Vinícius de Moraes, nasceu no Rio de Janeiro a 19 de Outubro de
1913. Licenciou-se em Direito, tendo mais tarde, em 1943,
ingressado na vida diplomática.
Anteriormente fora crítico e censor cinematográfico e
frequentara a Universidade de Oxford (Inglaterra) em 1938, como
bolseiro. Pertenceu à segunda camada do Modernismo brasileira, à
chamada “geração de 30”, tendo tido grande influência nos
ulteriores movimentos poéticos. Poeta do amor, da mulher, da
morte e da Lua, Marcus Vinícius de Mello de Moraes é também o
poeta da irreverência e foi uma das figuras mais populares do
mundo da música popular brasileira.
Receita de mulher - Vinícius de Moraes
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na
República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um
rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro
minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e
desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras
cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o
pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas
pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem
saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco
velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo
volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de
suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É
aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no
dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura
nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar
queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta,
não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos
fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale
sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação
imunerável.
(Vinícius de Moraes)
A sua poesia, inicialmente transcendental e mística, caminha
progressivamente no sentido de uma agudização da consciência
social, mas de forma tumultuosa e com recorrência.
Sua Obra
Poesia: O caminho para a distância (1933); Forma e exegese
(1935); Ariana, a mulher (1936); Novos poemas (1938); Cinco
elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946); Livro de
sonetos (1957); Novos poemas II (1959); O mergulhador (1965); A
arca de Noé (1970).
Prosa: O amor dos homens (1960); Para viver um grande amor
(1962) e Para uma menina com uma flor (1966) - crônicas.
Teatro: Orfeu da Conceição (1955); Pobre menina rica (1962) - em
parceria com Carlos Lyra.
Vinícius já estava no terceiro de seus dez casamentos quando
saiu o disco Canção do amor demais, com músicas dele e de Jobim;
nesse disco ouvia-se, pela primeira vez, a batida da bossa-nova
no violão de João Gilberto, acompanhando a - cantora Elizete
Cardoso na música "Chega de saudade", marco inicial do
movimento. "Garota de Ipanema", de 1962, é a música brasileira
mais gravada no mundo até hoje. Desligado do Itamarati, dedicou
o resto de sua vida à música, ao cinema e a shows, tornando-se
um dos mais populares compositores do Brasil.
Vinícius de Moraes
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, ou Vinícius de Moraes,
(Rio de Janeiro, 19 de Outubro de 1913; Rio de Janeiro, 9 de
Julho de 1980) foi um diplomata, jornalista, poeta e compositor
brasileiro.
Poeta essencialmente lírico, o "poetinha" (como ficou conhecido)
notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou
quase associada ao seu nome. Conhecido por também ser boémio
inveterado, fumante e apreciador do uísque, Vinícius também era
conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se
por nove vezes ao longo de sua vida.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e
música. No campo musical, o poetinha teve como principais
parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.
Biografia:
Filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes (funcionário da
Prefeitura, poeta e violonista amador) e Lidia Cruz de Moraes
(pianista amadora), Vinícius de Moraes nasceu no bairro da
Gávea, na então capital brasileira, em 1916 mudou-se com a
família para Botafogo, onde estudou na Escola Primária Afrânio
Peixoto - onde escreveu seus primeiros versos. Em 1922, a
família de Vinícius mudou-se para a Ilha do Governador, mas ele
permaneceu com a avô, a fim de terminar o curso primário. Em
finais de semana durante os períodos de férias, os pais de
Vinícius costumavam receber em casa a presença de Henrique de
Melo Moraes, tio de Vinícius, e do compositor Bororó.
Vinícius de Moraes ingressou no Colégio Santo Inácio em 1924,
onde passou a cantar no coro e começou a montar pequenas peças
de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Paulo e
Haroldo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras
composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929,
concluiu o ginásio e sua família voltou a morar na Gávea. Nesse
mesmo ano, ingressou na "Faculdade de Direito do Catete", onde
conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o
incentivou na vocação literária. Vinícius de Moraes graduou-se
em Direito em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico
junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos depois,
Vinícius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para
estudar língua e literatura inglesas em Oxford. Em 1941,
retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no
jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista
"Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o
Itamaraty. No ano seguinte, concorreu novamente e desta vez foi
aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como
vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950,
Vinícius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinícius
actuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava
realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque
de Holanda.
