Portugal - País de
Navegadores, Marinheiros e Descobridores
Pesquisa de Carlos Leite Ribeiro

Portugal - País de
Navegadores, Marinheiros e Descobridores
Os Descobrimentos marítimos portugueses, devem ter tido origem na
Guerra dos Cem Anos (01), que acabou com o comércio entre o Oriente
e a Europa e, também, com a Crise de 1383/1385 (02), em Portugal. D.
João Iº foi muito ajudado por mercadores, que na altura sentiam a
falta de produtos para negociar. O monarca português sentiu
necessidade de conseguir novos produtos para negociar e equilibrar
as finanças do Reino. Para tal, Portugal sentia necessidade de
expandir-se. Assim, no dia 25 de Julho de 1415, largou do Tejo uma
esquadra de cerca de 200 navios, em que seguiam o próprio D. João Iº,
seus filhos D. Duarte (futuro rei), D. Pedro e D. Henrique, além do
Condestável D. Nuno Álvares Pereira. A esquadra, a 21 de Agosto
desse ano, chegou às portas de Ceuta. Depois do desembarque, a praça
foi conquistada.
(01) A Guerra dos Cem Anos: Desenrolou-se por quatro períodos: o
primeiro entre 1337 e 1364, o segundo entre 1364 e 1380, o terceiro
entre 1380 e 1422, e o quarto entre 1422 e 1453.
(02) A Crise de 1383/1385: Em Portugal vivia-se uma grande crise
económica e social, agravada com a crise política que se seguiu à
morte de D. Fernando, em Outubro de 1383.
A herdeira legítima do trono português era a filha de D. Fernando e
de D. Leonor Teles, casada uns meses antes com o rei de Castela.
Segundo o estabelecido no contrato de casamento, enquanto D. Beatriz
não tivesse um filho maior, Portugal seria governado por D. Leonor,
a rainha viúva. Mas o povo não gostava de D. Leonor! Já em 1372, os
mesteirais de Lisboa, seguidos depois pelos de Santarém, Alenquer,
Tomar e Abrantes, se tinham manifestado violentamente contra o
casamento de D. Fernando com D. Leonor, ousadia que foi duramente
castigada. Em 1383, o povo, a burguesia e alguns membros da baixa
nobreza não se conformavam com o governo de D. Leonor, favorável aos
interesses de Castela e da grande nobreza senhorial, tecendo então
uma conspiração para matar o Conde João Fernandes Andeiro, amante e
principal conselheiro político da rainha viúva. Esta conspiração foi
chefiada por Álvaro Pais, rico burguês de Lisboa e Chanceler de D.
Pedro e D. Fernando. Para executar o plano da morte do Conde Andeiro
foi escolhido D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis, filho
ilegítimo de D. Pedro e meio-irmão de D. Fernando. O povo de Lisboa
apoiou a morte do Conde Andeiro e passou a ter o papel mais
importante na condução dos acontecimentos que se seguiram. Perante o
alarme para acudirem ao Paço a fim de evitar a morte do Mestre por
traição do Conde e da Rainha, os populares de Lisboa aclamam-no e
proclamam-no "Regedor e Defensor do Reino" , obrigando alguns
burgueses receosos a aceitar esta decisão. Seguiram-se revoltas
populares que alastraram por todo o país, dirigidas sobre - tudo
contra os poderosos nobres e clérigos que recusavam aderir à causa
do Mestre. O Bispo de Lisboa foi uma das muitas vítimas que morreu
às mãos da vingança popular. O País ficou dividido quanto à sucessão
ao trono. A maior parte da nobreza apoiava D. Beatriz e o povo, a
burguesia e a baixa nobreza apoiavam o Mestre de Avis. O
descontentamento popular e os impulsos revolucionários são depois
canalizados para a defesa da independência de Portugal, quando o rei
de Castela invade o país e cerca Lisboa, em 1384, para defender o
direito ao trono da sua mulher, D. Beatriz. Após longos meses de
cerco a Lisboa, os exércitos castelhanos retiram-se com medo da
peste que entretanto se tinha declarado e em Março de 1385 as Cortes
reuniram em Coimbra a fim de escolher um rei entre os vários
candidatos ao trono. Graças aos argumentos do Doutor João das
Regras, foi aclamado rei o Mestre de Avis, com o nome de D. João I.
Mas o rei de Castela não se conformou com a decisão das Cortes
portuguesas e voltou a invadir Portugal com um exército poderoso, no
qual se incluíam alguns nobres portugueses que apoiavam D. Beatriz.
Em 14 de Agosto de 1385, os exércitos castelhano e português
defrontaram-se em Aljubarrota, acabando a batalha com a vitória dos
portugueses e a confirmação da independência de Portugal. Na
preparação desta batalha destacou-se a estratégia e técnica militar
do quadrado, levada a cabo por D. Nuno Álvares Pereira.
Assim, o início do empreendimento português na África esteve
associado à continuidade das Cruzadas contra os mouros e ao
interesse em encontrar novas rotas de comércio com o Oriente. Se
entre as causas atribuídas à expansão ultramarina portuguesa
encontrava-se a busca de novos produtos a serem comercializados,
como a pimenta, o cravo e a canela, provenientes da Índia, o gradual
conhecimento e exploração da costa africana iria cumprir, ao longo
de sua colonização, um outro objectivo: o provimento da mão-de-obra
necessária para suprir a escassez de trabalhadores no Reino e nas
conquistas.
O corso português tornou-se comum no século XIV, altura em que D.
Dinis contratou Manuel Pessanha, ficava com um quinto da riqueza dos
barcos e com os navios e as armas destes. A partir de 1443 os corsos
portugueses passaram o tributo, tal como pagavam a D. Dinis, de um
quinto das pilhagens efectuadas ao Conde D. Henrique. Um dos
principais objectivos dos portugueses era dominar o estreito de
Gibraltar de modo a combater parte da pirataria e do corso mouro,
assim como com o domínio deste espaço este se tornaria num
importante entreposto comercial. O corso português destacou-se
principalmente contra o reino de Granada, no sul de Espanha,
enfraquecendo assim o domínio deste reino muçulmano na Europa. Em
1446 reuniram-se as cortes em Lisboa, onde os mercadores algarvios,
representados pelos armadores de Tavira queixaram-se das
perseguições e pilhagens dos compatriotas armados lhes faziam a eles
e aos aliados cristãos (castelhanos, galícios, aragoneses, entre
outros), fazendo assim com que o Algarve perdesse a sua importância
como ponto de cabotagem. Entre os corsos portugueses desta época
destacaram-se Gonçalo Pacheco, Mafaldo, Lançarote, etc.
Piratas e Corsários Portugueses - Carlos Fontes
Desfrutando de uma extensa costa debruçada sobre o Atlântico,
pontuado por muitos portos estratégicos para o comércio marítimo,
era natural que Portugal fosse ao longo dos séculos uma das
principais vítimas dos piratas e dos corsários. A história que está
feita incide sobretudo na descrição de ataques de piratas,
escravatura e resgates de portugueses. Conhece-se relativamente bem
as inúmeras acções punitivas contra os mesmos, nomeadamente no
Oriente, mas muito pouco se sabe sobre a longa e surpreendente
história dos piratas e corsários portugueses. Ao contrário dos
ingleses e franceses os mesmos nunca foram assumidos como heróis,
sendo sempre encarados como personagens incómodas na suposta Missão
de Portugal no Mundo. Século XIV. No início do século organiza-se em
Portugal as actividades de corso. Em 1317, o rei D. Dinis, contrata
o genovês Manuel Pessanha para actuar nas costas de Portugal, em
particular no Alentejo e Algarve. Pessanha ensina os portugueses a
atacarem navios inimigos utilizando galés, os navios a remos que
eram utilizados no Mediterrâneo. No século seguinte, os portugueses
passam a usar barcos à vela com canhões, uma enorme inovação
tecnológica. Século XV. Os portugueses eram já considerados os
maiores piratas e corsários da cristandade. A actividade era
extremamente lucrativa, à qual se dedicava a nobreza e a família
real. Era uma actividade considerada nobre e honrada, sobretudo
quando dirigida contra infiéis. O Infante D. Henrique, por exemplo,
tinha navios no saque. A conquista de Ceuta, em 1415, a que se
seguiu outras cidades como Alcácer Seguer (1458), Arzila ou Safim,
permitiu aos portugueses não apenas controlar o Estreito de
Gibraltar, mas também criar no Norte de África um poderoso centro
para a pirataria e o corso. Ceuta só foi abandonada em 1640 pelos
portugueses, quando perante a guerra com a Espanha se tornou
inviável manter esta praça armada. Entre os muitos corsários do
século XV, destaca-se Pedro de Ataíde, fidalgo da Casa Real. O mais
célebre corsário português, um verdadeiro terror dos mares. Era
conhecido por "O Corsário" ou "O Inferno". Está por fazer a
história deste corsário. Sabe-se que por volta de 1470, andava a
atacar navios bretões e de S. Malô, mas também as costas da
Andaluzia. Em 1471/72 comandou uma armada à Guiné. Em Julho de 1476
era capitão de armada ao serviço do rei. Morreu um mês depois quando
estava envolvido numa batalha contra navios genoveses e flamengos ao
largo da Costa de S. Vicente. Século XVI. Os portugueses praticam em
larga escala a pirataria no Oriente, numa guerra sem quartel,
nomeadamente contra os muçulmanos. Entre os mais conhecidos piratas
portugueses do Oriente, conta-se o fidalgo Simão de Andrade que
entre muitas outras façanhas contam-se os saques que praticou na
China (1519). A literatura portuguesa da época, como a Peregrinação
(1583) de Fernão Mendes Pinto, contém inúmeros relatos destas acções
de pirataria.
O aumento do comércio marítimo através do Atlântico fez disparar o
número de barcos corsários, sobretudo os franceses e os muçulmanos
(Norte de África). Para se ter uma ideia basta dizer que entre 1508
e 1538 registam-se 423 aprisionamentos de navios portugueses por
parte do corso francês (cf.O Grande Livro da Pirataria e do Corso,
de Ramalhosa Guerreiro).
No final do reinado de D. Manuel, foi criada uma Esquadra do
Estreito cuja função era a de proteger a navegação que cruzava a
entrada do Mediterrâneo, os portos do Algarve e as praças africanas,
dos diversos tipos de corso que assolavam esta zona. D. João III
endurecem também a repressão, provocando sobretudo da parte dos
franceses constantes protestos. Foram diversas medidas de rotecção,
nomeadamente obrigando os navios comerciais andarem em comboios,
protegidos por navios de guerra.
