Revista "Aquilo que a Gente Sente "

Ano II - Fevereiro/2010

 

Criação : Carlos Leite Ribeiro

 

Edição: Iara Melo

 


 

 

 

 

Alice Tomé


Mulher Arte… Lua destino velaria…
 


Talvez se deva à Lua
Ou à Terra onde nasceu
Ou então ao Sol ardente
Dessa ceifa de Verão!

Da Arte fez conselheira
Isabel assim viveria
Modelos que eram seus
Em Valongo "copiariam"

Em cada momento procurava
Beleza e primazia
E para o povo que tanto amava
Mulher Arte se chamaria


Vivendo e criando
Perfeição sempre exigia
Do linho fazia seda
E a VIDA assim tecia!

Nos campos plantava flores
Que nunca murchariam
Isabel Mulher Arte…
Lua destino velaria!
 


© Alice Tomé, poema criado em 11-02-1990, Lisboa, Portugal.
Á melhor Isabel Pires Tomé do mundo - minha mãe, e,
Aos que cantam ou rezam a "andarilh" Saudade Lusitana
porque a sentem e a vivem, seja onde for…
http://atome.no.sapo.pt/index.htm

 

 

 


 

Contemplação
Cida Micossi J

Montanhas majestosas esculpidas
Pelas mãos do Criador
Testemunham embevecidas
Dia a dia o sol se pôr
 
Espetáculo democrático
A quem vier apreciar
Seus matizes multicromáticos
Do vermelho-fogo ao âmbar
 
Cai a noite, logo o dia
Vai o Astro-Rei receber
Qual ampulheta inclemente
Deixando a areia escorrer
Caleidoscópio intermitente
Os nossos olhos a entreter

 

 

 

 

O CANTO DAS CIGARRAS
Eduardo de Almeida Farias


Para muita gente, o canto das cigarras,
É apenas um zumbido irritante,
Que precede seu acasalamento;
Para outros,
De sentir semelhante ao meu,
No entanto
Esse estridular, é uma forma de pranto,
Um pungente, definitivo adeus.

Estranha vida das cigarras:
Sob a terra vivem por longo tempo,
Depois, num átimo, eclodem,
Num canto, em pranto;
Irônica contradição!
Triste sina, má sorte,
Em vez de um hino à vida
Entoam exórdios em claves de morte.

O canto das cigarras, entretanto,
Me traz saudosas recordações,
Talvez por isso
Eu me comova tanto, tanto;
Pois lembro outros lugares,
Outros verões,
A idade dos sonhos, das ilusões,
De um tempo tão distante.

e-mail:
edumendo@gmail.com

 

 

VIAGENS
Fernando Morais
 

Nas penedias do sono
nos pesadelos da sombra
enlu/arado e mãos frias
nos invernos do abandono
 
fui Henriques e Afonso
fui  Viriato e escarpas
pulei riachos que fogem
debaixo dos pés do dono
 
circulei pelos caminhos
envolto em montes curvados
encontrei raízes, fontes
e bichezas nos montados
 
não me perdi nem me achei
as botas gastas e rotas
e sentei-me lá no alto
satisfeito do que vi
 
e, portanto, só vi montes .

 

 

 

Um Passeio Inesquecível... Barra de São João. Cidade natal do poeta Casimiro de Abreu.

 Iraí Verdan
 

   Depois de algum tempo no engarrafamento do trânsito para a Região dos Lagos, o anseio de chegar logo se desfez, ao serem desligados os motores dos carros, bem em frente ao portão da casa de meu filho, em Barra de São João–RJ, onde em família, fomos passar as comemorações de final do ano de 2009.
 
  Barra de São João, no Estado do Rio de Janeiro, é a cidade natal do grande poeta romântico Casimiro de Abreu. É uma cidade muito bonita,  que possui características diversas, privilegiada, em cada trecho dos seus bairros, por atrações diversas, conservando o aspecto do interior e cidade praiana, que agrada a todos.
 
Nela passa o rio São João, rota das viagens de Darwin no ano de 1832, conforme placa da Prefeitura, instalada bem próximo à casa,  com mapa de indicações alusivas ao fato. Rio ótimo para pescaria e velejar.
 
 Há uma lagoa chamada Prainha, onde as águas do rio São João se encontram com as águas do mar. Idosos e crianças gostam de brincar na água e nadar. O mar, com uma bela praia e ondas altas e espumantes. Pássaros em quantidade fazem reboados baixos, com as asas brilhantes à luz do sol. Uma beleza quase indescritível. No horizonte vê-se as ilhas, cheias de vegetação.
 
