Benedita Azevedo
Magé - RJ
TROVAS
01
Tal o sol que aquece o dia
você às vezes, nem sabe...
Aquece a vida e me guia
nunca quero que isso acabe.
02
Ao sair pelo jardim
na tarde de primavera...
Senti saudade de mim
do botão de flor que eu era.
03
Cultiva o amor tal qual fosse
plantinha bem delicada,
e terás lembrança doce
do teu amado ou amada
04
Espero tanto o Ano Novo!
A ver se a vida me faz
uma surpresa, e a meu povo
dê voz que não cale mais.

Nome: Carlos Lúcio Gontijo
Cidade: Santo Antônio do Monte/MG
Figura pública tem que prestigiar cultura - Carlos Lúcio Gontijo
Não é fácil ser escritor ou pequeno escriba independente, pois as pessoas que quase nada entendem do setor literário cobram o mesmo sucesso junto à mídia obtido pelos autores que contam com a chancela de grandes editoras e todos os tons de cinza, cabanas e vastidões promocionais de que a maciça divulgação é capaz de realizar.
Autor independente não é mesmo muito conhecido, mas nem por isso é menos importante, uma vez que consegue formar um seleto grupo de admiradores e leitores, que por sua vez são conduzidos à sensibilização para o hábito de leitura, tornando-se consumidores dispostos a buscar os autores renomados. Ou seja, os escritores e poetas independentes são indispensáveis à cadeia literária, ainda que distantes das prateleiras iluminadas de majestosas livrarias, que são bastante escassas Brasil afora, existindo muitas cidades que sequer as possuem.
Outro dia citamos o caso do músico Gabriel Guedes, filho do importante compositor mineiro Beto Guedes, que a um dia de show de lançamento de CD havia vendido tão-somente alguns ingressos para uma casa de 800 lugares, em Belo Horizonte. Infelizmente, os compositores brasileiros estão enfrentando o inarredável problema há muito experimentado pelos artistas da arte da palavra escrita, que não contam com editoras, assim como agora os músicos não dispõem de gravadoras.
Este ano completamos 35 anos de atividade no mundo literário. Lançamos nosso primeiro livro (Ventre do Mundo) em 1977 e ao longo de todo esse tempo publicamos 14 livros, o que desaguará em 16, pois pretendemos lançar dois livros ainda neste ano. Isto ocorrendo, estaremos apresentando uma média de pelo menos um livro a cada dois anos, desde o lançamento do primeiro livro.
Os que se revestem de autoridade nos pequenos municípios não se podem dar ao direito de desconhecer os que fazem qualquer arte em sua cidade, pois o desapreço pela cultura não é permitido a quem ocupa ou busca o exercício de cargo público. Não procurar conhecer nem apoiar os valores intelectuais e artísticos da localidade em que se vive é o mesmo que fazer um convite ao avanço da violência e das drogas, pois a população precisa vivenciar a sensibilização que a poesia, a literatura, as artes plásticas, o teatro, o artesanato, a música e a dança são capazes de promover e incutir nas crianças, jovens e adultos.
Definitivamente, não contamos com política cultural para valer no Brasil. O que temos é um arremedo de normas que somente servem aos grandes nomes do mundo artístico, que encontram toda facilidade para convencer as empresas mais pujantes a apoiarem seus projetos. Assim é que a famigerada Lei Rouanet acolhe os artistas renomados nos grandes centros comerciais e industriais, ao passo que nos pequenos municípios sequer tem condições de existir, pois inexiste empresa disposta a investir em cultura.
Floresce em nós a permanente consciência de que, sem humildade, não há como carregar o frágil andor da poesia e da literatura, que sobrevive em meio a caudaloso mar de ignorância, alimentado por falta de efetivo incentivo à leitura, que passa pela valorização, em cada cidade, por menor que seja, de seus autores, que pela proximidade com a comunidade poderiam desmitificar o exercício da arte da palavra, proporcionando aos leitores a oportunidade de ler enredos que lhe dizem respeito e dentro de seu linguajar. É preciso pensar com extrema responsabilidade didática nas primeiras leituras. Não é mais possível aceitar a realidade que nos aponta para o fato de que muitos jovens estão lendo o primeiro livro por ocasião da luta por vaga em ensino universitário. Ou seja, muitos jovens estão concluindo o ensino médio sem nunca ter lido um livro.
Então, fica aí o recado aos senhores políticos, às autoridades constituídas e demais figuras de expressão da sociedade brasileira: prestigiem os eventos culturais, compareçam a lançamentos de livros e se façam presentes às manifestações folclóricas da população, nem que seja por simples figuração, pois sua ausência é injustificável e, mais que isso, imperdoável.
Carlos Lúcio Gontijo - Poeta, escritor e jornalista - Secretário Municipal de Cultura de Santo Antônio do Monte - Minas Gerais.
www.carlosluciogontijo.jor.br
Romã
Meu amor, sólido e líquido
Roçar e calor de virilhas
Raio penetrante da manhã
Que se ilha no leito
E dividido sangra no peito
Feito partilha da romã
Carlos Lúcio Gontijo

