IGARAPÉ
Os sonhos deslizam e se escondem
nas águas d'algum igarapé,
adentrando a mata escura
dos mistérios duma amazônica fé.
... Um curso d'água perdido,
nas sombras de tantas lembranças,
lado escuro da vida,
que abriga a alma criança.
E a canoa solitária desliza
no verde espelho do rio,
na margem onde a Iara espia
a imagem de seu próprio seio
Lânguida e nua adormece,
nas águas d'algum devaneio.
Marcia Tigani_2013

Nome: Mardilê Friedrich Fabre
Novos Tempos
O horizonte abre suas portas
Para novos tempos de luz
Que percorrem os acasos das horas
Sem atingir nem o perto,
Nem o distante.
Perpassam a ilha do silêncio
E sem interromper sua travessia,
Vão sempre em frente.
Seu intento é encontrar
O círculo das quimeras azuis
Que se formou nos entremeios da utopia
E agora há que rompê-las
Para difundir a felicidade escondida
Atrás de um sorriso dissimulado.
É preciso dissipar o engano
E vestir a monotonia com o encantamento
Tramado com fios de ternura
Que não se contêm e rolam nas lágrimas
Que regam os carinhos sentidos.
É comovente o existir sutil
Que não aprisiona as manhãs verdes
Em raízes tingidas de esperança.
Não há desespero na canção do vento
Que conduz os desejos revelados
E transforma esquecimentos em descobertas
Enquanto se desenrola a estranheza do dia
Que se reflete no lamento da tarde rubra
Que se desmancha na noite insegura.
Mardilê Friedrich Fabre

Nome: Maria João Brito de Sousa
Cidade: Oeiras / Portugal
DOS MENINOS QUE NASCEM? E DOS QUE MORREM?
O menino sentiu, quis e bateu à porta; - Truz, truz?
Era já uma decisão pessoal. Transcendia-o, mas era a mais importante das decisões que uma vida pode tomar assim que o tempo e as variáveis apontam o instante e o passo inicial do primeiro caminho?
A porta abriu-se de rompante deixando filtrar uma luminosidade vaga, macia, imperiosa. Sabia exactamente o que fazer. Foi em frente, sem hesitar um segundo. Impunha-se-lhe ser o primeiro a alcançar aquele indefinível pontinho rosado que sabia sem conhecer.
Assim se cumpria no seu primeiríssimo destino. O segundo seria o da transformação e também a esse foi cumprindo no mais pleno usufruto de todas as suas potencialidades. Cresceu no conforto morno do nicho, utilizando cada novo pedacinho de si, cada instrumento que o tempo e a vida lhe legavam no momento certo, sem questionar-se mais do que o que empenho do próprio gesto lhe poderia impor? fruindo apenas, aprendendo a cada segundo, trabalhando, sempre, na sua própria construção.
Ao cabo de uns poucos meses, aprendeu a chuchar nos deditos que acabavam de formar-se, a ensaiar os movimentos respiratórios que o futuro lhe viria a exigir, a pontapear o líquido amniótico que o envolvia por inteiro e a dar cambalhotas, como se adivinhasse que todos, mais tarde ou mais cedo, nos poderemos ver forçados a experimentá-las. Cumpriu-se, cumprindo-se assim. Simplesmente.
Ouviu sons e aprendeu a entendê-los. Reconheceu-lhes as modulações e, sem que ninguém o sonhasse, dançou as suas primeiras danças.
Descobriu que há horas estáticas, silenciosas em que o sono nos embala e seduz e horas apressadas, trepidantes, em que importa estar alerta, escutando e assimilando cada novo impulso externo. Por vezes tantas? - respondeu aos mais ínfimos estímulos naquele morse muito pessoal, mal-amanhado na ternura da curiosidade animal que desponta. Comunicava. Sabia-SE e dava-se a conhecer, respondendo a quem o saudasse desde o lado de fora e entendeu entendeu mesmo! que a vida continuava para além do oco macio onde lhe coubera começar a ser.
Resmungou e chorou sem que outros ouvidos o pudessem ouvir e sorriu, sorriu muito, sem que outros olhos o pudessem ver, mas ensaiou e burilou, a cada segundo, o seu novo estatuto de ser vivo em construção.
