Massacre (de Judeus) em Lisboa

 

 

19 de Abril de 1506

 

 

 

 

 

 

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro

 

 

Arte Final: Iara Melo

 

 

 

 

 

 

Pesquisas históricas indicam que a presença judaica em Portugal remonta ao século VI antes da era cristã, sendo anterior à formação do reino de Portugal. No século XII, sob o comando de Afonso Henriques, Portugal torna-se uma nação e surgem as primeiras comunidades judaicas em Lisboa, Oporto (actual Porto), Santarém e Beja.


Durante o reinado de Afonso Henriques, os judeus vivem momentos de tranquilidade e prosperidade, possuindo também um sistema comunitário autónomo no qual o grão-rabino era indicado pelo rei. Neste período, o grão-rabino Yahia Ben Yahia foi escolhido ministro das Finanças, sendo também responsável pela colecta de impostos no reino. A tradição implantada por Afonso Henriques, de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom relacionamento com as comunidades judaicas, é seguida por seus sucessores.

 

 

 

 

 

Massacre em Lisboa - Damião de Góis


Antes que el Rei fosse de Lisboa para Almeirim, ordenou Tristão da Cunha  por capitão de uma armada, da qual, e do que nesta viagem se fez se dirá adiante, no ano de mil quinhentos e oito, em que tornou. Pelo que nestes dois capítulos, que são já derradeiros desta primeira parte tratarei de um tumulto, e levantamento, que aos dezanove dias de Abril, deste ano de mil quinhentos e seis, em Domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte.


No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas.


A esta turma de maus homens, e dos frades, que sem temor de Deus andavam pelas ruas concitando o povo a esta tamanha crueldade, se ajuntaram mais de mil homens da terra, da qualidade dos outros, que todos juntos segunda-feira continuaram nesta maldade com maior crueza, e por já nas ruas não acharem cristãos-novos, foram cometer com vaivéns e escadas as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam, e tirando-os delas de arrasto pelas ruas, com seus filhos, mulheres, e filhas, os lançavam de mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos, e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes. Nas quais cruezas não se esqueceram de meter a saque as casas, e roubar todo o ouro, prata, e enxovais que nelas acharam, vindo o negócio a tanta dissolução que das igrejas tiraram muitos homens, mulheres, moços, moças, destes inocentes, despegando-os dos Sacrários, e das imagens de nosso Senhor, e de nossa Senhora, e outros Santos, com que o medo da morte os tinha abraçado, e dali os tiraram, matando e queimando sem nenhum temor a Deus assim a elas como a eles.


Neste dia pereceram mais de mil almas, sem que na cidade alguém ousasse de resistir, pela pouca gente de sorte que nela havia por estarem os mais dos honrados fora, por causa da peste. E se os alcaides, e outras justiças, queriam acudir a tamanho mal, achavam tanta resistência, que eram forçados a se recolher a parte onde estivessem seguros, de não acontecer o mesmo que aos cristãos-novos. (…)


Passado este dia, que era o segundo desta perseguição, tornaram terça-feira este danados homens a prosseguir a sua crueza, mas não tanto quanto nos outros dias porque já não achavam quem matar, pois todos os cristãos-novos que escaparam desta tamanha fúria, serem postos a salvo por pessoas honradas, e piedosas que nisto trabalharam tudo o que neles foi.”»

 

 

PORTUGAL E OS JUDEUS - Jorge Martins


VOLUME 1 (dos primórdios da nacionalidade à legislação pombalina)


RESUMO


Os judeus viveram em clima de relativa tolerância em Portugal desde a formação da nacionalidade no século XII, aumentando as suas comunidades até finais do século XV, época em que representariam cerca de 10% dos menos de 1.500.000 habitantes do país. A partir do Édito de Expulsão de D. Manuel I, em 1496, transformado em baptismo forçado no ano seguinte, a situação degradou-se e, após árduas tentativas do intolerante rei D. João III, a Inquisição foi introduzida em 1536, o que desencadeou o extermínio sistemático do judaísmo em Portugal. Esta situação só terminaria com a acção autoritária do Marquês de Pombal no último quartel do século XVIII e seria definitivamente afastada com a extinção da Inquisição pelo parlamento liberal em 1821.


