Ano VI – Fevereiro de 2010
Edição e Arte Final:
Uma tarde de temporal – de
Carlos Leite Ribeiro
Ontem foi um dia de muito vento
e chuva aqui na Marinha Grande.
Ninguém podia andar na rua, pois
podíamos ser apanhados por
alguma telha, chapa de
cobertura, parte de alguma
chaminé, alguma árvore ou ramo,
até ser atropelado por algum
contentor de lixo que rodopiavam
por todo o lado.
Mas o pior ainda foi a falta de
energia eléctrica e, logicamente
sem internet, televisão, rádio e
telefone fixo.
Sem nada para fazer e sem poder
sair de casa, resolvi ir para a
cama tentar fazer um soninho, e,
quando estava mesmo a pegar no
sono, o telemóvel (celular)
tocou. Era a minha querida e
velha amiga Mariazinha d’O, que
quando sai ou quando está no
trabalho, usa normalmente um
chapéu tipo tirolês com peninha
e tudo.
Esta minha querida amiga, é
fiscal de um grande supermercado
da região, e entre outros temas,
falámos de certas cenas passadas
no seu local de trabalho. Entre
outras, memorizei estas:
Certo dia ao passar pela secção
de roupa feminina, encontrou um
homem a experimentar soutiens.
Como boa profissional abeirou-se
do individuo e:
- Precisa de alguma ajuda? –
Perguntou-lhe delicadamente.
- Ai querida, vê se este soutien
me fica bem? Respondeu-lhe o tal
“homem”.
- Esse número é muito grande
para você. Devia de ter
escolhido implantes maiores…
- O médico aconselhou-me estes
que ficam bem com a minha
figura…
Rebolando-se todo, afastou-se
como que ofendido com a minha
observação.
Ai Carlos, com esta
“concorrência” tão desleal, as
mulheres são altamente
prejudicadas!
Em outro dia, a Bia perguntou-me
se havia marmelada caseira.
Respondi-lhe que de momento o
supermercado não tinha dessa
marmelada. Muito chateada,
respondeu-me:
- É que as minhas filhas só
gostam de marmelada caseira.
Vê lá Carlos, que as filhas dela
até são capazes de fazer
marmelada encostadas a
candeeiros de iluminação
pública!
Eu não acredito em bruxas, mas
que acontece por vezes muito
estranhas, é bem certo.
Na semana passada, o pessoal da
limpeza encontrou um chouriço
que tinha caído no local das
calcinhas de mulher. Como
natural, algumas calcinhas já
estavam com nódoas da gordura do
chouriço. Meteram o dito cujo e
as calcinhas já sujas num saco
de plástico para o deitar no
lixo. Quando estavam a fechar o
saco, as outras (calcinhas) que
não estavam sujas, saltaram
todas para dentro do saco… Se
isto não é macumba, não sei o
que seja.
No outro ano, deu-se algo
parecido. Quando de manhã
abrimos o supermercado, com
grande espanto nosso, vimos
espalhados pelo chão cuecas de
homem misturadas com colans de
senhoras, sujas. Mas não vou
falar mais destas coisas pois
fico toda arrepiada.
Mas a melhor, foi esta. A tua
vizinha Picolina que tem muitas
dificuldades financeiras, uma
vez agarrou um ovo e colocou-se
dentro das calcinhas. Ou
introduziu demais ou o ovo
pensou ter encontrado suas
origens e foi subindo. Não
interessa para ocaso. Quando a
Picolina estava na fila para o
pagamento, ouviu-se um ruído,
digamos estranho. Todos
começaram a olhar uns para os
outros tentando perceber de onde
tinha vinda tal ruído. Mas
ficaram muito enojados quando o
ovo começou a escorrer pelas
pernas dela. Muito atrapalhada e
deixando as compras em cima do
balcão, começou a correr direito
à saída e dizendo:
- Estou com o período, estou com
o período…
Entretanto, a bateria do
telemóvel esgotou e não pudemos
falar mais.
Cá fora, o vento continuava a
fazer-se ouvir assim como a
chuva fazia barulhos ao bater
nas persianas das janelas.