Na segunda metade do século XVI tornam-se cada vez mais frequentes
os relatos de portugueses que estão ao serviço de outros piratas e
corsários. A sua longa experiência dos mares permite-lhes levá-los
ao coração do Império Espanhol. Um dos casos mais célebres, mas não
único, foi o caso do piloto Nuno da Silva, capturado em Cabo Verde
por Francis Drake. Foi um dos dois pilotos portugueses que o
conduziu na travessia do Estreito de Magalhães e depois às costas do
Peru para saquear os espanhóis, permitindo-lhe depois circundar o
mundo (1578). No regresso terá parado em Lisboa, onde aliás voltaria
anos depois ao serviço do Prior do Crato. O embaixador espanhol em
Londres escreveu a Filipe II: "el Draques afirma que si no fuera por
dos pilotos portugueses que tomó en un navío que robó y hechó a
fondo en la costa del Brasil a la yda no pudiera haver echo el viage.
Ha dado a la Reyna un diario de todo lo que le ha sucedido en los
tres años y una gran carta" (Carta de Bernardino de Mendoza a Filipe
II, 16/10/1580).
Ocupação Espanhola (1580-1640). No final do século quando Portugal é
ocupado pela Espanha muitos portugueses aliaram-se a corsários e
piratas de outras nações para combaterem os espanhóis. Os relatos
são impressionantes da sua acção, nomeadamente da forma como os
conduziram os piratas e corsários ao centro do Império Espanhol. A
sua experiência e conhecimento dos mares foi decisiva para o êxito
das expedições inglesas, holandesas e francesas.
Em 1591 um português integrava uma pequena frota de corsários
ingleses nas Caraíbas, tendo procurado depois iludir uma galé
espanhola ao largo de Cuba sobre a a nacionalidade do navio em que
seguia. No final do ano, outro piloto português embarcado no porto
de Santos conduziu a expedição de Thomas Cavendish, na tentativa de
atravessar o Estreito de Magalhães.
Em 1593, os espanhóis afirmam um portugueses serviu de guia ao
corsário John Burgh nas Caraíbas que terminou no saque da ilha
Margarita. Neste ano, o piloto português Diogo Peres conduz o James
Langton em mais um saque aos espanhóis nas Caraíbas. No ano anterior
deu falsas informações ao Governador espanhol de Santo Domingo sobre
as movimentações de Francis Drake e do conde de Cumberland de modo a
facilitar-lhes a pilhagem.
Na Holanda onde existia uma enorme colónia de portugueses, muitos
deles dedicaram-se à pirataria e corso contra os espanhóis. Entre
eles, destacam-se Simão de Cordes e o seu irmão Baltazar de Cordes,
dois portugueses ou seus descendentes que foram os primeiros
corsários holandeses (1598-1600). Ficaram célebres pelas pilhagens e
massacres que fizeram numa colónia espanhola (Chile).
Durante a ocupação de Portugal estes piratas e corsários atacam
indistintamente possessões espanholas e portuguesas, de forma a
enfraquecerem a Espanha. Entre as terras ou possessões portuguesas,
algumas foram completamente pilhadas: Bahia (Brasil)-1587;
Santos(Brasil) -1591; Recife (Brasil)-1595; Açores-1589; Faro-1596;
Sagres-1597; Ormuz-1622; etc.
Século XVII (Depois de 1640). Depois da restauração da
Independência, em 1640, Portugal envolve-se numa longa guerra com a
Espanha que só termina em 1668. Durante este período, aumenta o
número dos portugueses piratas e corsários, mas são apoios os de
outras nações que andam no saque às colónias espanholas. Era uma
forma barata de fazer a guerra no mar. Em 1645, o embaixador
espanhol em Londres informou Filipe IV, que uma expedição pirata
fora muito bem sucedida nas Caraíbas devido à participação de
marinheiros portugueses. Nos mares da Jamaica, Cuba e no golfo do
México, dois piratas portugueses ficaram tristemente célebres:
- Bartolomeu, o português. Era profundamente católico, andava sempre
de crucifico ao peito. Em 1662 apoderou-se na costa cubana de
Manzanillo de uma pequena embarcação que armou com quatro canhões.
Com a patente de corso do governador de Jamaica, em 1663, tomou
navio mercante espanhol em Cabo Corrientes (Cuba) que levava 75.000
escudos e 100.000 libras de cacau. Foi capturado em Campeche (golfo
do México), julgado e sentenciado à morte, mas conseguiu fugir,
unindo-se depois a outros piratas e corsários. Voltou a Campeche,
apoderando-se de outra embarcação. Sabemos que naufragou nos Jardins
da Reina (Cuba), mas conseguiu chegar à Jamaica muito ferido.
Meteu-se depois em outras expedições cujos resultados ignoramos.
Parte das suas façanhas foram publicadas na Holanda, em 1678, na
obra "Os Bucaneiros da América"de John Esquemeling.
- Rocha, o brasileiro (Roche ou Rock Brasiliano). (c.1630-c.1675).
Alguns historiadores afirmam tratar-se de um holandês ligado por
razões desconhecidas ao Brasil. Em 1670 atacou Campeche. Era um
verdadeiro psicopata, tinha um ódio de morte aos espanhóis,
submetendo-os às piores barbaridades.
Os ataques de piratas e corsários às costas de Portugal e das suas
colónias só diminuíram quando foi reconstruída a marinha portuguesa
e levantado um eficiente sistema de fortificações. A paz com a
Holanda (Tratado de Haia, 1661) e o relançamento da Aliança com a
Inglaterra levaram à diminuição dos piratas destes países. A
principal ameaça continuou a ser a dos piratas muçulmanos, mas
também a dos franceses que se haviam especializado nas pilhagens.
Século XVIII / XIX. No século XVIII o corso continua solidamente
implantado em Portugal, devido aos constantes conflitos com a
Espanha e a França. O corso continuava a ser uma forma barata de
manter uma guerra. Os ataques dos piratas muçulmanos do Norte de
África eram outras das preocupações, cujas pilhagens se prolongaram
até meados do século XIX. Em meados do século foi de novo
organizada uma esquadra portuguesa para proteger o Estreito de
Gibraltar, cuja actividade se prolongou até 1807. Ao longo do século
foram muitas as acções punitivas contra os piratas no Mediterrâneo
realizadas por iniciativa própria ou a pedido de outras nações.
Nesta altura dois dos grão-mestres da Ordem de Malta, sediada na
Ilha de Malta no Mediterrâneo, eram portugueses: António Manoel de
Vilhena (1722 - 1736) e Manoel Pinto da Fonseca (1741 -1773). Esta
Ordem tinha um papel destacado no combate contra a pirataria e o
avanço dos muçulmanos na frente sul da Europa.
Os corsários ingleses tinham em Portugal uma base de apoio
estratégica para assaltarem os navios espanhóis e franceses. Em
Lisboa reabasteciam-se e vendiam o produto dos saques. Ainda em
1780, entrou pelo Tejo dois navios mercantes franceses tomados por
corsários ingleses, os quais foram depois transformados em barcos de
guerra destinados ao corso nas costas de Espanha, só não seguiram
para o seu destino devido aos protestos do embaixador deste país.
Há abundantes registos de portugueses ao serviço de corsários de
outros países europeus em finais do século XVIII.
Uma das últimas grandes acções de pirataria de portugueses ocorreu
em 1823, quando prosseguiam as negociações para a separação do
Brasil de Portugal. Os que haviam aderido à causa da separação
iniciam uma guerra de corso contra Portugal. Alguns atacam os seus
navios nas águas dos Açores e muito perto das costas do Continente.
Ciência Náutica Portuguesa
No século XIII eram já conhecidas as regras de navegação através da
posição solar, como transparece nos Libros del Saber de Astronomia
compilados pelo rei Afonso X de Castela e em outras obras de cariz
similar, assim como no Tratado de Tordesilhas se menciona o
Regimento do Sol. Derivando e aproveitando este saber, a ciência
náutica portuguesa consistiu num somatório progressivo de preceitos
relativos à navegação astronómica no Oceano Atlântico durante o
século XV, tendo contribuído para esta compilação a experiência dos
pilotos. A navegação era feita num período inicial por estimativa do
piloto, e posteriormente através da comparação das alturas da
Estrela Polar, apesar de poder ser tomada uma outra estrela bem
visível como referência. Evoluindo, foram sendo adicionadas sete
posições diurnas da mesma Estrela e elaborado o inovador Regimento
da Estrela do Norte ou da Polar que no século XV compilou todas as
normas de navegação segundo este sistema. Após a edição deste manual
iniciou-se uma navegação que tinha em consideração as latitudes, que
foram também calculadas através da altura meridiana e das tabelas de
declinação do Sol. A toleta de marteloio deu origem a uma obra mais
perfeita, o "Regimento das Léguas", que permitia calcular a
quantidade de léguas navegadas entre dois paralelos, tendo também
contribuído para a ciência náutica portuguesa os catálogos das
declinações de estrelas e outras normas práticas. A expansão
portuguesa obrigou igualmente a uma evolução bastante rápida da
ciência náutica, uma vez que se tornou necessário superar novos
obstáculos, tendo a investigação e evolução estado a cargo de uma
elite de astrónomos, pilotos, matemáticos e cartógrafos, entre os
quais se destacaram Pedro Nunes (com os estudos sobre a forma de
determinar as latitudes por meio dos astros, entre outros) e D. João
de Castro (que investigou o magnetismo da Terra).
Coordenadas geográficas:
O sistema de mapeamento da Terra através de coordenadas geográficas
expressa qualquer posição horizontal no planeta através de duas das
três coordenadas existentes num sistema esférico de coordenadas,
alinhadas com o eixo de rotação da Terra. Herdeiro das teorias dos
antigos babilónios, expandido pelo famoso pensador e geógrafo grego
Ptolomeu, um círculo completo é dividido em 360 graus (360°).