Nome: Dhiogo José Caetano
Cidade: Uruana/Goiás/Brasil
O Fluxo das Coisas Eternas
Nada é eterno; apenas, se transforma...
As pessoas mudam, o mundo muda e tudo o mais passa.
O Existir é um constante ir e vir.
É bom saber que amanhã será um novo dia.
Erramos hoje, mas tudo se faz novo quando o sol renasce na imensidão de um céu azul.
O tempo é o senhor de todas as coisas. Ele encarrega de eliminar as dores, os medos e os dissabores de uma vida plenamente vivida.
O mundo é um verdadeiro comboio de emoções, onde a essência amor mantém uma legião de seres humanos vivos e determinados a sonhar e sonhar.
Quando falamos de sentimentos, o amor tem tendência a se desabrochar, fundando um belo jardim florido, mas o ódio; ou seja, o amor na forma mórbida permanece constantemente sem vida, inóspito, mas sensível ao poder do tempo.
O tempo vai além de tudo, sobrepõem os ritmos, culturas, sociedades e as diversas realidades.
Enfim, a vida é um percurso de histórias distintas, complexidades transmutáveis e sentimentos variáveis.
Dhiogo José Caetano

Nome: Donzilia Martins
Cidade: Paredes
Novos Tempos
Estou aqui no meu quarto no lugar de sempre onde os sonhos voam.
Sentada na cama, encostada em duas almofadas, a minha e a dele ainda quente.
Com uma tabuinha nos joelhos abro o caderno onde pouso as palavras e os medos.
Sempre tive medo do medo. Hoje vou pedir ao vento que leve consigo os meus medos.
Lá fora chove. Pela vidraça correm lágrimas de chuva deslizando para a calha como um rio para o mar. O vento frio abana os ramos das duas oliveiras plantadas na varanda. O seu bailado presenteia-me com um acenar de paz e verde prateado.
Estou bem. Com Deus e comigo própria. Nos retratos, Ele sorri, ela encosta o olhar ao meu, para, mesmo da eternidade me fazer feliz. A Mariana telefonou ao avô para a levar à escola porque a chuva e o vento lhe fustigavam os passos.
Novos Tempos! Melhores tempos agora! Noutros tempos. Fizesse chuva ou calor ou zombassem tempestades e a neve queimasse as gotas do respirar, lá íamos cantando e rindo por esses caminhos fora à procura do futuro. Caminhos agrestes pintados de geadas a anunciarem alvuras!
Era sempre festa: nos olhos, nos sorrisos, na alegria com que o dia se vestia. Nem sentíamos o frio, tal o valor que a alma nos cantava! O mundo mesmo com pouco, crescia e éramos felizes.
Nesses tempos o ar puro refrescava os pulmões, as ervas verdes renasciam por todo o prado para dar fartura ao gado. Que doçura ali olhar!
As flores silvestres cresciam em magotes, em tufos, no meio das pedras! Alindavam como arco-íris vestindo de cor toda a natureza.
Os pássaros cantavam hinos em sinfonias de azul por entre os silêncios. O vento era brisa suave a marejar de alegria o rosto tisnado de sol.
Havia sempre uma sombra da lua a esconder o sol, ali, no paraíso onde a alma se deitava para dar asas aos sonhos.
Guardo ainda desse tempo o luar da lua cheia a acender todas as noites, as primaveras floridas no roxo dos lírios e do alecrim, o cantar dos ribeiros a contornar as pedras, a
pureza das mulheres a lavar no rio com os pés dormentes metidos na água! Havia lagos de águas represas onde se ia nadar e noites belas de estrelas cadentes a saltar.
Hoje! Novos Tempos! A ausência doutros tempos assusta-me. Não há cartas no correio nem missivas com amor.
Hoje é tudo apressado. Pega-se o mundo ao segundo. Não há tempo para amar, nem há cheiro de papel para podermos beijar. É tudo tecnologia, aço frio, toque ausente no instante dum teclar.
Ah! Novos tempos! Que saudades doutros tempos. Peço-te ó novo tempo para os velhos ires buscar pois sufoco na leveza do beijo, do acenar na presença, da lágrima amparada, do tempo em que era bom sonhar.
Hoje, novos tempos, deambulamos em metáforas num jogo de palavras sem presenças a quebrar distâncias ou vice-versa. Inventamos palavras ocas, vazias, sem alma, sem sonho, sem cor, na esperança de, num clik, apanharmos o amor.
E volta o meu medo: Que corramos demais, que o sonho se apague, que a vontade enfraqueça, que a vida voe depressa.
Eu sei, todos sabemos, que o mundo é hoje, que os pássaros continuam a cantar, as flores voltarão a florir na primavera e os rios ainda correm para o mar.
Mas o HOMEM?
Onde fica o homem?!
Sentes-lhe a alma e o beijo?!
16/ 01/013 Donzilia Martins