As primeiras comunidades judaicas contemporâneas começaram a reconstituir-se no início do século XIX e, um século depois, revelar-se-iam ao mundo os cripto judeus sobreviventes do extermínio inquisitorial, que foram descobertos no interior do país, nas Beiras e em Trás-os-Montes, pelo engenheiro judeu polaco Samuel Schwarz. Pela acção determinada do capitão Barros Basto, também ele marrano, iniciou-se a chamada “Obra do Resgate”, que procurou trazer ao judaísmo oficial esses milhares de judeus secretos.


A literatura anti-semita que proliferou entre os séculos XVI e XVIII são fontes inestimáveis para a compreensão do anti-semitismo português. Também a acção filo-semita de personalidades tolerantes como o padre António Vieira, D. Luís da Cunha e o Cavaleiro de Oliveira demonstram que a resistência judaica teve o apoio de alguns dos nossos melhores intelectuais, que contribuiriam assim para o processo de emancipação dos judeus portugueses, iniciado no tempo de Pombal, continuado no período liberal e legalizado durante a I República.


Se a República constituiu uma verdadeira oportunidade para a emancipação judaica portuguesa, também proporcionou a emergência do anti-semitismo ideológico mais virulento, cujos principais arautos, António Sardinha e Mário Saa, teriam dignos discípulos em personalidades integralistas e nacionalistas, como Francisco Pereira de Sequeira e Paulo de Tarso e porta-vozes na imprensa, como o Serviço d’El-Rey e a Acção Realista.


As modernas comunidades israelitas portuguesas edificaram novas sinagogas de raiz, designadamente em Lisboa e no Porto, prosperaram de Norte a Sul, passando pelos arquipélagos dos Açores e da Madeira e envolveram-se nos esforços sionistas da construção da pátria judaica, entre finais do século XIX e meados do século XX.

 

OS JUDEUS EM PORTUGAL AQUANDO DA 2ª GUERRA MUNDIAL: exemplificação romanceada por Erich Maria Remarque


A perseguição aos judeus levada a cabo pelos nazis, não só, mas sobretudo, aquando do período da 2ª Guerra Mundial, originou ondas de refugiados na Europa. Os EUA apresentaram-se, então, como o "novo paraíso", espaço onde milhares de homens, mulheres e crianças poderiam voltar a instalar-se e tranquilamente conduzir/prosseguir as suas vidas.


Portugal recebeu muitos destes judeus, como placa giratoria para o outro lado do Atlântico. A sua passagem pelo país não foi indiferente à população, em particular no que respeita a usos e costumes. Lisboa, por exemplo, foi palco de vários episódios e situações.


No domínio da literatura esta passagem dos judeus pela capital foi abordada, por exemplo, por Erich Maria Remarque, no seu livro Uma noite em Lisboa.


Quanto à história :
Lisboa, ano de 1942. Os refugiados afluem a Portugal. No cais, dois homens, ambos emigrados alemães, iniciam uma estranha negociação. Um deles oferece ao outro os passaportes e os bilhetes que lhe possibilitarão seguir viagem com destino a Nova Iorque no navio que parte no dia seguinte. O preço por este favor é o seguinte: que o beneficiário se disponha a ouvir a dolorosa confissão do seu interlocutor.


Toda esta história é revivida através da narração do seu protagonista, um judeu fugido ao terror hitleriano.

 

O autor:
Erich Maria Remarque, nasceu a 22 de Junho de 1898 na Alemanha. Foi soldado aquando da 1ª Guerra Mundial, escrevendo com base nessa experiência a obra A Oeste nada de Novo. É ainda autor de: A Centelha da Vida, O Céu não tem Favoritos, Desenraizados, Tempo para Amar e Tempo para Morrer.