Localização absoluta: Para localizar qualquer lugar na superfície
terrestre de forma exacta é necessário usar duas indicações, uma
letra e um número. Temos que utilizar elementos de referência que
nos permitam localizar com exactidão qualquer lugar da Terra. A rede
cartográfica ou geográfica dá-nos a indicação das coordenadas
geográficas. Os pontos de orientação que acabamos de estudar dão um
rumo, isto é, uma direcção, mas não permitem localizar com exactidão
um ponto na superfície terrestre. Assim, quando dizemos que a área X
está a leste de Y, não estamos dando a localização precisa dessa
área, mas apenas indicando uma direcção. Para saber com exactidão
onde se localiza qualquer ponto da superfície terrestre — uma
cidade, um porto, uma ilha, etc. — usamos as coordenadas
geográficas. As coordenadas geográficas baseiam-se em linhas
imaginárias traçadas sobre o globo terrestre: os paralelos são
linhas paralelas ao equador — a própria linha imaginária do equador
é um paralelo; os meridianos são linhas semicirculares, isto é,
linhas de 180° — eles vão do Pólo Norte ao Pólo Sul e cruzam com os
paralelos. Cada meridiano possui o seu anti-meridiano, isto é, um
meridiano oposto que, junto com ele, forma uma circunferência. Todos
os meridianos têm o mesmo tamanho. Convencionou-se que o meridiano
de Greenwich, que passa pelos arredores da cidade de Londres, na
Inglaterra, é o meridiano principal. A partir dos paralelos e
meridianos, estabeleceram-se as coordenadas geográficas, que são
medidas em graus, para localizar qualquer ponto da superfície
terrestre.
O astrolábio é um instrumento naval antigo, usado para medir a
altura dos astros acima do horizonte. Inventado por Hiparco de
Nicéia, era usado para determinar a posição dos astros no céu e foi
por muito tempo utilizado como instrumento para a navegação marítima
com base na determinação da posição das estrelas no céu. Mais tarde
foi simplificado e substituído pelo sextante. Também era utilizado
para resolver problemas geométricos, como calcular a altura de um
edifício ou a profundidade de um poço. Era formado por um disco de
latão graduado na sua borda, num anel de suspensão e numa mediclina
(espécie de ponteiro). O astrolábio náutico era uma versão
simplificada do tradicional e tinha a possibilidade apenas de medir
a altura dos astros para ajudar na localização em alto mar. Não
existem vantagens nem desvantagens entre os instrumentos antigos de
navegação; de certa forma são instrumentos perfeitos que atendem
suas funções para onde foram projectados, nesse sentido a função do
astrolábio é uma e o quadrante é outra. A única diferença
(interpretada como vantagem) é o facto de um ser um instrumento
terrestre, portanto fixo ao solo, para se usar numa ilha ou num
continente e mirar uma determinada estrela próxima ao pólo Estrela
Polar e o outro um instrumento de bordo, portátil, mais pesado e
próprio para medir a passagem meridiana com a sombra do sol. Sob a
precisão, ambos funcionavam bem tanto no hemisfério sul como no
hemisfério norte mas principalmente o astrolábio pelo seu peso era
capaz de permanecer na vertical apesar do balanço do navio portanto,
indicado para funcionar embarcado. O astrolábio moderno de metal foi
inventado por Abraão Zacuto em Lisboa, a partir de versões árabes
pouco precisas. O disco inicial foi parcialmente aberto para
diminuir a resistência ao vento. O manejo do astrolábio exigia a
participação de duas pessoas; consistia em grande círculo, por cujo
interior corria uma régua; um homem suspendia o astrolábio na altura
dos olhos, alinhando a régua com o sol enquanto outro lia os graus
marcados no círculo.
Rosa-dos-ventos: A rosa-dos-ventos é uma figura que mostra a
orientação das direcções cardeais num mapa ou carta náutica. A
utilização de rosas-dos-ventos é extremamente comum em todos os
sistemas de navegação antigos e actuais. Os quatro pontos cardeais
principais são: Norte (0º de azimute cartográfico), Sul (180º), Este
ou Leste (90º) e Oeste (270º). Há também quatro pontos colaterais;
Nordeste (45º), Sudeste (135º), Noroeste (315º) e Sudoeste (225º).
Finalmente, oito pontos subcolaterais; Norte-nordeste (22,5º),
Leste-nordeste (67,5º), Leste-sudeste (112,5º), Sul-sudeste
(157,5º), Sul-sudoeste (202,5º), Oeste-sudoeste (247,5º),
Oeste-noroeste (292,5º) e Norte-noroeste (337,5º).
Pontos cardeais
E: este ou leste
N: norte
O ou W: oeste
S: sul
Pontos colaterais
NE: nordeste
NO ou NW: noroeste
SE: sudeste
SO: sudoeste
Pontos subcolaterais
NNE: nor-nordeste
ENE: lés-nordeste
ESE: lés-sudeste
SSE: sul-sudeste
SSO ou SSW: sul-sudoeste
OSO ou WSW: oés-sudoeste
ONO ou WNW: oés-noroeste
NNO ou NNW: nor-noroeste
Cronologia dos Descobrimentos Portugueses
Reinado de D. João I - 1383-1433
1394 - Nasce no Porto o Infante D. Henrique, o Navegador, filho de
D. João I.
1385 - Aclamação de D. João I que é proclamado rei pelas Cortes de
Coimbra.
Começo da Expansão Marítima, com início em 1415
1415 - Conquista de Ceuta.
1419 - Os Portugueses descobrem o arquipélago da Madeira.
1424 - Expedição às ilhas Canárias.
1427 - Os Açores são propostos à colonização.
Reinado de D. Duarte - 1434-1437
1434 - Gil Eanes atinge o Cabo Bojador, limite sul das terras
conhecidas.
Regência do Infante D. Pedro e rei D. Afonso V, o Africano,
1441-1481
1438 - Regência de D. Pedro, tio do jovem rei D. Afonso V "o
Africano".
1445 - Dinis Dias descobre o Cabo Verde.
1453 - Gomes Eanes de Zurara: a Crónica e Descoberta da Conquista da
Guiné.
1456 - Descoberta do arquipélago do Cabo Verde.
1460 - Morre D. Henrique, o Navegador e Pêro de Sintra atinge a
Serra Leoa.
1471 - Descoberta das ilhas do Príncipe e de São Tomé e Conquista de
Tânger por D. Afonso V.
1472 - Gaspar Corte Real descobre Terra Nova.
1473 - Lopes Gonçalves ultrapassa o Equador.
Reinado de D. João II - 1482-1495
1487 - Bartolomeu Dias atinge o Cabo da Boa Esperança.
1493 - Bula pontifical dividindo o mundo em dois hemisférios
(Tratado de Tordesilhas)
1494 - Tratado de Tordesilhas entre Portugal e a Espanha para a
repartição dos territórios coloniais.
D. Manuel I - 1495-1521
1498 - Vasco da Gama chega a Calecut, na Índia.
1500 - Descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral e Dias chega
a Madagáscar.
1501 - Envio da segunda Armada ao Brasil.
1506 - Lourenço de Almeida chega a Ceilão.
1509 - Os Portugueses entram Sumatra.
1511 - Diogo Álvares, o Caramuru, na Bahia.
1514 - Jorge Álvares atinge a China, por Cantão.
1519 - Fernão de Magalhães toca no Rio de Janeiro.
Reinado de D. João III - 1521-1557
1524 - Nasce Luís de Camões.
1526 - Os Portugueses estabelecem-se em Bornéu.
1534 - Inicia-se a colonização do Brasil com a criação das primeiras
capitanias.
1542 - Rodrigues Cabrilho na Califórnia.
1543 - Os Portugueses no Japão.
1554 - Fundação de São Paulo, pelos Jesuítas.
1557 - Os Portugueses estabelecem-se em Macau
Bibliografia consultada:
Albuquerque, Luís (1985). Os Descobrimentos Portugueses. Lisboa:
Publicações Alfa.
Carvalho, A. A. A.(2000). Multimédia, Hipermédia e World Wide Web.
Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho (texto
poli copiado).
Carvalho, A. A. A. (2001). Princípios para Elaborar Documentos
Hipermédia. Texto submetido à II Conferência Internacional de
Tecnologia de Informação e Comunicação na Educação, Universidade do
Minho.
Carvalho, A. A. A. (1999). Os Hipermédia em Contexto Educativo.
Aplicação e validação da Teoria da Flexibilidade Cognitiva. Braga:
Centro de Estudos de Educação e Psicologia, Universidade do Minho.
Carvalho, A. A. A. (1999). Do HiperCard à World Wide Web: "O Primo
Basílio: múltiplas travessias temáticas". In Paulo Dias e Cândido
Varela de Freitas (eds), Actas da I Conferência Internacional
Desafios'99/Chanllenges'99, 127-142.
Carvalho, A. A. A. e Dias, Paulo (2000). A Teoria da Flexibilidade
Cognitiva na Formação à Distância: um estudo na World Wide Web.
Actas do 1º Simpósio Ibérico de Informática Educativa.
Cortesão, Jaime (1962). Os Descobrimentos Portugueses. Lisboa:
Edições Arcádia.
Serrão, Joel, direcção de (1963). Dicionário de História de
Portugal. Lisboa: Iniciativas Editoriais.
Navios dos Descobrimentos http://www.ancruzeiros.pt
Os Descobrimentos são considerados como uma das maiores aventuras e
façanhas do Homem. Foram os responsáveis pela evolução da ciência
náutica, dos barcos e da navegação após séculos de estagnação.
Anteriormente os barcos usavam os remos como força propulsora
principal e o uso da vela era esporadicamente aproveitado com ventos
de popa. É apenas a partir do séc.XV, com o estudo e compreensão da
acção do vento, que se começa dar um uso adequado à vela latina de
modo a um barco poder navegar mais eficazmente contra a direcção do
vento. É a altura da verdadeira inovação nos tipos de barcos e
aparelho.
Estes barcos, que uniram o mundo conhecido ao desconhecido e mudaram
a forma de pensar desde então iniciando a transformação do mundo
numa aldeia.
A Ordem de Cristo, pela mão do Infante D. Henrique que era desde
1420 governador da Ordem, foi responsável pela realização desta
epopeia, razão pela qual os barcos portugueses dos Descobrimentos
ostentavam nas suas velas a Cruz de Cristo. Hoje essa tradição é
evocada nas velas redondas do N.E. SAGRES II.
BARCA, BARCHA, BARCA PESCAREZA
Este barco de boca aberta era usado em navegação costeira ou
fluvial. A barcha deverá corresponder a uma barca, mas de maior
porte. Consoante o tipo teria entre 10 a 20 metros de comprimento e
2,5 a 3,5 metros de boca. Usada em viagens mais distantes tinha uma
coberta. Não tinha painel de popa e esta era redonda. De um só
mastro com cesto da gávea envergava uma vela quadrangular.