Além da carreira diplomática, de onde actuou até o final de
1968, Vinícius começou a se tornar prestigiado com sua peça de
teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia,
do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a
deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu
Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de
suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década
seguinte, Vinícius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no
qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria.
Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell,
Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o
violonista Toquinho, Vinícius seguiu lançando álbuns e livros de
grande sucesso.
O começo:
No final dos anos 1920, Vinícius de Moraes produziu letras para
dez canções gravadas - nove delas parcerias com os Irmãos
Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928,
quando compôs (com Haroldo) "Loura ou Morena", gravado em 1932
pela dupla de irmãos. Vinícius teve publicado seu primeiro livro
de poemas, "O Caminho para a Distância", em 1933, e lançou
outros livros de poemas nessa década. Foram também gravadas
outras canções de sua autoria, como "Dor de uma Saudade"
(composta com Joaquim Medina), gravada em 1933 por João Petra de
Barros e Joaquim Medina, "O Beijo Que Você Não Quis Dar"
(composta com Haroldo Tapajós) e "Canção da Noite" (composta com
Paulo Tapajós), ambas gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e
também "Canção para Alguém" (composta com Haroldo Tapajós),
gravada pelos mesmos um ano depois.
Ainda na década de 1930, Vinícius de Moraes estabeleceu amizade
com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de
Andrade. Em sua fase considerada mística, ele recebeu o "Prémio
Felipe D'Oliveira" pelo livro "Forma e Exegese", de 1935. No ano
seguinte, lançou o livro "Ariana, a Mulher".
Mudança de fase:
Nos anos 1940, suas obras literárias foram marcadas por versos
em linguagem mais simples, sensual e, por vezes, carregados de
temas sociais. Vinícius de Moraes publicou os livros "Cinco
Elegias" (1943), que marcou esta nova fase, e "Poemas, Sonetos e
Baladas" (1946) -obra ilustrada com 22 desenhos de Carlos Leão.
Actuando como jornalista e crítico de cinema em diversos
jornais, Vinícius lançou em 1947, com Alex Vianny, a revista
"Filme". Dois anos depois, publicou em Barcelona o livro "Pátria
Minha".
De volta ao Brasil no início dos anos 1950, após servir ao
Itamaraty nos Estados Unidos, Vinícius começou a trabalhar no
jornal "Última Hora", exercendo funções burocráticas na sede do
Ministério das Relações Exteriores.
Em 1953, Aracy de Almeida gravou "Quando Tu Passas Por Mim",
primeiro samba de sua autoria. Escrita com António Maria, a
canção foi dedicado à esposa Tati de Moraes -e marcava também o
fim do seu casamento. Ainda naquele ano, Vinícus foi para Paris
como segundo secretário da embaixada brasileira. Aracy de
Almeida também gravou "Dobrado de Amor a São Paulo" (outra
parceria com António Maria), em 1954.
"Orfeu" e o amigo "Tom":
Também naquele ano, sua peça teatral "Orfeu da Conceição" foi
premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo e publicada
na revista "Anhembi". No ano seguinte, publicou sua "Antologia
Poética".
Em 1956, Vinícius montou esta peça, desta vez com cenário de
Oscar Niemeyer e a música de um jovem pianista, que lhe foi
apresentado por Lúcio Rangel no Bar Gouveia (em frente à
Academia Brasileira de Letras): António Carlos Brasileiro de
Almeida Jobim. Desse encontro, nasceria uma das mais fecundas
parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente.
Os dois compuseram a trilha sonora, que incluía "Lamento no
Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher",
"Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em disco
por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra]]. A peça estreou no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além destas canções, a dupla
Vinícius e Tom compuseram, entre outros clássicos, "A
Felicidade", "Chega de Saudade", "Eu Sei Que Vou Te Amar",
"Garota de Ipanema", "Insensatez"', entre outras belas canções.
Entre 1957 a 1958, o director de cinema francês Marcel Camus
filmou, no Rio de Janeiro, "Orfeu do Carnaval" -que recebeu o
nome de "Orfeu Negro". Vinícius compôs para o filme "A
Felicidade" e "O Nosso Amor". Um ano depois, o filme seria
contemplado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes
e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 1957, o poeta teve sua carreira diplomática transferida para
Montevideu, onde permaneceu por três anos.
