

Cidade do Porto -
Portugal
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"O Porto é uma cidade encantadora, situada nas encostas do rio Douro já
próximo da sua foz. Classificada como Património Mundial pela UNESCO graças aos
seus belos monumentos e edifícios históricos, como a imponente Sé ou a Torre dos
Clérigos, o Porto é a segunda maior cidade de Portugal e possui vistas soberbas
sobre as mundialmente célebres Caves do Vinho do Porto, na margem oposta do rio,
em Vila Nova de Gaia. Embora amplamente industrializado, o Porto oferece uma
síntese harmoniosa de atracções antigas e contemporâneas." |







Adélia Einsfeldt
Brasil
TEMPO
O tempo instante
desliza apressado
nas dobras do
vento lento
foge por caminhos
por onde passei
desdobra em retalhos
por atalhos
nas ruas e cidades
sem idade
os anos que andei
foram tantos
e no entanto
parece que
apenas cheguei
ontem.
Adélia Einsfeldt



Alba ALbarello
RS - Brasil
CONFINANTE É DESCASAR
A felicidade não significa que estamos longe,
mas sim que um dia lá permanecemos juntos.
Não há sobrevivências com sobras de tempo,
existem clarezas, momentos certos,
pensamentos em conjunto.
Saber lidar com as diferenças, seguindo a sua
própria imagem, o termômetro nos mostra
a temperatura do casamento,louvando a Deus pela vida.
A vida não é material, é um texto vivido.
O amor é um sonho e o casamento
é nosso despertador, é uma instituição.
Perdemos ao longo do tempo,
um pouco da poesia que nos envolve
ao romantismo, apaixonados, simbolizados
por pombinhos que não estão mais no cenário
do matrimônio, do amor vivido, em castelos cor-de-rosa.
Processos que sofrem transformações,
no tempo das relações amorosas.
O grande tema amor!
Englobam vários provérbios.
Como o amor cinderélico, encontrados
nos contos de fada.
Viver a poesia do amor sim...
Os pactos firmados não precisam ser selados
como clausula de contrato.
Ciúmes, terminado o amor, fica um disfarce
para outras facetas.
Reflexões sobre traições, enredo das histórias.
Em fim o descasamento é o que resta
de uma aliança e viver a continuidade da poesia,
do amor, como um sentimento que foi ditado como eterno.
Alba ALbarello



Amélia Marcolina Raposo da Luz
Pirapetinga - Minas Gerais - Brasil
NADA
Martelo cego
o meu ego
a ninguém me apego
e a escravidão renego!
Despetalo a flor,
de mim sou caçador,
o que tenho a propor?
Sou nada, arco-íris sem cor!
Martelo o prego com coragem
na parede que não existe
penduro um quadro
que vazio já não tem imagem...
Tento limites transpor
superando a dor
nessa vida quixotesca
de Sanchos e Rocinantes...
Luto contra o imaginário
perdida que estou
entre moinhos de vento
em noites de tempestades...
Jogo lanças no vazio e
sem querer mato os meus sonhos
apagando o pavio!
Na verdade a vida é tudo
que se transfigura em nada...



CONTRATEMPO
Anamaria Nascimento
Aracoiaba/CE - Brasil
CONTRATEMPO
Ao surgir em minha vida
um pequeno delinquente
assumiu forma carente
quando me pediu guarida.
Munida de ingenuidade,
não cogitei o imprevisto
daquele jovem malvisto
por executar maldade.
Vi-lhe a conduta anormal
caminhando lado a lado,
mas, mesmo com desagrado,
permaneci natural.
Pela grande petulância
merecia uma lição
porém o meu coração
só determinou distância.
Fiquei pensando comigo
naquela triste figura,
descoberta, por ventura,
na direção do perigo.



ANTONIO PAIVA RODRIGUES
Fortaleza CE Brasil
FAUSTÃO E O ESCRITO NAS ESTRELAS
ANTONIO PAIVA RODRIGUES
A Rede
Globo de Televisão tem se destacado positivamente quando da
inserção na sua programação aspectos de relevância sobre a
espiritualidade humana. Inclusive, algumas religiões cristãs tem
se manifestado contra a Doutrina espírita, alcunhando-a de “A
Doutrina do Engano e da Mentira” como afirmou o pastor
protestante RR Soares, em livro publicado por ele. A nossa
intervenção nessa matéria tem conotação explicativa sobre alguns
aspectos que foram debatidos no domingo, dia 12 de setembro do
corrente ano. Estiveram presentes ao bate papo atores
integrantes do elenco novelístico e um teólogo que faz parte da
emissora supracitada. Natalia Dill, que faz o personagem
Viviane, Jaime Matarazzo, o Daniel e o ator Humberto Martins que
interpreta Ricardo, o pai de Daniel.
Sobre o
assunto do debate, o apresentador Faustão fez diversas
indagações sobre os personagens, bem como se os mesmos
acreditavam em vida, após a morte e reencarnação. Como o ser
humano é dotado de livre-arbítrio, eles dentro de suas óticas
responderam as indagações do apresentador. Não nos cabe julgar
aqui a crença alheia e nem nos atrevemos em perquirir a vida de
quem quer que seja para interpretar seus pensamentos. Aliás, a
crença na existência de Deus é própria do ser humano. Achamos
até um diálogo bastante interessante e proveitoso, visto que
mesmo interpretando algo bem complexo, os atores respondiam no
seu modo de ver e crer as indagações do apresentador. O ator
Humberto Martins nos pareceu o mais seguro de todos em suas
respostas, ao mesmo tempo em que se situava dentro do assunto
debatido com vivências acontecidas com ele no decorrer de sua
existência terrena.
Os outros
mesmo sem reprocharem estavam que meios claudicantes em suas
respostas. Aliás, debater ou discutir espiritualidade não é
tarefa fácil, mesmo estando-se num “teatro de operações” onde
ela é vivenciada e repassada ao público telespectador. Quando a
mídia procura inovar adotando medidas diferenciadas, não existe
tão somente aquela percepção de audiência pura e sim dar
fidelidade aos apreciadores ou crentes na vida após a morte.
Costumamos afirmar em nossos comentários de que o maior enigma
da vida é a morte, bem como, o maior enigma da morte é a vida.
Elas caminham juntas desde o nascimento de qualquer ser, seja do
mundo hominal ou animal. Terminada a seção de indagações,
Faustão pede a presença de um teólogo para explicar o que seria
Psicografia, Espírito e Vida após a Morte e outros assuntos
ligados à espiritualidade.
Foi nesse
momento que a Rede Globo acabou transformando um assunto de
interesse geral em simples sonrisal. O teólogo em alusão rodou,
rodopiou e não acrescentou nada em suas “explicações”. Foi de
encontro à física quando deixou transparecer o impossível, de
que dois corpos estavam ocupando o mesmo lugar no espaço. Falou
que acreditava existir um corpo além do seu, mas não soube
explicar com detalhes. Quando se reportou a reencarnação
transformou o giro em jirau. Devemos ter ciência de que a
Reencarnação é uma das crenças mais antigas que existe, até
mesmo sobre o cristianismo que surgiria muito tempo depois. A
maioria dos países do Oriente são reencarnacionistas. O teólogo
em alusão demonstrou até ser desconhecedor da própria Bíblia.
Quando
falava sobre o que pensavam os gregos sobre a reencarnação do
Espírito num animal irracional não citou o porquê.
(Metempsicose). A própria ciência já desvendou esse mito, pois o
Espírito evolui e não retrograda. Um espírito entrando num corpo
humano para realizar uma psicografia é coisa de neófito, pois os
espíritos se comunicam através do pensamento. Além das
psicografias, existem as psicofonias e as pneumotografias. Não
falou uma só vez em perispírito que o cientista e filosofo russo
Alexander Aksakof chamou de corpo bioplasmático. Alexandre
Aksakof nasceu na Rússia, no seio de nobre família, cujos
membros ocuparam sempre lugar de destaque na literatura e nas
ciências.
Começou
seus estudos no Liceu Imperial de São Petersburgo - instituição
da antiga lieza da Rússia - e uma vez concluídos dedicou-se ao
estudo da Filosofia e da Religião, tendo para isso que aprender
o hebraico e o latim, visando um melhor entendimento da obra
grandiosa de Emanuel Swedenborg. Em 1854, caindo em suas mãos à
obra de Andrew Davis: "Revelações da Natureza Divina", Aksakof
abriu novos horizontes às suas aspirações e tendências
intelectuais, reconhecendo um mundo espiritual de cuja realidade
não mais duvidava. Para fazer um completo estudo fisiológico e
psicológico do homem, matriculou-se em 1855 como estudante da
Faculdade de Medicina de Moscou, onde ampliaria os seus
conhecimentos de Física, Química e Matemática, ao mesmo tempo em
que acompanhava, passo a passo, o desenvolvimento espírita na
Europa e na América.
Para isso
ele revolvia livrarias e pedia de qualquer lugar as obras que
não se encontravam nas livrarias de sua terra. A partir de 1855
ele inicia a tradução para o russo de todas as obras de: Allan
Kardec, Hare, Edmonds, Williams Crookes, Relatório da Sociedade
Dialética de Londres e a fundação de periódicos como o "Psychische
Studien", de Lípsia, uma das melhores revistas sobre
Espiritismo. Existem inúmeros cientistas que confirmaram a
existência de vida após a morte e mesmo a comunicação através da
Transcomunicação entre a vida material e espiritual. Yan
Stevenson um cientista americano que dedicou mais de 30 anos de
sua vida ao estudo da reencarnação comprovou mais de 2000 casos
do fenômeno.
A obra de
Aksakof não se restringiu apenas à escrita. Criou adeptos entre
pessoas de talento reconhecido, muitos deles cientistas, que,
através de experiências feitas com médiuns famosos como Dunglas
Home, levou a Rússia a formar a primeira comissão de caráter
puramente científico para o estudo dos fenômenos espíritas. Para
essa comissão, Aksakof mandou vir da França e da Inglaterra os
médiuns que participariam das experiências. Como resultado, por
haver fugido das condições pré-estabelecidas, tal comissão
chegou a conclusões errôneas sobre o Espiritismo, saindo como
relatório conclusivo o livro "Dados para estabelecer um juízo
sobre o Espiritismo", onde afirmava a falsidade dos fenômenos
observados. Aksakof contestou a comissão com outro livro
intitulado: "Um momento de preocupação científica".
A seguir, o valente russo voltou as suas baterias verbais contra
o célebre "filósofo do inconsciente" Von Hartmann, publicando
uma obra volumosa, a mais completa que se conhece sobre o
assunto versado "Animismo e Espiritismo", que mais o
fortaleceria como eminente cientista e pesquisador nato. Homem
de brilhante posição social, ele consagrou-se durante 25 anos ao
serviço do Estado, alcançando vários títulos, tais como:
conselheiro secreto do Czar, conselheiro da corte, conselheiro
efetivo do Estado, e outros que não são mais que um prêmio aos
bons serviços prestados por ele à sua pátria. Verdadeiro sábio,
raras vezes se acha reunidas tanta inteligência, tanta erudição
a um critério imparcial.
Jamais se
deixou arrastar pelos entusiasmos das suas convicções; nunca
perdeu a serenidade em seus juízos, e, no meio da sua fé, tão
ardente e sincera, não esqueceu o raciocínio frio que lhe fez
compreender quais podem ser as causas dos fenômenos que
observava, o que o colocou acima dessa infinidade de fanáticos
que não estudando, não experimentando, e aceitam como bom tudo
quanto se lhes querem fazer crer. (FEP) Polemista temível e
escritor delicado, os trabalhos de Aksakof levam a convicção ao
espírito; e tal sinceridade se vê em suas obras que, lendo-as,
sente-se a necessidade de crer nelas. Alie-se a isto um caráter
bondoso e uma vontade de ferro, que não se demove frente aos
obstáculos, assim como a uma paixão imensa pelo ideal que o leva
a percorrer a Europa para fazer experiências, e ter-se-á uma
ideia superficial a respeito do investigador incansável, dotado
de uma alma varonil e de um talento primoroso.
Nunca
permaneceu ocioso; seus artigos abundavam nos periódicos
espíritas, e não há pessoa medianamente ilustrada que não
conheça alguma das suas célebres experiências com os médiuns
Home, Slade, d'Esperance, ou algum de seus estudos acerca de
fantasmas e formas materializadas. Assim foi Aksakof, o maior de
todos os soldados da grande Rússia, um soldado que combatia
ideias, ideal com ideal, desonra com honra, preconceitos com
dignidade. Crookes, aqui citado conseguiu medir as pulsações de
um espírito materializado de nome “Kate King” e inúmeros casos
que foram estudados ao longo da história. Os fenômenos surgidos
no EUA, e a confirmação no berço da civilização humana (França),
em 1857 com Allan Kardec.
Desconhecer a vida após a morte é desconhecer até a vida do
Mestre Jesus quando em vida na companhia de Pedro, João e
Thiago, conversou com os espíritos de Elias e Moisés no Monte
Tabor na transfiguração. Leiam Matheus e tirem suas conclusões.
(De acordo com o relato contido no Evangelho segundo Mateus,
capítulo 17, verso 2, consta que o rosto de Jesus resplandecia
como o Sol, e a suas vestes tornaram-se brancas como a luz). Não
pode se admitir que uma Rede como a Globo deixe que um teólogo
neófito que nem mesmo é conhecedor da Bíblia venha estragar um
trabalho tão dignificante para a humanidade. Jesus não criou
nenhuma religião e seus seguidores foram chamados de seguidores
do caminho, após a conversão de Paulo é que surgiram os
cristãos.
Não fez a
distinção entre mediunidade e profetização. Poderia ter citado o
caso de Eldad e Meldad ao irem ao encontro de Moisés. De que a
primeira psicografia que se tem conhecimento no mundo é os Dez
Mandamentos. As respostas devem ser repensadas e como sugestão
faça um convite a um teólogo espírita que tudo será sanado.
Pensem nisso!



