionalidade à legislação
pombalina)
RESUMO
Os judeus viveram em clima de
relativa tolerância em Portugal
desde a formação da
nacionalidade no século XII,
aumentando as suas comunidades
até finais do século XV, época
em que representariam cerca de
10% dos menos de 1.500.000
habitantes do país. A partir do
Édito de Expulsão de D. Manuel
I, em 1496, transformado em
baptismo forçado no ano
seguinte, a situação degradou-se
e, após árduas tentativas do
intolerante rei D. João III, a
Inquisição foi introduzida em
1536, o que desencadeou o
extermínio sistemático do
judaísmo em Portugal. Esta
situação só terminaria com a
acção autoritária do Marquês de
Pombal no último quartel do
século XVIII e seria
definitivamente afastada com a
extinção da Inquisição pelo
parlamento liberal em 1821.
As primeiras comunidades
judaicas contemporâneas
começaram a reconstituir-se no
início do século XIX e, um
século depois, revelar-se-iam ao
mundo os cripto judeus
sobreviventes do extermínio
inquisitorial, que foram
descobertos no interior do país,
nas Beiras e em Trás-os-Montes,
pelo engenheiro judeu polaco
Samuel Schwarz. Pela acção
determinada do capitão Barros
Basto, também ele marrano,
iniciou-se a chamada “Obra do
Resgate”, que procurou trazer ao
judaísmo oficial esses milhares
de judeus secretos.
A literatura anti-semita que
proliferou entre os séculos XVI
e XVIII são fontes inestimáveis
para a compreensão do
anti-semitismo português. Também
a acção filo-semita de
personalidades tolerantes como o
padre António Vieira, D. Luís da
Cunha e o Cavaleiro de Oliveira
demonstram que a resistência
judaica teve o apoio de alguns
dos nossos melhores
intelectuais, que contribuiriam
assim para o processo de
emancipação dos judeus
portugueses, iniciado no tempo
de Pombal, continuado no período
liberal e legalizado durante a I
República.
Se a República constituiu uma
verdadeira oportunidade para a
emancipação judaica portuguesa,
também proporcionou a emergência
do anti-semitismo ideológico
mais virulento, cujos principais
arautos, António Sardinha e
Mário Saa, teriam dignos
discípulos em personalidades
integralistas e nacionalistas,
como Francisco Pereira de
Sequeira e Paulo de Tarso e
porta-vozes na imprensa, como o
Serviço d’El-Rey e a Acção
Realista.
As modernas comunidades
israelitas portuguesas
edificaram novas sinagogas de
raiz, designadamente em Lisboa e
no Porto, prosperaram de Norte a
Sul, passando pelos arquipélagos
dos Açores e da Madeira e
envolveram-se nos esforços
sionistas da construção da
pátria judaica, entre finais do
século XIX e meados do século XX.
OS JUDEUS
EM PORTUGAL AQUANDO DA 2ª GUERRA
MUNDIAL: exemplificação
romanceada por Erich Maria
Remarque
A perseguição aos judeus levada
a cabo pelos nazis, não só, mas
sobretudo, aquando do período da
2ª Guerra Mundial, originou
ondas de refugiados na Europa.
Os EUA apresentaram-se, então,
como o "novo paraíso", espaço
onde milhares de homens,
mulheres e crianças poderiam
voltar a instalar-se e
tranquilamente
conduzir/prosseguir as suas
vidas.
Portugal recebeu muitos destes
judeus, como placa giratoria
para o outro lado do Atlântico.
A sua passagem pelo país não foi
indiferente à população, em
particular no que respeita a
usos e costumes. Lisboa, por
exemplo, foi palco de vários
episódios e situações.
No domínio da literatura esta
passagem dos judeus pela capital
foi abordada, por exemplo, por
Erich Maria Remarque, no seu
livro Uma noite em Lisboa.