A Bossa Nova:
O ano de 1958 marcaria o início de um dos movimentos mais
importantes da música brasileira, a Bossa Nova. A pedra
fundamental do movimento veio com o álbum "Canção do Amor
Demais", gravado pela cantora Elizeth Cardoso. Além da
faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções
de autoria da dupla Vinícius e Tom, como "Luciana", "Estrada
Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade", em interpretações
vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquela novo
movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a
participação de um jovem violonista, que com seu inovador modo
de tocar o violão, caracterizado por uma nova batida, marcaria
definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo
inteiro a partir dali. O nome deste violonista é chamado João
Gilberto. A importância do disco "Canção do Amor Demais" é
tamanha que ele é tido como referência por muitos artistas como
Chico Buarque e Caetano Veloso.
Várias das composições de Vinícius foram gravadas na metade
final daquela década por outros artistas. Joel de Almeida gravou
"Loura ou Morena" (1956). No ano seguinte, Aracy de Almeida
gravou "Bom Dia, Tristeza" (composta com Adoniran Barbosa), Tito
Madi gravou "Se Todos Fossem Iguais A Você", Bill Farr gravou
"Eu Não Existo Sem Você", Agnaldo Rayol gravou "Serenata do
Adeus" e Albertinho Fortuna gravou "Eu Sei Que Vou Te Amar". "O
Nosso Amor" e "A Felicidade" foram duas das canções mais
lançadas no final daquela década. A primeira foi gravada por
Lueli Figueiró e Diana Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi
lançada por Lueli Figueiró, Lenita Bruno, Agostinho dos Santos e
João Gilberto.
Servindo ao Itamaraty em Montevideu desde 1957, Vinícius de
Moraes deixaria a embaixada brasileira no Uruguai somente em
1960. Suas canções continuaram sendo gravadas por muitos
artistas no início dos anos 1960. Foram lançadas "Janelas
Abertas" (composta com Tom Jobim), por Jandira Gonçalves, e
"Bate Coração", (composta com António Maria), por Maria Porto de
Aragão, ambas em 1960.
Novas parcerias:
No ano seguinte, Vinícius registrou pela primeira vez sua voz,
em um álbum contendo os sambas "Água de Beber" e "Lamento no
Morro", novamente parcerias com Tom Jobim. O poeta teria também
um novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e
violonista Carlos Lyra. Com ele, Vinícius iria compor clássicos
como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda" "Primeira Namorada" e "Nada
Como Te Amar". Ainda em 1961, o "Teatro Santa Rosa" foi
inaugurado no Rio de Janeiro com "Procura-se uma rosa", peça de
autoria de Vinícius, Pedro Bloch e Gláucio Gil - filmada depois
pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per Tutti" (o
longa-metragem foi rodado no Rio e estrelado por Cláudia
Cardinale).
Em 1962, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou
"Serenata do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores",
marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de "Jesus, Alegria
dos Homens", de Johann Sebastian Bach. Ainda naquele ano,
enquanto "Canção da Eterna Despedida" (composta com Tom Jobim)
"Em Noite de Luar" (composta com Ary Barroso) foram gravadas por
Orlando Silva e Ângela Maria, respectivamente, Vinícius de
Moraes publicou três livros: "Antologia Poética", "Procura-se
Uma Rosa" e "Para Viver Um Grande Amor".
Com Pixinguinha, compôs a trilha sonora do filme "Sol sobre a
Lama", de Alex Vianny, escrevendo as letras para os chorinhos
"Lamento" e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a
parceria com o compositor e violonista Baden Powell. Desta,
resultariam inúmeros sucessos, como "Apelo", "Canção de Amor",
"Canto de Ossanha", "Formosa", "Mulher Carioca" "Paz", "Pra Que
Chorar", "Samba da Bênção", "Samba Em Prelúdio", "Só Por Amor",
"Tem Dó", "Tempo Feliz", entre outras.
Em Agosto de 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo Os
Cariocas, Vinícius de Moraes participou de "Encontro", um dos
mais importantes concertos da bossa nova e realizado na boate "Au
Bon Gourmet", no Rio de Janeiro. Neste show, foram lançadas
clássicos da música popular brasileira como "Ela é Carioca",
"Garota de Ipanema", "Insensatez", "Samba do Avião" e "Só Danço
Samba". Naquela mesma casa nocturna foi montada "Pobre Menina
Rica", mais uma peça do poeta, cuja trilha sonora trazia canções
como "Sabe Você", "Primavera" e "Samba do Carioca" (lançando a
cantora Nara Leão), ambas parcerias com Carlos Lyra. Ainda
naquele ano, Vinícius comporia com Lyra "Marcha da Quarta-feira
de Cinzas" e a bela "Minha Namorada".
