Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia
brasileira. Seu livro de estréia,
Primeiros sonhos em 1879, insere-se
ainda no Romantismo. Já em Sinfonias
em 1883, nota-se o feitio novo que
seria definitivo em sua obra o
Parnasianismo. Segundo os cânones
dessa escola, que estabelecem uma
estética de rigor formal, ele foi um
dos mais perfeitos poetas da língua
portuguesa, formando com Alberto de
Oliveira e Olavo Bilac a famosa
trindade parnasiana. Além de poesia,
deixou obras de crítica, ensaio e
crônicas
Raimundo da Mota de Azevedo Correia,
escritor, poeta, magistrado e
diplomata, e professor de Direito em
Ouro Preto (MG), nasceu em 13 de
Maio de 1859 a bordo do navio a
vapor São Luís, na baía de Mogunça,
Maranhão onde viveu até 1911. Morreu
em Paris a 14 de Setembro de 1911,
para onde seguira em tratamento de
saúde. Filho do desembargador José
Mota de Azevedo Correia, descendente
dos Duques de Caminha (*) , e Maria
Clara Vieira da Silva.
Vindo a família para a Corte, o
pequeno Raimundo foi matriculado no
Internato do Colégio Nacional, hoje
Pedro II, onde concluiu os estudos
preparatórios em 1876. No ano
seguinte, matriculou-se na Faculdade
de Direito de São Paulo. Ali
encontrou um grupo de rapazes entre
os quais estavam Raul Pompéia,
Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso
Celso, Augusto de Lima, Valentim
Magalhães, Fontoura Xavier e Silva
Jardim, todos destinados a ser
grandes figuras das letras, do
jornalismo e da política brasileira.
Vindo do Romantismo "Primeiros
Sonhos", sofreu uma evolução
espiritual e estética que fez dele
um acabado parnasiano: formou,
juntamente com Olavo Bilac e com
Alberto de Oliveira, a famosa
"trindade parnasiana". De um modo
geral, a sua poesia é falha de
originalidade, sendo nela bem
visíveis os rastos de Lecomte de
Lisle, Gautier, Vítor Hugo,
Baudelaire, Ackermann, Heine, Lenau,
Bocage, Antero, quer a nível da
temática, quer nos recursos
expressivos e na técnica de
composição, mas, por vezes, consegue
superar os modelos, incorporando as
influências recebidas em acabadas
obras-primas de cunho nitidamente
pessoal. A sua linguagem poética,
geralmente clara, precisa,
encantatória, torna-se, por vezes,
pesada, barroca, semeada de
preciosismos. Do ponto de vista
formal, insere-se na linhas dos
grandes sonetistas. Compôs ainda
algumas peças do mais acabado
simbolismo, como é o caso do seu
belíssimo poema "Plenilúnio", mas
não há dúvida que a melhor produção
do Autor é constituída pelos seus
sonetos parnasianos. As suas obras
principais: "Primeiros Sonhos" em
1879; "Sinfonias", em 1883; "Versos
e Versões", em 1887; "Aleluias", em
1891; "Poesias", de 1898; "Poesias
Completas" (2 volumes), em 1948.
As
pombas - Raimundo Correia
Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim
dezenas
De
pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia
sanguínea e fresca a madrugada…
E à
tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas,
serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as
penas,
Voltam todas em bando e em revoada…
Também dos corações onde abotoam,
Os
sonhos, um por um, céleres voam,
Como
voam as pombas dos pombais;
No
azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas
voltam,
E
eles aos corações não voltam mais…
(*)
A Lenda do Duque de Caminha - por
Carlos Leite Ribeiro
Recordamos que "Penedo da Saudade"
existem dois: um romântico situado
em Coimbra, voltado para o vale do
Calhabé, e o outro em S. Pedro de
Moel. É deste que vamos contar a
Lenda.
Contrariamente ao que possam
imaginar, não vamos falar da Rainha
Santa Isabel, da sua mantilha, nem
das lágrimas de esposa traída pelo
seu rei e senhor D. Dinis o
"Lavrador", que gozava de fama (e
talvez proveito) de ser uma grande
sedutor.
O
drama de que vamos falar (lenda),
respeita aos Duques de Caminha: D.
Miguel Luís Meneses e de sua esposa
D. Juliana.
Este
feliz casal vivia uma vida muito
recatada no seu palácio, afastado do
bulício e das intrigas da Corte e da
política bem efervescente naquele
ano de 1641.
Mas
...
Certo dia foram surpreendidos por um
dos seus criados que anunciou a
chegada do senhor Marquês de Vila
Real, pai de D. Miguel de Meneses.
D.
Juliana teve logo o presságio de que
algo de grave se tratava, dado que
se levantou empalecida. Em vão seu
esposo, D. Miguel, tentava acalmar
sua amantíssima esposa. Entretanto,
mandou entrar seu pai.
Não
obstante o desejo do Marquês falar a
sós com seu filho, este insistiu
para que a esposa ficasse presente.
"Seja !" - concordou por fim o
Marquês de Vila Real. O seu aspecto
era grave o que deixou o casal ainda
mais inquieto. D. Miguel quis saber
da visita de seu pai: "O que se
passa, senhor meu pai ?...