Um dia? um dia chegou o momento da grande aventura, da assustadora viagem, do aperto, do sufoco, do rude encontro com um desconhecido que apenas pudera pressentir. Foi duro. Nada se consegue facilmente nesta vida e até os meninos que nascem têm de lutar pela sobrevivência.
Sofreu pela primeira vez e protestou gritando a plenos pulmões enquanto as mãos, desesperadamente, tentavam segurar coisa nenhuma.
Alguém lhe estendeu um dedo que agarrou com a força de quem conquista um mundo? ou um direito. Adormeceu a seguir, exausto, por um instante rendido ao novíssimo desconforto. E continuou a viver?
Assim nasceu o menino-vivo.
Em tudo o mais o meu viveu, sentiu, aprendeu e se cumpriu mas, na hora do sufoco, não teve mãos que o amparassem na inevitável aventura. A grande, grande viagem foi a primeira? e a última.
SONETO LUNAR
L`IMPORTANT C`EST LA ROSE?
(Em decassílabo heróico)
Da natureza emerjo e sou quem sou
Consciente de aqui estar, mas tão serena
Que, ao espelhar-me em luares de lua plena,
Aguardo receber quanto lhes dou
E moldo cada raio que brilhou
Sem me sentir culpada, ingrata, obscena,
Por espinho, dissabor ou qualquer pena,
Que ressurja na flor que dele brotou?
Então, repasso o disco semi-gasto,
Das pétalas do mundo em que me basto
E hoje serei lunar porque me apraz
Ter um corpo distante, inerte e casto,
Do qual, sem dar por isso, só me afasto
Se me acontece querer sem ser capaz?
Maria João Brito de Sousa

Nome: Maria José Zanini Tauil
Cidade: Rio de Janeiro
A SECA
Raimunda e os dois filhos já não aguentam o verão deste ano. O solo ressequido de seu pequeno rincão é um quadro de morte. Tudo é luz e quentura. Na rua, passam famintos, gemendo e pedindo esmolas. Pobre, no interior do nordeste, é assim. A transição biológica, o isolamento, animais exaustos e sedentos, morrendo aos poucos. Um grande forno sob o sol ardente.
A mulher pega os filhos, uma garrafa minúscula de água e o último pedaço de pão. Quebra um cofrinho e tira dele seu minguado dinheirinho. Faz uma trouxa com algumas peças de roupa, amarra-a no cinto e vira para trás; fecha a pequena casa e, do portão, lança um último e triste olhar. O êxodo é obrigatório, pois precisa salvar os filhos. Sim, porque a vida é tudo o que resta daquela fatal desdita, cena atroz e maldita. Quanta impotência em ver aquela plaga do sertão assim, tão destruída! Restou a miséria, a dor, o luto e a orfandade. Ali, naquele quintal, enterrou a mãe há duas semanas, o pai, jamais conheceu e o marido, há muito viajou para Rondônia e nunca mais deu notícia. O segundo filho ainda estava na barriga.
Ela segue pela estrada poeirenta, puxando os dois meninos pelas mãos. O pranto se mistura com a fome. Toma o menorzinho no colo. De repente, ao contemplar os olhos daquelas crianças, brota a esperança. Há de viver melhor! E dar uma vida decente para eles!
Segue munida de uma repentina determinação; nem percebe as cruzes erguidas nos cantos da estrada. Foram pessoas que também tentavam sair daquele deserto árido, em busca da terra prometida, onde jorra o leite e o mel.
Raimunda pega-se a Deus em oração. É jovem ainda e forte, ele ajudará. Não enterrará seus filhos. Encontrará sua Jerusalém, um chão onde possa plantar e colher para o sustento da pequena família. Será o seu Eldorado. Ouvirá o cantar dos rios sob infindo céu azul. No Brasil tem terra boa. Ela já ouviu falar. Há de encontrá-la. Há de oferecer aos filhos esse troféu, ao fim da jornada.
