MEMORIAL DE ELIANE QUEIROZ AUER
A INFÂNCIA DISTANTE
Quando criança iniciei a vida escolar aos sete anos
numa escola pública estadual, no centro da cidade,
onde diversas camadas sociais eram atendidas.
A vida até então era limitada pelas cercas, um
portão da nossa residência e as paredes de uma sala
de aula.
Era a década de 70 , época da grande copa do mundo
onde minha família ficou marcada por uma tragédia.
Era a evolução do progresso tirando a vida de um
jovem de 18 anos, ainda estudante, que as rodas de
um carro não pouparam-lhe a vida.
Os anos passaram-se a dor adormecida e os limites
continuaram.
O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Década de 80 cursando o segundo grau( atualmente
,ensino médio) e as mudanças começaram em minha
vida.
Conseguia ler livros em pracinhas para prestar
exames posteriormente. Era a fase em que começava a
romper barreiras.
Após ter terminado meu curso de habilitação para o
exercício do magistério (em escola pública), comecei
a atuar como professora das séries iniciais em uma
escola privada, cuja escola, era de uma professora
minha do curso de magistério, professora de Didática
e Prática de Ensino e Alfabetização.
Escola conhecida por ser a primeira escola privada
registrada do município e com um certo prestígio no
local.
A FACULDADE
Havia um sonho de fazer uma faculdade fora da
cidade, só que era somente sonho. Os preconceitos da
época me impediam de caminhar livremente.
O salário para pagar uma faculdade particular e fora
do município não era suficiente para suprir com
todas as despesas necessárias. Era o sonho indo
embora.
Quando você trabalha em uma escola privada, os
interesses da entidade terão que ser defendidos a
todo custo. Assim começamos a nos fechar para os
fatos que ocorrem ao redor.
É a falta de tempo e interesse que começam a podar o
seu potencial.
DÉCADA DE 90
Fiz um curso de aperfeiçoamento para o magistério no
prédio da CEUNES .Comecei a me sentir mais
responsável e percebia que a prática pedagógica
estava necessitando de mudanças.
Também participei da minha primeira excursão com
fins educacionais para a Reserva Biologia Marinha,
observei como a pesquisa de campo é importante para
o aprimoramento.
Em 1993 ganhei espaço na vida de um jovem rapaz
cujos dias de nossas vidas passaram a significar
vida conjugal. Nos casamos .
Em 1995 dei a luz a minha tão desejada filha. Quanta
esperança, quanta alegria, quanta emoção com o
nascimento dela. Era eu me realizando como pessoa.
Naquele dia 23 de novembro de 1995, às 07:45 h eu me
tornei mãe! Inesquecível!!
Tudo foi muito especial.
Março de 1996, já não fazia mais parte do quadro de
professores da minha primeira e única escola em que
trabalhei.
Tive que renunciar ao meu primeiro emprego de
professora para atuar como mãe.
Comecei a viver o melhor papel no grande circo da
vida.
Em 1998 me inscrevi em um Concurso Público Municipal
para o exercício do magistério. Fui aprovada. Em
julho de 1999 fui convocada a assumir o cargo. Fui
me justificar, pois estava numa forte luta contra a
depressão que me atingira devido a um acidente em
que eu, minha filha e meu marido havíamos sofrido.
A confiança e a credibilidade em que o secretário,
da época, teve na minha experiência profissional fez
com que eu retornasse a minha vida profissional .
Após tantos problemas voltei a dar aulas em uma
escola pública em bairro periférico. Sofri com a
mudança. Em escola privada, a oferta de material
didático é mais elevada do que na pública. Na escola
pública, não só carência de materiais mas, de
afetividade dos alunos. Devagar fui percebendo as
vantagens de se trabalhar em uma escola pública.
As reuniões mais freqüentes mesmo com finalidades
políticas..., seminários , encontros, tudo dá mais
sentido à profissão.
Eu não era apenas uma das “TIAS” de uma escola
privada, passei a ser mais uma professora de um
grande quadro de profissionais com um secretário
específico para lidar com educadores.
Minha nova experiência docente me deixou mais à
vontade.
Confesso que a larga experiência tem me trazido
desconforto. Dúvidas!!! Hoje me pergunto: o que é
experiência no magistério? Será que é apenas ser
prático? Não basta!!
Acho que em cada nova turma de alunos, novos
mistérios são desvendados vamos descobrindo juntos
com as incertezas, alegrias, decepções, fazendo e
desfazendo, construindo...
A docência numa entidade pública me reservou
vantagens que já não acreditava mais viver.
O FUNDEF, nos proporcionando novos cursos,
capacitações começou a resgatar a dignidade do
professor, devagar o professor começou a ser
inserido em projetos de capacitação como PROCAP e
outros.
E chegou a grande alegria com a obrigatoriedade de o
professor estar habilitado até 2006 em nível de
curso superior.
A Licenciatura Plena em Pedagogia me trouxe novas
expectativas. O fato de estar freqüentando
orientação acadêmica de uma universidade federal é
de extremo orgulho.
O novo me assusta mas o desafio me atrai muito.
Perceber que após vários anos de prática pedagógica
é possível recomeçar é muito gratificante.
Quando no ato da matrícula de ingresso à
Universidade Federal do Espírito Santo, no
município, fui a primeira a fazer e percebi o quanto
ansiava por aquele momento.
Na aula inaugural, onde em vários discursos, ouvi
que seria muito “puxado” com muitas renúncias, me
assustei!
A insegurança de não alcançar um grau de maturidade,
de conhecimento, tomou conta de mim.
Em 21 de maio de 2003 às 11:45, nasceu a minha mais
nova filha.
Mais uma bênção recebida.
Terminei o Curso de Pedagogia em 2005.
Em 2006 fiz a Especialização na Educação.
Prestei novo concurso público municipal em 2008
concorrendo à vaga de pedagoga onde obtive a quarta
melhor nota.Assumi por alguns minutos e renunciei ao
cargo, me mantendo apenas no cargo de professora com
especialização.
Em 23 de novembro de 2010 pedi demissão do cargo de
professora.
em 22 de agosto de 2012 tomei posse na Academia
Mateense de Letras, sucedendo Roberto de Sousa Lé,Cadeira
nº5 tendo como Patrono Mesquita Neto.