Beatriz Balzan Barbisan
Porto Alegre, RS - Brasil
Desprovida
Esticara a paciência por todos os lados
Era a única veste que ainda lhe servia.
A mesma navalha cortava-lhe o estômago
Ora fome, ora sustos.
Os leitos endureciam-se sob o corpo sem banhos,
Os cheiros que exalava eram nefasto prenúncio
De solitárias e geladas auroras.
Olhares, já não a incomodavam,
Seus olhos aprenderam a olhar sem ver.
A vergonha fora trocada por
Migalhas de alimento
Dia após dia.
Desde quando?
... Esqueceu.
Nunca tivera um amigo.
De seu, mesmo, só as humilhações.
E a insensata suspeita
Que a vida lhe devia...
Deixa pra lá:
Já nem sentido fazia...
Beatriz Balzan Barbisan



Candy Saad
Brasil
http://www.candysaad.com/amantesdoamor/cirandas/cirandas.htm
http://www.candysaad.com/candysaad/e_books/bibliotecavirtual.htm
www.candysaad.com
Primavera
A estação mais linda é a primavera.
Quando o romper das flores,
num desabrochar inebriante de cores,
perfumes e seivas,
Beija-flores e borboletas coloridas,
anunciam a transformação de cor em amor.
Meus olhos ficam encantados com tanta beleza!
Como é linda a obra que nos fez o criador!
Desperta as emoções,
acordando sonhos de amor adormecidos.
Nesse jardim de primavera,
meu amor por você espera.
debaixo da copa de Ipê amarelo,
estarei pronta para te dar meu amor.
Diante de toda natureza bela,
exalando perfume de flor.
Juntos vamos ver o romper da primavera
vendo a natureza se emocionar
com nosso amor.



Carlos Leite Ribeiro
Marinha Grande / Portugal
Conto J O A N A
Naquela
cama de um hospital, agonizava uma adolescente.
Quem a tivesse conhecido, com certeza que naquela altura não a
teria reconhecido: cabelos rapados, tubos no nariz e na boca ...
era um farrapo humano, aquela que ainda há pouco tempo era uma
linda menina.
Tudo começou quando os pais se divorciaram. A mãe, começou então
a conhecer amigos e amantes.
A Joana, que na altura era estudante, começou a ter da parte da
mãe uma liberdade que até aí nunca tivera.
O pai talvez não fosse grande coisa, mas impunha ordem e
respeito.
À mãe da Joana, convinha esta liberdade que dava à filha, pois
assim, podia andar na vida amorosa que, secretamente, sempre
desejou.
A Joana começou a andar com "amigos"; começou a ir a muitos
"trabalhos em grupo"; começou a drogar-se; começou a ter sexo
....
E a doença do século, a Sida, tomou conta do seu belo e
promissor corpo e do seu belíssimo rosto.
Quem a viu e quem a vê: cabelo rapado, tubos na nariz e tubos na
boca...
Pensou na mãe. Talvez quando soubesse da sua morte,
filosoficamente pensasse: "A minha filhinha não teve sorte nesta
vida". E, com o seu grande poder de autoesculpa, continuasse a
pensar: "Se ela fosse como eu, ainda hoje estaria viva - a culpa
foi dela !".
A morte aproximava-se de Joana. Revoltou-se.
Tinha vivido demasiadamente depressa a vida, mas nunca soube o
que era o seu lado bom. Agora estava prestes a extinguir-se.
Não, Joana não queria morrer, queria ser feliz. Desejava ter
filhos para um dia poder transmitir-lhes a sua dolorosa
experiência. Desejava ter filhos para os poder educar, para mais
tarde eles poderem ser os "espelhos" da sua própria vida.
Entretanto, Joana morreu... ...
Quase milagrosamente, após a sua morte, as belas feições de
Joana apareceram novamente.
Parecia que sorria.
E talvez sorrisse...
Talvez o Senhor Bom Deus, na sua infinita bondade lhe tivesse
segredado que contava com ela, no Dia do Juízo
Final....
Conto de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal



Carlos Saraiva (mongiardimsaraiva)
Mantena / Minas Gerais / Brasil
NAS ASAS DE MORPHEUS
Sonhei que te arrastava nas entranhas
Num doce e suave mergulho sem medo
Pelas águas de um oceano sem degredo
Povoado por criaturas vivas e estranhas
Descíamos felizes sós e de mãos dadas
Por nada queríamos sofrer nessa morte
Sorte preparada por um leito de fadas
Abaixo no areal das conchas sem norte
Uma fenda brilhante insegura acenava
Boca febril que me lambeu e mastigou
Língua cúmplice cega e desconcertante
Como o tempo antigo sem lembranças
Não havia mais dor tristeza e saudade
Tudo era calma vigília luz e suavidade
Permanecemos abraçados sem a terra
Corpos fundidos e achados sem guerra
Luz do Amor que nos trouxe a vontade
Carlos Saraiva (mongiardimsaraiva)



Célia Lamounier de Araújo
Itapecerica MG brasil
www.celialamounier.net/menu.htm
P R I M A V E R A
Nasceu o ouro dos ipês floridos
E na primavera vem alegria
De se viver, lembrando tempos idos
Plenos de amor, flores e fantasia.
Importante é viver e caminhar
Procurando sem rumo e já sem pressa
Ver beleza nos dias e cantar,
Sendo feliz por Deus cumprir promessa:
De renascer em cada primavera
De agradecer as flores e os presentes
De procurar a paz do azul que espera
Para alegrar os corações contentes.
Célia Lamounier de Araújo



Cezar Ubaldo
Brasil
ENCANTADOR DE CANTOS
Por serem de encantos
teus cantos
eu os canto
assim como encanto
os cantos
que acumulam manhãs
com brisas que envolvem
cantos
que se alimentam de almas
que,calmas,madrugam
nas praças,nos campos
ou nas casas
e que por se vestirem com cantos
de sopranos-colibris
constroem no alto do canto
a nova voz do encanto
que se abraçou a mim...
Cezar Ubaldo



Cida Micossi
Brasil
E de repente
Estamos frente a frente.
Escolhido entre vários
É sempre o meu preferido.
Não resisto ao seu calor,
Irresistível seu sabor,
Líquido precioso a me saciar.
Sorvo desse prazer indivisível:
Meu gostoso cafezinho
Cida Micossi



Donzilia Martins
Portugal
Saber Trás-os-Montes. A lição.
Queria ir. Gostava de ir.
Inscreveu-se.
- Dr. Pires Cabral?
Sim, vou. Só tenho de pensar na dormida, mas não há problemas,
tenho aí muitos amigos, e o colégio grande e moderno onde
estudei e passei alguns bons e maus momentos da minha vida. Bons
no sonho e na esperança; maus porque não era “Menina bem”.
Alguns dias depois mandou um e-mail à Freira amiga que pensava
poder estender-lhe o abraço, embora fosse súbdita, mas não
obteve resposta.
Telefonou depois a um colega, sempre amável, inteligente,
dominador, líder.
“- Não devo estar”- disse.
Ligou depois à sensibilidade e nobreza máxima da cultura.
- “Sim, não sei se vou ao Saber”… (ela já sabia tudo).“Talvez vá
ou não, nem sei se vou estar. ”
Ninguém estava disponível para ela.
Claro que a nenhum destes intervenientes falou que desejava a
sua hospitalidade por uma noite. Não. Apenas ia dizendo que ia
ficar na cidade naquele dia e gostava de os encontrar. Contudo,
adivinhando, nenhum tinha o coração aberto para lhe dar guarida
abrindo-lhe as portas da sua estalagem. Estavam todos ocupados,
as casas cheias de trivialidades, de folhas ao vento, super
lotados com os seus cuidados, cheios de amizades voláteis que se
desfazem ao menor sopro de aragem quando alguém lhes bate à
porta.
Onde se escondeu agora o espírito transmontano que ao som do
toque, cantava:
- “Entre quem é”.
Acabou! Os tempos são de egoísmo, nós, nós e finalmente, nós.
Todavia, ela tinha na manga outro recurso, porque já conhece a
fraqueza dos homens.
Esse sabia poder contar com ele! Que a porta se escancararia e o
abraço correria doce e forte.
Foi bater à porta da Igreja (Colégio, onde Deus fala todos os
dias, onde a sua Presença é constante, onde o gesto da bondade
escorre por todas as paredes brancas, onde as almas escutam
continuamente a voz do Senhor, onde há sempre o abraço do Pai
para o filho pródigo. Aí têm sempre lugar os que passam, os que
ficam, os que partem e os que têm fome e sede de justiça e de
amor.
Ali sabia que teria o seu lugar, deixado vazio há 50 anos! Sabia
que os tempos eram outros e ali não havia lugar para o egoísmo,
nem espaço para a má fé e que em cada recanto da casa ressoavam
cânticos de esperança, caridade e amor. Não era como outrora em
que, quando chorava, nenhuma Verónica lhe vinha enxugar o rosto.
Não cabia ali o “NÂO”: não temos lugar para ti na estalagem, mas
cria, que uns braços abertos a estreitariam na casa do Pai onde
vive a fé, dorme a esperança e em todos os salões se ouve o
canto divino vindo da capela.
Aí sabia que podia logo abrir a palavra, dar voz ao pensamento,
ditando todo o sentimento que lhe vertia do coração.
- Ligou: -Preciso uma noite para dormir. Gostava de ficar
convosco.
- Não. Não recebemos ninguém, não temos lugar. Talvez vá sair.
Se eu estivesse…
(Era a madre que falava).
Ela nem queria acreditar! Impossível! Não era Maria, nem José,
nem estava Jesus para nascer, mas aquela graça igual do NÃO, não
há lugar na estalagem, estamos cheios, de ver fecharem-se-lhe
todas as portas, essa bênção, ela não merecia.
Recuou com as lágrimas a correr pela face até lhe chegarem ao
coração apertado.
Chorou. Com essa dor, ficou lavada.
Enxaguou o peito vários dias! Sacudiu o pensamento. Ela que
tanto havia sofrido nas mãos das que ao tempo tinham obrigação
moral perante Deus de a ajudar, de a proteger, de a receber,
porque haviam jurado obediência inteira e caridade perpétua,
pensava que agora era diferente, que o amor sempre vence, que a
amizade se prolonga no tempo e que Deus sempre recompensa
aqueles que nele confiam.
Meditou 3 dias em silêncio no maior retiro fechado da sua vida.
Aprendeu mais uma grande lição de vida. O mundo continua na
mesma roda, impuro, egoísta, ingrato, até naqueles que todos os
dias rezam o “Pai Nosso”.
Meditou nas palavras do Templário que dizia:
“Eu não rezo o Pai Nosso, porque para fazê-lo teria de mudar
todas as coisas más da minha vida.” (…)
Que Deus lhes perdoe porque não sabem o que fazem quando fecham
as portas.
Mas ainda lhe restava a quarta porta.
Bateu. Não timidamente, porque aqui, tinha a certeza, ainda
vivia a amizade misturada de carinho e humildade.
Era uma manhã cedo de Setembro. Hora imprópria. Ligou e,
indecisa, desligou.
A estalajadeira que não tivera tempo de atender, ligou aflita.
- Passa-se alguma coisa? - inquiriu.
- Não, está tudo bem, isto é mais ou menos. Sou eu que vou aí
dois dias e era para ficar em tua casa.
- Ó sim, mas que alegria tão grande que me dás. Eu nem acredito
que vou ter-te comigo algumas horas. Estou a pintar a casa.
Quando vieres quero que tudo esteja lindo para te receber. Digno
duma rainha. Na minha estalagem já não vais encontrar o teu
Príncipe encantado que te apresentei e te sorriu a 1ª vez na
minha pensão há 50 anos e que elegeste como homem da tua vida.
Mas terás os meus braços abertos e o meu coração a transbordar
de carinho para te abraçar.
No silêncio da distância sorriu. Ela viu-lhe o seu sorriso e
também a sua alma. E de novo as lágrimas lhe brotaram em jactos
de luz e sombra banhando de alegria o rosto e, como rios
sagrados, lhe desaguavam doces na boca. Só conseguiu articular
duas simples palavras: Obrigada. Muito Obrigada.
E mais uma vez, no silêncio, foi agradecer a Deus pela
estalagem, por aquela manjedoura sagrada aquecida com o bafo do
amor.
Não será o Seu Colégio, um palácio envernizado, grande, extenso,
repartido por vários andares e galerias, camaratas cheias de
janelas a deixar entrar o sol, a luz, a lua e a sabedoria, o som
do piano que não pode aprender, nem terá aqueles jarrões de
flores lindas da Páscoa a ladear a imponente escadaria de
passadeira vermelha, nem aquele átrio enorme onde as meninas se
juntavam para se tornarem grandes mulheres.
Mas terá com certeza que, à entrada, ao nível da rua, aquela
rapariga pura e simples que já conheceu a grandeza, a pobreza e
agora sabe dosear a vida, a mulher que quer enganar o tempo,
aquela a quem os anos vão comendo a frescura da pele, mas que
com um sorriso aberto e franco no olhar lhe dirá:
- Entra quem é.
Ambas se abraçarão e comungarão as palavras ditas há 50 anos, e
as outras guardadas tanto tempo, no coração. A felicidade abrirá
de par em par as janelas da alma e, debruçadas, olharão o céu e
o tempo que passou.