Tapando-me melhor, adormeci
profundamente.
Quando acordei, fiquei na dúvida
se teria sido a Mariazinha d’O a
telefonar-me ou teria sido um
sonho…
Carlos Leite Ribeiro – Marinha
Grande – Portugal
ROTINA
Ana Maria Nascimento
Na expectativa de você chegar
olho o relógio repetidamente.
Quedo-me a escutar-lhe o
tique-taque
numa rotina sem alteração.
Experimentando sua indiferença,
no vago palco reservado a mim,
vou repassando os brilhantes
momentos
que nortearam minha trajetória.
Também em meio a esse
sofrimento,
vejo vir à tona muita ansiedade
em dissipar os benéficos raios,
os responsáveis pelo amanhecer.
Cercada pela imensa solidão,
eu sinto desabarem grossas
lágrimas
banhando a minha face tristonha,
lavando-me também o coração
MARCAS
Aparecido Donizetti Hernandez
A felicidade começa quando
nascemos?
A felicidade é um dos objetivos
da vida...
Quando a temos? Quando a
teremos?
Na infância, quando brincamos
Contemplando e se deslumbrando
Em cada nova descoberta.
Na adolescência, quando
descobrimos
O que pode ser o amor e a dor?
Quando pensamos que somos o
Centro do mundo
E ele gira à nossa volta!
Na meia idade, quando pensamos
que
Já passamos por tudo,
Mas ainda não passamos por nada.
Na velhice, quando tememos...
Tememos até o amor.
Quando começa a felicidade?
A felicidade é uma busca
constante,
E para encontrá-la, temos que
ter as marcas,
As marcas do tempo...
Que as marcas do tempo deixem em
nós,
Não somente lembranças,
Mas, também pequenas brumas de
felicidade!
AO ÉDEN
Ari Santos de Campos
Vou me atrever a viver
contumaz:
- quero enlaçar os meus
sonhos aos seus,
sei que em seu mundo não
restam jamais
sonhos feridos unidos aos
meus.
Minhas malicias ficaram pra
trás:
não trilharei mais caminhos
ateus...
busco meu mundo, repleto de
paz,
tal como um éden - viver
semideus.
Neste meu vale sem cor, nem
valor,
vejo lampejos cruzando o meu
fim;
por isso torno e prossigo no
amor.
Se dentre às pedras jogadas
em mim,
em qualquer fenda nascer uma
flor,
lá, com certeza, farei meu
jardim.
Constante Construção
Camila Estrela
Preencho meus vazios com
o que me liberta;
Não com uma verdade
incerta;
Sou o delírio sã do
amor;
A materialização da
atitude do Criador;
Sou um mosaico de sonhos
em processo;
Sou caminho, retrocesso;
A mistura de passos
dados;
O encontro de acertos
firmados;
Sou o ar que respiro, as
pessoas que encontro;
O conflito de interesses
que se fundem num ponto;
Sou eu e você e mais
outros;
Sou o melhor que
aproveito em poucos;
Sou o início, o fim, o
meio;
De tudo aquilo que me
sobreveio;
Sou contrários, avessos,
conclusões;
Vitórias, angústias,
tensões;
Sou o que sou e mais um
pouco;
Rebento de um
futurístico e retrógado
mundo louco;
Sou o que gosto de ser;
Tudo aquilo que preenche
meu viver;
Sou, mas um dia eu
serei;
A poesia, os conselhos,
as músicas que um dia
escutei;
Sou a essência do que
aproveito;
Desfazendo tabus,
discórdias,
preconceitos;
Sou eu hoje, mas que eu
possa ser um dia;
Melhor em tudo aquilo
que eu queria.
“CARNE VALE” *
Carmo Vasconcelos
Me enlaçaste, demónio
mascarado,
Na rubra fantasia,
exuberante,
E eu de anjinha, no traje
alvo, enluarado,
Segui-te numa dança
fascinante.
Inventámos um louco
carnaval,
Em data desfasada, ambos sem
tento,
Que tal cometa em viagem
orbital,
Teve a breve medida de um
momento
Em fogueira de penas nos
deitámos,
Traje posto, ajustada a
mascarilha,
E cegos de porvires nos
queimámos
Nesse lume atiçado de
armadilha.