Maria José Zanini Tauil

Nome: Maria Mamede
Cidade: Maia/Porto/Portugal
QUANDO DIGO
Quando digo MAR
sinto o fragor
das ondas, que avassalam o meu peito
Quando digo MANHÃ
sonho o amor
a nascer, com ela, assim perfeito…
Quando digo VENTO
digo estrada
nos passos de todo o que caminha
quando digo NOITE
ou Madrugada
digo esta dor de andar sozinha…
quando digo RIO
digo leito
entre duas margens de lonjura
pois quando digo FOZ
nasce em meu peito
uma Cidade de pedra e de ternura…
quando digo ÁGUA
digo jeito
ou Sede de a beber por essas fontes
quando digo FLORES
digo perfeito
olhar, pelos prados, pelos montes…
quando digo LUME
digo festa
nas cozinhas do tempo e digo Mesa
e quando digo PÃO
o que me resta
é a prece que ergo à Natureza…
quando digo VINHO
é a Alegria
a transbordar dum cacho que espuma
mas quando digo VIDA
o dia a dia
é nuvem que se esvai, coisa nenhuma!...
Maria Mamede

Nome: Maria Mendes Corrêa
Cidade: Mateus Leme /Minas Gerais / Brasil
Pai Adotivo.
Frases definem um homem, mas não um santo...
Deus oferece a cada pessoa, a vida e colore sua presença aqui na terra, com presentes em forma de seres humanos.
A vida deu-me de presente: pais, filhos, esposo, parentes, amigos. Mas quis Deus, que eu tivesse um pai biológico e um adotivo. Ao primeiro, Filadelfo (falecido), devo o sangue, que corre em minhas veias; ao segundo (Tio Luzinho), devo o sangue do amor que jorra do mais íntimo da minha alma e do meu coração devo-lhe o amor que sinto por Deus.
Minha adorável mãe, Dona Maíca (que hoje vive no reino de Deus), teve 7 filhos e infelizmente o casamento não deu certo, enfrentou o drama de uma separação, naqueles tempos primórdios em que casamento era para todo o sempre.
Meu querido avô Lulu, com todo carinho do mundo, trouxe para seu relicário casarão em Itapecerica, Minas Gerais, a filha e seus 7 netos. Mas já idoso, vivendo da cama á cadeira de balanço, veio a falecer nos braços do seu filho mais velho: Tio Luzinho.
Antes de dar o último suspiro proferiu as seguintes palavras:
- Filho, nunca abandone sua irmã e de seus sobrinhos, cuide deles como se fossem seus filhos!
Promessa feita... Promessa cumprida...
Varando as madrugadas num serão contínuo, o exímio alfaiate costurava para a alta classe da região. Não mediu esforços para alimentar e principalmente estudar os filhos de sua irmã, que muito o admirava e agradecia.
Sua vida foi um exemplo. Quando os sinos repicam nas igrejas itapecericanas, seus passos se tornam acelerados, para chegar um pouco antes das missas diárias e rezar o terço cotidiano, para louvar e agradecer o dom vida maravilhoso da vida que Deus lhe deu e que certamente não viveu pra si e sim para o próximo.
Ama o próximo, mais que a si mesmo, ultrapassando o mandamento que Deus nos ensinou...
Itapecerica se orgulha de ser berço deste importante filho, figura ímpar e singular, traços de Deus aqui na terra.
Esse santo homem circula pelas ruas de Itapecerica, fervorosamente, para assistir ás missas, acompanhar os enterros (marca presença em todos), visita os enfermos, participa das reuniões da Conferência Vicentina onde é confrade e para fazer alguma caridade.
Dizem que quem dá aos pobres empresta á Deus. Lá de cima Ele deve observar, maravilhado sua obra prima, lapidada pelo amor, pela sabedoria e fé.
Papai Luzinho, extrapola a sagacidade das águias que aos 40 anos, tem duas opções: morrer ou passar por um doloroso processo de renovação. Então ela se isola em uma montanha e ali faz seu ninho. Seu bico se encontra longo, pontiagudo e por isso curva-se. Ela bate-o violentamente em uma pedra até arrancá-lo. Aguarda até que ele nasça, para que então arranque as unhas das garras que estão compridas e flexíveis, não conseguindo agarrar a presa que a alimenta. Com elas, arrancam as penas das asas que se atrofiam até o peito, envelhecidas e pesadas. Após cinco meses, a águia se encontra renovada e vive até 70 anos.