Edir Meirelles
Brasil
GENEALOGIA (*) Do livro POEMAS TELÚRICOS
Falam de uma figura marcante
que se intitula Deus.
Um ente que tudo fez
o Universo, as estrelas, as constelações
o sol, a lua, os mares e as flores
e nada sem ele se faz.
Homens e mulheres
são filhos de Deus...
Filhos de gatos são gatinhos
do beija-flor, beija-flores
das baleias, baleias são também...
Caracóis, não geram minhocas
nem de urubus nascem garças
senão farsa seria.
Portanto, não somos apenas filhos-da-Mãe
mas também filhos-do-Pai.
Se esse Pai é Deus
e sendo eu filho de Deus
não posso ser dromedário ou jacaré.
Cristo, Filho de Deus – Deus é.
E o Nazareno chamou-me irmão
(conforme se acha escriturado).
Sendo irmão de Cristo, também sou Deus.
Logo, homens e mulheres são deuses...
Salve Cristo, meu irmão panfletário!
Edir Meirelles



Ester Figueiredo
Brasil
trova premiada em Barra do Piraí (vencedora)
Neste momento,calada,
de gestos e olhar bisonhos,
penso em você ao meu lado
nos "amanhãs" dos meus sonhos
Ester Figueiredo



Gerci Oliveira Godoy
Brasil
Velhos troncos
Que saudades de meus velhos
troncos! Alguns não resistiram a ação do tempo. Outros ficaram
para trás, não sei onde.
Se naquele tempo eu imaginasse o que estaria sentindo agora...
Não, não vou reproduzir aqui a poesia apócrifa de Borges. Sei
que muita gente concorda com ele e viveria suas sentenças se
pudesse voltar ao passado.
Eu beijaria minha mãe devagarzinho, abraçaria meu pai com toda a
força, e olharia bem no fundo de seus olhos. Assim, os
entenderia melhor.
Meu pai foi um homem muito dedicado em todos os trabalhos que
executou durante sua longa vida. Trabalhou na roça. Vendeu
leite, saia de madrugada, de carroça, batendo de porta em porta,
carregando o pesado tarro e ia atendendo a freguesia e ganhando
assim o salário que nos sustentava. Depois trabalhou em um
abrigo de menores, onde passava as noites acordado, zelando pela
segurança da gurizada. Mais tarde numa colônia foi Prefeito de
Menores onde ganhou o carinho e o respeito de todos. Foi um
grande trabalhador o Seu Saturnino.
Minha mãe foi uma mulher guerreira que soube suportar as
adversidades com força e alegria.
Muito cedo ela estava na cocheira tirando o leite da vaca, para
que meu pai o vendesse. Tomava conta da casa, dos seis filhos e
nas horas vagas fazia bonecas para vender, costurava e muitos
outros trabalhos fez em sua vida.
De meus velhos avós, colhi não só carinho, mas belos exemplos de
trabalho, garra e fé.
De Don’Ana, a amiga velha, quantas histórias fantásticas ouvi.
Aquela boca sem dentes parecia ter a idade da pedra.
Seu Cristino, que chamávamos de Matusalém, era um velho que
vendia laranjas. Montado em seu cavalo lá vinha ele com um cesto
em cada lado. Eu e meus irmãos corríamos à cerca para ver se
havia sobrado algumas. Um dia compreendi que nosso amigo não
vendia todas as laranjas para ver a nossa alegria ao aparar as
frutas. Matusalém está lá na mata onde sempre morou. Gosto de
imagina-lo descansando sob um pé de carvalho.
Sinto uma bruta saudade da velha mestra. Dona Ida Schirmer
parecia se multiplicar como uma figueira frondosa. Era muito dar
aula para as crianças de primeira à quinta série? Pois ela nos
encantava tocando acordéon, violino e ainda nos ensinava a fazer
teatro. Pena que naquele tempo as manifestações de respeito
suplantavam as de carinho
Quanto a mim, tenho 67 anos e como minha mãe , amo o trabalho,
sou costureira, faço todas as tarefas de meu lar, sou também
poeta , escrevo contos e crônicas, e também faço junto com
alguns amigos idosos, um trabalho voluntário nas escolas,
Educação para o envelhecimento, que me faz sentir muito feliz.
As vezes se confundem na memória, ramos verdes e tenros de minha
infância com fortes galhos e raízes que me sustentaram.
Quando não mais conseguir, suportar o peso de meus galhos, quero
também continuar vivendo na lembrança das coisas boas e no
coração das pessoas.



Gilberto Nogueira de Oliveira
Nazaré BA Brasil
NAVIOS NEGREIROS
SÉCULO XXI
Um velho barco com 700 almas
Parte de um país africano
Que foi destruído pelos europeus,
Em direção à Europa.
Ao chegarem, perguntam:
Podemos ficar?
A resposta é uma bomba
E o resultado é a morte de todos.
O oxigênio é coisa rara
Para os pobres africanos
Que vem entulhados e enlatados.
E os que ficaram, enlutados.
Homens, mulheres e crianças
Em busca de vã esperança.
19.000 já morreram
E a Europa não viu.
Mas o Mediterrâneo é testemunha
Das atrocidades cometidas
Para a extinção dos negros.
Os canais marítimos
São testemunhas oculares
Dos porões sem oxigênio
Dos corpos jogados ao mar
Magros e desidratados.
Seus cadáveres são encontrados
Em praias próximas.
Mas ninguém dá importância.
-Deixa que os peixes os comem.
Embarcam na mesma ideia
No canal da Sicília.
É sofrimento ou morte.
Só têm essas duas opções.
Lampedusa!
Símbolo de tragédias.
Alguns levam os filhos.
Fogem do desespero
E entram em outro pior.
Fogem de seu país
Fugindo de sua história.
Em direção ao mundo (civilizado?)
Que um dia lhes colonizou
Roubando todos os seus bens.
E o Mar Mediterrâneo
É o caminho mais curto
Em direção às suas tragédias.
Vocês não compreendem
Que os europeus só lhe querem
Como mão-de-obra escrava?
Vocês não compreendem
Que os nazistas europeus
Só querem seu subsolo?
Vocês não compreendem
Que a ONU, OEA e OTAN
São organizações criminosas?
Vocês não compreendem
Que para os europeus
Quanto menos negros, melhor?
É verdade.
A fome e o desespero
Os impede de pensar
Gilberto Nogueira de Oliveira



Gladis Lacerda
Rio de Janeiro Brasil
Chuva
Gosto de olhar na vidraça
quando chove
aquela gota passa
me comove.
Às vezes comparo-a a Uma Lágrima:
ela cai limpando a janela e, em calma,
eu sinto a lágrima esvaziar minha alma
de tantos pensamentos ligados à solidão.
E a gota vai caindo, puxando outra e mais outra,
e vai abrindo um caminho.
Quanto à lágrimam vai passando
como as contas de um rosário:
aliviando a dor, de mansinho, do meu mundo solitário.
Assim, a gota da chuva, que lava o vidro
e acalma o meu tormento,
é como a lágrima que sai do coração:
vai limpando minha alma, dando-me alento
e Abrindo brechas para mais uma ilusão.
Gladis Lacerda



Guida Linhares
Santos/SP/Brasil
http://www.guidalinhares.net
RAZÃO E COMPREENSÃO
A razão
pode ser o leme que nos orienta, partindo do estímulo interno,
oriundo das nossas verdades, princípios, hereditariedade,
história de vida e bagagem espiritual.
Contudo ao nos depararmos com o outro, nem sempre os conteúdos
da nossa razão, serão os mesmos e muitas vezes haverá
discordâncias e até mesmo conflitos de opiniões.
Então chega a hora da nossa compreensão entrar no campo do
diálogo. E nada melhor do que a empatia, colocando-se no lugar
do outro, para tentar entender os pontos conflitantes.
Certa vez li que, ao nos tornarmos expectadores de nós mesmos,
conseguimos nos distanciar do ego e entrar na zona neutra, onde
os sentidos funcionam melhor, principalmente quando se precisa
de um bom entendimento em qualquer relacionamento, seja
familiar, amigável ou amoroso.
Talvez, tudo tenha a ver com o primeiro mandamento cristão que
prega "ama a Deus e ao próximo como a ti mesmo". Assim sendo, a
Razão nos orienta ao amor, e a Compreensão se torna o
instrumento indispensável para que o mundo gire em torno da Paz
e da Harmonia entre os homens.
Guida Linhares



Henriette Effenberger
Bragança Paulista
O futuro chegou!
Não fosse o gato
branco estirado no tapete, dir-se-ia que ela estava completamente
só. Que nem seus pensamentos ecoavam dentro de sua cabeça e que seus
sonhos, se ainda os tinha, não a movimentavam em qualquer direção.
No entanto, ledo engano, tal como sua casa, ela estava povoada de
lembranças: porta-retratos com fotos preto e branco de adultos
falecidos, e outras em cores esmaecidas de crianças que já se
tornaram adultas. Bibelôs, móveis que herdara da avó, toalhas que
foram da mãe, utensílios de cozinha que passaram por diversas tias e
chegaram a ela acostumados ao fogão antigo, quase sabendo cozinhar
sozinhos.
A colher de pau,
cansada de mexer compotas e cremes, perdera a ponta arredondada e,
tal como sua dona, já apresentava ranhuras e rachaduras.
O alumínio da panela
de pressão não ostentava mais o brilho de outros tempos,
acostumara-se a ser lavado apenas com esponja e detergente e mal se
lembrava da antiga palha de aço que o fazia reluzir como um espelho.
A velha talha de água, de argila descascada e sem pintura, fora
relegada a um canto da pia, substituída pelas garrafas de plástico
que não guardavam a mesma frescura, mas, em compensação eram
práticas, descartáveis e nem necessitavam da água da biquinha.
Vinham da fonte ao consumidor e voltavam a ser plástico após a
politicamente correta reciclagem.
É certo que ela se
modernizara, se adaptou aos novos tempos, trocou a máquina de
escrever pelo computador, o coador de pano por uma cafeteira
elétrica, a antena de TV pelo cabo que trazia além da programação
televisiva, a internet e o telefone. Frequentava redes sociais,
passava e recebia e-mails, trocara a versão impressa do jornal pela
digital e realizava suas transações bancárias pelo banco eletrônico.
No entanto, a
modernidade da geração saúde não a atingira, pois não abandonara o
vício de fumar, não frequentava academias de ginástica, nem
consultórios de cirurgiões plásticos.
Mantinha empinado o
nariz adunco, herança genética que a incomodara quando jovem e que
ainda hoje passa a falsa impressão de arrogância e intelectualidade.
Sobre ele os óculos que, se antes corrigiam o alto grau de
astigmatismo e miopia, impedindo-a de enxergar ao longe, hoje a
protegem também da incômoda presbiopia.
Nesse momento, ao
pensar na presbiopia, entendeu que a natureza humana é mesmo
compensatória: enquanto os músculos ciliares se enrijecem com a
idade, os demais se tornam flácidos, tais como os seus seios,
orgulho dos tempos de juventude e maturidade. Da mesma forma, a
gordura que dava forma roliça aos dedos e preenchiam as mãos
impecáveis, transferira-se para a cintura, a engrossando e
arredondando o abdome.
Descobriu quão inútil
é a sabedoria da terceira idade. A quem, aos sessenta anos,
interessa saber que dor de amor dói e passa, se não irá apaixonar-se
novamente? Que é inútil abrir mão de prazeres para se poupar de
dores futuras, pois elas virão de qualquer forma?
Olha para o gato
branco estirado no tapete enquanto preenche o formulário do
departamento de trânsito para usufruir o direito de estacionar em
vagas privativas dos idosos e constata sem mágoas: o futuro chegou!
Henriette Effenberger



Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
ÊXODO
Uma das coisas que
mais tem me tocado ao ver televisão é o desatino da situação dos
imigrantes fugindo da guerra, da destruição, perseguição, buscando
condições de vida na Europa.
Desde os tempos bíblicos que os povos fazem estas peregrinações com
muita dificuldade e sofrimento.
Fizeram nos tempos antigos fugindo dos bárbaros, nas cruzadas, e
fizeram na guerra. Um sofrimento que faz doer até hoje quando
ouvimos histórias destes tempos de tão pouca humanidade e
tolerância. Jamais pensei ter isto em vários noticiários a cada dia,
dentro de minha casa e assistir a impotência mundial. Ou será falta
de vontade política?
Aqui no Rio Grande do Sul temos grande quantidade de imigrantes
haitianos que são recebidos em Caxias do Sul com empregos ofertados
na indústria e apoio da pastoral para sobreviverem.
Outros estados também estão recebendo imigrantes.
Temos o caso de imigrantes escorraçados também na América do sul.
E em que tempo isso irá cessar?
As pessoas morrendo no mar mediterrâneo nas embarcações que afundam
por excesso de gente transportada, clandestinamente, sem condições,
fazem lembrar a época do tráfico de escravos quando os navios eram
afundados sem dó e milhares de escravos morriam como animais
enjaulados sem qualquer chance de sobrevivência.
É abominável que esses milhares de pessoas ainda morram no século
XXI sem que os países da Europa ofertem generosamente a entrada e o
asilo mesmo que sem condições mais privilegiadas, mas com alimento,
condições sanitárias, compaixão e fraternidade.
Homens, mulheres, crianças, idosos, famílias inteiras em uma marcha
impiedosa através dos países, enfrentando truculência nas fronteiras
sujeitos a passarem alguns membros da família e outros ficando à
mercê da sorte.
Eu questiono o papel e a atuação mais contundente, que está faltando
por parte da ONU, quando se faz necessário menos discurso e mais
atitude, mais rapidez nas ações evitando que o cansaço, a falta de
alimentação, o estresse e as condições de vida sob a intempérie
causem doenças coletivas levando mais imigrantes à morte, já não
bastando os náufragos existentes até agora.
É sabido que a Itália há anos sofre com a quantidade imensa de
imigrantes africanos que lá chegam, assim como existiam restrições
em Portugal a determinadas profissões dos brasileiros que iam lá
trabalhar e em condições mais privilegiadas do que a dos imigrantes
da atualidade.
É notória a situação econômica da Grécia que é uma das portas de
entrada da Europa para muitos, mas aí é que acho importante um
esforço entre países, intercontinental, quiçá em nível mundial de
oferecer guarida a estes sofredores imigrantes que fogem da guerra,
a pé, cruzando centenas e até milhares de quilômetros em busca de
paz, liberdade e trabalho.
Isabel C S Vargas



Isabel Fomm de Vasconcellos
São Paulo SP Brasil
Escritora e jornalista Criadora e Diretora do Portal
SAÚDE&LIVROS
(www.isabelvasconcellos.com.br)
Conto "O Dia em que Papai Telefonou"
Maria Cristina
caminha assoviando. Não. Não fica bem, realmente, não fica bem.
Uma jovem tão elegante a assoviar pelas ruas, como uma qualquer.
Mas Maria Cristina agora é uma qualquer. Aí é que está. E, como
uma qualquer, pode assoviar pelas ruas o quanto quiser ou bem
entender. Não tem satisfações a dar. Nenhum jornal se
interessaria em fotografá-la. Nunca mais levará Rex à exposição.
Maria Cristina sorri à lembrança do Rough Collie. Pobre Rex.
Talvez seja ele o único, em casa, que realmente sente a sua
falta.
Além do mais -- continua assoviando -- depois da década
libertária dos anos 1960, além de saias curtas e cigarros,
mulheres também ganharam o direito de assoviar em público...
Também não é uma atitude perigosa, ninguém a consideraria
subversiva* por estar assoviando... Ah... Mas se soubessem de
sua história, se soubessem de sua origem, talvez pensassem mesmo
que ela era uma deles, uma subversiva. Naqueles anos de Ditadura
Militar no Brasil, qualquer comportamentinho assim diferente já
seria o bastante para levantar suspeitas...
O ônibus vem lotado. Maria Cristina não se importa. Na verdade,
até gosta. Gosta de gente, cheiro de gente, gente do povo. Gosta
das cantadas dos homens da rua, gosta dos rostos amontoados do
ônibus. Com dificuldade, passa pela roleta. Paga a passagem.
Fechando a bolsa, num relance, vislumbra o envelope que chegou
esta manhã. Fechado ainda. Ops. Uma freada brusca, vai de
encontro a um mulato imenso. Sorri pra ele e se arrepende
imediatamente de ter sorrido. O motorista aumenta o volume do
rádio. Engraçado. Aqui no Recife os ônibus tem rádio. E pode-se
fumar. É claro que não quando está assim lotado. Pela janela, a
brisa do mar refresca os passageiros. Por entre duas cabeças,
Maria Cristina vê o mar. Avança mais dois passos.
Diverte-se imaginando o conteúdo do envelope, fechado ainda, em
sua bolsa. Mas irrita-a um pouco a rapidez com que foi
localizada. Irrita-a porque a leva de volta a um mundo que muito
lhe custou abandonar. Uma coisa entristece: na verdade, reflete
Maria Cristina, é muito fácil tentar uma vida nova quando se tem
pra onde voltar. Claro que pode voltar. Certamente, na carta,
ele estaria pedindo. Ou ordenando. Voltar. Não. Não vai sequer
responder ao pai.
Duvida que ele venha, mas virá, não, certamente virá. Ficará
horrorizado com o apartamento de subsolo, com a falta do carro,
com a falta de amigos que ele chamaria "do seu nível". Ficará
também horrorizado com suas roupas. Com licença. Maria Cristina
desce em frente ao escritório. Até aquele emprego era falso.
Bom. Deve ter sido pelo escritório que papai me localizou.
Engraçado. É quase impossível livrar-se do dinheiro. Será que
ela vai telefonar?
Telefonou. Ao meio dia.
Não papai, não recebi nenhuma carta e acho terrível que você
tenha me localizado. É vendi. Vendi o carro sim. Pra pagar o
depósito do aluguel... Não, é pequeno, muito confortável, tem
redes e fiz algumas almofadas, não... Eu não quero que você
mande nada, não, eu já disse...Olhe, vou desligar.
Desligou.
Talvez o velho estivesse certo. Meu Deus, meio dia e doze eu
tenho que almoçar com Pedro. A lembrança do caranguejo, que há
quinze minutos faria vir água à boca, enjoa Maria Cristina.
Droga. O pai amargara-lhe o dia.
Devia contar a Pedro? Sim, por que não contar?
Pedro tinha no rosto uma sombra desconhecida. O que é que está
havendo, Tininha? Papai odiaria Pedro. Papai odiaria vê-la
chamada de "Tininha". Nada. Não está havendo nada. Meu pai
telefonou.
Pronto. Estava dito.
Pai? Você não me disse que não tinha família.
Era mentira. Tinha família, e rica. Pois é. Era rica. Rica
mesmo. Papai tem fazendas, fábricas, casas de campo, verão na
Europa, curso superior nos EUA, como é que ele achava que ela,
sem dinheiro e sem família, teria conseguido estudar e ter um
emprego como aquele que a mantinha agora? Como, hein?
Rica. Rica de sair em coluna social. Rica de ganhar prêmio na
exposição de cachorros. Rica de comprar o que bem quisesse,
viver onde bem quisesse, mas estava cansada de tanto dinheiro e
resolvera vir pro Recife, é tinha fugido mesmo, não, sem mesada,
mas o velho tinha meios, claro, sabia que ele acabaria localizan...
Então... Isso... É como...uma brincadeira, Tininha, uma
brincadeira, quando você cansar, sobe de volta pro seu mundo;
ser pobre, lutar, aprender a cozinhar... Eu agora compreendo,
este mundo que você diz amar, os nossos passeios, os
jangadeiros, eu, tudo...uma brincadeira? As ideias libertárias,
as reuniões do partido... Tudo mentira, piada, Tininha. Você é
do time dos tubarões da ditadura. Era até capaz de rir, se os
homens baixassem no nosso aparelho** e levassem você com os
companheiros... Bastaria dizer o nome do seu Papai...
Não, Pedro, não é nada disso. Eu realmente queria levar uma vida
simples... Mas Papai é que faz parecer assim ...
Tá. Pedro também não entende.
Saiu. Indignado. Traído. E nem mesmo pagou os caranguejos.
Não vai haver mais jangada, eu não sou mais do mundo dele, não
sou simples, não posso ser mulher de pescador. Maria Cristina
odeia o ônibus lotado que a leva de volta ao trabalho. Odeia o
trabalho, odeia o apartamento, o calor, as roupas feias,
baratas.
Maria Cristina caminha a procura de um posto telefônico ainda
aberto. A brisa do mar lhe dá enjoos. Seis e meia. Ele deve
estar no clube. Está mesmo. Papai, acho que você tem razão. Não.
Se você quer mesmo mandar alguém pra se livrar de tudo aqui, eu
posso pegar o primeiro voo. Você estará em Nova Iorque quando?
Então nos vemos lá. Não. Você já pagou o depósito***. Está
comigo sim. Amanhã? Tá. Eu marco o primeiro voo que houver. Até
a vista, então.
*Subversivo : No Brasil dos anos 1970 ser contra o governo era o
bastante para ser tachado de "subversivo, o que subverte a
ordem", sinônimo então de "perigoso" ou "marginal".
** Aparelho: casa ou apartamento onde moravam, por um certo
tempo, os opositores do regime militar brasileiro,.
*** depósito compulsório: No tempo da ditadura militar
brasileira só era possível sair do país fazendo um depósito em
dinheiro, uma quantia bastante alta, só acessível aos ricos.



Isabel Pakes
Cerquilho/SP - BR
Matinada
Matinada!Abro a janela...
Eufóricos passarinhos
fazem festa no quintal.
Tão cedo ainda e o dia
já se inunda de sol.
Um azul deslumbrante
transluz em límpido céu.
A brisa perpassa suave
e uma doce fragrância
se espalha no ar!
E chegam colibris e borboletas,
pequeninos bailarinos
num show de coreografia e cores
tão lindo, que as flores,
gratificadas, se dão a beijar.
É Primavera!
Bem-vinda!



Jacó Filho
Brasil
A LUZ QUE ME CEGA
Projetei meu ego, gerando minha luz,
Cujo brilho ofuscante, ante o espelho,
Rouba-me o norte e nega o conselho,
E não me percebo a não ser pela cruz...
O ser individual não perde a essência,
Quando se dedica amar quem o cerca...
Gerindo a evolução d’ alma em alerta,
Que cuida o todo em sua abrangência...
Logramos fracassos, lutando sozinhos,
Mas todo esforço, quando comunitário,
Produz as riquezas de teores lendários...
Esquecer de mim ao trilhar o caminho,
Visando o irmão nos atos temporários,
Pode ser a cura no bem extraordinário...