Rapidamente se viu a conveniência em usar velas latinas que eram
alternadas com o pano redondo conforme os ventos. A tripulação era
composta de 8 a 20 homens. Gil Eanes dobrou em 1434 o Cabo Bojador
numa barcha. Pensa-se que a barca pescareza, destinada à faina de
pesca e originária da região de Lagos, foi empregue nos primeiros
tempos da exploração marítima pelo Infante D. Henrique. Tinha 13,5
metros de comprimento, 4,2 metros de boca e também era de boca
aberta e popa redonda. Tinha um só mastro onde envergava uma vela
triangular latina e a sua parecença, ainda que em tamanho fosse bem
mais pequena, levou a que fosse também denominada de caravela da
pesca. Dependendo da missão podia levar de 10 a 22 tripulantes. Com
o desenrolar dos descobrimentos passou a ser usada como navio de
apoio e graças à sua ligeireza desempenhou ainda o papel de aviso
nas armadas daquela época, razão pela qual lhe deram o nome de
mexeriqueira. Todos estes barcos usavam remos como meio de propulsão
auxiliar.
BARINEL
O Barinel parece ter origem no Mediterrâneo. Tinha maior porte que
as barchas, com a proa alterosa a atirar para nau, toda recurvada e,
como a caravela, de popa redonda. Calava mais que as barchas. Com um
ou dois mastros tinha no maior mastro um cesto da gávea. Parece que
além do habitual pano redondo podia mudar para latino. Armava ainda
remos para tempo sem vento ou aproximação a terra. Foi usado em
viagens de exploração ao longo da costa africana, além do Bojador,
mas a sua dificuldade na torna-viagem, devido ao seu pano redondo,
fez com que fosse substituído pela caravela de pano latino.
CARAVELA
É opinião corrente que o termo «caravela» proveio de «cáravo»
(aportuguesamento do grego karabos ou do árabe qârib). Durante o
séc. XV foi o barco ideal para as explorações do Atlântico e costa
africana. O regime de correntes e ventos contrários obrigou ao
desenvolvimento de um barco que bolinasse com mais eficácia e que
calasse pouco para se aventurar nas explorações costeiras. Assim
nasce a caravela que desde 1441 até à data da passagem do Cabo das
Tormentas ou Boa Esperança tem o seu apogeu. Não chegou até nós
qualquer desenho ou informação detalhada deste tipo de barcos e
apenas a partir de pinturas e algumas descrições podemos hoje em dia
calcular como eram na época. Durante esse período houve vários tipos
de caravelas. O caravelão - aqui o ão funciona como diminutivo - de
dois mastros até à caravela redonda de quatro mastros. Tinham uma
coberta e um castelo de popa. Envergava nos mastros pano latino
decrescendo de tamanho da proa para a popa. Não tinham cesto da
gávea já que a manobra de mudar as vergas com este tipo de pano não
o permitia. A tripulação variava entre os 6 e 100 homens consoante o
tipo de barco e a duração da viagem.
O caravelão (as réplicas "Bartolomeu Dias" e "Boa Esperança" são
caravelões), de 2 mastros, teria uns 20 metros de comprimento, 6 de
boca e 40/50 tonéis. A caravela, de 3 mastros, variava dos 20 aos 30
metros de comprimento e dos 6 aos 8 metros de boca podendo chegar
até 80 tonéis. A partir do final do séc. XV e princípios do séc. XVI
nasce a caravela redonda com 4 mastros e mas com pano redondo no
traquete - mastro de vante. Teriam chegado até aos 150 tonéis. É
este tipo de barco que vai dar origem aos famosos galeões
portugueses. A partir do reinado de D. João II passaram a ser
artilhadas com canhões no convés em vez das armas de pouco calibre (falconetas,
bombardas) que até então levavam. Também era tradicional trazerem
dois olhos pintados à proa pois existia na época a crença de que
assim vêem o caminho, tradição que perdurou até aos nossos dias como
se comprova nos actuais barcos de pesca. Para evitar que outros
países tivessem acesso aos novos conhecimentos técnicos e inovações
que a caravela possuía, esta foi alvo de rigorosas medidas de
protecção que não permitiam a venda daquela a estrangeiros nem o
acesso aos carpinteiros que as construíam. As penalizações iam,
entre outras, até à expropriação de todos os bens de quem o fizesse.
NAU
Já se conhecia o regime de ventos do Atlântico, a costa atlântica de
África tinha sido convenientemente explorada, tarefas essas levadas
a cabo pelas caravelas. Depois da ida de Vasco da Gama à Índia as
viagens já não eram de exploração e eram naturalmente mais longas.
Por isso os navios tinham de ir melhor artilhados e sobretudo o
espaço para a carga começava a desempenhar um papel fundamental.
Nasce assim a nau que desde o séc. XVI até ao séc. XIX foi de
100/200 tonéis até ultrapassar os 900 e mais. No séc. XVI a nau
tinha duas cobertas. A primeira, corrida de vante à ré, abrigava o
porão de carga, os tonéis da aguada, os paióis de mantimentos, cabo,
pano, e munições. A segunda à proa constituía o pavimento do castelo
de proa e à ré a tolda do capitão. Tinha três mastros e cestos da
gávea nos dois de vante. Aparelhava pano redondo nos mastros da
frente e latino no de mezena para ajudar a orça do barco. A
tripulação ia de 25 a 30 homens. Uma das mais célebres terá sido a
S. Gabriel pela façanha da descoberta do caminho marítimo para a
Índia.
A Caravela das Descobertas
http://www.geocities.com/j.aldeia
No principio da idade Média, apareceu no Mediterrâneo, uma vela
triangular, alinhada com o eixo Longitudinal do casco, contrariando
a até aí utilizada, que era perpendicular ao mesmo eixo e de
configuração quadrada, chamada Redonda, por ao longe parecer
redonda. Não se sabe quem a utilizou pela primeira vez. Árabes,
Indianos ou até Indonésios, são apontados como os precursores de tal
sistema que permite à embarcação navegar contra o vento a uns 50 ou
60 graus.
No século XII, o poder naval no Mediterrâneo repartia-se entre
Génova, Pisa, Veneza, Marselha e Barcelona, que com os seus navios
mercantes pesados e bojudos, mais ou menos semelhantes, pois a
evolução da construção naval não sofrera qualquer melhoria,
limitavam-se a seguir os traços clássicos das naus romanas,
governadas por lemes laterais.
Já no século X, os árabes usavam no Mediterrâneo uma embarcação
robusta, de formas finas, pouco alterosa e de fraco calado, usada na
pesca e no transporte de géneros, chamada “Caravo”, que armava com
uma vela latina. Com a ocupação da Península Ibérica, é de prever
que este tipo de embarcação tenha vindo com os invasores, e tenha
chamado a atenção dos armadores da costa do Atlântico, devido às
suas qualidades náuticas.
Os Portugueses introduziram grandes melhoramentos nos “Caravos” e
muito antes que a Europa tivesse tido conhecimento desta nova nave,
já elas operavam na costa Atlântica, aparelhando com um ou dois
mastros latinos, e deslocando não mais que 60 toneladas com uma
tripulação de 10 a 12 homens. Eram as Caravelas, mais conhecidas por
“Pescarezas”.
A primeira referência ao nome Caravela, surge no foral de Vila Nova
de Gaia, doado em 1255 pelo rei D. Afonso III. Durante mais de 450
anos a caravela tornou-se célebre pelo mundo. Em 1575 escrevia o
escritor Escalante de Mendonça: ... “ a Caravela Portuguesa foi a
melhor invenção que até ao tempo se alcançou para a navegação de
bolina”. A palavra Caravela parece ser o diminutivo de “Caravo”.
A Caravela Portuguesa foi o navio escolhido para a demanda dos
Descobrimentos, substituindo as barcas e barinéis. O arqueólogo
Espanhol Fernandez Duro, refere-se no seu estudo sobre Caravelas
assim: “No fueron exclusivas de los españoles, antes cobraron fama
Universal las de Portugal, donde talvez se iniciaron y las adoptaron
las más de las naciones marítimas”. Mestres de bolinar, os
Portugueses, mantiveram, durante muitos anos, o segredo desta arte
no Oceano. Por isso chegaram até ao Cabo da Boa Esperança, sem a
concorrência do resto da Europa, que temia o mar sem fim, e coberto
de monstros e lendas que não deixavam os navios de velas redondas
regressarem. A vida a bordo era de uma dureza atroz. Os homens
viviam num ambiente constantemente molhado. A alimentação era à base
de biscoitos, peixe seco ou salgado, toucinho salgado, azeite,
vinagre, vinho e água. O leme era de difícil manejo e exigia muita
concentração. Os homens dormiam onde podiam. Por vezes era
necessário encalhar o navio para o beneficiar abaixo da linha de
água (querenar). Eram homens duros e determinados. Boas bolineiras,
mas não tão boas com vento de popa, as Caravelas colmataram esta
falha substituindo a vela principal por uma redonda. Era a maneira
de puderem acompanhar as naus. Mais tarde os Portugueses associaram
estes dois tipos de velas...
Aproveitando a sua velocidade, as suas qualidades evolutivas e o seu
reduzido tamanho. D. João II transformou a Caravela num excelente
navio de guerra, armando-a com artilharia pesada, que disparando
projécteis a arrasar as água, provocavam grandes estragos nas
grandes Naus. As Naus, que até aí só usavam artilharia ligeira, nada
podiam fazer contra tão pequeno e rápido navio, e, por isso, a
Caravela Portuguesa tornou-se o terror dos mares. Começaram por usar
canhões amarrados a troncos de madeira de difícil manejo.
Rapidamente os canhões foram evoluindo, tendo sido a artilharia
portuguesa a melhor do Mundo.