Hoje extinta a paixão de
carnaval,
Semelhante a comédia do
burlesco,
Dançam as cinzas um negro
ritual,
Em memória do rubro amor
dantesco!
***
* “Carne Vale” ou “Adeus à
Carne”– origem etimológica
da palavra “Carnaval” –
Séc.XI
***
Lisboa/Portugal
24/Janº/2010
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Nossos momentos
Cibele Carvalho
Nossos momentos... tão nossos,
nas palavras que dizemos,
no amor que só nós sabemos,
nos gracejos insinuados,
nos desejos atiçados.
Mesmo de gente cercados
sentimo-nos resguardados
nesse mundo só de dois.
Tudo é bom, é sedutor,
pois esse jogo de amor
prepara-nos pros momentos
de expressar os sentimentos
de maneira bem real.
A paixão que nos invade
longe da virtualidade,
nos domina e arrebata.
Da nossa vida pacata
não vê-se o menor sinal
- cai o santo e o pedestal,
nesse jogo de pagãos
onde não há perdedores
- só tu e eu, vencedores.
MINHA ALDEIA
Eduardo de Almeida farias
A minha aldeia é tão pequenina
Que num amplexo a envolvo
inteirinha;
É uma casa, com duas janelas,
somente,
Uma janela para entrar o sol
nascente
A outra janela para encantar o
sol poente;
De luz é toda cheia
A minha aldeia.
Vilamendo de Cima
Vilamendo de baixo
Artes da toponímia,
Que riscou um caminho
Ao meio da minha aldeia.
Minha terra é guardada
Por um sentinela de crista
enfunada,
Que tem uma torre por assento
Desde que o tempo é tempo;
É tão velho, tão velho este
guardião
Destas terras de Agadão,
Que até perde o rumo do vento
Quando o acorda o sino grandão.
Minha terra é toda beleza
Que é um encanto de se ver;
Tem colinas e outeiros,
E montes altaneiros
Onde a lua costuma repousar;
Tem um rio de águas saltitantes,
E mil fontes
Lágrimas de uma moura princesa,
Que por ali se deixou encantar.
Eduardo de Almeida farias
16 jan.2010
Obs. Sujeito a modificações.
VIDA SEM ALMA
Eugénio de Sá
Alma minha gentil, apaixonada
Lembro-te inda comigo arrebatada
Naqueles arrebóis de Portugal...
És mesmo tu? - Não te reconheço!
Duvido se terás novo endereço
Sinto-te a falta, como de mar e
sal.
Trazes tanta tristeza à minha
pena
Ao descrever-te agora tão
pequena
Afinal o que foi que aconteceu?
Encolhida no canto da saudade
Trocaste o brilho pl’a
obscuridade
Perdeste do fulgor, o apogeu!
Quero devolver-te o halo que eu
amava
E que de amor e arte te dotava
Como animar-te, que hei-de eu
fazer
P’ra cantar em poesia a tua
glória?
Como farei p'ra recriar a
história
Deste corpo sem ti, e a morrer?
A Poesia nos une
Francis Raposo Ferreira
O oceano nos separando
A poesia nos unindo,
Vocês aí nos convidando
E nós aqui retribuindo.
Eu me sinto honrado,
Como todo poeta o estará,
Por ter sido convidado.
A ler da melhor poesia que
há.
Gosto muito de escrever
Não tenho medo de o dizer,
Dando sempre o meu melhor.
E com musas assim
Como essas lindas daí,
Só me saem poemas de amor
Glosando Arlindo Tadeu Hagen
Gislaine Canales
ROSA ORVALHADA
MOTE:
Pobre horizonte pequeno
de quem crê, sem ver mais
nada,
que uma rosa com sereno
é só uma rosa molhada!
Pobre horizonte pequeno
de quem não vê mais além...
que ao receber um aceno,
não sabe o valor que tem.
É triste, sempre, o caminho,
de quem crê, sem ver mais
nada,
que nunca estará sozinho
ao longo da caminhada.