Feliz, ela voa pelos horizontes azuis festejando sua vitória contra o tempo implacável que nos acompanha todos os dias .
Meu Titio Papai Luzinho, faz isso faz isto aos 85 anos... lúcido ... tenaz ...
Este homem se renova a todo instante. Ele arranca tudo que lhe perturba e voa resplandecendo e renascendo a cada dia, para servir e correr até o infinito da bondade humana para hastear a bandeira da caridade, da humildade e do amor ao próximo...
Eu conheci o vôo da renovação das águias, e voei com ele descortinado o tempo, deslizei no azul da vida e pude conhecer o brilho que reluz da sabedoria da vida...
Em outubro de 2007, na Bodas de Ouro de seu único irmão, o admirável Tio Belchior e a saudosa Tia Nenenzinha (que hoje se encontram junto ao Pai Celestial), eu o convidei a valsar comigo e voar...Tocava a valsa Danúbio Azul. Ele aceitou, me pegou pelos braços radiante e deslizamos pelo maravilhoso salão de festa. A todo instante ele dizia não dançar desde a adolescência. Com o dom das águias de sua têmpera, ele se renovou e voltou aos 15 anos. Eu rodopiava feliz e ia até ficando tonta. Parece que aquela valsa se eternizava pelos labirintos da vida... e se eternizou...
Glória da família Mendes, Luiz Mendes de Cerqueira (Luzinho), é uma águia humana, orgulho e exemplo de toda família e amigos.
Vinda deste homem bem baixinho, timidamente, eu ouvi no dia 17/07/2010, no lançamento do meu 3º livro: A Cortina da Existência, no magnífico Centro Cultural de Itapecerica. Como um murmúrio, escutei de seus lábios, a frase mais célebre e importante de toda minha vida, que eu jamais pensei em ouvir deste santo homem. Salvei em minha memória e arquivei bem dentro do meu coração.
Como uma prece, suavemente e com toda doçura de seu coração de pai, ele disse-me:
- Nenê... eu sinto muito orgulho de você!
Atônita... fixei em seus olhos...
E pareceu-me estar diante de um padre na hora da confissão...
Meu corpo arrepiou todo e meu coração parece que ia saltar do peito...
Não encontrei palavras para responder-lhe á altura...
Olhei fundo nos seus olhos e agradeci...
Hoje refeita da emoção, talvez eu consiga dar a resposta tão digna, quanto á importância do elogio...
- Meu Titio, Papai Luzinho... Deus tem muito orgulho do Senhor!
O céu se rejubila, os anjos tocam a harpa celeste e entoam hinos para festejar o anjo terreno que povoa esta terra de Deus e que eu tanto amo, ou melhor... tanto amamos !
Maria Mendes Corrêa

Nome: Maria Moreira
Cidade: Belo horizonte - MG - BR.
Tudo milimetricamente ao acaso
Milímetro centímetro planejado
Faca amolada do gume na pedra
Cálculo de raspar sem força
Corte afio no pelo processa
Nas talas na tela na Terça
No habito a sutura é que pela
Fio de linha atravessa e estreita
Este feito que foi feito agora!
Corta ataduras o fio arremata
Estética métrica é tudo arrolada
Em poucos minutos se enrola
Em tempo de eternidade!
Do acaso veio a tormenta
Da velocidade de parou-se o tempo
Em reflexões o custo perdido
Por pouco uma vida salva!
Maria da Conceição R Moreira ( Maria Moreira)

Nome: Mario Rezende
Cidade: Rio de Janeiro
O SONHO DO JACARÉ
- Cadê Ela?
- Sei não, acho que chegou a fera.
- Como assim?
- Se ela não apareceu até agora é porque está naquele período. Ela só voltará quando ele for embora.
- Eu não acredito! Ela pode ficar assim tão indiferente? Afinal, ela é a maior amiga da gente!