Várias daquelas seriam gravadas em 1963. Jorge Goulart gravou
"Marcha da Quarta-feira de Cinzas", Elizeth Cardoso gravou
"Mulher Carioca" e "Menino Travesso" (composta com Moacir
Santos), Elza Soares gravou "Só Danço Samba", Pery Ribeiro e o
Tamba Trio gravaram "Garota de Ipanema" e Jair Rodrigues gravou
"O Morro Não Tem Vez" (composta com Tom Jobim).
Naquele mesmo período, Vinícius de Moreas lançou com a actriz
Odete Lara seu primeiro álbum: "Vinícius e Odete Lara". Com
arranjos e regência do poeta Moacir Santos, o LP continha
canções da parceria com Baden Powell, como "Berimbau", "Mulher
Carioca", "Samba em Prelúdio" e "Só por Amor", entre outras.
Ainda em 1963, o selo Copacabana lançou o álbum "Elizeth
Interpreta Vinícius", contendo as parcerias do poetinha com
Baden Powell, Moacir Santos (e arranjos deste), Nilo Queiroz e
Vadico.
Retorno ao Brasil:
Em 1964, Vinícius retornou ao Brasil e logo se apresentou na
boate "Zum Zum", ao lado de Dorival Caymmi, Quarteto em Cy e o
Conjunto de Oscar Castro Neves. O concerto teve grande
repercussão nos meios artísticos e foi lançado em LP pelo selo
Elenco, contendo composições como "Bom-dia, Amigo" (parceria com
Baden Powell), "Carta a Tom", "Dia da Criação" e "Minha
Namorada" (parcerias com Carlos Lyra), e "Adalgiza", "...Das
Rosas", "História de Pescadores" e "Saudades da Bahia"
(parcerias com o cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi).
Duas canções de Vinícius de Moraes concorreram, em 1965, o "I
Festival Nacional de Música Popular Brasileira" (da extinta TV
Excelsior). "Arrastão" (composta com Edu Lobo), defendida por
Elis Regina, ficou com o primeiro lugar, e "Valsa do Amor que
Não Vem" (parceria com Baden Powell), defendida por Elizeth
Cardoso, ficou com o segundo lugar. Também com o arranjador,
cantor e instrumentista Edu Lobo, Vinícius compôs "Zambi" e
"Canção do Amanhecer" - canções que se engajaram no clima de
protesto da época e foram apresentadas em projetos do Centro
Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Por
um breve período, Vinícius foi designado para trabalhar na
delegação do Brasil junto à Unesco, na Europa. O poeta também
trabalhou com o director Leon Hirszman no roteiro do filme
"Garota de Ipanema", voltou a se apresentar no Zum Zum com
Dorival Caymmi e lançou o livro "Cordélia e o Peregrino".
Ainda em 1965, o Teatro Municipal de São Paulo foi o palco de
uma homenagem para o poetinha, com o show "Vinícius: Poesia e
Canção", espectáculo que contou com a participação da Orquestra
Sinfónica de São Paulo (sob a regência do maestro Diogo
Pacheco). As composições apresentadas receberam arranjos dos
maestros Guerra Peixe, Radamés Gnattali, Luiz Eça, Gaya e Luiz
Chaves e contou com intérpretes com Carlos Lyra, Edu Lobo,
Suzana de Morais, Francis Hime, Paulo Autran, Cyro Monteiro e
Baden Powell. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se
Todos Fossem Iguais A Você", a plateia respondeu com 10 minutos
ininterruptos de aplausos.