João Bosco Soares dos Santos
Salvador BA Brasil
UMA MAGISTRAL HISTÓRIA DE ÍNDIOS BRASILEIROS.
Na língua Tupy,
receberam os nomes de Mussaperê e Herundy, que significam Terceiro e
Quarto dos primeiros quatorze filhos do Cacique Ubajara, que, até
1933, viveram no então isolado município cearense de Tiaguá, na
divisa com o Estado do Piauí.
Eles e os pais foram levados pelo Tenente Hildebrando Moreira Lima
para a serra do Cariri e lá Mussaperê passou a chamar-se Antenor
Moreira Lima e Herundy a chamar-se Natalício Moreira Lima.
Ouvindo as vozes e os cantares dos dois na língua Tupy – ainda não
falavam o Português – o Tenente convenceu-se de que eles, com
certeza, fariam sucesso no sul do Brasil. Do Cariri, naquele mesmo
ano, os dezesseis índios – quatorze filhos e os pais – partiram a pé
para o Rio de Janeiro. Foram imensas as dificuldades. Passaram por
Pernambuco e por Alagoas, antes de chegarem na Bahia. Numa das
feiras nordestinas, compraram uma velha viola e começaram a estudar
e a aprender os primeiros acordes, sozinhos. Mas, no momento de
necessidade, trocaram a viola por uma cuia de feijão.
Na capital baiana, contaram com a proteção do Governador, que lhes
ofereceu passagens para o Rio de Janeiro, onde chegaram no início de
1937. Nesses longos e difíceis anos, meses, dias e horas de viagens
– de 1933 a 1937 – aprenderam a tocar viola e violão, o suficiente
para começarem a trilhar pelos caminhos do sucesso. Logo ao
desembarcarem do navio Almirante Jaceguai, em razão de uma
reportagem feita por um jornal, são acolhidos pelo albergue Leão
XIII. Vestidos de branco começaram a apresentar-se nas feiras livres
do Rio de Janeiro. Levados para apresentarem-se na Casa do Caboclo,
um teatro voltado para a cultura regional brasileira, não obtiveram
sucesso, pelas seguintes razões: não falavam corretamente o
português e tiveram medo de se apresentarem como índios, mesmo
diante de seus aspectos físicos e comportamentais inacobertáveis. É
que a crueldade de alguns cariocas insensíveis os atormentavam
dizendo-lhes que se eles revelassem serem índios, seriam
assassinados.
Somente em 1942, é que a Rádio Cruzeiro do Sul, por intermédio de
seu apresentador Paulo Roberto, ofereceu-lhes um contrato artístico,
com a exigência de se apresentarem como índios tupy-tabajara. No dia
25.07.1942, a Revista Carioca assim apresentou os artistas índios:
“Os Irmãos Tabajara...fazendo sucesso no rádio carioca... são
interessantíssimos no gênero que aprenderam naturalmente, quando não
pensavam em cantar no rádio. Artistas por índole, dedilham
magistralmente a viola e o violão, arrancando das cordas efeitos de
grande beleza e emotividade.”
Atuaram nos cassinos da Urca (Rio de Janeiro) e da Pampulha (Belo
Horizonte). Em 1944, depois de se apresentarem em São Paulo,
excursionam por toda a América Latina até 1949. Ás vezes, somente
recebiam o suficiente para alimentação e para prosseguirem viagem.
Até a chegada ao México, somente sabiam “tocar de ouvido”, sem
nenhum conhecimento de Teoria Musical. Quando Ricardo Montalban,
famoso ator holywoodiano de origem latina, um dia, num palco
mexicano, apresentou-os como “analfabetos musicais”, por nada
saberem de Teoria Musical, mas que, mesmo assim, tocam
magistralmente seus violões, os índios brasileiros, já batizados
como “Os irmãos Tabajara”, definitivamente decidiram estudar teorias
de canto e de música. Mussaperê voltou para Caracas, onde estudou
com o maestro Francisco Christancho, da Orquestra Sinfônica da
Venezuela, e continuo estudando no Brasil. Herundy, que também já
vinha se interessando por músicas clássicas, voltou a Buenos Ayres,
onde comprou uma casa e começou a estudar música e canto. Dois anos
depois, os dois se reúnem e partem para uma excursão à Europa,
quando se apresentam como intérpretes musicais de compositores
clássicos como Tchaikovsky, Sibelius, Targa, Falla, Chopin,
Villa-Lobos e outros. As adaptações ao violão eram feitas por
Mussaperê. Também incluem em seus espetáculos músicas folclóricas
européias, cantando-as em diversos idiomas. Muitos aplausos, agenda
cheia e, consequentemente, convites recusados, até. A vitoriosa
excursão termina em Madrid.
De volta ao Brasil, convencem-se de que “Santo de casa não faz
milagre”, porque não passavam de dois ilustres desconhecidos: nenhum
apoio e nenhuma divulgação condizente. As execuções musicais e as
músicas que tanto sucesso fizeram na Europa, não interessavam às
gravadoras brasileiras. Mas, por acaso, a Gravadora Continental
gravou e lançou três discos em 1953/1954: Tambor Índio/ Acará Cary;
Pássaro Campana/Fiesta Linda – o primeiro que ouvi, lá pelos idos do
início de 1955, na minha terra natal, momento em que tomei
conhecimento da existência desses magistrais instrumentistas e
músicos – eTe Besaré/Te quiero mucho más.
Ainda em 1954, voltam a excursionar pelo exterior. Exibem-se na
Rádio City de Nova Iorque, exibição esta precedida de uma pequena
temporada em Cuba.
Em1957, gravam na RCA Victor Americana o LP Sweet and Savage (Doce e
Selvagem), onde incluem o Bolero Maria Helena, melodias brasileiras
e outros sucessos latinos. Todavia, passam despercebidos.
No retorno ao Brasil, não obtendo qualquer sucesso, dão por
encerradas suas atividades artísticas. Compram uma propriedade rural
em Araruama, Rio de Janeiro, e, com a maioria de seus 34 (trinta e
quatro) irmãos,fazem da agricultura seu novo meio de existência,
talvez pretendendo reproduzir a vida tribal de suas infâncias. Ali
estavam vivendo anônimos e calmos, quando, em 1963, a sorte e a
competência voltaram a agitar suas vidas: um produtor da Rádio WNEW,
de Nova Iorque, procurando uma música instrumental qualquer para
fazer um fundo musical de um programa humorístico, puxou do arquivo
o LP Sweet and Sevage, optando,de logo, pela faixa Maria Helena.E,
diariamente, nesse programa de grande audiência, o fox Maria Helena
era tocado, até que ouvintes interessados em adquirir o disco
escreveram à gravadora RCA VICTOR, solicitando informações. De
imediato, aquela gravadora lançou um compacto simples, que, de
repente, atingiu o 4º lugar nas paradas americanas de sucesso. Os
executivos da RCA VICTOR entraram em contacto com a filial
brasileira, que, depois de algum tempo de procura, localizou os
Irmãos Tabajara em Araruama, às margens da lagoa.
“Pensávamos que fosse brincadeira. Só acreditamos mesmo quando
recebemos as passagens de ida e volta e as ajudas de custo para
seguir com destino a Nova Iorque, com tudo pago...Ficamos hospedados
nos melhores hotéis e só não gostamos mesmo foi do tal caviar
servido todos os dias” – contou Mussaperê.
Em apenas trinta e seis dias gravam em Nova Iorque dos LPs e dois
compactos, com destaques especiais para Moonligt and Shadowns,
Solamente uma vez e Always in My Heart.
Reapareceram os convites para se apresentarem por todo os Estados
Unidos, pela Europa e pelo Japão, onde também se tornam ídolos. Em
muitas das apresentações são acompanhados por orquestras
filarmônicas.
O início dos anos 70, já somavam 48 LPs gravados e oito milhões de
cópias vendidas. FAMOSOS FICARAM, INTERNACIONALMENTE, COM O NOME:
ÍNDIOS TABAJARAS.
A INTERNET abriga e mostra toda a obra de arte instrumental desses
gênios brasileiros.
E esta não foi nem é lenda indígena. É mais uma magistral história
de vitória do querer, do agir e da energia, própria e autêntica de
pessoas determinadas – ou entusiastas, como diria o Padre pensador
TEILHARD DE CRARDIN – que não se deixam levar pelos desânimos
ocasionais nem pelas pequenas dificuldades que sempre surgem quando
as lutas diárias são enfrentadas, por melhoras vivenciais.
Fonte: REVIVENDO – Músicas Comércio de Discos LTDA.



João-Francisco Rogowski
Escritor - Teólogo - Jurista
Brasil
Eu Vejo Deus
Deus se revela nas suas criaturas, na natureza.
Ele é o Pai eterno, onipresente na sua obra criacional.
A criação revela Deus e seu amor, os céus proclamam a sua glória
e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. (Salmos 19:1).
Deus fala conosco e nos ensina revelando os segredos da ciência,
através da sua criação. Foi observando os pássaros que o homem
aprendeu os princípios da aerodinâmica e do voo, e, plagiando
Deus, inventou o avião.
Eu vejo Deus quando observo a loba alimentado o filhote, o voo
solitário da borboleta, o nascer do sol, quando ouço acordes de
violino ou o estrondo do trovão, vejo Deus num gesto de amor, na
criança aconchegada nos braços da mãe, eu vejo Deus dentro de
mim, no meu coração que pulsa independentemente da minha
vontade, eu vejo Deus na imensidão do mar, na mão estendida para
ajudar ou para ofertar uma flor, eu vejo Deus na chuva, no
orvalho da manhã, eu vejo Deus em cada letra de uma poesia, eu
vejo Deus nos olhos dos meus filhos, eu o vejo quando contemplo
a majestade dos céus à noite, a lua e as estrelas, obra dos seus
dedos. (Salmos 8:3)
Deus tudo criou por amor e para Sua Glória, as criaturas são
reflexos do Criador.
O que de Deus nos é dado a conhecer, as suas coisas invisíveis,
desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua
divindade, se entendem, e claramente se vêem, em tudo que foi
criado por ele. (Romanos 1:19-20).
Cuidemos do planeta e de tudo que nele há, doação amorosa de
Deus para nós. Ele merece toda a nossa gratidão e o nosso amor.



José Ernesto Ferraresso
Serra Negra-SP
Riscos e Rabiscos
Às vezes uma folha de papel me espera,
para ser preenchida por uma ideia sincera.
São pensamentos escritos de recordação,
que ainda hoje guardo em meu coração.
São palavras alegres , tristes e saudosas,
lembranças e recordações dolorosas.
Escritos, rabiscos iminentes do nada,
anseios, desejos,respostas ensaiadas.
As ideias aparecem; rabiscos iniciam,
técnicas afloram; práticas reiniciam,
momentos meditada, nem sempre organizadas.
O momento é o "agora" , é o "presente",
os pensamentos se avolumam envolventes,
opiniões embaralham e tornam-se ausentes.
José Ernesto Ferraresso



José Hilton Rosa
Brasil
Mudo
Calado ouço
O santo me avisa
Seguro o choro
Não sei expressar
Amigos de coração
Falo como irmão
Espero o sorriso
Amigos no dia
Juntos em união
Calado e triste
Sonho subir ao monte
Longe daquela tristeza
Despertando o sono
Sentindo o trilho da lágrima
Ouvindo o céu
Conversando com as estrelas;
José Hilton Rosa