Perseguido pelos nazis que queimaram algumas das suas obras o autor exilou-se nos EUA, onde veio a falecer em 25 de Setembro de 1970.
Em jeito de ilustração, apresentamos de, Uma noite em Lisboa, o início do primeiro capítulo. E, também, um pouco do final.
Tinha os olhos pregados no navio. Fundeado no Tejo, a alguma distância do cais, iluminava-o um clarão vivíssimo. Se bem que estivesse havia uma semana em Lisboa, ainda me não habituara à luminosidade extravagante da cidade. Nas terras donde eu vinha, a noite fazia das cidades negros blocos de carvão, onde o foco de uma lanterna representava mais perigo do que a peste na Idade Média. Eu vinha da Europa do século XX.


O navio de passageiros ali atracado recebia carga, e eu sabia que a partida estava marcada para a tarde do dia seguinte. À luz crua de uma fiada de lâmpadas eléctricas, iam-se acumulando fardos de carne, peixe, conservas, pão e legumes, os carregadores arrastavam para bordo caixotes imensos e um guindaste içava volumes e fardos com a despreocupada indiferença de quem lhes não sente o peso.


O navio preparava-se para a partida, qual arca em tempo de dilúvio. E era de facto a arca de Nóe. Qualquer navio que naquele ano de 1942 abandonasse a Europa assemelhava-se a uma arca de salvação. A América era o monte Ararat e o dilúvio ia crescendo sempre. A enchente engolira há muito a Alemanha e a Áustria, atingindo proporções gigantescas na Polónia e em Praga. Amesterdão, Bruxelas, Copenhaga, Oslo e Paris estavam também submersas, as cidades da Itália ruíam e a própria Espanha deixara de ser segura. A costa de Portugal ficara sendo o último refúgio para os emigrantes que acima da pátria e da própria vida colocavam os seus ideais de liberdade, justiça e tolerância. Quem a partir daí não conseguisse alcançar a terra bendita da América estava perdido. Ficaria condenado a uma morte lenta no labirinto de documentos sempre recusados, de impossíveis licenças de trabalho e autorização de permanência no país, de campos de internamento; envolvido nos complicados meandros da burocracia; reduzido à solidão irremediável de desconhecido em terra alheia e à indiferença geral e criminosa com que era olhado o destino de cada homem, consequência inevitável da guerra, do medo e da necessidade. Naquela altura o homem não valia nada: um passaporte válido era tudo. (...) O navio fundeado no Tejo era o último com o qual, ainda em França, acalentáramos a esperança de chegar a Nova Iorque; a lotação esgotara-se, porém, com meses de antecedência, e, além do visto americano, faltavam-nos para cima de trezentos dólares. Tinha tentado arranjar pelo menos o dinheiro e fizera-o pelo único processo ao meu alcance - o jogo.
(...)
Estive na América durante todo o tempo que durou a guerra. (...)
Terminada a guerra, regressei à Europa. Não me foi fácil estabelecer a minha identidade, justamente numa altura em que na Alemanha centenas de grandes senhores lutavam por se libertarem da sua.
(...)

 

O MASSACRE DOS JUDEUS DE LISBOA -  Esther Mucznik


1) O Massacre dos Judeus/Cristãos-Novos de Lisboa teve na época um impacto considerável, o que é comprovado pelo grande número de cronistas principalmente da época ou próxima dela que o narra: Salomon Ibn Verga, um exilado judeu espanhol que foi aqui em Portugal apanhado pelas conversões forçadas e embora só tivesse chegado a Lisboa uns dias mais tarde é contemporâneo e testemunha indirecta; um visitante alemão anónimo, testemunha directa e envolvida directamente nos acontecimentos que deixou um testemunho extremamente detalhado; há as crónicas de Damião de Góis, de Jerónimo Osório, referências em Garcia de Resende, Samuel Usque no seu livro “Consolação às Tribos de Israel e mais tarde no séc. XIX Alexandre Herculano.