Quanto à história :
Lisboa, ano de 1942. Os
refugiados afluem a Portugal. No
cais, dois homens, ambos
emigrados alemães, iniciam uma
estranha negociação. Um deles
oferece ao outro os passaportes
e os bilhetes que lhe
possibilitarão seguir viagem com
destino a Nova Iorque no navio
que parte no dia seguinte. O
preço por este favor é o
seguinte: que o beneficiário se
disponha a ouvir a dolorosa
confissão do seu interlocutor.
Toda esta história é revivida
através da narração do seu
protagonista, um judeu fugido ao
terror hitleriano.
O autor:
Erich Maria Remarque, nasceu a
22 de Junho de 1898 na Alemanha.
Foi soldado aquando da 1ª Guerra
Mundial, escrevendo com base
nessa experiência a obra A Oeste
nada de Novo. É ainda autor de:
A Centelha da Vida, O Céu não
tem Favoritos, Desenraizados,
Tempo para Amar e Tempo para
Morrer.
Perseguido pelos nazis que
queimaram algumas das suas obras
o autor exilou-se nos EUA, onde
veio a falecer em 25 de Setembro
de 1970.
Em jeito de ilustração,
apresentamos de, Uma noite em
Lisboa, o início do primeiro
capítulo. E, também, um pouco do
final.
Tinha os olhos pregados no
navio. Fundeado no Tejo, a
alguma distância do cais,
iluminava-o um clarão vivíssimo.
Se bem que estivesse havia uma
semana em Lisboa, ainda me não
habituara à luminosidade
extravagante da cidade. Nas
terras donde eu vinha, a noite
fazia das cidades negros blocos
de carvão, onde o foco de uma
lanterna representava mais
perigo do que a peste na Idade
Média. Eu vinha da Europa do
século XX.
O navio de passageiros ali
atracado recebia carga, e eu
sabia que a partida estava
marcada para a tarde do dia
seguinte. À luz crua de uma
fiada de lâmpadas eléctricas,
iam-se acumulando fardos de
carne, peixe, conservas, pão e
legumes, os carregadores
arrastavam para bordo caixotes
imensos e um guindaste içava
volumes e fardos com a
despreocupada indiferença de
quem lhes não sente o peso.
O navio preparava-se para a
partida, qual arca em tempo de
dilúvio. E era de facto a arca
de Nóe. Qualquer navio que
naquele ano de 1942 abandonasse
a Europa assemelhava-se a uma
arca de salvação. A América era
o monte Ararat e o dilúvio ia
crescendo sempre. A enchente
engolira há muito a Alemanha e a
Áustria, atingindo proporções
gigantescas na Polónia e em
Praga. Amesterdão, Bruxelas,
Copenhaga, Oslo e Paris estavam
também submersas, as cidades da
Itália ruíam e a própria Espanha
deixara de ser segura. A costa
de Portugal ficara sendo o
último refúgio para os
emigrantes que acima da pátria e
da própria vida colocavam os
seus ideais de liberdade,
justiça e tolerância. Quem a
partir daí não conseguisse
alcançar a terra bendita da
América estava perdido. Ficaria
condenado a uma morte lenta no
labirinto de documentos sempre
recusados, de impossíveis
licenças de trabalho e
autorização de permanência no
país, de campos de internamento;
envolvido nos complicados
meandros da burocracia; reduzido
à solidão irremediável de
desconhecido em terra alheia e à
indiferença geral e criminosa
com que era olhado o destino de
cada homem, consequência
inevitável da guerra, do medo e
da necessidade. Naquela altura o
homem não valia nada: um
passaporte válido era tudo.
(...) O navio fundeado no Tejo
era o último com o qual, ainda
em França, acalentáramos a
esperança de chegar a Nova
Iorque; a lotação esgotara-se,
porém, com meses de
antecedência, e, além do visto
americano, faltavam-nos para
cima de trezentos dólares. Tinha
tentado arranjar pelo menos o
dinheiro e fizera-o pelo único
processo ao meu alcance - o
jogo.
(...)