Lêda Terezinha de Oliveira
Pinhalão Brasil
Um menino chamado Biju.
Biju –
esta palavra para mim é tão linda, lembra minha vozinha querida.
Ainda recordo nitidamente suas palavras, quando dizia para o meu
avô: - Nego, vai comprar farinha de milho que eu tô com vontade
de comer leite com farinha. Mas vê lá, hein? Traz farinha com
bastante biju.
E quando o vovô Nego chegava, com a tal farinha bijuzenta, (eu
que inventei este termo), ela colocava os pratos fundos na mesa,
algumas colheres, pegava a vasilha de leite, colocava leite nos
pratos e então, por último a farinha, digo os bijus.
O que me fascinava mesmo era o biju, gostava de ficar
observando-o mergulhar aos poucos no leite branquinho e então
derretia...
O biju sumia no leite. Lembro minha vó falando: come logo
menina, o biju derrete, vai virar angu.
Ah, tempos bons, os melhores de minha vida, simplesmente
inesquecíveis.
Biju, este menino branquinho que nem um bonequinho de porcelana,
com seus cabelos compridos, sempre despenteados e revoltos, seus
olhinhos castanhos ligeiros e amedrontados semelhantes aos de um
coelhinho assustado, sua voz baixinha, seu jeitinho carente, seu
medo de tudo e de todos.
Ah, Bijuzinho! Menino especial, menino lindo, meu doce amor, meu
pequenino Biju.
Bijuzinho de minhas noites insones, Bijuzinho do meu choro
escondido. Bijuzinho de minhas lágrimas rompendo qual cascata de
meus olhos de mãe aflita por não entender o que te faz sofrer.
Como és frágil pequeno ser indefeso, qual anjo de asas tortas
que não pode voar pela amplidão do espaço e queda-se mudo e
estático entre os humanos despidos de compaixão que o tratam
como se fosse uma aberração da natureza.
Sim, amor de minha vida, eu te vejo como aquele biju derretendo
no prato de leite, porque eu sinto que você, em certos dias, em
certos momentos, vai derretendo, e se esconde da vida, das
pessoas e até de mim.
E aquele edredom com o seu cheiro, me lembra uma casa, pois você
se esconde debaixo dele, se aconchega e fica quietinho com seus
pensamentos, talvez confusos, e eu sinto ciúmes do velho edredom
que te abraça e conforta, quando eu é que deveria abraçar e
estreitá-lo bem juntinho ao meu coração para poder transmitir
todo o amor que tenho por você, todo o carinho que te dedico,
todo bem-querer que inunda meu coração.
Quando o céu escurece e os trovões ribombam pelos ares, até eu,
que nunca tive medo das intempéries do tempo, nem quando era
criança, hoje me assusto. É por você, Bijuzinho lindo, que eu
temo, é o seu medo que também se apossa de mim, fico frágil,
insegura e rezo para a tempestade passar logo.
Se a luz apaga, então vem o desespero, já corro pegar velas,
muitas velas, para iluminar nossa casa, pois sinto que o escuro
nos agarra e quer nos conduzir para um labirinto escondido nos
cantos onde a escuridão é mais densa.
Às vezes estou dormindo profundamente, é madrugada, você chega
assustado e se deita ao meu lado, abraça-me calado, fecha seus
olhinhos e dorme. Eu nem ouso perguntar nada, pois sei que não
obterei resposta, então bem baixinho eu começo a rezar uma Ave
Maria e sinto que minha Mãezinha do Céu te cobre com seu manto
azul repleto de amor, carinho e bençãos inimagináveis e então
sinto que você está calmo e sereno.
Quando seus irmãos implicam com você, as vezes o Rafael te chama
de maluco, meu coração sangra, a dor que o transpassa é imensa,
só Deus mesmo para saber como dói em mim presenciar isto, por
essa razão vivo atenta quanto a qualquer discussão que possa
ocorrer entre meus filhotes, para não vê-lo tristonho..
Sinto-me infinitamente triste por não vê-lo entre os alunos do
Colégio Leonardo, meu segundo lar, templo sacro do saber
infinito, onde os jovens podem vislumbrar um futuro, querem e
poderão alcançá-lo. Jovens que têm a chance de aproveitar cada
segundo em que a lição é ensinada e assim se preparam para
contribuir com a transformação de nosso País em uma grande
nação, enquanto você, meu pequeno, se ausenta.
Sei, não é culpa sua, não estou te cobrando nada, apenas me
entristeço e entrego toda esta tristeza para Maria, a mãe do
menino sábio, que mesmo sem ter frequentado escola assentou- se
no templo entre os Doutores da Lei. Com certeza ela conhece
muito melhor que eu os desígnios do soberano Mestre do Universo,
que te enviou para ensinar-me a amar, a ser paciente e
resignada, a ser humilde e sensata para poder entender e aceitar
a missão a mim confiada.
Te amo muito meu príncipe, meu companheirinho de todas as horas,
devorador de chocolate como eu, como é bom quando nós dois
ficamos juntinhos assistindo os filminhos da tarde, devorando
uma caixa inteirinha de chocolate...
Nestas horas nem me lembro dos meus pneuzinhos, ou melhor, de
minha borracharia completa, pois nestes momentos eu sou apenas
uma mãe, muito, mas muito feliz mesmo. Infinitamente.



Lena Ferreira
Brasil
De novo, e leve na tua presença,
aspiro o aroma que me propicia
alívio ao peso da breve sentença
que a noite julgou certa para o dia
Sim, visitar-te é-me recompensa
pudesse, mais que casa, far-te-ia
meu lar de espumas pois tens na despensa
conchas de esperança e de poesia
Nos teus lençóis, líquidos, azulados,
sonhos cochilam por ondas ninados
depois de alimentados por teu seio
Tua brisa, um beijo entre o suave e o vasto,
soprada sobre os detalhes mais castos,
deita e dispensa dizer-me a que veio
NA TUA PRESENÇA
Lena Ferreira



Leomária Mendes Sobrinho
Estado da Bahia Brasil
Sendo um dos mais importantes do Brasil,
O meu Estado tem gosto de energia.
Vermelho, branco e azul anil,
São as cores da bandeira da Bahia.
Lugar de mulheres belíssimas,
Do dendê, acarajé e comidas típicas.
Onde a alma ,de religião e de fé são riquíssimas,
E há poesia, artes e boas músicas.
Este é o lugar do mundo
Que possui águas de cristais,
De transparência e de amor profundo.
Tem o luar que ilumina os casais.
Mesmo o baiano com seus problemas sociais,
Leva no peito a nação como um escudo.
Leomária Mendes Sobrinho



Luiz Carlos Martini
Restinga Sêca/RS Brasil
Passeio com a amiga cachorra
Um dia
desses, igual aos outros de 24h, convidei minha companheira, uma
cadelinha que, por sinal é muito inteligente, porém sem raça
definida, mas verdadeira e clara nas suas ideias caninas.
Descíamos pela principal via da cidade trocando latido,
compreensível em nossa língua, urinando aqui, a-colá e cheirando
latas de lixo, quando nos deparamos numa esquina, com uma cena
que chamou nossa atenção. Paramos, grudamos o traseiro no chão e
ficamos observando: um irmão cachorro, de cima de um caixote,
gritava aos quatro ventos: olhem o pedigree deste animal! Vejam
que pelo bonito, que porte atlético, fala duas línguas e é
desinibido, se bem treinado pode ser útil... Várias gaiolas
sobre a calçada e, em cada uma, havia tabela de preços à vista e
a prazo, e o público (não precisamos dizer que o público é a
cachorrada mesmo) que passava por ali, parte parava para
apreciar e outros, com um ar de indignação, olhavam e seguiam.
Em
cada gaiola havia vários desses bichos, conhecidos por humanos.
Alguns deitados, outros sentados e escorados lendo jornal e bem
ao fundo, meio que escondidos, alguns dormiam e roncavam, mas
também se percebia uma feição desesperada no rosto de meia dúzia
agarrada à grade.
Segurei minha amiga cadelinha pela mão, patinha dianteira, e
fiquei a imaginar: como somos cachorros, poderíamos comprar
esses humanos. Levá-los para casa, firmá-los em correntes,
gaiola, ou construir um “homil”, dar nome à cada um, tratá-los
e, se ninguém se interessar em adotar, ficar com eles até a
morte, afinal são bem engraçadinhos. “Já pensou”, comentei com a
minha amiga, “poderíamos até soltá-los de vez em quando, tosar,
por umas roupinhas e ensiná-los alguns truques como: ser
educado, respeitar os diferentes, etc...”. O assunto acabou
quando minha companheira cadelinha disse: “Não dá. Não dá, não.
No convívio do dia a dia esses bichos em grupo, se tornariam
antipáticos e se auto-destruiriam pela índole agressiva,
violenta, bem características deles...”
Esquecemos o assunto e seguimos nosso passeio. Entramos no
shopping, compramos um "humano-quente" pra cada um e fomos
assistir o lançamento do filme em cartaz naquele dia: "Homens-Os
melhores amigos dos cães".



Luiz Poeta
Rio de Janeiro RJ Brasil
NO RELÓGIO QUE PAROU
Luiz Gilberto de Barros – 2° lugar no concurso de poesias da
Academia Brasileira
de Médicos Escritores 2013 – Pseudônimo: Zaniba
Para a generosidade do Portal CEN, com o carinho do Luiz Poeta.
Um close no passado e nos ponteiros
Do tempo... e a saudade se insinua
Serena, afagando a pele nua
Dos sonhos e desejos... derradeiros.
O amor tem esse dom e evocar
Ausências, dando tênues movimentos
Às formas que abençoam sentimentos
Contidos na emoção de cada olhar.
No flash de abandonos sedutores
O sonho se distrai com vãos amores
Que dormem no relógio que parou
Porém é na essência da saudade
Que o coração desperta essa vontade
De amar o que o destino não deixou.
Luiz Poeta



Maria da Conceição Rodrigues Moreira
Brasil
Paz
Paz! Eu quero a Paz
Uma paz duradoura
Uma paz que envolva o mundo
Paz sempre em festa
Eu quero a paz poeta!
Quero a paz como verbo
Eu pazeio,
Tu pazeia
Ele pazeia
Nos pazeiamos
Vos pazeiaes
Eles pazeiam
Quero a paz como meta
Todos os dias plantando paz
Distribuindo paciência
Tolerância
Paz e Amor em abundância !
Quero uma paz do sossego justo
Onde o universo descansa
Uma paz de criança
Uma paz como águas mansas
Em céu límpido.
Eu quero dormir e acordar em paz!
Viver sem ódios pois a paz é meu acalanto
Ver meu país governado em paz
E o mundo todo festejando o fim dos conflitos.
Paz venha logo, venha com abundância
Paz venha como o vento
Vestida de desejos
Sem soberbas
Pintada como o arco-íris
Venha como quiser!
Mas paz, venha forte
Do Sul à norte
Encha todos os espaços
E eu descansarei!
Maria Moreira.



Maria João Brito de Sousa
Portugal
MAIS UMA HISTÓRIA
Matei a fome à tristeza
Quando me esqueci do pão.
Matei fomes, com certeza,
Mas a minha fome... não!
Preenchi espaços vazios
Que estavam por preencher,
Criando a foz dos mil rios
Que acabei por não beber
E ajudei a respirar,
A sobreviver, a rir,
Mas fiquei por acabar
No momento de existir...
Por fim, vi-me inacabada
Em baldadas tentativas
De evitar ser conotada
Com a estreiteza das divas
E, s`inda agora o começo
Se acaba de revelar,
Já o fim me pede o preço
Do que não sei não pagar...
Porque nasci meia-morta
E hei-de morrer meia-viva,
De tudo o mais só me importa
O que aqui me traz cativa,
Pois história a mais, história a menos…
Tanto faz! Só a vontade
Mostrará, do que vivemos,
Loucura... ou tenacidade!
Maria João Brito de Sousa



Maria Mendes
Brasil
Lamentações Brasileiras (Do livro Poesias .com.sentimentos)
Brasil, país gigante e ofegante,
Brasil de gente simples
Que luta contra a fome
Brasil que quase não come
Sofridos são seus habitantes.
A solução está em seus governantes?
Brasil que chora...
Brasil que implora.
Onde foram parar suas riquezas?
Pois vazias estão nossas mesas.
Onde estão nossas madeiras?
Com certeza em mãos estrangeiras.
E as nossas matas que choram
Preservação elas imploram.
Nossos rios poluídos
Nossos peixes consumidos.
Onde estão as nossas flores?
Enfeitando nossos horrores.
Os assaltos, seqüestros e mortes.
Estão por aí à nossa sorte.
E onde foram parar os reais
Em nossas mãos não se encontram mais
O nosso céu não está mais azul
A poluição está de norte a sul.
Prenderam nossos animais
Espécies raras não existem mais.
O nosso Brasil lamenta...
O povo não mais agüenta!
Ecoa um grito de socorro e de lamento...
Brasil que grita!
Brasil que lamenta!
Brasil que implora!
Salvem este país de encantos mil!
Enquanto ainda há vida neste Brasil!
Maria Mendes



Maria Tomasia
Brasil
Lua dos Enamorados
Lua, procuro-te no céu diariamente,
porque olhando para ti consigo sonhar.
Teu brilho argênteo me deixa contente,
fazendo o meu coração, forte, pulsar.
Quando te vejo cheia de exuberância,
sinto vontade de me aproximar de ti.
Fico horas apreciando tua elegância;
beleza assim, como a tua, eu jamais vi.
Quando chega o momento do teu recolhimento,
tu nem imaginas a tristeza que me invade.
Até a noite seguinte, sinto-me impaciente,
e quando de novo apareces... ah, que felicidade!
Maria Tomasia