Ter um sentimento pleno
faz sentir, com alegria,
que uma rosa com sereno
é a mais pura poesia.
Vendo essa rosa feliz,
suavemente orvalhada,
só quem não ama é que diz:
é só uma rosa molhada!
Anjo de luz
Heralda Víctor
Num céu de estrelas
cintilantes
Embevecida pelo amor-
perfeito
Na lua cobiçada pelos
namorados
A dor costura versos no
meu peito.
Na insônia da fria
madrugada
Com a chuva e o vento em
parceria
Na saudade que grita e
angustia
Transformo minha lavra
em poesia.
Da terra ressoa um riso
insano de alegria
Pela semente que germina
em pensamento
Ternura de mãe que
acolhe o seu rebento
E ao amado filho dá o
seio e acaricia.
Fiel à sublime devoção e
sem engano
Negando a tristeza que
me é funesta
Para cumprir a messe de
um ser humano
O poeta que há mim, se
manifesta.
EMOÇÕES TERMINAIS
Hermoclydes S. Franco
As emoções se soltam pelo
tempo
e no passado vão rever os
sonhos
perdidos, de forma falaz...
As ilusões, lançadas pelo
espaço,
parecem reviver velhos
amores
que enfeitaram calmos dias
de paz!...
A saudade da aurora da
existência
está presente em cada
pensamento,
feito um grito desesperado e
audaz....
E a tristeza dos anos
terminais
vêm chorar, pelos cantos,
solitária,
ao sentir que a vida... não
volta atrás!...
INQUIETAÇÕES
Joaquim Moncks
Árvores tingem de sombras
a nesga de céu acima da
cabeça.
Procura-se espaços de
proteção
sob anjos do inclemente
janeiro
no asfalto da grande cidade.
A mulher, no consultório
médico,
faz ressonância magnética e
espera
suas mamas estejam firmes de
vida
ao sol claro.
O poente cria tatuagens no
pensamento
quando a enfermidade chega
com um guarda-chuva de
inquietações.
O câncer escreve suas
metástases.
O amanhã é um dia tinto de
esperanças.
Deus e árvores protegem sob
todas as luzes.
- Do livro, em elaboração,
AURORA DE POEMAS, 2009/10.
Esperança
J.R.Cônsoli
Uma grande esperança me
conforta,
quando te vejo entrar
naquela porta,
preso o cabelo com o laço de
fita,
de todas, foste sempre a
mais bonita.
Foi muito curta a nossa
convivência,
mas muito bela a estrada que
trilhamos...
mas, num repente, foi-se a
convergência,
perdeu-se tudo o que
compartilhamos.
A noite fez valer sua
vontade,
impediu-nos de ver a
claridade:
do luar, da manhã, da luz
que aquece.
Mas a esperança ainda
permanece,
como o laço de fita dos
cabelos,
que prende os fios para não
perdê-los.
Viajantes do amor
Jorge linhaça
Nós viajamos na nave do
amor
Entre galáxias d'abraços
e beijos
Corpos unidos, reféns do
desejo
Entre arco-íris repletos
de cor
Pelas janelas, ao nosso
redor
Vimos estrelas em doces
lampejos
Fit'o passado, teus
olhos revejo
Lindos, brilhantes, de
anjo maior
Hoje a nave perdeu-se no
tempo
Veio o relento e me
abduziu
Longe viajas nas asas do
vento
Buscando além a eterna
miragem
Foste o amor que de mim
s'esvaiu
Deixando-m'aqui em erma
paisagem
Ser Afetivo
Jussára C Godinho - Ju
Virginiana
Ser afetivo é querer bem
Mas, antes de tudo, desejar o
bem
É disciplina exigir
Mas, sobretudo, apontar o porvir
É, sim, limites impor
Mas, principalmente, mostrar
caminhos
É entender e respeitar
Saber ouvir, o diferente não
negar
Jamais confrontar
Dar sem muito esperar
É Aprender e... Ensinar
É ajuda oferecer
E nunca ninguém desmerecer
É no outro se perceber
É não desistir
E continuar a sorrir
É amar o semelhante
É, acima de tudo, ser GENTE!