  Apesar de já conhecer a cidade, meu coração disparou ao chegar, preparando-me para desfrutar daquelas belezas, vistas em abundância.
 
  Rapidamente, toda a família que viajara por algumas horas, foi retirando cada um os seus pertences dos carros e entrando na modesta casa, um casario da Rua Bernardo Gomes, com casas iguais, situada na avenida à beira-rio. A avenida toda calçada com paralelos, dá um toque de cidade antiga.
 
  Do outro lado da avenida de paralelos, quase da mesma largura da rua, um gramado muito verde, bem cuidado e arborizado, com espécies de coqueiros e árvores centenárias, enfileiradas, revestidas de bromélias floridas, cipós e outras parasitas. Os cipós verdes, de tão envelhecidos, parecem raízes que descem do alto nos galhos. O gramado vai até ao cinturão de concreto próximo ao rio, e em alguns pontos os cais (tablados de madeiras), onde os barcos de pescadores, atracados, balançam de lá pra cá, com o movimento dos ventos e das águas.
  Uma brisa agradável percorre no local, e o cais é muito visitado por turistas e moradores.
 
  Lá do outro lado do rio, a vegetação estende os seus galhos junto às águas, fazendo um cordão esverdeado. Fico desejando atravessar o rio...
 
  À tardinha bando de pássaros passa voando rente às águas de volta aos ninhos.
 
  Em toda a extensão da rua, a presença do verde é um convite para descansar sobre a grama. E é o que se vê, pessoas repousando embaixo das sombras à beira do rio São João.
 
  Na parte mais alta da rua, tem um manguezal que se inicia no rio. De vez em quando a gente encontra um caranguejo passeando... Frutos das amendoeiras se espalham pelo chão.
 
  No outro lado, as casas à beira mar, com muitos arbustos floridos debruçados nos muros, e depois outro gramado, a areia e o mar de belas ondas.
 
   Esta é a cidade natal de Casimiro de Abreu. Apesar de simples é uma das mais belas da região dos Lagos, pois tem qualidade de vida.
 
   Para aprender a admirá-la, basta conhecer um pouco da nossa literatura. Parece que o tempo parou ali. O cheiro das frutas que o poeta tanto falou em seus versos, parece continuar. O grande poeta Casimiro de Abreu nasceu e viveu até os 11 anos ali, quando depois foi estudar em Friburgo, a mando de seu pai.
 
   Onde era o galpão comercial do seu pai, e ao redor e nos fundos era a sua casa, hoje é um museu em seu nome. No lado de fora do casarão, o cenário da casa em que vivera o poeta e sua família, o pai a mãe e mais duas irmãs, ladeada de romantismo, que parece ter feito mesmo o tempo parar... Ou somos nós que voltamos no tempo?
 
   Sua maravilhosa poesia Meus Oito Anos, ali perpetuada em uma placa de metal, é um patrimônio histórico, que chama a atenção pela homenagem e a recordação de infância de cada cidadão ou visitante.
 
   A rua parece ter o cheiro de manga e das frutas que o poeta gostava e descreveu em seus versos. O ar parece impregnado da atmosfera daquela época.
   No jardim de sua casa, versos da poesia “Primaveras”, gravadas nos bancos, reportam-nos o quanto ele amou aquele lugar, a natureza, a estação das flores – A Primavera, em sua terra natal. Uma escultura do poeta sentado em um banco, em bronze, em tamanho natural, à beira do rio, feita por Christina Mota, o poeta em atitude de contemplação do rio, que ele tanto amou, ficou para sempre eternizado o momento do poeta...
 
Depois de descansarmos um pouco, fomos desfrutar o prazer das belezas ao nosso redor.
 
  Saímos a caminhar, fotografando as paisagens, e não deixamos nada sem registrar.
 
  Casimiro de Abreu viveu muito pouco. Apenas 21 anos de vida.  Nasceu em 04 de janeiro de 1839 e faleceu em outubro de 1860, vitimado por tuberculose. Em suas poesias é marcante o desejo de viver. Ele só possue um livro, publicado em 1859: As Primaveras e outras literaturas publicadas em revista em Portugal. Começou a escrever com 12 anos, o seu primeiro poema: “As Ave-Maria”, mas, ficou conhecido em Portugal, França  e outros lugares estrangeiros por onde passou, com apresentação de uma peça teatral e poesias escritas  por ele. Falava em cartas e poesias que estava bem, na alma e no corpo.  Em julho de 1857, chegou de Lisboa para o Brasil, com saudades de sua terra e se dedicou à literatura. Seu estado de saúde que não estava bom se agravou, e em 18 de outubro, faleceu. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento, em Barra de São João, sua cidade.
 