Marina Moreira Pereira
Brasil
O HOMEM NO MUNDO
Tentai purificar os corações,
não deixai se instalar maus sentimentos.
Sim, estes provém dos maus pensamentos,
que encontrando em vós disposições,
irão se aproveitar de alguns momentos
pra se manifestar em profusões,
fazendo-vos tomar más decisões
que vos conduzirão a mui tormentos.
Sacrificai-vos às necessidades,
se necessário às frivolidades,
mas com um sentimento de pureza.
Não vos melindreis com o que encontrardes,
porém procureis vos aproximardes...
Cada irmão, diferente natureza!
Marina Moreira Pereira



Mario Rezende
Brasil
A CAMISOLA ROSA
Rivaldo e Hercília estavam casados há
mais de quinze anos. Era um casamento feliz, por serem ambos muito
dedicados um ao outro. Eram muito carinhosos, mesmo em público.
Tinham duas filhas adolescentes que se orgulhavam em falar sobre o
relacionamento deles, principalmente numa época em que a maioria dos
pais dos seus colegas estavam separados.
O Rivaldo trabalhava numa dessa empresas que organizam eventos,
shows, feiras, etc. Numa ocasião, ele e um colega de trabalho tinham
ido a São Paulo e ficariam na Cidade por três dias. Voltariam
exatamente na noite do dia do aniversário da Hercília. Quando eles
entraram no quarto que dividiam no hotel onde ficaram hospedados,
encontraram uma camisola rosa estendida no encosto de uma cadeira
que ficava no quarto, entre as duas camas de solteiro.
Eles falaram com o pessoal da recepção sobre a peça feminina que
fora, provavelmente, esquecida pela pessoa que ocupou o quarto antes
deles e lhes disseram que mandariam retirar a camisola. Toda vez que
passavam pela recepção lembravam aos atendentes. Falaram, inclusive,
com uma camareira que encontraram certa vez no corredor, mas a
camisola não foi retirada, ficou lá no encosto da cadeira. Eles até
brincavam um com o outro a respeito de quem iria dormir com ela.
No último dia de sua estada em São Paulo, com a viagem de volta
marcada para a noite, o Rivaldo foi com o amigo comprar um presente
para a Hercília. Pretendia, quando chegasse ao hotel, tomar um banho
e trocar de roupa e estaria, assim, pronto para sair com a esposa
para comemorarem o aniversário. Enquanto olhavam as vitrines das
lojas em um shopping, receberam um telefonema da agência de viagens,
perguntando se tinham interesse de antecipar a viagem, porque
surgiram duas desistências para um voo que sairia em uma hora. Eles
aceitaram de imediato. Ligaram para o hotel e pediram que suas malas
fossem levadas para a recepção. A do colega dele já estava arrumada
e fechada, mas a do Rivaldo ainda estava sobre a cama. Só faltava
guardar as roupas que ele usaria para sair com a Cilinha (era assim
que ele, carinhosamente a chamava), que ele pediu fossem postas na
mala. Eles passariam no hotel para pegar as malas e assinarem a
fatura das despesas e seguiriam para o aeroporto no mesmo taxi.
A antecipação da viagem alterou os planos do Rivaldo, mas era melhor
chegar mais cedo no Rio. Ele passaria em casa, deixaria a mala e
iria a um shopping comprar o presente dela, pretextando ir com o
colega na sede da empresa para entregar o relatório do serviço
executado. E assim fez. Comentou com o colega que a camisola que
estava lá no quarto do hotel tinha dado uma ideia para ele. Iria
comprar uma camisola parecida para a Cilinha, bem sexy, para ela
usar depois que voltassem do jantar. “Ele desejava mesmo era curtir
a noite num motel, há muito tempo eles não faziam isso, por causa
das meninas” - ficou devaneando.
Numa loja, ele viu uma camisola da mesma cor e perguntou à vendedora
o que ela achava. Ela respondeu que adoraria ganhá-la de presente.
Foi o bastante para ele se decidir. Nada como a opinião de uma
vendedora interessante para convencer que o presente vai agradar.
“Pode embrulhar que eu vou levar essa” - disse satisfeito.
Estava esperando que a camisola fosse acondicionada em uma bela
embalagem, quando o seu celular tocou. Era ela, a Hercília: “Pode
começar a pensar numa explicação muito convincente para a
camisolinha” - ela disse, enfurecida.
“Será que agora já tem celular com dispositivo de escuta? Só me
faltava essa!” – pensou.
- Eu só pedi a opinião da vendedora benzinho. Ela nem é lá suas
grande coi...
- Que vendedora Rivaldo? – Esbravejou.
Ela estava zangada mesmo, normalmente o chama de Riva: “Eu não quero
saber qual a profissão dela, pra mim é prostituta. Pode ir direto
para casa da garotinha, porque ela, inclusive, deve ser bem novinha,
dá pra se ver pelo tamanho da camisolinha. A sua mala já está
pronta, com a roupinha dela pra você devolver, porque eu já esvaziei
o seu armário. Era só o que me faltava meu Deus! Que desgosto! Logo
hoje, um presente desses. Tantos anos de casamento. Devia estar
sendo enganada o tempo todo sem saber. Eu não quero olhar pra sua
cara, nunca mais! Não apareça na minha frente porque eu não sei o
que sou capaz de fazer, tamanho o meu ódio!”
Ela desligou e ele ficou com o presente na mão, abobalhado, sem
saber o que fazer. Então, de repente, lembrou-se, da camisola do
hotel.. “Devem tê-la posto na minha mala. Que azar!” – Pensou.
Resolveu ligar para ela.
- Querida, eu vou explicar tudo quando chegar. Eu pedi pra ela tirar
a camisola de lá varias vezes, pode perguntar ao Leo, o meu colega.
- Você deve ter bebido! Ainda tem coragem de admitir! Vivi tanto
tempo com um homem e agora descobri que não o conhecia. É um
cafajeste! Eu não vou estar em casa quando você vier pegar as malas!
- Ela disse chorando.
- Eu estou falando da camarei...
Ela desligou o telefone, antes que ele terminasse da falar camareira
do hotel.
“Leo, você precisa ir lá em casa comigo pra tentar consertar meu
casamento” - disse para o amigo que ainda estava com ele. Você
acredita que puseram a camisola na minha mala? A Hercília está uma
fera. Disse que vai me botar pra fora de casa. Já até arrumou as
minhas malas.
O Leo foi a salvação do Rivaldo, que ainda teve que ligar para o
hotel, a fim de que fosse confirmada a história da camisola, para
que a Hercília se convencesse.
Apesar de tudo, depois de ela finalmente se convencer da inocência
do Rivaldo, conseguiram comemorar o aniversário dela em paz. Ela
adorou a camisola rosa que ganhou de presente, a outra, souvenir do
hotel, deu para sua irmã. Mas de vez em quando fala na camisola e o
Rivaldo sempre conta a mesma história, por isso ela acredita nele.
AH, COMO É BOM SER CRIANÇA!
Ah, Como é bom ser criança!
Ser feliz e cheia de esperança.
Problemas? Tô fora!
Isso é coisa de adulto.
Agora eu só quero é dar na mamãe
e no meu papai, também,
o meu beijo de bom-dia
e lambuzar de manteiga os rostinhos deles.
É muito bom café com leite e pão,
de manhã, cedinho, receber sorrindo
o olhar carinhoso dos meus herói e heroína
bem no comecinho do meu dia.
Como são bonitos o meu papai e minha mamãe!
É bem legal acreditar que a vida
é cheia de brincadeira e poesia,
eu amo vocês que me fazem sentir desse jeito,
o meu mundo completo de alegria
e achar que a vida é assim tão bela.
Saudade dos meus pais que já deixaram essa vida.
Mario Rezende



Marisa Schmidt
Brasil
O MENINO MORTO NA PRAIA
Dorme pequena criança
entre a água e o céu
que a ti foram destinados
por herança ancestral.
O mar que aqui te trouxe
nada sabe de bem ou mal
apenas cumpre a rotina
de calmarias e tempestades
que nada ou ninguém domina
Dorme agora, criança
na certeza da paz dos que não crescem
na inocência que guardaste no olhar
ao ver as tantas gaivotas
que foram as guardiãs
dos teus últimos dias
e das esperanças vãs
dos teus míseros pais
engolidos na saída do cais
Sonha pra sempre, criança
um mundo que não verás
numa terra que não pisarás
num futuro que não te pertence
porque foste sempre estrela
vagando num céu desconhecido
e agora já és pássaro livre
num mundo pesado de dor
em que foste um sopro de amor...
Marisa Schmidt



Elisa Távora Niess PokkMuriel
Brasil
Eu acho engraçado (do livro Poesias ditadas pelo coração)
Elisa Távora Niess PokkMuriel
Eu acho muito engraçado
O que falam sem Deus saber:
Que qualquer um é perdoado
Se verdadeiramente se arrepender.
Não concordo com essas coisas que ouvi,
Pois há crianças estupradas, barbaramente,
Mulheres que vendem seus filhos e a si,
Assassinos que matam por prazer somente,
Pessoas que aos outros roubam à vontade,
Que aos seus iguais gostam de maltratar,
Que usam, descaradamente, sua autoridade,
Para seus subalternos prejudicar e humilhar.
Pessoas que seus familiares desrespeitam,
Sem nenhum pudor seus cônjuges traem,
Que no poder, por dinheiro, se degradam,
Que, sem dar satisfação, da vida de outrem, saem.
Esses seres, quando idosos e depauperados,
Por conveniência, o mal praticado esquecem,
Não se lembram dos prejuízos causados,
Chorosos, dizem que padecer não merecem.
Queixam-se que seus familiares os abandonaram.
Vão aos templos, sentados, ouvem a pregação.
Rezam por aqueles a quem prejudicaram.
Pedem a Deus misericórdia e seu perdão.
Pensam que, por se arrependerem de seus pecados,
Dos maus atos, terrivelmente, por eles cometidos
Serão logo pelo Todo Poderoso, perdoados
E que alegremente, no céu, serão admitidos.
Se as coisas fossem tão fáceis assim,
Diante desse desconexo, perderia minha fé,
Que adianta ser bom e honesto, se no fim,
Quem foi mau pede perdão e perdoado é.
A meu ver, Deus não age desta maneira,
Faz justiça, certamente, de uma só vez.
Aquele que na vida fez besteira
Terá que arcar com tudo o que fez.
Pecado é igual à nota promissória assinada,
Tem que pagar, às vezes com juros e correção.
Não se pode dizer que não se deve nada.
A dívida deverá ser paga, não há perdão.
Elisa Távora Niess PokkMuriel



Nadilce Beatriz Zanatta
Brasil
AMARGO AMOR
Doce esperança que te faz sorrir à toa
Move o galho robusto
Faz andar a vida de forma ilícita
Tão doce és!
Mas que amargo teu olhar!
Porque possuis a distância
Me trazes o tempo mais infiel
Teu sorriso é fel
Meu paraíso perdeu a infância
Se me pedires que te deite amor
É porque perdestes a consciência
És o prólogo
Mas jamais serás um epílogo
Não és amor verdadeiro
Guarda-me o sono em vão
Como homem sem noção
Num sonho derradeiro
Vens de longa saudade, oh imaturo!
Acenas às estradas e ao dia
Quão louco és!
Mas que lucidez teu devaneio!
Ouve, há silêncio na dor
Um soluço é para sempre
Deixa que eu te adentre
Porque pouco sabes de amor.
Nadilce Beatriz Zanatta