Caxias do Sul - RS - Brasil
FLORES QUE TE DOU
Lairton Trovão de Andrade
Abraça as flores que te dou,
São as mais belas do
jardim...
– Nem mesmo o tempo as
desbotou.
Receba as flores que colhi
Do alvorecer do infindo
amor...
– Sinta a fragrância que eu
senti!
As lindas flores que te dou
São versos nobres – voz do
amor,
Que o meu viver te
consagrou.
Só restam flores pra te dar!
Dobra-se humilde este meu
ser...
– Não há mais nada pra
sonhar.
Das cores vãs deste meu
mundo,
Tudo é passado, é céu
escuro...
– Vivo a dormir sono
profundo.
Flores, sinais de quem te
ornou,
São poemas vivos de amor,
que eu,
Mesmo que morto, inda te
dou.
Dança o tempo... novos rumos
Lígia Antunes Leivas
Dança o tempo. Ritmo
acelerado. Nesse pra-lá-e-pra-cá
fia a vida os afazeres de todas
as horas. Deixa sinais. Muda os
rumos. Dá-nos outros nortes.
Desdobra-se em torrentes de
sonhos... vendavais de muitos
ais... esperanças de roupa
nova... tristezas sem falsas
máscaras... Enfim, o cotidiano
do viver a vida.
...e até aquela saudade -
soturna sempre e tão antiga -
vai desfazendo-se em traços
desmaiados. Dela, apenas um
quase nada no sentimento.
(Estranho... ela foi forte...
cingiu-me o peito; quase em
pedaços deixou o coração...) -
Hoje? ...apenas lembranças
tênues de um grande amor (não o
tive... perdi-o para sempre,
diz-me este meu outro eu). Não
era para minha vida realizá-lo,
fazê-lo meu, marcar com nossos
passos a mesma trilha.
Agora, para mim já
rarefeito, deve andar ele
cantando em outros palcos. As
plateias se alternam, também os
aplausos e os fãs especiais.
(Será preciso explicar? Será
preciso entender? ... para quê?
Quem nos ama não exige nem
precisa de nossas explicações;
quem não nos ama, jamais dará
crédito ao que dissermos...
Então, 'sem explicações' - é o
mais sensato.)
A lua de revesgueio me
espia. Com sua graciosidade
alegra o firmamento e acho
também que lê meu pensamento:
'foi difícil.. muito amor, tanto
amor... quase interminável...
mas mais difícil ainda foi o
esquecimento... convenci-me
porém... os beijos daquele amor
não eram para mim... não eram
para a minha vida'.
O mundo não desabou...
o céu é azul... intensa e
interminavelmente azul
...ainda!!!
Lígia Antunes Leivas
Revisora de Textos em Língua
Portuguesa
Eu...
Luciano Spagnol
Preciso de um olhar mais
profundo
que ouça minhas tristezas e
neuroses
com paciência, toda ela do
mundo
e não a compreensão em
anamorfoses.
Preciso da mão alheia que
brigue por mim
ao meu lado, sem ser
convocado, enfim
que diga as verdades, sem
ter receio
deu bronquear por isto, onde
laceio
minh’alma, frustrações e as
fraquezas
acomodando-as no mistério e
belezas
do amor, da vida, com real
lealdade
traduzindo o sinônimo de
felicidade.
Preciso da minha, tua, nossa
gratidão
nas perdas do tesouro, apoio
de irmão
de cúmplice, amigo, para
rirmos juntos
chorarmos juntos, superando
a situação.
Preciso das escolhas certas,
no ser justo
mesmo que seja pouco nas
necessidades
mas nobre e rico nos gestos
de simplicidade.
Preciso do que está além da
compreensão
do racional, quero me
agarrar na diversidade
empenhando meu espírito na
emoção
assim, passo a passo rumo a
eternidade...
(Preciso de alguém que me
olhe nos olhos quando falo.)
Rio, 26/02/2010
13’48”
Luciano Spagnol
Fisioterapeuta
Rio de Janeiro, RJ
site -
www.poesiaempauta.fst.br -
site de poesia.