Edilberto José Soares
Rio de Janeiro
A VISÃO SEM POESIA
Como é pequena a visão sem poesia
Vive no mundo sem rumo, sem destino
Confunde até a noite com o dia
Vejam, tão grande, com pensamento de menino
Perde a vida, logo no início da partida
Vive na guerra, pensando ser a paz
Nunca soube o valor de uma despedida
Não sabe nada pensa tudo já saber
Mesmo adulto se nega a crescer
Crescer pra ele é matar todo saber
Quem sabe, sabe que mais falta aprender
Aprendo sempre com cenas de cada dia
Nem sabia que sabia do que sei
Nem sabia que escrevia... À Nova Lei...
Nem sabia que Deus Era À Poesia
Edilberto José Soares

Nome: Eliana Shir Ellinger
Cidade: Hazorea - Israel
CHOVE CHUVA
Foi numa tarde chuvosa que resolvi passear.
Cada pingo que caia, fazia-me recordar,
as andanças vividas que marcaram meu ser
e os momentos inquietos de ganhar ou perder.
Tive pedras, ventanias, borbulhento caminhar,
solidão que me aturdia, sem saber onde chegar.
Cada vez me escravizava, sem buscar o que fazer,
mas seguia sem receio do que fosse acontecer.
Voltei para outro lado, de alegrias fui lembrar
e deixei todo o passado no ar se esfumaçar.
A chuva fina embalava minha força, meu poder,
meu doce e puro encanto e a alegria de viver!
Foram sonhos tão felizes que passei a solfejar,
sempre na esperança que tudo vou alcançar!
Chove, chuva! Molha a terra, dá-lhe o belo florescer
e será assim toda a estrada que tenho a percorrer.
Eliana (Shir) Ellinger

Nome: Elizaete Ribeiro
Cidade: São Paulo
Os sonhos que versam a realidade se misturam numa nuvem duvidosa, quase sem esperança... E vários questionamentos surgem como gotícula de chuva em dias nublados, que regam o solo calmamente.
Como em dia silencioso, com ar de chuvarada, uma melodia díspare se ouve... O som um pouco tímido da natureza, anunciando dias frios...
Os sonhos são apenas nuvens de esperança e desejo que paira sobre nossa imaginação
Os sentimentos são frutos do desejo, assim como essa tímida garoa que cai sobre a relva que acalenta o clima campestre, os sonhos acalentam nosso coração.
Esses meus pensamentos não me deixam e insistem em sonhar com seu sorriso, com seus belos olhos negros e com a doçura do teu beijo.
Os sonhos vão além e atravessam as densas nuvens duvidosas, ecoando no infinito, com grito de socorro, pedindo aos céus a benção para a realização do tão sonhado desejo de amor.
Se for ilusão, foi mais que uma mentira, foi realidade que senti pulsando aqui no peito, brotando como fonte de água em terra seca.
O coração aquecido de desejo, sonha, delira, será devaneio ou realidade?
Não sei, só sei que sonhei
Elizaete Ribeiro