Em 1966, foi lançado o álbum "Afro Sambas", com suas composições
em parceria com Baden Powell. Constam do repertório do disco
"Canto de Ossanha", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá" e
"Lamento de Exu", entre outras, além da participação de Powell
tocando violão. Naquele mesmo período, Vinícius participou do
concerto "Pois É", no Teatro Opinião, , ao lado de Maria
Bethânia e Gilberto Gil. No espectáculo dirigido pelo
arranjador, compositor, maestro e pianista Francis Hime, o
público carioca conheceu pela primeira vez as músicas do
Gilberto Gil. Ainda naquele ano, o poetinha lançou o livro de
crónicas "Para Uma Menina Com Uma Flor" e também foi convidado a
participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu
que sua canção "Samba da Bênção" havia sido utilizado, sem os
devidos créditos, na trilha sonora do filme "Um Homem e Uma
Mulher", do director francês Claude Lelouch, vencedor do
festival. Após uma ameaça de processo, a obra de Lelouch
creditou a música de Vinícius. O ano de 1967 marcou a estreia do
filme "Garota de Ipanema", baseado no sucesso homónimo de
Vínicius. É a canção brasileira mais conhecida no mundo depois
de "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso). Ainda naquele período,
o poetinha organizou um festival de artes em Ouro Preto e
excursionou para a Argentina e o Uruguai.
Aposentadoria compulsória:
Durante 1968, Vinícius de Moraes participou de shows em Lisboa,
na companhia de Chico Buarque e Nara Leão. Também naquele ano, a
convite do crítico Ricardo Cravo Albin, Vinícius prestou
histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som (de onde
era membro do Conselho Superior de MPB).
Mas o ano de 1968 marcou o fim da carreira diplomática de
Vinícius de Moraes. Após de 26 anos de serviços prestados ao
Itamaraty, Vinícius foi aposentado pelo Ato Institucional 5,
fato que o magoou profundamente. No dia em que o ato era
editado, Vinícius encontrava-se em Portugal onde realizava um
concerto. Após este show, estudantes salazaristas estavam
aglomerados na porta do teatro para protestar contra o poeta.
Avisado disto e aconselhado a se retirar pelos fundos do teatro,
o poetinha preferiu enfrentar os protestos e, parando diante dos
manifestantes, começou a declamar "Poética I" ("De manhã
escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo"). Então,
um dos jovens tirou a capa do seu traje académico e a colocou no
chão para que Vinícius pudesse passar sobre ela — acto imitado
pelos outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma
tradicional de homenagem académica.
Em 1969, Vinícius de Moraes publicou o livro "Obra Poética" e se
apresentou ao lado de Maria Creuza e Dorival Caymmi em Punta del
Este. O poetinha também fez recital na Livraria Quadrante, em
Lisboa, apresentando, entre outros, os poemas "A Uma Mulher", "O
Falso Mendigo", "Sob o Trópico de Câncer" (no qual trabalhou
durante nove anos) e "Soneto da Intimidade". O evento foi
gravado ao vivo e lançado em LP pelo selo Festa. Ainda naquele
ano, Vinícius fez apresentações em Buenos Aires, ao lado de
Caymmi, Baden Powell, Quarteto em Cy e Oscar Castro Neves.
Parceria com Toquinho:
Naquele mesmo período, iniciou suas primeiras composições com um
novo parceiro, o violonista Toquinho. Desta parceria, viriam
clássicos como "Como Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e
"Testamento".
Em 1970, Vinícius se apresentou na a casa de espectáculo carioca
Canecão, com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a
cantora Miúcha. O show, que relembrou a trajectória do poeta,
ficou quase um ano em cartaz devido ao grande sucesso obtido.
Outra apresentação marcante de Vinícus de Moraes, ao lado de
Toquinho e da cantora Maria Creuza, foi em Buenos Aires, na
boate La Fusa. O antológico concerto resultaria no LP ao vivo
"Vinícius En La Fusa", uma das mais belas jóias gravadas ao vivo
da música brasileira. No repertório, interpretado de modo
espectacular pela cantora baiana, estavam entre outras "A
Felicidade", "Garota de Ipanema", "Irene", "Lamento no Morro"
"Canto de Ossanha" (canção muita aplaudida pela plateia
argentina), "Samba em Prelúdio", "Eu Sei Que Vou Te Amar"
(canção que contou ainda com a declamação do poetinha de "Soneto
da Fidelidade", para delírio do público argentino), "Minha
Namorada" e "Se Todos Fossem Iguais A Você", que encerrou o
magnífico concerto. No ano seguinte, Vinícius voltou a Fusa para
gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez
com a cantora Maria Bethânia nos vocais. Neste álbum estão
presentes canções com "A Tonga da Mironga do Kabulete",
"Testamento" e "Tarde em Itapoã". Também em 1971, assinou com
Chico Buarque, sobre antigo choro de "Garoto", a canção "Gente
Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e, pouco
depois, por Ângela Maria.