Depois de dobrado o Cabo da Boa Esperança, reconheceu-se que a
Caravela era demasiado ligeira para afrontar tais mares, e que o seu
aparelho latino, requerendo cuidados especiais na sua manobra, não
estava indicado para viagens longas. Para acompanhar as armadas para
a Índia, esta teve de aumentar de tonelagem, que chegou a atingir as
200 toneladas e armar-se melhor. Nos finais do Século XVI a
artilharia de uma Caravela de 160 toneladas consistia em: 2 esperas
(colibrinas de 1292 Kgs cada); 4 pedreiros (764 Kgs cada); 6 falcões
(430 Kgs cada) e 6 berços (96 Kgs cada). Os falcões e os berços
tinham 18 câmaras de pólvora amovíveis, cada um. Na sua evolução a
Caravela aumentou o número de mastros e passou a usar o mastro da
proa (traquete) com velas redondas. Para se distinguirem das
Caravelas Latinas passaram a chamar-se “Redondas”. Foi na armada de
Afonso de Albuquerque a Malaca em 1510 que este navio fez a sua
aparição. A Caravela Redonda, teve grande importância e podia ser
encorpada nas Armadas. Reunia as qualidades de navegações da
Caravela, e a potência de fogo de uma Nau de linha. Aplicaram-lhe um
castelo à proa. O armamento aumentou. Há documentos, que indicam que
o armamento de uma destas Caravelas da Armada era de vinte
bombardas, seis camelos ou canhões pedreiros e doze falcões (peças
de 700 Kgs, que lançavam balas de 800 grs). Estas Caravelas, foram
as precursoras do galeão. Por ser muito bolineira e rápida,
velejando a favor e contra o vento a Caravela na sua versão mais
pequena foi usada durante largos anos, como navio explorador, de
vigilância ou para transmissão de ordens – eram as Caravelas
Mexeriqueiras. Segundo a observância de ilustrações que chegaram
até hoje, indiciam que as Caravelas terão usado dois sistemas de
colocação das velas: por dentro e por fora das enxárcias. Tudo
indica que a colocação por dentro foi introduzida pelos portugueses,
para facilitarem a manobra de mudança da rota do navio, quando
navegavam contra o vento. Uma coisa é certa: até ao virar do século
XIX, em navios com ocupações diferentes, os dois sistemas
coexistiram, sem se excluírem mutuamente.
A partir de 1441, os portugueses passaram a utilizar caravelas nas
suas viagens de exploração atlântica. Tal tipo de navio veio a
revelar-se o mais adequado para a realização deste tipo de
expedições, pois era um navio adaptado à exploração, rápido e usado
como recurso de defesa de algumas armadas. A caravela originalmente
definia-se por transportar pano latino, o que lhe dava possibilidade
de fazer um tipo de manobra que em mares não conhecidos se tornou
indispensável: bolinar - possibilidade de recorrer a uma maior
amplitude de ventos.
A Caravela portuguesa deriva da longa tradição árabe das embarcações
pesqueiras do sul do país (Algarve). O primeiro documento conhecido
onde aparece a palavra caravela é o foral de Vila Nova de Gaia,
concedido em 1255 por Afonso III. O aperfeiçoamento deste tipo de
embarcação resultou num novo e versátil tipo de navio, que
proporcionou viagens mais rápidas a longa distância. No início do
séc. XV começa a ser utilizada nas viagens marítimas dos
Descobrimentos portugueses, sobretudo ao longo da costa africana.
Eram navios ligeiros, rápidos, capazes de navegar em todas as águas
e com todos os ventos. As suas velas triangulares, vela latina,
permitiam-lhes bolinar, isto é, navegar com ventos contrários.
A caravela foi uma embarcação usada e inventada pelos portugueses e
também usada pelos espanhóis durante a Era dos Descobrimentos, nos
séculos XV e XVI. Segundo alguns historiadores, o vocábulo é de
origem árabe carib (embarcação de porte médio e de velas
triangulares — velame latino). De acordo com outros, no entanto, a
palavra seria derivada de carvalho, a madeira usada para construir
as embarcações. A caravela é um navio rápido, de fácil manobra, apto
para a bolina, de proporções modestas e que, em caso de necessidade,
podia ser movido a remos. Eram navios de pequeno porte, de três
mastros, um único convés e ponte sobrelevada na popa; deslocavam 50
toneladas. As velas «latinas» (triangulares) eram duas vezes maiores
que as das naus, o que lhes permitia ziguezaguear contra o vento e,
consequentemente, explorar zonas cujo regime dos ventos era
desconhecido. Apetrechada com artilharia, a caravela transformou-se
mais tarde em navio mercante para o transporte de homens e
mercadorias. Gil Eanes utilizou um barco de vela redonda, mas seria
numa caravela (tipo carraca) que Bartolomeu Dias dobraria o Cabo da
Boa Esperança, em 1488. É de salientar que a caravela é uma invenção
portuguesa, em conjunto com os conhecimentos que haviam adquirido
dos árabes. Se bem que a caravela latina se revelou muito eficiente
quando utilizada em mares de ventos inconstantes, como o
Mediterrâneo, devido às suas velas triangulares, com as viagens às
Índias, com ventos mais calmos, tal não era uma vantagem, já que se
mostrava mais lenta que na variação de velas redondas. A necessidade
de maior tripulação, armamentos, espaço para mercadorias fê-la ser
substituída por navios mais potentes.
A caravela redonda foi usada pelos navegadores portugueses entre
finais do século XV e meados do século XVII. Resultou da adaptação
da caravela latina aos grandes trajectos oceânicos, onde os ventos
eram regulares e dos sectores da popa, proporcionando a vela redonda
um considerável aumento de velocidade. Tinham uma grande capacidade
de transporte, podendo até rivalizar com algumas naus. Não existem
planos de navios da época. O presente modelo foi construído com base
em referências feitas pelo Padre Fernando de Oliveira na sua obra
«Arte da Guerra no Mar», impressa em 1555, e em investigações
levadas a cabo por especialistas que se fundamentarem em descrições,
baixos-relevos, quadros e gravuras da época.
O caravelão possui duas velas triangulares. Tal como sucedia com
outras embarcações, as dimensões variavam muito. Existiram navios de
pequeno porte até caravelões com cerca de 80 toneladas e 15 metros
de comprimento de quilha. O que se apresenta é um modelo
conjectural, resultante de uma intensa investigação a partir de
documentos da época. Tanto a “Boa Esperança” e a “Bartolomeu Dias”
são caravelões. A partir do reinado de D. João II, passaram a estar
artilhadas com canhões no convés, assumindo uma componente mais
ofensiva. Pensa-se que, à semelhança de outros navios da época,
teria dois olhos pintados na proa que, segundo a tradição, “assim
vêem o caminho”. Ainda hoje, muitas embarcações de pesca respeitam
essa tradição.
Nau é o sinónimo arcaico para navio, nave ou barco de grande porte
destinado a longos percursos. Em vários documentos históricos a nau
surge com a denominação de nave (do latim, "navis"), termo utilizado
quase sempre entre 1211 e 1428. Opõe-se-lhe o termo embarcação,
aplicado a barcos de menores proporções, utilizados em percursos
pequenos. Durante a época dos Descobrimentos, houve uma evolução dos
tipos de navio utilizados. A barca, destinada à cabotagem e pesca,
era ainda utilizada ao tempo de Gil Eanes, quando, em 1434, dobrou o
Cabo Bojador, e seria sucedida pela caravela. Concretamente, na
Baixa Idade Média, mais precisamente entre o século XIII e a
primeira metade do XV, as naus, ainda tecnicamente longe daquilo que
seriam nos Descobrimentos, serviam essencialmente para transportar
mercadorias que provinham dos portos da Flandres, no Norte da
Europa, para a península Itálica, no Mar Mediterrâneo, e vice-versa.
Na época de Fernando I de Portugal as naus desenvolveram-se em
termos náuticos e multiplicaram-se de forma assinalável em Portugal.
Devido à pirataria que assolava a costa portuguesa e ao esforço
nacional de criação de uma armada para as combater, as naus passaram
a ser utilizadas também na marinha de guerra. Nesta altura, foram
introduzidas as bocas-de-fogo, que levaram à classificação das naus
segundo o poder de artilharia: naus de três pontas (100 a 120 bocas)
e naus de duas pontas e meia (80 bocas). A capacidade de transporte
das naus também aumentou, alcançando as duzentas toneladas no século
XV, e, as quinhentas, no século seguinte. Com a passagem das
navegações costeiras às oceânicas, houve necessidade de adaptar as
embarcações aos novos conhecimentos náuticos e geográficos. À medida
que se foi desenvolvendo o comércio marítimo e se tornou necessário
aumentar a capacidade do transporte de mercadorias, armamento,
marinheiros e soldados, foram sendo modificadas as características
dos navios utilizados. Surgiam então as caravelas de armada e,
posteriormente, as naus. Em 1492 Cristóvão Colombo zarpou das Ilhas
Canárias rumo ao descobrimento da América com a nau Santa Maria, a
caravela redonda Pinta e a caravela latina Niña. Em 1497 partiu
Vasco da Gama para a Índia já com três naus e uma caravela. De
grande porte, com castelos de proa e de popa, dois, três ou quatro
mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas, as naus eram
imponentes e de armação arredondada. Tinham velas latinas no mastro
da ré. Diferentes das caravelas, galeões e galé, as naus tinham, em
geral, duas cobertas. No século XVI tinham tonelagem não inferior a
500, embora, segundo o testemunho do Padre Fernando de Oliveira, no
seu “Livro da Fábrica das Naus”, em meados desse século as naus eram
armadas com crescente tonelagem.
A Nau "Flor de La Mar"
Um notável exemplo de longevidade de uma nau do primeiro quartel do
Século XVI foi dado pelos nove anos de aventuras e trabalhos da
célebre “Flor de La Mar”, afundada nas costas de Sumatra com os
tesouros de Malaca trazidos por Afonso de Albuquerque. Segundo o
“Livro de Toda a Fazenda”, a contabilidade pública de então, em
1505, D. Manuel I encarregou o provedor João Serrão de armar oito
grandes naus, seis navetas e oito caravelas, além de outros navios,
para formarem a armada do Vice-Rei D. Francisco de Almeida. A “Flor
de La Mar”, capitaneada pelo alcaide menor de Lisboa João da Nova,
fazia parte com a “Bom Jesus”, a “S. Gabriel”, a “S. João”, a
“Espírito Santo”, a “S. Tiago”, a “Bota Fogo” e a “S. Catarina” do
lote de 8 naus de 400 toneladas, cuja principal missão era
estabelecer o domínio naval português no Índico. Provavelmente
tratava-se da segunda viagem à Índia da nau “Flor de La Mar” com
João da nova como capitão. Efectivamente, este galego de nação e
fidalgo de Portugal fora o capitão-mor da terceira armada enviada
por D. Manuel I à Índia. Com três naus, uma delas talvez a “Flor de
La Mar”, apesar da crónica de Goês não citá-la ainda de nome, e uma
caravela, João da Nova partiu a 5 de Março de 1501 para chegar a
Cananor em Agosto e receber um primeiro carregamento completado
depois em Cochim, onde as naus foram calafetadas, reparadas e
breadas. Depois de umas escaramuças que levaram ao afundamento de
três paraos de uma grande frota enviada pelo Samorim, João da Nova
regressa a Lisboa, tendo entrado no Tejo a 11 de Setembro de 1502.