Estive na América durante todo o
tempo que durou a guerra. (...)
Terminada a guerra, regressei à
Europa. Não me foi fácil
estabelecer a minha identidade,
justamente numa altura em que na
Alemanha centenas de grandes
senhores lutavam por se
libertarem da sua.
(...)
O MASSACRE
DOS JUDEUS DE LISBOA - Esther
Mucznik
1) O Massacre dos
Judeus/Cristãos-Novos de Lisboa
teve na época um impacto
considerável, o que é comprovado
pelo grande número de cronistas
principalmente da época ou
próxima dela que o narra:
Salomon Ibn Verga, um exilado
judeu espanhol que foi aqui em
Portugal apanhado pelas
conversões forçadas e embora só
tivesse chegado a Lisboa uns
dias mais tarde é contemporâneo
e testemunha indirecta; um
visitante alemão anónimo,
testemunha directa e envolvida
directamente nos acontecimentos
que deixou um testemunho
extremamente detalhado; há as
crónicas de Damião de Góis, de
Jerónimo Osório, referências em
Garcia de Resende, Samuel Usque
no seu livro “Consolação às
Tribos de Israel e mais tarde no
séc. XIX Alexandre Herculano.
2) A maioria dos cronistas
concorda nalguns pontos
importantes e que eu gostaria de
salientar:
- A extrema violência do
massacre e de certa forma o seu
carácter algo inédito em
Portugal. Tinha havido alguns
incidentes graves como em 1499 e
outros, mas nada que se
comparasse a esta matança
generalizada: entre 2 a 4 mil
mortos, assassinados em três ou
quatro dias com requintes de
malvadez tremendos – mulheres
grávidas atiradas pelas janelas
e aguardadas em baixo pelas
lanças empunhadas; bebés
estilhaçados contra os muros;
violações; desmembramentos;
autos de fé ....O Massacre parou
por exaustão, mas também porque
já havia pouco para matar, os
sobreviventes tinham fugido,
alguns com a ajuda de
cristãos-velhos;
- O papel decisivo e
determinante dos frades
dominicanos que instigaram e
conduziram até ao final a turba
enfurecida, no sentido de
exterminar os cristãos-novos,
inclusivamente opondo-se ao rei
e ao poder temporal que foi
claramente desafiado e
contestado e que só conseguiu
impor a ordem bastantes dias
depois. Quando digo exterminar,
estou a medir as palavras, foi
claramente uma tentativa de
extermínio, embora localizada e
centrada em Lisboa e arredores.
- Embora alguns cronistas citem
o Rossio e o cais, os
testemunhos mais directos
referem não só o Convento de S.
Domingos como ponto de partida
do massacre, mas também o Largo
de S. Domingos como o local para
onde convergiam todos os
cadáveres, trazidos pelos
malfeitores, onde eram
empilhados e queimados; é por
isso que ainda hoje esse é o
lugar mais simbólico do massacre
e onde propusemos à Câmara
Municipal de Lisboa, a colocação
de uma placa que lembre para a
posteridade o sofrimento atroz
dos judeus nesses dias;
- a participação de marinheiros
alemães, holandeses e franceses
no massacre e no saque dos
judeus, o que mostra que o ódio
aos judeus era um fenómeno
generalizado.
3) Quais os motivos do
massacre? Mais uma vez, os
judeus foram o bode expiatório
de uma determinada situação de
seca, fome e peste; alguns
historiadores apontam o papel,
odiado pelo povo, de colectores
de impostos de que os
cristãos-novos eram incumbidos
pelo rei, tal como o eram quando
judeus; o fanatismo religioso,
como já vimos é outra causa
decisiva.
Para além destes, em minha
opinião, há dois factores que
foram decisivos: o primeiro é
conjuntural, o segundo marcou
todas as perseguições judaicas
ao longo de dois mil anos.
As conversões forçadas é o
primeiro. A conversão,
voluntária ou forçada foi a
forma encontrada por D. Manuel
para manter os judeus em
Portugal porque precisava deles.