DEIXE SUA ALMA VOAR
Luiz Gonzaga Bezerra
Deixe sua alma voar
Deixe para trás o passado
Agarre-se nos sonhos
deitados
Nas orlas das suas estradas.
Voe sem pressa até encontrar
um lugar
Onde você pouse e fique
relaxado
Admirando os pássaros voando
devagar
Cantando suas musicas
imensuráveis.
Sonhe com o sucesso
Apenas sonhe com o coração
Ele é o sábio perfeito e
eterno
Senhor da vida e dos sonhos.
Deixe o ar sair do peito
devagar
Feche os olhos sinta das
flores o aroma
Ouça a dança das águas sem
se preocupar
Vibre! Fortaleça sua alma se
encante.
"VIAGEM INSÓLITA’’
Milton Roza Junior
AS MINHAS LEMBRANÇAS SÃO
COMO VIDROS DESPEDAÇADOS
QUE FORMAM QUEBRA-CABEÇA
DE IMAGEM IRRECUPERÁVEL
QUERIA EU TER UM FILHO
PRÓDIGO
QUE ME ESBANJASSE LOUCURA
RETIRANDO UMA A UMA NA DURA
PALAVRAS DE UM PASSADO
INSÓLITO
E QUANDO CHEGAM NA MEMÓRIA
CANTAM-SE HINOS
COM MÃO DIREITA NO CORAÇÃO
MÚSICA QUE SE TEM NO TOM
DE UM BADALO DE DESATINOS
IRÁ CHEGAR UM DIA
COM MINHAS PERNAS RELEMBRAR
UM PRETÉRITO QUIXOTESCO
DE MINHA FAMÍLIA ARANTES DE
ALENCAR.
A UMA VELHA MANGUEIRA
Raymundo de Salles Brasil
Eu tenho no quintal uma
mangueira,
Não fui eu quem plantou, é muito
antiga,
Mas parece-me a mim ainda
fagueira,
Se a passarada chega e ali se
abriga.
É árvore frondosa, parideira,
Já deu milhões de frutos sem
fadiga,
E até hoje nos olha sobranceira,
Mas, generosa, acolhedora e
amiga.
Difícil ser assim, não é
verdade?
Assim como essa árvore – a
mangueira –
Se dando sem cobrar, a vida
inteira,
Com tanto amor e tanta
dignidade,
Sem achar que fez tudo, que já
basta,
Sem olhar para credo, cor ou
casta.
Ida
Ridamar Batista
Amanhã quando uma nuvem
passageira
Levar-me pra bem longe
Uma lembrança suave hei de
deixar
Meus versos simples, minha
singeleza
Minha maneira adocicada de
falar.
Hão de lembrar-me os caminhos
todos
Floridos ou não, meu fantasiar
O mar revolto, os cabelos seus
a cor do mato, esse seu olhar
as folhas secas colorindo
estradas
o azul do céu, meu enfeitiçar
a lua branca, o Cruzeiro do Sul
levarei tudo quando eu voar
vou buscar meus sonhos
todas as quimeras
Viajar, viajar e viajar
Correr montanhas, cavalgar o
vento
Em risadas soltas, assim me
alegrar
Serei tão leve como o grão de
areia
Imperceptível como o sonhar
Deixarei lembranças, algo de
saudades
Quando amanhã a nuvem me levar.
ROSA DESFOLHADA
Rita Velosa
O Cravo desfolhou a Rosa.
Pobre Rosa! Rosa perdida!
Suas pétalas espalhadas pelo
chão,
ainda exalam o perfume da
paixão.
Pobre Rosa!, Rosa
desfolhada!
Suas pétalas pelo chão,
ainda espalhadas,
desenham a forma de um
partido coração!
<< Medo perdido!...>>
Silvino Potêncio
Entrei pela porta da vida,
À procura dum raio de luz.
De novo saí,... já com
uma cruz,
Que me foi dada à
guarida,
P’ra todo o sempre e
enquanto,
Na terra durar o
meu pranto.
Nascendo, embarquei para as
trevas,
Dum destino incerto e sem
rumo.
Caminho apertado por grevas,
Formadas em nuvens de fumo.