 2) A maioria dos cronistas concorda nalguns pontos importantes e que eu gostaria de salientar:
 - A extrema violência do massacre e de certa forma o seu carácter algo inédito em Portugal. Tinha havido alguns incidentes graves como em 1499 e outros, mas nada que se comparasse a esta matança generalizada: entre 2 a 4 mil mortos, assassinados em três ou quatro dias com requintes de malvadez tremendos – mulheres grávidas atiradas pelas janelas e aguardadas em baixo pelas lanças empunhadas; bebés estilhaçados contra os muros; violações; desmembramentos; autos de fé ....O Massacre parou por exaustão, mas também porque já havia pouco para matar, os sobreviventes tinham fugido, alguns com a ajuda de cristãos-velhos;
 - O papel decisivo e determinante dos frades dominicanos que instigaram e conduziram até ao final a turba enfurecida, no sentido de exterminar os cristãos-novos, inclusivamente opondo-se ao rei e ao poder temporal que foi claramente desafiado e contestado e que só conseguiu impor a ordem bastantes dias depois.  Quando digo exterminar, estou a medir as palavras, foi claramente uma tentativa de extermínio, embora localizada e centrada em Lisboa e arredores.
 - Embora alguns cronistas citem o Rossio e o cais, os testemunhos mais directos referem não só o Convento de S. Domingos como ponto de partida do massacre, mas também o Largo de S. Domingos como o local para onde convergiam todos os cadáveres, trazidos pelos malfeitores, onde eram empilhados e queimados; é por isso que ainda hoje esse é o lugar mais simbólico do massacre e onde propusemos à Câmara Municipal de Lisboa, a colocação de uma placa que lembre para a posteridade o sofrimento atroz dos judeus nesses dias;
 - a participação de marinheiros alemães, holandeses e franceses no massacre e no saque dos judeus, o que mostra que o ódio aos judeus era um fenómeno generalizado.


 3) Quais os motivos do massacre? Mais uma vez, os judeus foram o bode expiatório de uma determinada situação de seca, fome e peste; alguns historiadores apontam o papel, odiado pelo povo, de colectores de impostos de que os cristãos-novos eram incumbidos pelo rei, tal como o eram quando judeus; o fanatismo religioso, como já vimos é outra causa decisiva.
Para além destes, em minha opinião, há dois factores que foram decisivos: o primeiro é conjuntural, o segundo marcou todas as perseguições judaicas ao longo de dois mil anos.
As conversões forçadas é o primeiro. A conversão, voluntária ou forçada foi a forma encontrada por D. Manuel para manter os judeus em Portugal porque precisava deles. Não os podia manter como judeus, tentou mantê-los como cristãos, acreditando que com uma política de integração os conseguia assimilar e diluir na sociedade portuguesa. Enganou-se duas vezes: em primeiro lugar, porque subestimou a fé religiosa judaica que se manteve acesa e não podendo ser às claras tornou-se secreta; em segundo lugar porque o ódio que o povo tinha aos judeus, em vez de diminuir foi exacerbado: antes os judeus eram um corpo bem identificado, submetido a regras e leis rigorosas, apartado. Agora depois da conversão estava inserido, disseminado na sociedade portuguesa, invisível e por isso muito mais perigoso. Aliás, só o rei acreditou na conversão e na assimilação, o povo nunca.
 O segundo factor que explica o Massacre, embora não sendo específico dele, é a vulnerabilidade judaica ao longo dos dois mil anos de diáspora. Sem reinos, sem exércitos, sem poder, os judeus foram ao longo da história uma presa fácil Aliás, é o próprio Damião de Góis que na Crónica de D. Manuel explica assim que tenham sido os filhos dos judeus a serem retirados aos pais par a conversão forçada e não os filhos dos mouros. Diz ele “A razão pela qual el-Rei ordenou que levassem os filhos dos judeus e não os filhos dos Mouros era que os judeus, pelos seus pecados, não tinham reinos, nem domínios, nem cidades, nem aldeias, mas são – em todas as partes em que vivem – peregrinos e súbditos, desprovidos de poder e de autoridade para executar os seus desejos contra as ofensas e os males exercidos sobre eles ...”
Muito mais tarde, 500 anos depois, os judeus souberam tirar a lição desta realidade ...