Não os podia manter como judeus,
tentou mantê-los como cristãos,
acreditando que com uma política
de integração os conseguia
assimilar e diluir na sociedade
portuguesa. Enganou-se duas
vezes: em primeiro lugar, porque
subestimou a fé religiosa
judaica que se manteve acesa e
não podendo ser às claras
tornou-se secreta; em segundo
lugar porque o ódio que o povo
tinha aos judeus, em vez de
diminuir foi exacerbado: antes
os judeus eram um corpo bem
identificado, submetido a regras
e leis rigorosas, apartado.
Agora depois da conversão estava
inserido, disseminado na
sociedade portuguesa, invisível
e por isso muito mais perigoso.
Aliás, só o rei acreditou na
conversão e na assimilação, o
povo nunca.
O segundo factor que explica o
Massacre, embora não sendo
específico dele, é a
vulnerabilidade judaica ao longo
dos dois mil anos de diáspora.
Sem reinos, sem exércitos, sem
poder, os judeus foram ao longo
da história uma presa fácil
Aliás, é o próprio Damião de
Góis que na Crónica de D. Manuel
explica assim que tenham sido os
filhos dos judeus a serem
retirados aos pais par a
conversão forçada e não os
filhos dos mouros. Diz ele “A
razão pela qual el-Rei ordenou
que levassem os filhos dos
judeus e não os filhos dos
Mouros era que os judeus, pelos
seus pecados, não tinham reinos,
nem domínios, nem cidades, nem
aldeias, mas são – em todas as
partes em que vivem – peregrinos
e súbditos, desprovidos de poder
e de autoridade para executar os
seus desejos contra as ofensas e
os males exercidos sobre eles
...”
Muito mais tarde, 500 anos
depois, os judeus souberam tirar
a lição desta realidade ...
4) O Massacre é a consequência
da falência da política pérfida
de D. Manuel: as conversões
forçadas foram uma tentativa de
manter cá os judeus, mas como
cristãos; considerava que
bastava umas gotas de água
baptismal e uma política de
integração para que os judeus se
deixassem integrar. Não foi isso
o que aconteceu, como vimos e o
próprio rei deu-se conta disso
em primeiro lugar permitindo por
decreto de 1507, a saída de
Portugal dos cristãos-novos. Mas
a quem ainda tivesse alguma
ilusão sobre a estima que o rei
D. Manuel tivesse em relação aos
judeus nunca é demais lembrar
que face ao fracasso da sua
política, ele não hesitou em
confiar ao seu embaixador em
Roma a missão secreta de pedir
ao Papa, em 1515, a permissão de
estabelecer a Inquisição em
Portugal. Ou seja se não ia a
bem, talvez fosse a mal...Não
foi!
No entanto, a política de D.
Manuel teve um impacto
considerável que dura até aos
nossos dias: o cripto-judaísmo,
o marranismo é um fenómeno
essencialmente português e até
hoje, 500 anos depois, se fazem
sentir as consequências da
presença do marranismo na
sociedade portuguesa.
5) Finalmente, e para
terminar, é evidente que temos
de analisar o Massacre também
com os olhos de ontem, da época,
em que a questão da religião era
absolutamente dominante, a força
da Igreja absoluta, e a diabolização dos judeus um
facto. No entanto, o Massacre de
Lisboa, não deixa de ser um
terrível exemplo de até onde
pode levar o fanatismo, a
intolerância e o ódio religioso.
Afinal, o Massacre de Lisboa,
tão distante, é infelizmente
ainda tão actual...
502 anos:
O massacre de Lisboa -
http://ruadajudiaria.com
1506-2008
Vai fazer exactamente 500 anos,
nos dias 19, 20 e 21 de Abril,
que um cataclismo se abateu
sobre Lisboa. A alma da Capital
do Império sofreu um abalo tão
grande – senão mesmo maior –
quanto aquele que a haveria de
destruir em 1755. Durante três
dias, em nome de um fanatismo
sanguinário, mais de 4 mil
pessoas perderam a vida numa
matança sem precedentes em
Portugal.