- Amiga é? Tá me cheirando a dor de cotovelo... Disfarça! Disfarça! Lá vem ela! Lá ri lá lá... limpando as unhas nas penas - Acho que vai chover...
- Não disse que ele tinha chegado? Eu tinha certeza!
- Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Agora, vamos ter que esperar a maré de calmaria passar.
- É, quando ele for embora, volta ansiedade, ataca a neurose e ela fica toda nervosinha, então a gente faz a festa. É só esperar.
- Tem certeza disso? Você confia em quê? Tem gente pra tudo meu filho! Eu não confio em ninguém. Ainda mais em felino, ou felina...
- Que nada, você não viu a piscadela que ela deu pra mim?
- Ih, sai pra lá jacaré! Se enxerga!
- Pura inveja! Do jeito que as coisas andam, se transformam ou evoluem na natureza, tudo pode acontecer. Você nunca ouviu falar em Darwin? Tá precisando se instruir, hein!
- Ah, pesquei! Jacaré apaixonado, né? Onde já se viu isso? Se todos os seus sonhos se realizassem iria nascer um bicho meio esquisito. Onça com cara de jacaré. Ou seria um jacaré com cara de onça? Oncinha com rabo de jacarezinho, jacarezinho com rabinho de oncinha e cheio de manchinhas... É, pra um coração apaixonado, quando a prática conflita com a teoria, muda-se a teoria...
- E daí? Sonhar não faz mal a ninguém! Tudo pode acontecer. Quem viver verá! A minha maior paixão são aqueles lábios carnudos, que bocão, meu Deus! É o que mais me atrai...
- Que lábios que nada, jacaré. Aquilo é beiço mesmo!
- Você é muito despeitada isso sim! Só porque tem esse bico fino? Tá mais é com inveja!
- É melhor ouvir isso que ser surda. Bico que lhe presta. E muito, não é? Seu mal agradecido. Por que você não pede a ela pra vir lhe catar?
- Ela só não vem porque a natureza dela é outra, o nosso destino não é esse, senão...
- Então tá bom. Deixa o gatão dela ir embora lá pras outras paradas que eu quero ver se você é macho mesmo pra resolver a sua encrenca.
- Ah, deixe-me em paz! Continua limpando as minhas costas, seu passarinho pernudo e despeitado.
- Isso é que eu não vou ter nunca mesmo. Du-vi-de-o-dó! Não sou mamífero! Eu vou é embora. Não estou aqui pra aguentar desaforo de mal agradecido. Tchau!
- Vai, pode ir, passarinho ignorante. Eu não falei de peito, foi despeito. Quanta burrice!
É por isso que apesar de ser um pássaro bonito e elegante, vai ficar sempre nessa vidinha. Nem aprendeu a cantar, só sabe grasnar. Não vê que quando a gente quer a gente consegue? Temos que ser perseverantes. A natureza sempre dá um jeitinho. Pensou enquanto mergulhava fundo no rio para refrescar as ideias.
GOTAS DE CARINHO
Pérola dos meus sonhos,
uma mulher tão bonita
enfeita a minha imaginação.
Como encanto, o encontro,
no tempo do sonhos,
corações em conluio
passeando enlaçados
pelos jardins dos amores
colhendo sorrisos;
suspiros de algodão;
chuva de pétalas multicores;
lágrimas de felicidade,
como essência de flores.
Gotas de carinho
em cada toque...
Em cada beijo...
cupidinosos.
Na vigília, graciosa lembrança
alimenta a esperança
Mario Rezende

Nome: Marisa Barbosa Cajado
Cidade: Guarujá - SP- Brasil
Palavras ao amanhecer
Amanhece.
Sobre o mar o tom dourado clareando as ondas que dançam na praia.
Inicia-se a sinfonia da alvorada. A passarada anuncia o dia que se estende sobre a vida.
Também amanhece em minha alma.
Cinquenta e oito anos e a alegria interior me diz que não envelheci. Meu corpo sim, este mudou. Não tem mais as curvas sinuosas dos vinte anos. Os cabelos, embora fartos estão claros. Em cada traço físico uma marca do tempo.