Este
encarou bem de frente o filho e
retorquiu-lhe: "Senhor Duque de
Caminha e meu filho, chegou a hora
de el-rei D. João lV pagar a sua
tirania ! A conspiração está
organizada e, dela fazem parte o
arcebispo-primaz, o Conde de
Armamar, D.Agostinho de Vasconcelos,
eu e vós !".
Muito surpreendido, D. Miguel que
não havia sido anteriormente
consultado, tentou não fazer parte
da conjura: "Não meu pai !".
O
velho fidalgo quase que fuzilou o
filho com o olhar: "E se vos der uma
ordem ?... não deveis trair-nos !".
D. Juliana assistia atónica e
horrorizada ao diálogo trágico
travado entre seu sogro e o seu
marido.
Cabisbaixo e bastante consternado,
D. Miguel, não tendo outra
alternativa, decidiu ser um dos
conjurados.
D.
Juliana, perante a louca decisão de
seu amado esposo, caiu desmaiada num
canapé, onde, momentos antes
partilhava as carícias do esposo que
tanto amava.
Gorada a conjura, feitos
prisioneiros todos os conjurados,
entre os quais estava o Duque de
Caminha, foram encarcerados na
fortaleza de S. Vicente de Belém
(Torre de Belém - Lisboa).
Aí,
no silêncio da noite, estendido nas
palhas putrefactas do cárcere, D.
Miguel tomou noção da sua fraqueza
em ter acedido às ordens de seu pai
! Tomou então a decisão de escrever
a el-rei pedindo-lhe perdão - mas em
vão. D. Juliana também implorou a
el-rei o perdão para o marido - mas
também sem o conseguir.
D.
Miguel de Meneses subiu ao cadafalso
e com a morte pagou a fidelidade que
o ligava a seu pai.
Inocente ?... Culpado ?... a decisão
fora sua !
Para
o povo, ele estaria inocente e pagou
pelo crime do pai.
Refugiada em S. Pedro de Moel, a
Duquesa de Caminha, ia todos os dias
chorar as suas desgraças num penedo
solitário. Os soluços que se
soltavam de seu peito e as suas
lágrimas, misturavam-se com as ondas
do mar e foram-se espalhando, qual
balada trágica, por esse mundo fora.
Perante tamanha dor, o povo de S.
Pedro de Moel, passou a chamar
àquele rochedo, o Penedo da Saudade.
E
assim fez-se lenda ...
Carlos Leite Ribeiro – escrito em
1986
Parnasianismo
"O
Parnasianismo foi vítima da
inteligência que construiu a prisão
onde quis encarcerar o poeta." -
Rubens B. Morais
Originariamente da França, é a
poesia que segue os princípios da
estética realista. Apesar disso,
ideologicamente os romancistas
realistas e naturalistas não tinham
exatamente os mesmos propósitos da
manifestação poética desta época.
O
movimento recebe esse nome por causa
de uma antologia, Parnasse
Contemporain, publicada a partir de
1866, na França, essa incluía poema
de T. Gautier, de Lecomte de Lisle e
outros. Esses poemas revelavam gosto
da descrição nítida, metrificação
tradicional, preocupação formal e um
ideal de impessoalidade. Embora
acompanhe cronologicamente a prosa
realista, a poesia parnasiana
apresenta dificuldades na definição
de seu marco inicial. Há quem sugira
a data de 1880, quando da publicação
de Sonetos e Rimas de Luís Guimarães
Júnior (1845/1898). Outros, no
entanto, preferem assinalar a de
1882, quando Teófilo Dias publicou
Fanfarras. Mas o movimento só se
definiu realmente a partir de
Sinfonias (1883) de Raimundo
Correia, seguida de Meridionais
(1884), de Alberto de Oliveira e de
Poesias (1888) de Olavo Bilac.
Quanto à data que marca o fim de seu
domínio absoluto, parece não haver
polêmicas: 1893, com a publicação de
Missal e de Broquéis de Cruz e Souza
é bastante aceita. Mas a morte do
Parnasianismo não acontece, tanto
que algumas obras surgem após 1922).
Características: -
postura anti-romântica
objectividade temática
arte pela arte
culto da forma - representada pelos
sonetos, versos alexandrinos (12
sílabas poéticas, rima rica, rara e
perfeita)
tentativa de atingir a
impassibilidade e a impessoalidade
universalismo
descrições objectivas da natureza e
de objectos
retomada da Antiguidade Clássica com
seu racionalismo e formas perfeitas
surge a poesia de meditação,
filosófica - mas artificial
A
preocupação exagerada com o poema,
tratando-o como produto concreto,
final, acabado em que se deposita
toda a importância; o afã na
construção do objecto, deixando de
lado o conteúdo, o sentimento
poético, tudo isso parece um reflexo
do processo de produção mecânica
acelerada em que a época vivia,
transformando até o próprio homem em
mais um objecto de consumo.
O
poeta é um ourives, um escultor, um
carpinteiro, e a sua obra, o seu
poema é também um produto material,
como qualquer outro, onde o que
importa não é o sentimento, mas sim
a técnica, a capacidade artesanal do
criador devidamente associada a seu
esforço.