A parceria Vinícius/Toquinho excursionou por várias cidades
brasileiras e também pelo exterior. Ainda em 1971, a dupla
lançou seu primeiro LP de estúdio, com destaque para "Maria Vai
com as Outras", "Morena Flor", "A Rosa Desfolhada" e
"Testamento". Em 1972, eles lançaram o álbum "São Demais os
Perigos Dessa Vida", contendo - além da faixa-título - grandes
sucessos como "Quotidiano nº 2", "Para Viver Um Grande Amor" e
"Regra três". Com Toquinho, também compôs a trilha sonora da
telenovela "Nossa Filha Gabriela" (da extinta TV Tupi),
registrada em disco naquele mesmo ano. No ano seguinte, a dupla
se apresentou no show "O Poeta, a Moça e o Violão", com a
cantora Clara Nunes no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Em 1974, Vinícius e Toquinho compuseram "As Cores de Abril" e
"Como É Duro Trabalhar", ambas incluídas na trilha sonora da
novela "Fogo Sobre Terra" (da Rede Globo). Naquele mesmo ano, a
parceria lançou o álbum "Toquinho, Vinícius e Amigos". O disco
teve as participações de Maria Bethânia (em "Apelo" e "Viramundo")
, Cyro Monteiro ("Que Martírio" e "Você Errou", últimas
gravações deste cantor), Maria Creuza ("Tomara" e "Lamento no
Morro"), Sergio Endrigo ("Poema Degli Occhi" e "La Casa") e
Chico Buarque ("Desencontro"). Ainda naquele ano, a dupla lançou
"Vinícius e Toquinho", quarto álbum de estúdio da parceria, que
trazia composições de autoria deles, como "Samba do Jacto", "Sem
Medo" e "Tudo Na Mais Santa Paz", e ainda "Samba pra Vinícius",
homenagem ao poetinha de Toquinho e Chico Buarque, que fez uma
participação especial no disco.
Em 1975, Vinícius do Moraes lançou o álbum "O Poeta e o Violão".
Gravado em Milão, o LP teve a participação especial dos maestros
Bacalov e Bardotti. No mesmo ano, a gravadora Philips lançou o
álbum "Vinícius e Toquinho". Deste LP, destaca-se "Onde Anda
Você" - parceria com Hermano Silva e que alcançou grande
sucesso. Ainda naquele ano, Vinícius lançou o livro de poemas
infantis "A Arca de Noé". Foram lançados em no ano seguinte os
álbuns "Ornella Vanoni, Vinícius de Moraes e Toquinho - La
voglia/ La pazzia/ L'inconscienza/ L'allegria" e "Deus lhe
Pague" - este com as composições da parceria Vinícius e Edu
Lobo.
Vinícius teve publicado, em 1977, o livro "O Breve Momento", com
15 serigrafias de Carlos Leão. Naquele ano, o selo Philips
lançou o álbum "Antologia Poética", uma selecção da obra poética
do poetinha e que teve a participação especial de Tom Jobim,
Francis Hime e Toquinho. A gravadora Som Livre disponibilizou no
mercado o LP "Tom, Vinícius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no
Canecão". Em 1978, foi lançado o álbum "Vinícius e Amália",
disco gravado em Lisboa com a cantora portuguesa Amália
Rodrigues. Naquele mesmo ano, foi editado o álbum "10 Anos de
Toquinho e Vinícius" - uma colectânea de uma década de trabalhos
da dupla. Em 1980, foi lançado o álbum "Arca de Noé", que trouxe
diversos intérpretes para as composições infantis do poeta,
musicadas a partir do livro homónimo. O disco gerou um especial
infantil na Rede Globo, naquele mesmo ano.
A morte do poetinha
Morte:
Na noite de 8 de Julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho
das canções do "Arca de Noé", Vinícius alegou estar cansado e
foi tomar um banho. Toquinho foi dormir. Na madrugada do dia 9
de julho, Vinícius foi acordado pela empregada, que o encontrara
na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho
foi ao seu socorro, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do
poeta) mas não houve tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moraes
morreria na manhã seguinte, 9 de Julho.
No enterro, consolada por Elis Regina, Gilda recordava da noite
anterior, quando, em uma entrevista, perguntaram a Vinícius:
"Você está com medo da morte?". E o poeta, placidamente,
respondeu: "Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte.
Estou é com saudades da vida".