Mas... eu não estou velha. Sinto-me criança com a mesma esperança de antes. Os brinquedos mudaram, troquei a boneca pelo computador, a piscina pela caminhada, o matinê pelo vídeo, o sorvete pela fruta, porém a alegria da espera é a mesma.
Hoje sinto-me muito melhor, o vigor continua e ao ver-me no espelho, noto embora as marcas, um intenso brilho no olhar. Sim meus olhos brilham muito mais.
Dirão alguns.
- A Marisa está apaixonada.
- Sim estou apaixonada pela vida. Pelo universo que vislumbro à frente, por tantos tesouros que vou encontrando, por esta energia que flui em meu ser.
Se tenho dúvidas? Sim e muitas. Também não me faltam dias de aborrecimentos e lutas. Dificuldades? Quantas. Choro, rio, aborreço-me, desanimo, caio, levanto, corro, arrasto-me mas sigo em frente. Sou feliz!
Fico maravilhada ao escrever uma trova, encantada ao compor uma canção, emocionada ao atender um amigo, triste ao ver a solidão dos que não possuem a minha riqueza e se transformam em seres amargurados, inquietos, sofredores, impacientes. Velhos em qualquer idade.
Bendigo cada instante de trabalho e a bênção de poder fazer o que gosto.
Com certeza perguntarão:
- Mas o que encontrou você?
- E eu responderei: Eu encontrei comigo.
Eu perdi o medo de viver. Tenho a certeza que vou lutar por tudo que eu necessitar. Ganhei o otimismo e a força para continuar caminhando. Libertei-me da algema de falsos conceitos. Ajo por mim, livre do que os outros pensam sobre meus atos. Eles são regidos por minha consciência na certeza que responderei por eles.
A inveja se foi de minha vida porque neste encontro, percebi que tenho tudo em mim para ser feliz.
Embora goste de compartilhar a vida com alguém não necessito mais deste alguém para viver.
Na intimidade do meu cantinho sinto que o universo é meu lar.
Assim neste estado de alma recolho-me e dizendo uma prece neste amanhecer, adentro minha alma buscando Deus em mim e saio novamente abraçando os que estão aqui, ali, além, galgando os ares e enlaçando-me às forças maiores, integrando-me à energia cósmica e chegando ao seu coração para dizer seja feliz!
Bom dia!
VELHA EU?
Porque pinto sonhos de verdade
Porque sei curtir realidade
E sentir felicidade
Mesmo o sonho a desmoronar?
Porque não tenho vergonha de meu corpo
Que guardam marcas de um sol posto
Nas pequenas rugas do rosto
Que o tempo bordou devagar?
Porque ainda suspiro de amor
Me sinto mulher e o torpor
Sexual, embala em ardor
Todo o corpo a estremecer
Se ainda sou desejada
Se canto ou fico calada
Se choro no canto da estrada
Se brinco e ainda dou prazer?
Velha eu? nem senti
Se caí levantei e segui,
Se chorei quando um dia parti
E voltei sem me arrepender.
E ao levantar agarrei a esperança
Como um presente de criança
Que a vida em confiança
Pode me oferecer?
Velha eu?
Não, foram os dias que correram
Me embalaram, reergueram
E me deixaram aqui.
Sou nascente de poesia
Sou fonte de melodia
Minha idade é magia
E nela sobrevivi
Um grande abraço a nossa família CEN que está cheia de velhos moços.
Marisa Barbosa Cajado

Marisa Schmidt
Bertioga - São Paulo
INFELICIDADE FEROZ
O ônibus lotado no fim da tarde
exige a arte de um contorcionista
e a mulher operária, não artista,
ainda tem que seguir, sem alarde.
O filho na creche, a chuva gelada
o leva no colo. Se molham os dois
na longa caminhada que vem depois
resta ainda encarar a rua enlameada
A longa jornada, o cansaço sem remédio
o presente sem futuro, tudo sempre igual...
No barraco pendurado em prumo fatal
se sustenta uma história movida a tédio
Penso nessas vidas, infelicidade feroz,
que repetem a litania da falta de opção
e transmitem aos rebentos só conformação
de que e vida é mesmo cumprida a sós...
Marisa Schmidt