Na segunda viagem do notável navegador que parece não ter o seu nome
merecidamente glorificado numa rua de Lisboa, este recebeu ordens
para cruzar entre o Cabo Camorim e as Ilhas Maldivas, levando também
um alvará real de nomeação para capitão-mor da armada da costa da
Índia. A armada de D. Francisco de Almeida com a “Flor de La Mar”
largou pois a 5 de Março de 1505, dobrou o Cabo da Boa Esperança em
fins de Junho sem grandes percalços. Nos primeiros dias de Agosto,
as principais naus da armada com a “capitania” lançaram ferros
frente a Mombaça. O Vice-Rei mandou o intrépido João da Nova a terra
para comunicar com os habitantes. “Estes receberam-no à pedrada” –
escreveu Gaspar Pereira, escrivão da armada. João da Nova dispara
dois berços de metal que levava no batel, “com que logo na praia
pagou o jogo das pedras”. “Olá dos navios! Ide dizer ao Vice-Rei que
venha em terra, que em Mombaça não há de achar as galinhas de Quiloa,
mas vinte mil homens que lhe hão de torcer o focinho …… – diziam os
naturais na praia da Ilha - continuou Gaspar Correia na sua crónica
da viagem. Na manhã seguinte, 1300 soldados da armada desembarcaram
em Mombaça, distribuídos em duas colunas. Depois de uma peleja
encarniçada, o xeque de Mombaça pede a paz e a armada zarpou com os
presentes do potentado, agradecido por lhe pouparem a vida e não
terem destruído a cidade. A Cochim, a armada chega a 1 de Novembro,
tomando de imediato conhecimento da existência de uma esquadra de
400 navios e 10 mil homens organizada pelo Samorim para enfrentar as
forças do Vice-Rei. Muito chegado a terra, os navios do Samorim
tiveram de se haver com as caravelas e galés de Portugal porque as
naus não podiam chegar-se tanto. Numa naveta artilhada, João da Nova
comete proezas sem par juntamente com os navios mais pequenos da
armada. “Tudo era fogo, fumo e gritos” – escreve Gaspar Correia. As
três bombardas e os seis falcões de cada uma das caravelas fizeram
uma razia, opondo-se com a sua superioridade aos pelouros e flechas
dos mouros. Em Fevereiro de 1506, a “Flor de La Mar” com a “S.
Gabriel”, capitaneada por Vasco Gomes de Abreu, recebe ordens para
largar de Cochim rumo a Portugal. Além do valioso carregamento de
especiarias levavam um pequeno elefante. Gaspar Correia cita a “Flor
de La Mar” ainda sob o comando de João da Nova nas duas armadas de
Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque saídas de Lisboa para a
Índia a 5 e 7 de Abril de 1506. Na verdade, deveria estar
equivocado. A “Flor de La Mar” não poderia chegar a Lisboa nessa
data e outros arquivos históricos dizem-nos que nunca chegou a
sulcar novamente as águas do Tejo, pois na viagem de regresso a
Portugal arribou à Ilha de Moçambique com água aberta e grande
dificuldade para consertar a avaria. Ficou no canal entre a Ilha e a
Cabaceira, a zona de abastecimento das naus com água potável. Aí é
que a armada de Tristão da Cunha encontrou João da Nova com a sua
“Flor de La Mar”. Sendo amigo e compadre de João da Nova, Tristão da
Cunha fez tudo para salvar a”Flor de La Mar”. Comprou uma nau
comercial de Lagos que vinha na sua armada para transbordar toda a
mercadoria que vinha na “Flor de La Mar”, a fim de a “pôr a monte”
para os consertos necessários. Assim feito, João da Nova e a sua nau
foram mandados de novo para a Índia integrados na armada de Afonso
de Albuquerque, mas João da Nova foi desgostoso por o Vice-Rei não
ter aceite o seu alvará de capitão-mor e, agora, em vez do regresso
à Pátria ia acompanhar Albuquerque em trabalhos e aventuras ainda
inimagináveis. Tal como a sua nau, também João da Nova nunca mais
veria as águas do Tejo. Apesar de insatisfeito, o alcaide menor de
Lisboa mostrou-se tremendamente eficaz em todas as tarefas em que se
meteu. Logo em Abril de 1507, João da Nova acompanha Afonso de
Albuquerque com 300 homens no ataque à fortaleza de Socotorá,
defendida por centena e meia de “fartaquins”, pondo-os todos em
fuga. Reconstruiu-se a fortaleza; Portugal controlava agora a
estratégica entrada para o Mar Vermelho. Em carta não datada, mas
provavelmente de 1506, dirigida a D. Francisco de Almeida, D. Manuel
I ordena o envio de navios a Malaca e nomeia João da Nova
capitão-mor de uma armada de uma nau, um navio e uma caravela que
ficará aí. Ao mesmo tempo, El-Rei ordenou que a “Flor de La Mar
regresse a Portugal sob o comando de Francisco de Távora, enquanto
João da Nova deveria ser o capitão da nau “Rei Grande”,
anteriormente do Távora. Não foram cumpridas estas ordens de D.
Manuel I; era demasiado cedo para ir a Malaca sem ter previamente
estabelecido o domínio do Índico.
(Texto de Dieter Dellinger publicado na REVISTA DE MARINHA em Abril
de 1989)
HISTÓRIA DE UM HUMANISTA D0 RENASCIMENTO PORTUGUÊS (SÉCULO XVI) CUJA
CAPACIDADE OS HOMENS DO SEU TEMPO NÃO SOUBERAM APROVEITAR - de
Adolfo A. Silveira Martins
in Revista Pesca e navegação, Fevereiro de 1991: 48 e 49
Fernando de Oliveira, humanista do renascimento português, recolheu
na sua obra o «... saber da experiência feito...», transmitido por
gerações de mestres construtores navais.
Sousa Viterbo em «Trabalhos Náuticos dos Portugueses», referencia
alguns destes mestres que se perderam na escuridão do tempo, mas
delegaram oralmente nos discípulos a arte da «Fabrica das Naus».
Portugal, nos finais do século XV, meados do séc. XVI, respondeu ao
estímulo da descoberta de novos mundos desenvolvendo
progressivamente a navegação oceânica e subsequentemente evolui na
caracterização tecnológica do navio. Nesta época assistia-se à plena
actividade dos arsenais de construção naval junto das principais
localidades marítimas sobressaindo, entre as demais, a importância
da Ribeira das Naus, em Lisboa, das Ribeiras do Porto, de Lagos,
Sesimbra e Viana da Foz do Lima.
Fernando de Oliveira, provavelmente nascido em Aveiro, por volta de
1507, foi dos mais importantes teorizadores e aglutinadores dos
conhecimentos da arte de construção naval do séc. XVI.
A vida de Oliveira, cuja biografia se encontra ainda hoje
parcialmente obscura, com inúmeras lacunas e dúvidas, teria sido uma
das mais atribuladas do seu tempo. Fernando de Oliveira, foi
filólogo, clérigo, cronista, professor, piloto, soldado e sobretudo
um grande aventureiro.
Iniciou a sua educação no convento de 5. Domingos até 1522, altura
em que entrou para a ordem, de onde fugiu para Castela em 1532. Em
Castela tornou-se clérigo secular e em 1536, regressado a Lisboa,
foi mestre dos filhos de João de Barros, barão do Alvito e de D.
Fernando de Almada, entre outros homens da Coroa.
Ainda no mesmo ano edita a primeira gramática em língua portuguesa.
Por volta de 1540/41, parte para Itália, com destino a Roma, onde
provavelmente nunca chegou, ficando pelo sul de França. Em 1543
regressa a Lisboa. 1544 ou 45, foi o ano em que uma armada de galés
do Barão de La Garde, aporta a Lisboa dirigindo-se à Mancha, para
combater Henrique VIII, a mando do monarca francês, Francisco I.
Oliveira, conhecendo o capitão de uma das galés, o Barão de Saint
Blancard, oferece-se como piloto, fazendo-o passar pelo nome de
Martinho. A imediata cedência do capitão francês à pretensão de
Fernando de Oliveira, indicia-nos a sua anterior passagem por terras
de França, provavelmente por Marselha, para além da sua evidente
experiência como homem do mar. Ainda, como piloto ao serviço de
França foi aprisionado em 1546 pelos ingleses. Permaneceu em
Inglaterra cerca de um ano e chegou, de muito próximo, a partilhar
as ideias do monarca inglês, o que o levou no Outono de 1547, já
então em Lisboa, a responder perante o Tribunal da Inquisição por
denúncia do seu antigo adversário João Borgonha. Esteve preso até
1548, quando da primeira advertência do Santo Ofício, altura em que
se obriga a reconhecer os seus actos de heresia. Encerrado no
Mosteiro dos Jerónimos até 1551, é-lhe concedida liberdade pelo
Cardeal D. Henrique, embora limitando-lhe a permanência em
território português. No verão de 1552 parte uma expedição contra
Maley Mamed em auxílio do «Rei de Velez». Oliveira parte com ela,
acabando por ser detido e levado a Ceuta, antiga praça portuguesa, a
fim de servir de emissário, em nome dos seus companheiros, para
negociar o resgate com o então governador D. Pedro de Menezes.
O cariz da personalidade de Oliveira, reflecte-se aqui pela
expressão de D. Pedro que lhe chama um «... homem muito
desassossegado...». Resgatando dentro do prazo todos os seus
compatriotas, expedicionários, regressa a Lisboa. D. António da
Cunha, seu pseudo amigo convida-o para sua casa na Beira Alta, local
onde vem a receber em 1554 ordem de prisão, igualmente por denúncia
de atentado contra a moral cristã. D. João III fá-la cumprir em
1555, já então após nomeação deste como revisor de Imprensa da
Universidade de Coimbra, onde também lecciona retórica. Em 1556,
recebe proposta para regressar a França e a partir de então, não
mais se sabe de Fernando de Oliveira, supondo-se que ainda viveria
na década de oitenta.