Como vozes que teimam em emergir
de entre as poeiras da História,
cronistas como Damião de Góis e
Samuel Usque deixaram relatos
detalhados dos motins
sangrentos. Contam os
testemunhos que tudo terá
começado na Baixa, no dia 19 de
Abril de 1506, um domingo, na
Igreja de São Domingos, quando
alguém gritou ter visto o rosto
do Cristo crucificado
iluminar-se inexplicavelmente no
altar. Em redor, gente que
rezava pelo fim da seca
prolongada que grassava pelo
país clamou que era milagre.
Entre eles, um judeu convertido
à força terá tentado explicar
que a luz que emanava do
crucifixo era apenas um reflexo
de um raio de sol que entrava
por uma fresta. Terão sido as
suas últimas palavras. Arrastado
para a rua, o marrano e um irmão
seu foram espancados até à
morte. Os seus corpos mutilados
foram arrastados para o Rossio e
queimados em frente dos Estaus –
onde décadas depois foi
instalada a Inquisição. Eles
eram apenas os primeiros de
entre mais de 4 mil mortos –
anussim, judeus portugueses,
homens, mulheres e crianças,
assassinados em três dias
sangrentos.
Incitada por frades dominicanos,
a multidão que entretanto se
aglomerara decide partir em
direcção da Judiaria, gritando
“morte aos judeus” e “morram os
hereges”. As incompreensíveis
cenas de violência que se deram
a seguir fazem parte de um
pedaço da história de Portugal
que a História resolveu
esquecer. Conto voltar ao tema e
às descrições desta tragédia de
há 500 anos. Por agora, queria
apenas deixar um apelo. Em
Portugal comemoram-se há muito
os grandes feitos da História,
testemunhos quase sebastianistas
de uma grandeza perdida. Que não
se esqueça também a desgraça que
prova ser mito a velha máxima do
tal “povo de brandos costumes”.
Aqui fica o desafio: que no dia
19 de Abril vão à Baixa de
Lisboa e no Rossio acendam uma
vela simbólica por cada uma das
vítimas. Quatro mil velas que
iluminem a memória.
502 anos: O massacre de Lisboa
1506-2008
Vai fazer exactamente 502 anos,
nos dias 19, 20 e 21 de Abril,
que um cataclismo se abateu
sobre Lisboa. A alma da Capital
do Império sofreu um abalo tão
grande – senão mesmo maior –
quanto aquele que a haveria de
destruir em 1755. Durante três
dias, em nome de um fanatismo
sanguinário, mais de 4 mil
pessoas perderam a vida numa
matança sem precedentes em
Portugal.
Como vozes que teimam em emergir
de entre as poeiras da História,
cronistas como Damião de Góis e
Samuel Usque deixaram relatos
detalhados dos motins
sangrentos. Contam os
testemunhos que tudo terá
começado na Baixa, no dia 19 de
Abril de 1506, um domingo, na
Igreja de São Domingos, quando
alguém gritou ter visto o rosto
do Cristo crucificado
iluminar-se inexplicavelmente no
altar. Em redor, gente que
rezava pelo fim da seca
prolongada que grassava pelo
país clamou que era milagre.
Entre eles, um judeu convertido
à força terá tentado explicar
que a luz que emanava do
crucifixo era apenas um reflexo
de um raio de sol que entrava
por uma fresta. Terão sido as
suas últimas palavras. Arrastado
para a rua, o marrano e um irmão
seu foram espancados até à
morte. Os seus corpos mutilados
foram arrastados para o Rossio e
queimados em frente dos Estaus –
onde décadas depois foi
instalada a Inquisição. Eles
eram apenas os primeiros de
entre mais de 4 mil mortos –
anussim, judeus portugueses,
homens, mulheres e crianças,
assassinados em três dias
sangrentos.