Nome: Ervin Figueiredo
Cidade: Americana/ SP
UM DIA INESQUECÍVEL
A noite se dissipava lenta. Parecia não querer acabar; como se quisesse eternizar os doces momentos vividos. Mas, o dia vinha, e intenso. Aos poucos o que era escuridão foi dando lugar à luz. E ela ainda acordada, assistia a tudo, ali sentada, passiva. Quando o relógio marcava 7 horas ele acordou. Preguiçoso, depois de uma noite de amor, foi se erguendo e levantou-se. Viu ela ali sentada, que o olhava de forma até maternal. Foi até ela, a beijou ternamente e foi tomar seu banho.
Ela não conseguia parar de pensar naquela noite de amor, de vidas que se davam sem culpa. Foram horas em que o mundo lá fora havia parado para esperar acontecer um sonho na vida daquela mulher. E tudo o que acontecia, era com a maior intensidade. Beijos desejados, corpos suados, mãos que se procuravam... Enfim, tudo ocorrera como num sonho, um filme de amor. Fora tudo exatamente como ela havia imaginado. E em anos de espera, um dia, um dia em que tudo acontecera da mais bela forma. Da melhor maneira. E ela sabia que suas emoções eram reais, verdadeiras, na mais pura expressão do sentimento. E lembrava do que ele dizia, dos seus sentimentos expostos de forma tão explícita, tão nu. Seu corpo musculoso, queimado pelo sol, suas mãos calejadas que deslizavam com suavidade sobre sua pele. Ela relembrava cada detalhe, como se estivesse passando a limpo todos os momentos vividos. Os beijos apaixonados, seu olhar profundo, sua virilidade demonstrada na frente da fêmea e a lua no céu foi testemunha de tanto que houvera sido. Parecia mesmo um sonho. Um sonho daqueles que não desejamos acordar, que queremos não ser despertos jamais, que deve continuar...
Ele havia acabado de se arrumar. Disse-lhe que tomaria seu café numa padaria próxima. Se despediram com um beijo. E ela o viu partir. Sabia que essa era a única vez que o veria tão perto. Sabia que ele amava sua esposa e que não haveriam outras vezes. Ele estava de mudança para um lugar distante. O romance juvenil havia existido apenas numa noite. E acabava ali, agora. Na sua partida. O amor guardado por anos finalmente acontecera. Uma única vez. Nada mais. A vida seguiria seu ritmo, seja lá de que forma fosse. Mas, a lembrança do que houve, essa seria para toda a vida. E como era bom pensar nisso. Ela sorriu com sarcasmo, se arrumou e saiu para trabalhar. A vida seguia, agora com sabor diferente. Muito melhor !
Ervin Figueiredo

Nome: Fátima de Royes Mello - fofinha
Cidade: Bagé/Rio Grande do Sul/Brasil
Lamento é...
É o vai e vem do berço
Embalado por mãos exaustas
Da tríplice jornada de uma mãe
O andar trôpego
Do andarilho de lata em lata
Em busca de algum resto de alimento
O suspiro doído
Dos doentes nos saguões
Dos hospitais em busca de atendimento
O tremor dos mendigos
Nas noites gélidas do inverno
Em baixo de uma marquise qualquer
Dos passos cansados
De um pai a todo lado
Na busca incessante por um emprego
Lamento...
Eu sinto no peito
Em ver meu povo dia após dia
Em busca do pão, da casa; do emprego
Fátima de Royes Mello - fofinha

Nome: Fátima Mota
Cidade: Natal - RN
Cíclico
Há um quê de saudade na ruga que se alonga
há um frio antecipado que te encosta
indizível é o tempo de espera
e as flores mudam a cada estação.
Há um fio entre o riso e o olhar
há desejos cristais e festim
sem idade, coração anda à toa
e do anseio tua boca é jasmim.
Há uma face sagrada em teus ombros
há vestígios de amor no teu chão
a despeito das lágrimas de outono
há pujança nas cores da terra.
Há um regresso a cortejar o tempo
teus cabelos de neve são rendas
há ternura nos teus dedos frágeis
que alisam o meu sentimento.
Há nas fendas secretas passagens
há na boca o sagrado e o profano
é sublime a malícia da espera
e vontade é parte de ti.
Há mil notas em tuas canções
esperando alguém para ouvir
há um abrigo no peito mesclado
e dos atalhos, sem desapego, eis-me
- a escutar o teu coração - poema.
Fátima Mota