Vivemos, morremos, e
esquecemos...
As dores, os prazeres e
os bens térreos;
E ainda que sejam
fortes, até férreos!,
São laços que sempre
perdemos...
São esperanças que só
deixam penas,
São grandes por
serem pequenas!...
Entrei pela porta da vida,
Saí correndo assustado;
Descobri que sou,... tão
mal formado.
Que de mim tenho medo
constante,
Nascido comigo no
instante
Que minha Mãe me deu
vida. – me tornou nado!
Andará por aí,
Cantando, rindo e chorando
comigo.
Para mim será um simples
amigo,
Como olhos daquilo que eu
vi.
Entrei em mim como água em
mar alto,
Se deixa tomar pelos
peixes...
Se por ti tiveres medo
não deixes,
Que ele te tome de
assalto...
- Não queiras que o
tempo te leve,
A ter medo de quem o
não teve.
Autor: Silvino Potêncio
(in: "Eu, O Pensamento, a
Rima" - Luanda/Anos 70)
Onipotência Juvenil
Tania Montandon
Na flor da idade
Hormônios a mil por hora
Nada será ou foi – tudo é
Não há perigo na insensatez
Não há razão que preceda a
impulsão
Usar droga só uma vez
E outra e outra à exaustão
A imaginação é fértil e
heróica
Manipula o conhecimento a
bel prazer
Não há horas ou minutos – só
infinitos segundos
Mais de meia hora não dura a
onda
Mas que importa a
racionalização?!
Se face à realidade que o
ronda
Cuidados sociais não é
preocupação?
Brincar com a lógica é
divertido
Pular o muro do sentido
Inundar o cérebro de veneno
A neurotransmissão parece
‘encantamento’
A morte torna-se vida
A vida torna-se morte
Até que o jovem escolhe a
saída:
- Sofrer maduro ou destruir
a própria vida?
Velho demais para ignorar o
mal da coisa
Jovem demais para ignorar a
tentação de desafiá-lo
Dilema face ao deus Cronos:
- É tempo de parar? É tempo
de matar?
É tempo de escutar? É tempo
de chorar?
Os gritos surdos atormentam
Consciência moral, superego
social
Desesperança, culpa, falta
As bases do destino
alimentam-se
- O que estou a fazer?
- O que está a me acontecer?
O fato perde o significado
A cultura cobra o resultado
O jovem entrega-se,
assustado
Diz adeus ao poderio
Colhe os frutos que produziu
E o bode expiatório vai pro
mundo
Nunca mais se o viu...
AEDO RAPSODO
Tchello d'Barros
Um pássaro branco
Da cor do marfim
Pousou no meu ombro
E disse pra mim
Amigo poeta
Escriba e aedo
Da espada palavra
Nunca tenha medo
E bateu as asas
De alma lavada
Pra longe voôu
Disse que a palavra
É mais que a espada
E seu canto ecoôu
MINHA SORTE
Théo Drummond
Seja o que for que me digas
no instante em que me
deixares,
mesmo palavras amigas
não darão fim aos penares
ou mudarão minha sorte:
pois ires é a minha morte.
Sendo assim, e antes que
partas,
antevendo ao céu o inferno,
rasgarei todas as cartas
de juras de amor eterno.
Terei a sina cumprida:
sem ti sem razão é a vida.
Amor assim que carrego
e nunca foi reprimido,
e que por ele renego
aquilo que tenho sido,
pois na verdade estou cego,
louco, faminto, perdido.
Por isso, quando partires
sem, talvez, nem reparares
que o simples fato de ires
me trará tantos pesares,
será tanto o desconforto
que viverei como um morto.
Serei a estrela sem brilho.
a luz que nada ilumina,
o pai que não teve um filho,
a dor funda e repentina,
planta que não foi regada:
serei o que não foi nada.
Muito obrigada pela
participação de todos
e até a próxima
edição.
Abraços.
Iara Melo
Foto
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Fundo
Musical: CANTEIROS
Composição: Cecília Meirelles e Raimundo Fagner
( Baseado no Poema "Marcha" de Cecília Meirelles)
Formatação e Arte Final: Iara
Melo
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