Mesmo após a morte, a obra musical de Vinícius manteve-se
prestigiada na música brasileira. Foram lançados os álbuns
"Toquinho, Vinícius e Maria Creuza - O Grande Encontro" (1988) e
"A História dos Shows Inesquecíveis - Poeta, Moça e Violão:
Vinícius, Clara e Toquinho" (1991), além de terem sido lançados
livros sobre o poeta, como "Vinícius de Moraes - Livro de
letras" (1993), de José Castelo, "Vinícius de Moraes" (1995),
também de José Castelo, "Vinícius de Moraes" (1997), de Geraldo
Carneiro (uma edição ampliada do livro publicado em 1984). Ainda
em 1993, Almir Chediak editou os três volumes do "Songbook
Vinícius de Moraes".
Por ocasião dos 20 anos da morte do poeta, em 2000, a Praia de
Ipanema foi o palco de um show em homenagem a Vinícius, que
contou com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira,
Roberto Menescal, Wanda Sá, Zimbo Trio, Os Cariocas, Emílio
Santiago e Toquinho, interpretando composições de sua autoria.
Em 2003, ano em que o poeta completaria seu 90º aniversário,
foram lançados vários projetos em tributo à sua criação
artística. Também foi lançado o website do oficial de Vinícius.
Em 2005, "The Girl from Ipanema", versão em inglês de "Garota de
"Ipanema", de Astrud Gilberto, Tom Jobim, João Gilberto e Stan
Getz, realizada em 1963, foi escolhida como uma das 50 grandes
obras musicais da Humanidade pela Biblioteca do Congresso
Americano. Ainda em 2005, estreou, na abertura da sétima edição
do "Festival do Rio", o documentário "Vinicius", dirigido por
Miguel Faria Jr e produzido por Suzana de Moraes, filha do
poeta, com a participação de Chico Buarque, Carlos Lyra, Caetano
Veloso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Mariana de Morais e
Olívia Byington, entre outros convidados. A trilha sonora do
filme foi lançada em CD.
Em 2006, foi lançada a caixa "Vinicius de Moraes & Amigos", com
cinco álbuns do poetinha, contendo 70 canções compiladas de
fonogramas gravados por vários intérpretes e pelo próprio
Vinícius (solo ou em dueto. A caixa incluiu ainda um livreto com
a biografia do homenageado e as letras de todas as canções.
A Garota de Ipanema
A verdadeira Garota de Ipanema (por Vinicius de Moraes)
"Seu nome é Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mas todos a
chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava, ali no
cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da
praia, e nós a achávamos demais. Do nosso posto de observação,
no Veloso, enxugando a nossa cervejinha, Tom e eu emudecíamos à
sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para
facilitar-lhe o divino balanço do andar.
E lá ia ela toda linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no
percurso a geometria espacial do seu balanceio quase samba, e
cuja fórmula teria escapado ao próprio Einstein; seria preciso
um António Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e
religiosa intimidade, a revelação do seu segredo.
Para ela fizemos, com todo o respeito e mudo encantamento, o
samba que a colocou nas manchetes do mundo inteiro e fez de
nossa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvintes
estrangeiros.
Ela foi e é para nós o paradigma do bruto carioca; a moça
dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça mas
cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do
mar, o sentimento do que passa, da beleza que não é só nossa - é
um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir
constante.
GAROTA DE IPANEMA
Letra: Vinicius de Moraes
Música: Tom Jobim
Existem mais de duas mil versões registadas
Olha que coisa mais linda mais cheia de graça
É ela a menina que vem e que passa
um doce balanço caminho do mar
Moça de corpo dourado do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
E que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor
Por causa do amor...
Procura-se um amigo - Vinícius de Moraes
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos,
basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber
ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de
sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve
ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de
não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os
passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que
seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os
amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja
todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo
de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande
vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu
principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das
pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve
gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se
comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas
simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de
infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para
contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios
e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de
ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira
de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não
porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se
de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado
no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos
ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para
ter-se a consciência de que ainda se vive.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal
Fundo
Musical:
Onde Anda
Você
Intérprete:
Vinicius de
Moraes
Composição:
Toquinho/Vinicius
de
Moraes/Hermano
Silva
E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou louco de tanto prazer
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
Onde a gente ficava,onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares,que apesar dos pesares,
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver,
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
A onde anda você?