Incitada por frades dominicanos,
a multidão que entretanto se
aglomerara decide partir em
direcção da Judiaria, gritando
“morte aos judeus” e “morram os
hereges”. As incompreensíveis
cenas de violência que se deram
a seguir fazem parte de um
pedaço da história de Portugal
que a História resolveu
esquecer. Conto voltar ao tema e
às descrições desta tragédia de
há 500 anos. Por agora, queria
apenas deixar um apelo. Em
Portugal comemoram-se há muito
os grandes feitos da História,
testemunhos quase sebastianistas
de uma grandeza perdida. Que não
se esqueça também a desgraça que
prova ser mito a velha máxima do
tal “povo de brandos costumes”.
Aqui fica o desafio: que no dia
19 de Abril vão à Baixa de
Lisboa e no Rossio acendam uma
vela simbólica por cada uma das
vítimas. Quatro mil velas que
iluminem a memória.
Inquisição e Cristãos-Novos -
Carlos Câmara, António José
Saraiva "Eu sou Isrealita",
Lisboa, Jornal Público/Fim de
Semana, 1 de Fevereiro de 1991.
António José Saraiva faz um
distinção rácica entre árabes,
judeus, que considera povos
semitas e os povos europeus ou
arianos dos quais os últimos
representantes, nas palavras do
autor, são o povo dos Estados
Unidos da América.
A influência semita foi
grandemente assimilada pelo povo
português, a forte permanência
árabe, antes da Reconquista,
deixou profundas marcas na
personalidade histórica e actual
do indivíduo português. Por
outro lado, a assimilação dos
judeus em Portugal contribuiu
também para a formação da
mentalidade portuguesa através
dos tempos. "A indolência árabe,
por oposição aos judeus, que são
um povo activo". António José
Saraiva vê, portanto, o
desmazelo do português como uma
herança que o povo português
adoptou do povo árabe, ao
contrário da actividade
empreendedora característica do
povo judeu, que segundo o autor
foi determinante para o início
dos Descobrimentos portugueses "
(...) O desmazelo, que é uma
característica essencial do
português, vêm-lhe do lado árabe
(...) Repare, os judeus foram
expulsos no fim do séc. XV -
corresponde exactamente ao fim
dos Descobrimentos". Esta
antítese encontra-se ainda
dividida a nível geográfico, a
diferença entre o Norte e o Sul,
"Portugal (...) tem duas partes
muitos definidas. Uma é o norte,
de influência judaica, em que
existe uma grande capacidade de
trabalho e até uma certa
capacidade de juntar riqueza; no
sul, o Alentejo, entre os homens
ainda hoje se sentam no chão
para conversar, e o Algarve
(...) - Há portanto, um Portugal
árabe e um Portugal que não
sabemos se é judeu ou ariano."
Considerado por si próprio como
sendo israelita, um pouco sem
saber porquê acha-se "activo à
(sua) maneira". A obra defende
ainda a tese de que os judeus
que permaneceram em Portugal,
assimilaram-se na população, o
que levantou algumas críticas à
capacidade de assimilação do
povo judaico. Segundo certos
autores essa assimilação seria
impossível. António José Saraiva
considera a sua conclusão como
sendo "hoje em dia (...)
indiscutível", visto que " a
integração dos judeus não era
uma coisa difícil , porque já cá
estava um povo semita. O que
acontece é que o povo judaico
tem uma grande capacidade de
assimilação.
Viu o conflito no Golfo Pérsico
como, um dos últimos confrontos
entre a raça ariana e os povos
semitas, mas neste caso
considera que a guerra não se
restringiu apenas à raça, mas
também ao choque de civilizações
antagónicas, ocidental e
oriental.
Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal
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Arte topo da página criada
especialmente para o Portal CEN, por Iara Melo
Fundo Musical: "Trad Mezuzah Yerushalaim"
Infelizmente, desconheço a autoria
Copiado do site da amiga
Rivkah Cohen
Webdesigner: Iara Melo

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