 Mesmo não tendo tempo em vida de se preparar em conhecimentos da nossa língua, as poesias do poeta Casimiro de Abreu, são um legado de amor e do verdadeiro romantismo, que outros poetas clássicos não conseguiram o esperado reconhecimento na Literatura.
 
  Difícil foi a hora de voltar para casa, de vir embora...Contemplar outras  manhãs, mas, despidas do romantismo permanente daquele lugar, que parece viver no século passado, e cair na vida do Século 21, na cidade onde moro, onde também tivemos heróis e poetas, também jovens brilhantes, românticos, que viveram vidas gloriosas, mas, que ficaram esquecidos nas páginas da história de nossa terra. 
 
Magé, 23 de fevereiro de 2010. 
 



 
INSÔNIA
Jandyra Adami

As vezes, cansada, sem sono,
ia à janela e olhava o céu.
Pensava comigo:será que alguém
está a fitar estrelas?
E para lá eu voava,
me transformava...
Brilhava o mais que podia
para ver se me notava...
Lá do alto, via uma janela aberta
e olhos curiosos me buscavam!!!
Ficava feliz, irradiando o brilho
que pudesse fazer alguém sonhar:
"Ora direis ouvir estrelas"
Sim...era eu que te mandava
minha luz, a mais singela...
E tu, pensavas que era a lua
que te abraçava...

 

 

Dor suprema ou noite negra da Alma

Ridamar Batista


A dor de cada um tem dois pesos e duas medidas..
O sofrimento que vida nos impõe, é uma tortura quase impossível de viver e depois que a transpomos, fica um vazio muito grande.
Este vazio tem a cara de saudade. Não posso acreditar que sintamos saudade de algo que tanto mal nos fez, mas dá esta impressão. Uma marca indelével, um sentimento imensurável, uma lembrança quase latente.
Sofrer é duro demais.
Principalmente quando a nossa dor fica exposta e muitas outras pessoas tentam ajudar na causa.
É meio invasivo, meio cruel. Por mais que os outros tentem ser solidários, não deixa de ser intruso.
Tem momento que a dor deve ser sentida a sós. Não dá para repartir a dor. Não dá para ser sociável na dor.
A dor é feia, repugnante e quase indecente.
E pior, ela tem dois pesos e duas medidas. Para quem sofre, a dor é tão cruel que nos transforma e fantasmas ambulantes. Ficamos com a face tensa, as lágrimas escorrem sem serem chamadas, os dentes ficam presos, as mandíbulas contraídas a tal ponto de doer. No momento da dor suprema, esquecemos de tudo, ficamos totalmente sozinhos, verdadeiros ermitães de nós mesmos.
Criamos a mais escura caverna. Refugiamos dentro da mais negra solidão. Nada consola. A dor suprema sangra o coração, a carne fica roxa, a alma negra. Ela parece um pouco com o ódio.
Esquecemos de nós mesmos quando sofremos.
Mas a nossa dor não consegue ser medida pelo outro do tamanho que ela é para quem sofre.
O tamanho da dor é tão diferente que nem sequer o maior sábio pode dimensionar o que o outro sente. O coração do homem é terra que ninguém jamais pode pisar.
E nesta hora de dor suprema, nada e nem ninguém pode ajudar. Cada um de nós tem seu momento negro. A noite negra da alma. Aquele pedaço de caminho que teremos um dia que passar a sós. Dentro de nós mesmos, sem consolo e sem abrigo.
Até que possamos ver ao longe o primeiro raiar da nova alvorada, aquela que precede a noite negra.
Sempre sofremos por alguém. A dor suprema da alma humana está sempre relacionada com alguma perda.
Para entender bem isso, um dia eu li algo assim…
“Nós fazemos chorar àqueles que cuidam de nós.
Nós choramos por aqueles que nunca cuidam de nós.
E nós cuidamos daqueles que nunca vão chorar por nós.”
Esta é a vida. A mais pura verdade.
Uma vez que entendamos isso, é a hora certa para mudar. E quem sabe, deixar de sofrer a dor suprema.

PS. Escrito com o pensamento voltado para as pessoas que passaram por tantas tragédias no fim do ano de 2009, tentando entender a dor de cada um.
 