A maioria das informações biográficas de Oliveira, deve-se à
profunda investigação que Henrique Lopes de Mendonça fez da sua
vida, sendo no entanto uma das principais fontes documentais o
processo inquisitorial a que foi submetido.
Para além de tratadista em construção naval, ao escrever a «Ars
Náutica» e principalmente o «Livro da Fábrica das Naus», Oliveira
faz, para português, a tradução da obra «De Re Rustica» de Columelle,
escreveu uma História de Portugal (1581), uma gramática e o livro da
«Arte da Guerra no Mar» (1554), em comentário ao desastre da
expedição ao norte de África bem como, reflectindo sobre a
competência dos capitães que a dirigiam.
A «Ars Náutica», editada em latim, em 1570, encontra-se hoje
depositada na Biblioteca de Leiden, na Holanda. Trata-se de uma obra
de difícil leitura, confusa, no entanto de excelente qualidade, não
só pela informação compilada, até então dispersa por alguns
elementares Regimentos para uso exclusivo dos mestres de construção,
como pelos desenhos técnicos que apresenta.
Na primeira parte, com treze capítulos, Oliveira reflecte sobre
conhecimentos científicos aplicados à navegação, tratando da
cartografia, fabricação e uso de instrumentos náuticos, astronomia,
cálculo de rotas e meteorologia.
A segunda parte, dedica-a fundamentalmente à construção naval e
instrui sobre as boas regras a cumprir, para evitar a imperfeição
dos navios. Oliveira, faz uma descrição pormenorizada do processo de
calculo para obtenção das mestras de um navio de carga de 18 rumos
de quilha. Descreve o traçado da roda de proa, do cadaste, do
lançamento e recolhimento das cavernas, permitindo no entanto alguma
flexibilidade que possa ser imprimida pelo mestre construtor.
Fernando de Oliveira preconiza a hidrodinâmica do navio. Debruça-se,
ainda nesta segunda parte, sobre os melhores tipos de madeiras a
aplicar na construção de navios, para além de reflectir acerca da
construção de embarcações a remos.
Na terceira parte da «Ars Náutica», emite conselhos sobre a vida a
bordo, no geral, particularizando a deontologia do marinheiro, a
disciplina e a alimentação.
O Padre Fernando de Oliveira na obra o "Livro da Fábrica das Naus",
elaborado entre os anos de 1570 e 1580, e editado apenas em 1898,
por Henrique Lopes de Mendonça, pretendeu atingir a exaustão do
conhecimento da arte de construção naval do seu tempo, não só
referindo à arquitectura dimensionada do navio, como salientando
toda a problemática adjacente. Propõe-se então Oliveira «... tratar
premeyro das madeyras accõmodadas para a fabrica naual, e de suas
qualidades: £ do tempo em que deuem ser colhidas, £ per que modo.
Despoys trata dos achegos ...» «... Despoys das medidas, £ symetria
das naos...»: «... £ de seus aparelhos...» «... £ do modo, £ engenho
de marear, £ lançar as naos,...».
O «Livro da Fábrica das Naos», recolhido na Biblioteca Nacional de
Lisboa, compõe-se de um Prólogo e nove capítulos sobretudo dedicados
à arte de construção naval.
No prólogo o autor justifica a sua obra, acentuando que «...os
nauios são necessários para a arte da navegação, £ a navegação pera
a gente desta terra de Portugal...»
O segundo e o terceiro capítulos tratam exclusivamente do tipo de
madeiras, a sua melhor aplicação às diferentes partes do navio e da
altura, em que as árvores devem ser cortadas, para que reúnam as
melhores características para a construção. Fala-nos do sobreiro,
cuja madeira é forte e dura para o cavername e do pinheiro para o
tabuado. O azinho e o carrasco para o substituir, como também do
abeto, do cedro, do cipreste para outras finalidades.
O quarto capítulo trata dos pregos, estopa, breu, alcatrão, sebo,
resina, da sua qualidade e aplicação.
No quinto capítulo, distingue os diferentes tipos de navios,
salientando a nau, a galé, o galeão e a caravela.
A proporção dos navios de carga é tratada no oitavo capítulo,
caracterizando-os pela necessidade de serem «... fortes, ueleiras, £
de bom porte».
Na construção do navio, dever-se-á exigir boa simetria e
proporcionalidade. Segundo nos dita Oliveira é da implantação da
quilha que dependem estas características, porque com elas estão
correlacionadas todas as outras partes do navio, como as proporções
da largura, altura, fundo, graminhos, lançamentos e boca.
Para Oliveira, a largura e a altura deverá ser cerca de um pouco
mais que um terço do comprimento da quilha. Para uma nau de dezoito
remos de comprimento, a largura será de seis a oito e a altura um
pouco menos.
O Padre Fernando de Oliveira tratou pormenorizadamente das traças de
quilha, sobrequilha, lançamento de proa e popa, roda de proa,
cadaste, mestras, graminho, almogamas, côvado, e de todas as outras
obras, de um navio redondo.
Por último no nono capítulo fala-nos do aparelho.
O Padre Fernando de Oliveira foi um homem do seu tempo.
A artilharia em arqueologia subaquática - escrito por Alexandre
http://naufragium.blogspot.com
A maioria das peças de artilharia era fabricada ou em ferro ou numa
liga de cobre e variadas quantidades de chumbo, estanho ou zinco, ou
seja, em bronze.
Na história da artilharia, é possível reconhecer um padrão típico de
evolução em que primeiro surgiram as armas de ferro forjado no
século XIV, depois no século XVI as armas em bronze fundido e,
finalmente, dominaram as armas de ferro fundido (a distinção entre
canhões de bronze e de ferro faz-se rapidamente, mesmo em ambiente
subaquático, visto que as armas feitas com este último metal ganham
rapidamente concreções que disformam enormemente a forma da peça,
chegando mesmo ao ponto destas se confundirem facilmente com uma
rocha ou com os fundos envolventes. Pelo contrário, e devido à
elevada toxicidade que o cobre apresenta para todas as formas de
vidas, as armas de bronze raramente apresentam grandes concreções
embora possam servir de substrato a uma camada, mais ou menos
espessa, de restos de seres vivos).
Outra das características distintivas das armas de fogo é o seu
método de carregamento. Dentro desta categoria encontramos armas de
carregar pela culatra - como os famosos berços portugueses
introduzidos por D. João II nas forças navais da época - e armas de
carregar pela boca.
Enquanto que as armas mais primitivas eram feitas à base de chapas
de ferro (marteladas e depois unidas pela utilização de anéis
metálicos aquecidos ao rubro, criando-se assim as bombardetas que
persistiram até ao século XVII), os canhões de bronze tiveram o seu
início com os fundidores de sinos. Estes aperfeiçoaram tão bem a sua
metalurgia que conseguiram criar uma arma mais poderosa e mais bela
- principalmente pela utilização de decorações na superfície do
metal - do que as existentes até à altura. O método utilizado
naquela época para a fundição do bronze levava à criação de moldes
individuais que eram inutilizados durante o processo de fabrico, o
que originava armas verdadeiramente únicas.
Contudo, devido à pressão feita pelas diferentes coroas europeias,
tentou-se recorrer à estandardização das medidas, nomeadamente no
que tocava às dimensões da arma e ao seu calibre. No entanto,
raramente os moldes cumpriam as normas oficiais o que levava a que
surgissem as denominadas armas bastardas. A partir do início do
século XVIII, os governos passaram a criar as suas próprias
fundições, o que facilitou a padronização do armamento.
A fundição de canhões
A fundição foi realmente um grande salto tecnológico na utilização e
manufactura das peças de artilharia. O fundidor realizava, em
primeiro lugar, um molde da peça pretendida recorrendo a uma alma de
madeira envolvida em barro e matéria orgânica. À medida que o molde
ia secando, este era comprimido de encontro a uma forma e depois era
coberto com barro, após lhe terem sido pregados os moldes dos
munhões, do cascavel e das decorações. A alma era então colocada
dentro do molde, o mais centralmente possível, e o metal derretido
era então vertido pela abertura da boca. Após o arrefecimento do
metal, o molde era partido e era serrada a parte final da arma que
se tinha projectado para além da bolada.
A fase mais crucial da fundição era a colocação da alma, visto que
qualquer erro na sua inclinação implicaria, no mínimo, graves
desvios na trajectória dos projécteis ou, no pior dos casos, o
rebentamento da peça. A partir de 1776, os ingleses contornaram este
problema furando directamente a alma no canhão, a partir da rotação
deste em torno do seu eixo longitudinal.
Após a fundição, a arma era carregada com o dobro da pólvora que
levaria habitualmente e era disparada. Se não explodisse, era
preenchida com água e inspeccionada com o intuito de se descobrirem
hipotéticas fendas no material. Finalmente, a peça era analisada
quanto à sua precisão e era depois contramarcada com as marcas do
fundidor e do governo responsável pela fundição.
A partir do início do século XVI, nota-se que a manufactura das
peças de artilharia se bifurca em dois sentidos diferentes. A
primeira família de peças de fogo a surgir é a do grupo que engloba
as colubrinas e que tem o seu expoente máximo na grande colubrina,
uma arma com cerca de 55 quintais, ou seja, 2.300 kg de peso. A
segunda família era a dos canhões que se caracterizava por possuir
menor comprimento que as colubrinas e em que a gama mais alta de
calibres correspondia aos calibres intermédios das colubrinas (por
ordem decrescente de dimensão e de calibre encontramos o basilisco,
o canhão real, o canhão, o meio canhão, a colubrina, a meia
colubrina, o sacre, o falcão, o falconete e, finalmente, o canhão
pedreiro que, com um reforço muito fino, disparava projécteis de
pedra graças ao recurso a quantidades diminutas de pólvora).
Atribuir uma classificação a uma boca de fogo revela-se amiúde uma
tarefa ingrata, quer pela profusão de termos - aplicados muitas
vezes sem lógica alguma pelos artilheiros e fundidores dos diversos
países europeus quer pela falta de fontes históricas que esclareçam
o assunto.
Os canhões
Os canhões eram armas que projectavam projécteis de elevado peso a
média distância. Relativamente às outras peças de artilharia tinham
também um comprimento mediano que variava 18 a 24 vezes o seu
diâmetro interno, ou seja, o seu calibre.