 4)  O Massacre é a consequência da falência da política pérfida de D. Manuel: as conversões forçadas foram uma tentativa de manter cá os judeus, mas como cristãos; considerava que bastava umas gotas de água baptismal e uma política de integração para que os judeus se deixassem integrar. Não foi isso o que aconteceu, como vimos e o próprio rei deu-se conta disso em primeiro lugar permitindo por decreto de 1507, a saída de Portugal dos cristãos-novos. Mas a quem ainda tivesse alguma ilusão sobre a estima que o rei D. Manuel tivesse em relação aos judeus nunca é demais lembrar que face ao fracasso da sua política, ele não hesitou em confiar ao seu embaixador em Roma a missão secreta de pedir ao Papa, em 1515, a permissão de estabelecer a Inquisição em Portugal. Ou seja se não ia a bem, talvez fosse a mal...Não foi!

No entanto, a política de D. Manuel teve um impacto considerável que dura até aos nossos dias: o cripto-judaísmo, o marranismo é um fenómeno essencialmente português e até hoje, 500 anos depois, se fazem sentir as consequências da presença do marranismo na sociedade portuguesa.


5) Finalmente, e para terminar, é evidente que temos de analisar o Massacre também com os olhos de ontem, da época, em que a questão da religião era absolutamente dominante, a força da Igreja absoluta, e a diabolização dos judeus um facto. No entanto, o Massacre de Lisboa, não deixa de ser um terrível exemplo de até onde pode levar o fanatismo, a intolerância e o ódio religioso. Afinal, o Massacre de Lisboa, tão distante, é infelizmente ainda tão actual...
                                                                                                 

502 anos: O massacre de Lisboa - http://ruadajudiaria.com


1506-2008


Vai fazer exactamente 500 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. A alma da Capital do Império sofreu um abalo tão grande – senão mesmo maior – quanto aquele que a haveria de destruir em 1755. Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal.


Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos. Contam os testemunhos que tudo terá começado na Baixa, no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, na Igreja de São Domingos, quando alguém gritou ter visto o rosto do Cristo crucificado iluminar-se inexplicavelmente no altar. Em redor, gente que rezava pelo fim da seca prolongada que grassava pelo país clamou que era milagre. Entre eles, um judeu convertido à força terá tentado explicar que a luz que emanava do crucifixo era apenas um reflexo de um raio de sol que entrava por uma fresta. Terão sido as suas últimas palavras. Arrastado para a rua, o marrano e um irmão seu foram espancados até à morte. Os seus corpos mutilados foram arrastados para o Rossio e queimados em frente dos Estaus – onde décadas depois foi instalada a Inquisição. Eles eram apenas os primeiros de entre mais de 4 mil mortos – anussim, judeus portugueses, homens, mulheres e crianças, assassinados em três dias sangrentos.
Incitada por frades dominicanos, a multidão que entretanto se aglomerara decide partir em direcção da Judiaria, gritando “morte aos judeus” e “morram os hereges”. As incompreensíveis cenas de violência que se deram a seguir fazem parte de um pedaço da história de Portugal que a História resolveu esquecer. Conto voltar ao tema e às descrições desta tragédia de há 500 anos. Por agora, queria apenas deixar um apelo. Em Portugal comemoram-se há muito os grandes feitos da História, testemunhos quase sebastianistas de uma grandeza perdida. Que não se esqueça também a desgraça que prova ser mito a velha máxima do tal “povo de brandos costumes”.
Aqui fica o desafio: que no dia 19 de Abril vão à Baixa de Lisboa e no Rossio acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória.

502 anos: O massacre de Lisboa


1506-2008


Vai fazer exactamente 502 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. A alma da Capital do Império sofreu um abalo tão grande – senão mesmo maior – quanto aquele que a haveria de destruir em 1755. Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal.


Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos. Contam os testemunhos que tudo terá começado na Baixa, no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, na Igreja de São Domingos, quando alguém gritou ter visto o rosto do Cristo crucificado iluminar-se inexplicavelmente no altar. Em redor, gente que rezava pelo fim da seca prolongada que grassava pelo país clamou que era milagre. Entre eles, um judeu convertido à força terá tentado explicar que a luz que emanava do crucifixo era apenas um reflexo de um raio de sol que entrava por uma fresta. Terão sido as suas últimas palavras. Arrastado para a rua, o marrano e um irmão seu foram espancados até à morte. Os seus corpos mutilados foram arrastados para o Rossio e queimados em frente dos Estaus – onde décadas depois foi instalada a Inquisição. Eles eram apenas os primeiros de entre mais de 4 mil mortos – anussim, judeus portugueses, homens, mulheres e crianças, assassinados em três dias sangrentos.