 
 

 

Desalento

J.R.Cônsoli

 

Eu não consigo escrever mais versos,
fugiu-me a inspiração por entre brumas.
Voou-me a pomba branca da poesia,
bateu as asas e eriçou as plumas.
 
Atrás de si deixou-me a noite vaga,
a escuridão por companheira atroz,
fechou-me os olhos, alentou-me o pranto,
e pouco a pouco emudeceu-me a voz.
 
Esperanças não tenho... não consigo
voar nas asas leves dos meus sonhos,
e ter a dama a dialogar comigo.
 
Por onde andas Musa Inspiração?...
Volta pra mim, me traz dias risonhos,
Torna-me alegre o triste coração.
 
Fugiste, Ó Musa, e não disseste ao certo... porque fugiste e pra onde foste!

 

 

 

 

O QUE SERÁ DE MIM?
 
Raymundo de Salles Brasil

 
      Tem gente que condena o meu saudosismo, os meus momentos de nostalgia, e argumenta que devemos pensar no agora, e no futuro. O passado já passou, “já era” – dizem.
      Eu fico, entretanto, pensando com os meus botões: – meu agora, não é ruim, eu diria até que é muito bom, mas me falta gás para aproveitá-lo, e o meu futuro, se não é agora, espero que não seja, será daqui a pouco, por mais que demore de chegar. Com isso eu até me conformo, não estou reclamando, é a justiça de Deus aplicada a tantos quantos pecaram, e todos pecaram. Acho, entretanto, que essa conversa de pensar no futuro é conversa de moço, que quase não tem passado e tem um futuro imenso pela frente, não pode, portanto, aquilatar, nem entender o que significa ruminar lembranças.
      Se eu não curtir o meu passado, que graça vai ter a minha vida, se ela já está me escorrendo por entre os dedos?
      O que será de mim se eu não trouxer á tona os meus anos já vividos – a minha história – os caminhos por onde andei: as estradas, as vielas, os becos, as avenidas; os momentos mágicos e os cruciais da minha existência; a minha infância difícil, a minha adolescência irrequieta e sonhadora, a minha maturidade responsável e produtiva, os meus erros, os meus acertos; se eu não falar do momento fantástico em que Jesus entrou no meu coração e perdoou os meus pecados; se eu não cantar em versos a sonoridade do “sim” pronunciado pela mulher de toda minha vida; se eu não contar a sensação indescritível ao ouvir de meus filhos o balbuciar da primeira sílaba, e a palavra “papai” pela primeira vez; de vê-los engatinhar e dar o primeiro passo, escrever a primeira palavra, vestir a primeira farda; o que será, se eu não puder relembrar aqueles momentos em que, mercê de Deus, pude reunir forças e coragem para transpor obstáculos, vencer dificuldades, superar doenças e ter a alegria de ver, passada a tormenta, a vida singrando águas tranqüilas? Se eu não puder falar dos meus amigos, dos nossos sonhos; dos momentos em que buscávamos a felicidade no ignoto, sem saber que a tínhamos em nossas mãos; se eu não puder chorar os que se foram; se eu não falar do caráter íntegro de meu pai aos meus filhos e netos, dos seus ensinamentos de ética, honradez e lisura; se eu não falar da lacuna impreenchível  deixada por minha mãe quando eu tinha apenas cinco anos; se eu não repensar, para pedir perdão, os meus erros como filho, como pai, como esposo, como amigo, como irmão; o que será de mim, se no meu agora “o trem da vida já anunciou a minha estação”, e o futuro é de Deus – e, um pouco, dos moços?
 
 
 

 
 
R E A L I D A D E
Selene Antunes

Ah quanto amor ainda existe em  mim
Mesmo sabendo que não me amas
Ainda penso naqueles loucos momentos
Daquele nosso louco amor
Ainda te desejo tanto
Apenas em sonho posso sentir
A sensação dos nossos beijos
Quando acordo e vejo a realidade
Vem um vazio imenso
E me vejo chorando de saudades....

 

 

 

 
ÊRRO

Théo Drummond


Ao dar meu coração eu não sabia
o mal que a mim, por ti, havia feito;
Dali por diante o coração batia
como se não batesse no meu peito.

E então,sem me dar conta, eu não vivia.
Era tua sombra, sem saber direito,
para onde melevavas, onde eu ia,
e te seguia amargo, insatisfeito.

Até que um dia percebi que enquanto
o amornos cegue assim, de forma tal,
que só nos faça mal dua presença,

O melhor é lutar, fugir do encanto
do falso amor, que parecia o ideal,
mas aos poucos nos mata, como doença.

 

 

 

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