Dentro deste grupo encontramos o meio-canhão - de menor porte, com
um comprimento a variar entre 3.16 e os 3.47 metros, com cerca de
15.8 centímetros de calibre, disparando projécteis de ferro com um
peso aproximado de 14 quilos - e o canhão propriamente dito capaz de
disparar projécteis com cerca de 22.5 quilos, um calibre de 18.4
centímetros e um comprimento total de cerca de 3.3 metros.
Os pedreiros
Os pedreiros eram, como o próprio nome indica, armas que apenas
disparavam projécteis de pedra - muito pesados relativamente ao peso
da própria peça - a uma distância mais curta do que aquela que era
alcançada pelos canhões.
Caracterizavam-se também por serem armas curtas, com um comprimento
que não excedia 8 vezes o seu diâmetro interno, sendo os de menor
calibre armas de retrocarga, destinadas essencialmente ao combate
anti-pessoal, disparando metralha diversa. A arma mais típica deste
grupo é o canhão-pedreiro, que disparava projécteis de pedra com
cerca de 10.8 quilos e um calibre de 20.3 centímetros.
As colubrinas
As colubrinas eram armas longas que se caracterizavam quer pelo seu
comprimento - cerca de 30 a 50 vezes o calibre - quer pela distância
que alcançavam os seus projécteis sendo estes, regra geral, muito
menos pesados do que os projécteis disparados pelas classes acima
descritas.
Neste grupo, no caso das armas para uso costeiro ou naval, existem:
- a colubrina, propriamente dita: com um calibre de 13.3
centímetros, um comprimento de cerca de 32 vezes esse diâmetro, ou
seja, cerca de 4.2 metros e com a projecção de um pelouro de ferro
com cerca de 7.7 quilos de peso;
- a meia-colubrina: com um calibre de cerca de 10 centímetros, um
comprimento de cerca de 3.4 metros e que disparava projécteis com um
peso de 4 quilos;
- e o sacre: que recorria a projécteis com 2.2 quilos, que atingia
cerca de 8,8 centímetros de calibre e cerca de 32 vezes esse valor
de comprimento, ou seja, 2.82 metros. Na sua máxima elevação, o
projéctil tinha, para este tipo de arma, um alcance máximo de cerca
de 1300 metros.
Nesta última categoria de armas longas incluíam-se armas de calibre
ainda menor tais como o falcão, que disparava pelouros de 1.3 quilos
e tinha um calibre de cerca de 5,5 centímetros, o falconete, as
moyanas, as zebratanas e as passavolantes espanholas e, finalmente,
os esmerilhões que disparavam projécteis com peso compreendido entre
as 200 e as 450 gramas.
Para saber mais:
BROWN, R. (1997) Arms and Armour from Wrecks: an introduction. In
REDKNAP, M., ed. Artefacts from Wrecks: Dated Assemblages from the
Late Middle Ages to the Industrial Revolution. Oxford: Oxbow Books,
Oxbow Monograph 84. 101-109
BRYCE, D. (1984) Weaponry from the Machault: an 18th Century French
Frigate. National Historic Parks and Sites Branch. Parks Canada.
Environment Canada.52-55.
DARROCH, A. (1986) The Visionary Shadow: a Description and Analysis
of the Armaments aboard the Santo Antonio de Tanna. College Station:
Institute of Nautical Archaeology. Thesis
SIMMONS III, J. (1988) Wrought-iron Ordnance: revealing discoveries
from the New World. In The International Journal of Nautical
Archaeology and Underwater Exploration. 17.1: 25 – 34.
(escrito por Alexandre)
Vestígios da mais antiga ferraria de Portugal
Investigadores identificaram recentemente em Barcarena, Oeiras
(perto de Lisboa), vestígios do que pensam ser a mais antiga e mais
importante ferraria régia em Portugal, datada de 1487, confirmando
no terreno a existência de uma unidade de que só havia conhecimento
documental.
As Ferrarias de Barcarena, ou Ferrarias del Rey, foram descobertas
no perímetro da Fábrica da Pólvora, em Barcarena, e segundo o
arqueólogo João Luís Cardoso, coordenador do Centro de Estudos
Arqueológicos (CEA) do concelho de Oeiras, são as “mais antigas e
importantes ferrarias régias” em Portugal.
A descoberta resulta da prospecção em curso no núcleo antigo da
Fábrica de Cima, uma unidade industrial em ruínas situada a montante
do Museu da Pólvora Negra, no interior do complexo da Fábrica da
Pólvora em Barcarena. Foi neste edifício, situado na margem esquerda
da ribeira de Barcarena, que recentemente foram localizados
vestígios do edificado primitivo das Ferrarias del Rey.
Segundo explicou o arqueólogo à agência Lusa, a descoberta permitiu
confirmar a localização e a existência daquela unidade de produção
de armamento, que terá sido mandada construir ainda durante a
regência de D. João II. Já antes havia indicações da existência
desta unidade, mas este conhecimento baseava-se apenas em documentos
históricos. “A descoberta da galeria das rodas hidráulicas e o
desnudar do local onde estavam implantados dois dos arcos de suporte
da abóbada da galeria” permitiram confirmar a fidelidade do mais
antigo registo gráfico alusivo àquela oficina: uma planta desenhada
pelo engenheiro italiano Leonardo Turreano em 1618", disse o
arqueólogo, secundado pelo historiador José Luís Gomes, que tem
desenvolvido as prospecções arqueológicas.
Data
A constatação da localização das Oficinas del Rey vem ainda mostrar
que o complexo da Fábrica da Pólvora de Barcarena é “muito anterior
ao século XVIII, devendo a construção inicial remontar, segundo
investigações recentes, a 1620, em pleno período filipino”,
acrescentaram os investigadores.
A descoberta das ferrarias ganha ainda importância “acrescida” no
contributo para a história dos descobrimentos portugueses,
permitindo reforçar a tese de que Portugal, embora importasse
armamento, “apostou igualmente” na transformação do ferro e no
fabrico de armas dentro das suas fronteiras. “Se atendermos à data
do descobrimento do caminho marítimo para a Índia e à do
descobrimento do Brasil e a situarmos com a da laboração das
ferrarias, vemos a importância dada pelos reis portugueses à
transformação do ferro e ao fabrico de armas dentro das nossas
fronteiras, impedindo assim que ficássemos dependentes de outros
países, como a Flandres”, sustentaram.
Para reforçar esta tese falta ainda, segundo José Luís Gomes,
“aprofundar o estudo de documentação histórica para determinar se as
galerias agora descobertas também coincidem com as das ferrarias
régias de D.Manuel, mandadas construir em 1517 e concluídas por
volta de 1520/1521, para municiar os navios portugueses”. Se assim
for, frisou, as instalações de Barcarena “assumirão ainda maior
importância, já que as poderemos integrar nos vários complexos
militares e navais que armaram a frota de D. Manuel como os moinhos
e fornos de Vale de Zebro, as fundições de artilharia do Cais do
Carvão, a Fábrica do Biscoito ou a Cordoaria Nacional”, frisou.
Culminando um trabalho de investigação em curso desde 2001, a
descoberta das Ferrarias del Rey, “que terão laborado até 1695”,
permitiu ainda “comprovar o forte desenvolvimento” que terão tido
durante o século XVI, nomeadamente no período filipino (1580/1640),
referiram os investigadores. Embora o recurso a mão-de-obra
biscaínha fosse anterior ao domínio filipino, foi neste período que,
segundo os investigadores, Portugal mais recorreu aos artesãos do
ferro da zona do Golfo da Biscaia (actual País Basco) por serem
“famosos e reputados na arte de manusear o ferro”.
Lanças, couraças, mosquetes, bombardas de ferro e arcabuzes terão
sido, segundo José Luís Gomes, algumas das armas ali fabricadas,
consoante listagens de armamento fabricado em Barcarena recolhidas
pelos investigadores.
Para comprovar que o actual perímetro da Fábrica da Pólvora
constitui “um dos mais importantes conjuntos de património português
de arqueologia industrial”, arqueólogo e historiador vão continuar
as prospecções para tentar localizar as forjas, a casa de verrumar e
de amolar, consoante documentos de que dispõem datados de 1775. A
investigação não ficará por aqui, garantem, já que há que “comprovar
que terá sido da adaptação das Ferrarias del Rey que surgiu a
primeira unidade de fabrico de pólvora em Barcarena, no espaço que
está em ruínas e que é designado por Fábrica de Cima, e não pela
designada Fábrica de Baixo, onde está instalado o Museu da Pólvora
Negra”, concluíram. Desactivada em 1988, a Fábrica da Pólvora é hoje
um espaço de lazer gerido pela Câmara de Oeiras, onde estão
instaladas infra-estruturas como o museu, biblioteca, restaurante e
jardins.
in, O Primeiro de Janeiro, 24 de Setembro de 2006
Explosivos usados e armas
A pólvora
A pólvora, há muito conhecida na Europa, já era fabricada em
Portugal desde o século XV. Era composta por uma mistura de salitre
(75%), enxofre (12,5%) e carvão (12,5%). A partir do século XVI a
mistura deixou de ser em pó e passou a ser em grão, porque assim
conseguia-se maior estabilidade no armazenamento e melhor eficácia
no tiro. A pólvora era utilizada para fazer os canhões dispararem
pelouros, mas os pelouros que então se conheciam eram de pedra ou de
ferro, não eram explosivos.
Os primeiros explosivos
Os primeiros projécteis explosivos utilizados na guerra foram as
panelas de fogo. Tratava-se de panelas de barro em tudo iguais às da
cozinha e cheias de pólvora. Pegava-se-lhes fogo e atiravam-se ao
inimigo.
Na defesa da cidade de Diu (Índia), na segunda metade do século XVI,
os portugueses usaram muitas destas panelas de fogo.
A espingarda
A espingarda começou por ser uma espécie de pequeno canhão de mão
que lançava um projéctil de pedra ou de metal empurrado por uma
explosão de pólvora. Este tipo de arma era pouco seguro porque os
canos não eram resistentes e podiam rebentar com a força da pólvora.
Mas foi-se aperfeiçoando o fabrico. Quando Vasco da Gama descobriu o
caminho marítimo para a Índia já era comum haver espingardeiros a
bordo. No Oriente, os indianos e mouros utilizavam peças de
artilharia, mas de uma maneira geral tinham menos potência do que as
portuguesas.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal
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