A OUTRA FACE  - VILMA MATOS

 

 

 

 

Camille sai de casa quase sempre às sete horas, retornando somente, depois da faculdade. Por morar longe prefere ficar o dia toda na empresa, uma das 150 melhores para se trabalhar, segundo pesquisa divulgada na Revista EXAME, do que enfrentar o stress do trânsito, na hora do almoço.

Antes de sair de casa, Camille põe na bagagem de mão tudo que utilizará durante o dia, por vezes, esquece o celular ou até mesmo a bolsa, mas nunca deixa de levar consigo coragem, boa vontade para desenvolver tarefas diárias ou eventuais, bem como uma porção de bálsamo do amor para distribuir, por onde passar. O importante é oferecer o que se tem de melhor e mais precioso, muito embora, alguns não estejam propícios a recebê-lo, isso acontece pelo simples fato de que, o ser humano ainda se encontra preso às suas próprias frustrações e não percebe que pensamentos positivos e boas palavras, podem ampliar nossa visão durante a caminhada “pelas estradas da vida”. 

Um leve sorriso nos lábios transparece no rosto de Camille, marcas que somente o tempo consegue deixar no rosto de uma mulher. Seus olhos refletem o brilho e a simplicidade de sua alma, em busca de outras que guardem os segredos da arte do viver em paz consigo e com o próximo. Dizem que o olhar transmite a verdadeira linguagem da alma e do espírito.

Estar na empresa, antes das oito horas era meta diária de Camille, mas quase sempre havia alguém que chegava primeiro. Naquele dia, ela entrou no elevador, cantarolando para alegrar aquele salutar e abençoado dia de trabalho.

Do estacionamento ao andar em que Camille trabalhava, ela caminhava cerca de dez minutos e durante o percurso encontrava colegas que também gostavam de chegar cedo. Por ser uma apaixonada por gente, ela os saudava com um alegre “bom dia!” Alguns lhe respondiam com o mesmo entusiasmo e simpatia, outros apenas mecanicamente e ainda existiam aqueles que além de não responderem, olhavam-na com a cara sisuda... Talvez, nem lembrassem que sorriso não se vende, ganha-se, e quem quiser dar “um sorriso” fará com que o seu, seja multiplicado. Esta é apenas mais uma das inúmeras operações que se pode realizar, com o emprego da matemática do amor que, ao mesmo tempo e proporção que se divide também se multiplica. É lei natural da vida (lei do retorno).

Ainda no elevador viu entrar um jovem. Ele tinha o olhar distante e direcionado para o horizonte, ou melhor, para a beleza que se podia apreciar através do elevador panorâmico. Imaginava-se que sua alma não estava ali, junto ao seu corpo físico, por sua expressão fisionômica, dava para jurar que estava acessando outras dimensões astrais.

A rigidez de seu corpo, de seus gestos eram perceptíveis, ele transmitia uma sensação de fadiga, de cansaço, parecia carregar em seus ombros, o peso do mundo e não, simplesmente, o de sua própria história de vida. Era inacreditável que um jovem daquela idade (uns 21 anos), bonito, talvez bem sucedido no trabalho e nos estudos, mantivesse sua alma presa a algo que por ventura lhe tenha ocorrido no passado. Não, não tinha nada a ver com o jovem que Camille costumava admirar, quando com vigor, descia e subia correndo as escadas do prédio velho, em que trabalhavam. Alguma coisa tinha, naquela manhã de sol ardente, ofuscado o seu brilho, empanado a sua beleza peculiar. Após esta silenciosa análise, Camille, impulsivamente chamou-lhe atenção, com a pergunta: ”O que você acha de ter hoje, um lindo dia?” O jovem se assustou e, saindo de seu transe matinal se mostrou surpreso com aquela forma de abordagem. Esboçando um sorriso encantador, disse: “Desculpe-me eu estava distraído.”

 

Passados alguns dias, Camille estava sozinha na copa, quando de repente alguém entra. Era aquele jovem que, mais uma vez não a cumprimenta. Camille olhou fixamente para ele e pensou: “hoje ele está ‘mais lindo do que nunca’. Contudo, seu olhar continuava opaco e perdido, parecendo não pertencer a este planeta. Será ele um anjo arrependido de ter descido à terra para ajudar os pobres mortais?” Naquele instante, a mente de Camille foi povoada por mil pensamentos incabíveis e sem nexos. Antes que ele se servisse de água ou café, interpelou-o:

- O que você acha de ter uma linda tarde? O rapaz sorriu e desta vez mostrou toda sua luminosidade e encanto. Abraçou Camille e lhe pediu desculpas... 

No dia seguinte, ainda pela manhã, Camille foi surpreendida, em seu local de trabalho, pela presença de seu “anjo amigo” que, com um sorriso encantador ofereceu-lhe um solitário de vidro, dentro uma flor, (a beleza de ambos se misturavam, o que tornava aquele momento especial e místico), em seguida, explicou-lhe que aquele mimo era para lhe mostrar que não era mal educado. O momento merecia ser registrado, pois os dois estavam estreitando espaço e apertando laços afetivos. Por trabalharem no mesmo andar, desde então, tornou-se um hábito para Camille ir até seu novo amigo, desejar-lhe um bom dia, dar-lhe e receber um abraço, totalmente energizado com a força e o poder da verdadeira amizade.

 

 

Vilma Matos

Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará – ALMECE

Portal CEN - "Cá Estamos Nós"

Liga dos Amigos do Portal CEN

 

Fortaleza, 20 de janeiro de 2009.

 

 

 

 

FUNDO MUSICAL:

You've Got A Friend (tradução)

James Taylor

Composição: Carole King

Quando você estiver abatida(o) e preocupada(o)
E precisar de uma ajuda,
E nada, nada estiver dando certo,
Feche seus olhos e pense em mim
E logo eu estarei aí
Para iluminar até mesmo suas noites mais sombrias.

Apenas chame alto meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja
Eu virei correndo
Para te encontrar novamente.
Inverno, primavera, verão ou outono,
Tudo que você tem de fazer é chamar.
E eu estarei lá, sim, sim, sim,
Você tem um amigo.

Se o céu acima de você
Tornar-se escuro e cheio de nuvens
E aquele antigo vento norte começar a soprar,
Mantenha sua cabeça sã e chame meu nome em voz alta
E logo eu estarei batendo na sua porta.
Apenas chame meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja
Eu virei correndo para te encontrar novamente.
Inverno, primavera, verão ou outono,
Tudo que você tem de fazer é chamar
E eu estarei lá, sim, sim, sim.

Ei, não é bom saber que você tem um amigo?
As pessoas podem ser tão frias,
Elas te magoarão e te abandonarão
E então elas tomarão sua alma se você permitir-lhes.
Oh, sim, mas não permita-lhes.

Apenas chame alto meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja
Eu virei correndo para te encontrar novamente.
Você não entende que
Inverno, primavera, verão ou outono,
Ei, agora tudo que você tem a fazer é chamar?
Senhor, eu estarei lá, sim eu estarei,
Você tem um amigo,
Você tem um amigo.
Não é bom saber? Você tem um amigo...
Não é bom saber? Você tem um amigo...
Você tem um amigo...

 

 

Formatação, Arte Final: Iara Melo

 Livro de Visitas

Recomende

 Índice de autores - Ebooks - Coleções

mistérios  flagelados da alma  esquema do corpo 

Entrevista Virtual a Carlos Leite Ribeiro


Resolução do Ecrã:  1024 x 768