Incitada por frades dominicanos, a multidão que entretanto se aglomerara decide partir em direcção da Judiaria, gritando “morte aos judeus” e “morram os hereges”. As incompreensíveis cenas de violência que se deram a seguir fazem parte de um pedaço da história de Portugal que a História resolveu esquecer. Conto voltar ao tema e às descrições desta tragédia de há 500 anos. Por agora, queria apenas deixar um apelo. Em Portugal comemoram-se há muito os grandes feitos da História,
testemunhos quase sebastianistas de uma grandeza perdida. Que não se esqueça também a desgraça que prova ser mito a velha máxima do tal “povo de brandos costumes”.


Aqui fica o desafio: que no dia 19 de Abril vão à Baixa de Lisboa e no Rossio acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória.

 

Inquisição e Cristãos-Novos - Carlos Câmara, António José Saraiva "Eu sou Isrealita", Lisboa, Jornal Público/Fim de Semana, 1 de Fevereiro de 1991.


António José Saraiva faz um distinção rácica entre árabes, judeus, que considera povos semitas e os povos europeus ou arianos dos quais os últimos representantes, nas palavras do autor, são o povo dos Estados Unidos da América.


A influência semita foi grandemente assimilada pelo povo português, a forte permanência árabe, antes da Reconquista, deixou profundas marcas na personalidade histórica e actual do indivíduo português. Por outro lado, a assimilação dos judeus em Portugal contribuiu também para a formação da mentalidade portuguesa através dos tempos. "A indolência árabe, por oposição aos judeus, que são um povo activo". António José Saraiva vê, portanto, o desmazelo do português como uma herança que o povo português adoptou do povo árabe, ao contrário da actividade empreendedora característica do povo judeu, que segundo o autor foi determinante para o início dos Descobrimentos portugueses " (...) O desmazelo, que é uma característica essencial do português, vêm-lhe do lado árabe (...) Repare, os judeus foram expulsos no fim do séc. XV - corresponde exactamente ao fim dos Descobrimentos". Esta antítese encontra-se ainda dividida a nível geográfico, a diferença entre o Norte e o Sul, "Portugal (...) tem duas partes muitos definidas. Uma é o norte, de influência judaica, em que existe uma grande capacidade de trabalho e até uma certa capacidade de juntar riqueza; no sul, o Alentejo, entre os homens ainda hoje se sentam no chão para conversar, e o Algarve (...) - Há portanto, um Portugal árabe e um Portugal que não sabemos se é judeu ou ariano."
Considerado por si próprio como sendo israelita, um pouco sem saber porquê acha-se "activo à (sua) maneira". A obra defende ainda a tese de que os judeus que permaneceram em Portugal, assimilaram-se na população, o que levantou algumas críticas à capacidade de assimilação do povo judaico. Segundo certos autores essa assimilação seria impossível. António José Saraiva considera a sua conclusão como sendo "hoje em dia (...) indiscutível", visto que " a integração dos judeus não era uma coisa difícil , porque já cá estava um povo semita. O que acontece é que o povo judaico tem uma grande capacidade de assimilação.


Viu o conflito no Golfo Pérsico como, um dos últimos confrontos entre a raça ariana e os povos semitas, mas neste caso considera que a guerra não se restringiu apenas à raça, mas também ao choque de civilizações antagónicas, ocidental e oriental.

 

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal

 
 
 
 
 
 
 
 

Livro de Visitas

Recomende

Índice

 

 

 

 

Arte topo da página criada

especialmente para o Portal CEN, por Iara Melo

Fundo Musical: "Trad Mezuzah Yerushalaim"

Infelizmente, desconheço a autoria

Copiado do site da amiga Rivkah Cohen

Webdesigner: Iara Melo

 

 

 

 

*** Portal CEN - Cá Estamos Nós Web Page ***

Todos os Direitos Reservados