Odenir Ferro
Brasil
LUZES DO NOSSO ESPELHO INTERIOR
A Humanidade sempre
se manteve dentro do seu íntimo – no mais profundo e desejoso íntimo
– de encontrar poderes para vencer a morte. O sonho de todos os
grandes cientistas, assim como todos os médicos, e claro, até mesmo
de todos nós, intimamente sempre foi o de encontrar o Elixir da
longa vida – ou de encontrar fórmulas mágicas ou científicas – para
prolongá-la no máximo possível; dentro dos parâmetros que se possam
estabelecer, no sentido de perpetualizá-la.
O homem, dentro do sentido prático ou no sentido que lhe deixa
céptico, acreditando estar realista, acaba concebendo-se
intelectualmente, acima de qualquer crença, acima de qualquer
mística – que possa vir aliviar-lhe os conflitos existenciais –
quando ele procura aprimorar-se dentro de tudo o que ele já estudou,
já pesquisou, desenvolveu, no sentido de viver a realidade da vida
de uma forma prática e objetiva: tal qual como ela é!
- Ou podemos afirmar – sem os aparatos esperançosos da nossa mais
sublime fé, das nossas mais inquestionáveis crenças – de que sim:
existem aqueles tão sacramentados e encantadores movimentos,
sublimados através do eterno Amor pleno de intensa poesia, no que se
refira a tudo o quanto for aquele algo a mais, que está
amparando-nos constantemente, e se situa perpetualizado nas
dimensões que estão muito além das nossas percepções espirituais,
intelectuais, morais, e que vão além, muito mais além da nossa fé?!
As nossas crenças, as nossas esperanças, os nossos mais íntimos e
profundos desejos de nos apercebermo-nos olhando e refletindo-nos
dentro das magias existenciais vibrando dentro das luzes do nosso
espelho interior – é o que mais nos inspira a prosseguirmos, nesta
jornada vivencial – procurando encontrar objetivos, construindo e
realizando os nossos sonhos, enquanto vamos transpondo os muitos
desafios, os inúmeros obstáculos – sempre crendo no milagre
emocional tão encantador que é a nossa própria vida – tão individual
e ímpar – atuando ativista, através da nossa participação
existencial. Dentro deste maravilhoso milagre que é o contexto
geral: criando, inovando ou renovando-se constantemente, através da
globalidade da existência da vida atuando dentro de tudo e de todos.
E a vida é um eterno milagre tão maravilhoso, que faz com que os
poetas se enamorem dela, para transmitir todo o amor que dela vem
como se fossem as ondas dos mares! Derramando-se abundantemente nas
praias. Ou então, a vida se faz de a protagonista principal –
preenchendo-se em inenarráveis belezas – nestes cenários
existenciais; pelos quais passeamos – enquanto, vamos absorvendo
dentro da nossa alma, através da nossa profunda fé enriquecida pelos
nossos encantos – todos os nossos pontos de entendimentos que vão
dilacerando e diversificando a nossa realidade – desejando traduzir
para ela, a nossa outra realidade, muito mais que perfeita – e que
se situa nos focos dimensionados pelas ópticas visionárias,
provenientes das nossas emoções.
As nossas emoções, os nossos muitos afetos e desafetos, sempre se
fazem presentes nos acontecimentos reais. E que se manifestam dentro
e em torno de nós, através das gestões que atuam dentro do incógnito
misterioso – concentrado dentro das nossas forças – que vivem
eternamente atuantes e presentes, dentro do nosso espírito –
interligando-se com as dimensões mais sublimes, das atitudes
provenientes dos alentos da nossa alma. E que atua, conciliando-se
harmonicamente com a força presencial da nossa personalidade.
Todos estes envolvimentos que atuam dentro do nosso organismo e
intelecto interior manifestam-se externamente, através da energia
proveniente de nós – quando nos apresentamos virtuais ou reais,
segundo após segundo, momento a momento, com a nossa presença
atuante dentro da realidade do mundo que nos cerca. Sempre nos
amparando, com os seus infinitivos movimentos. Movimentos com os
quais, vamos, desta maneira, nos enredando dentro da nossa caminhada
– enquanto vamos preenchendo as páginas da nossa vida, e desta forma
– nós avançamos por ela, com ela, e através dela, compondo a nossa
realidade pessoal e intrasferível – criando e recriando, a nossa
própria história.
Odenir Ferro



Regina Bertoccelli
Brasil
OUTONO
Outono de meu triste viver
Para longe meu amor levou
Nas tardes frias fico sem saber
Porque tudo terminou...
Trouxe o vento a saudade
Aumentando a minha dor
Como encontrar a felicidade
Tendo um coração sofredor?
Sou como as folhas de Outono
Que soltas se perdem ao léu
E neste triste abandono
Ficou escuro o meu céu...
Regina Bertoccelli



Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ/ Brasil
rozelenefurtadodelima.com.br
Quem me dera... Ah! Quem me dera...
Minha canção chegasse aos teus ouvidos
Eu conseguisse entoar um cântico de amor
Que despertasse teu sentimento adormecido
E o vento te trouxesse antes do sol se por
Quem me dera compor como um poeta
E soubesse falar na linguagem dos anjos
E nas entrelinhas pusesse a afinação certa
Melodiar ritmando emoção em mil arranjos
Quem me dera saber converter saudade
Em abraços apertados de corpo inteiro
Com beijos dados e entregues a vontade
E dentro da canção surgisse um violeiro
Quem me dera... Ah! Quem me dera...
Transformar lágrimas em água benta e pura
Lavar esse amor e ser para sempre abençoado
Saciar a sede com um pode cheio de ternura
Revirar, desobstruir e limpar o tempo passado
Quem me dera encontrar a ilusória passagem
E num caminho feito de estrelas brilhantes
De mãos dadas providos de muita coragem
Ultrapassar o fantástico portal dos amantes
Quem me dera soubesse fazer alquimia
Esquecer meu endereço e a minha rua
Dar vida aos sonhos repletos de fantasia
E fincar nossa morada no mundo da lua
Quem me dera... Ah! Quem me dera...
Rozelene Furtado de Lima



Ruy Silva Santos
Sorocaba/SP - BR
O espelho
É chegado a hora do acerto de contas.
Agora é eu e você velho espelho,
Sem ninguém entremeio!
Eis a hora da verdade...
Sem orgulho, sem vaidade,
Me desnudo, me revelo, pois,
Entre nós não há segredos!
No baú da minha mocidade,
Faço rescaldo nos cacos do passado...
Das lutas eu nem percebi, ou,
Se eu percebi... nem dei conta,
Que envelheci!
O cabelo outrora preto,
Agora está prateado...
Os passos... outrora de samba,
Tornaram-se cadenciados...!
Mas, o espírito não envelhece.
Simplesmente amadurece!
A cada estágio da vida,
Eleva-se no plano superior, e,
Diante o Criador, enobrece.
Espelho da minha vida...
Retrato fiel da minha imagem!
Prove aos meus olhos a realidade,
Ele insiste evitar,
E eu temo encarar,
Em pleno final da viagem!
Mostra-me a realidade
Sem dó nem compaixão,
Tampouco tenhas piedade, afinal...
Sinceridade é virtude e
Merece gratidão...
Note amigo... eu choro!
Não por temor da vida,
Tampouco da morte...
É por sentir que pouco fiz
Pra melhorar minha sorte!
São lágrimas do desapontamento,
Jamais sinal de fraqueza ou lamento!
Afinal... diante de ti,
Quem é capaz de mentir!
Tu retratas a verdade,
Retratos que geram saudade,
Espelho da vida,
Reflexos de mim...
Ruy Silva Santos



Samuel Freitas de Oliveira
Avaré- SP -Brasil
NOSSO LEITO DE RELVAS
No palco azul da imensidão do Espaço
O cintilar de estrelas me fascina,
Parecem artistas a dançar,
Provocantes e sensuais,
Tentando me atraírem além da Terra.
Minha alma de poeta quer voar,
Enlaça-las uma a uma nos meus braços,
Como se não fossem grandes astros,
Mas apenas pontinhos luminosos,
Como esses que a gente enxerga nos olhos da mulher
Apaixonada.
Você com a mão na minha,
Segue meus passos silenciosa,
Respeitando meu êxtase,
Na contemplação da abóbada azul.
Tudo é silêncio.
Somente os nossos passos são ouvidos
E, de repente, você suspira...
É um suspiro profundo,
Como se nele houvessem um lamento,
Um pedido e uma dor pela rejeição.
Desperto-me para o real...
Olho para você e esqueço as estrelas
E mil cintilações observo em seu olhar...
Abraçados quedamo-nos
Sobre o leito de relvas,
E depois de tudo consumido,
Contemplamos as estrelas em silêncio,
Agradecendo-as mentalmente,
Por terem iluminado o nosso leito,
Onde o nosso amor foi mais intenso
Que o brilho de todas elas.
Samuel Freitas de Oliveira
Avaré- SP -Brasil



Sarita Barros
Bagé RS Brasil
Nudez
Escrevo
No vão intento
De me conhecer.
Nessa procura
Escavo tanto
que me desventro.
Fico nua de mim
Nesse desfenestrar
Sou pássaro
voando para dentro
Sou árvore
com raízes ao vento.
Sarita Barros



Sueli do Espirito Santo
Brasil
SE É PRA FALAR DE AMOR
Se é para falar de amor
venha para os braços meus
quero sentir o calor dos teus
Se é para falar de amor
sussurrarei em teus ouvidos
explorarei os teus sentidos
Se é para falar de amor
sentirás a beleza do instante
repleto do prazer estonteante.
Sueli do Espirito Santo



Varenka de Fátima Araújo
Salvador BA BR
Ana Frank
Era uma pequena cheia de ideias
Tinha tantos sonhos indeléveis
Desperta para quimera, fantástica
Esperta de braços para o horizonte
Sensível, seu coração lamenta
Que seus amigos em peso se foram
Burlava suas emoções vivas
Que no exílio, tanto sofria
Era uma pequena valente
Nem o cárcere fez recuar
Sinal de uma menina genial
Em letras foi confirmado
Os infames no esquecimento
Vermes sustentados por infernais
Que o mundo baniu os malfeitores
Que todos saibam do século maldito
Era uma pequena com muito amor
Modesta, queria apenas viver
Por suas mãos ficaram letras
A qual, a morte não apagou.
Varenka de Fátima Araújo



Vera Salbego
Brasil
Romance à Beira do Rio
Não sei se é lenda
Não sei se é verdade
O fato é que o rio ao ver a cidade
Por ela se apaixonou.
E ele fazia de tudo, coitado.
Pra conquistar seu amor.
Desde um nascer de sol encantado
Até um espelho prateado
Todo de estrelinhas bordado
Pra ela poder se mirar
Mas ela nem bola pro rio.
Lata, sapato velho, garrafa vazia.
Era tudo que ela devolvia
Pra retribuir tanto amor.
Mas o destino sorrateiro
Um dia deu-lhe uma grande lição
Ao se mirar no espelho
Teve uma grande decepção
Pois viu sua bela imagem
Se transformar num lixão
Mas, ela muito esperta.
Contornou a situação
Mandou construir lixeiras
Com peixinhos dando as mãos
Em homenagem ao rio é claro.
De quem aprendeu a lição
E há quem diga
Que já os viu, enamorados,
Passeando pelo caisinho
Ela com uma cestinha na mão
Atenta a qualquer papelzinho
E hoje é uma cidade cartão postal
E sabe, por ser linda e vaidosa.
Que beleza é fundamental.
Vera Salbego



von Trina
Samora Correia Portugal
Curiosamente
Ter uma existência fútil
trival banal
mas claro alegre
parece amenizar
quase tudo
quase todos
e transmitir confiança
serenidade respeitabilidade
e até - pasme-se - seriedade!
Assim
Moderadamente louco
curiosamente responsável
serenamente radical
Sério
confesso que só às escondidas
porque não quero incomodar
ser repreensível
criticável
Pensar
só nas catacumbas da vida
nos intervalos da metafísica
no conforto da clandestinidade
Reflectir
torna-nos
torna-vos
torna-se
dispensável dispensáveis.
von Trina



Wilson de Oliveira Jasa
Brasil
BEIJO
Se queres que te beije, beijo agora,
um beijo apaixonado e com fervor;
que importa se está quente ou frio lá fora,
pra mim mais importante é nosso amor.
A chama que no peito agora aflora,
é chama com carinho inspirador;
o beijo pra ser dado não tem hora,
e beijo muito mais que o beija-flor.
Beijo teu coração pelos teus lábios,
são beijos com magia, beijos sábios,
e vou beijar-te sempre por te amar.
O beijo que te dou também te acalma,
e em devaneio até beijo tua alma,
pois vivo com amor sempre a beijar...
Wilson de Oliveira Jasa



Yna Beta
Brasil
A flor azul
Ao podar aquela última flor
Aquela, que dizias ser, a cor do nosso amor
A flor azul, que .... Feneceu
Lembrei-me de você, me entristeceu...
Percebi quão frágil era esse ardor
A flor que não era azul, ó dor...
Lhe enganaram e você não percebeu
O que já era fraco, por fim... Pereceu!
Instantes belos aquela flor viveu
Assim como nosso amor
Foi breve, não sobreviveu.
O azul, desbotado, mostrou calor
Que o próprio tempo, enfraqueceu.
Como nosso amor, se foi... Emudeceu!
Yna Beta




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