Mesmo se o poeta escreve na areia,
e as ondas logo apagam
os versos naquela escritos,
sabe ele qu’escreverá
muitos outros pela frente,
seja na mesma areia da praia,
num tronco de árvore com canivete,
numa caverna já esquecida
ou mesmo em folha de papel...
Paulo Roberto de Oliveira Caruso
7-12-11

O amor supera a morte
Joaquim era completamente louco por Sofia. Contudo, ele jamais conseguira
conquistar o coração da amada. Tentara de tudo para atingir seu objetivo
amoroso, mas ela estava interessada por outro cavalheiro: Gilmar. Isso deixava
aquele completamente fulo da vida, visto que ele, tão empenhado, nada conseguia,
ao passo que Joaquim nem tinha o mínimo interesse pela mulher. O gajo então teve
uma ideia: realizar um feitiço que pudesse deixar Sofia apaixonada por ele
próprio, motivo pelo qual ele procuraria u’a mãe de santo.
Durante o labor, Joaquim vasculhou alguns sítios na internet sobre o assunto,
até que encontrou a mãe Meninona de Tijucadura, a qual tinha a casa mais próxima
de sua residência. Resolveu telefonar para ela e marcar uma consulta naquele
mesmo dia. Deu sorte, visto que ela tinha horário disponível ainda. Uma vez
terminado o serviço do cachopo, este se mandou rumo à casa da dita mulher. Lá
chegando, viu uma fila de cinco pessoas para serem atendidas, o que lhe dava
agonia, quamanha era a sua ansiedade por ser atendido logo e saber o que
precisava fazer.
Aproximadamente duas horas depois o cabra finalmente foi chamado à sala de
Meninona, a qual lhe disse que ele estava ali por amor, fazendo-o arregalar os
olhos verdes logo de cara. Joaquim se sentou e ouviu dela o que se passava,
ficando ainda mais boquiaberto. Ao final, a mulher lhe pediu que levasse a ela
alguns ingredientes, dentre os quais u’a mecha de cabelos da dama na
impossibilidade de o gajo conseguir uma calcinha ou sutiã da coitada.
Naquela mesma noite ele aproveitou para ir a um supermercado enorme vinte e
quatro horas na Barra da Tijucadura, onde acabou encontrando alguns dos
ingredientes. Dali ele rumou para casa, já pensando numa estratégia para o dia
seguinte, sendo que teria de contar com Diguinho, seu irmão mais novo, o qual
estava de férias do colégio onde estudava. Joaquim precisaria que ele buscasse
os ingredientes que faltavam, mas que só poderiam ser encontrados em
floriculturas. Já no que tange à calcinha ou ao sutiã de Sofia, ele teria que
contar com a ajuda da irmã mais nova da guria, Fernanda, a qual era interessada
em Diguinho.
Assim que retornou à casa, ele foi logo falando com o irmão mais novo, que,
mediante chantagem econômica, aceitou ajudá-lo com relação a tudo que faltava.
Diguinho iria de manhã em busca dos ingredientes só encontráveis em
floriculturas; à tarde iria à casa de Fernanda e tentaria despistá-la. Sabia que
a menina dormia facilmente caso contassem algo calma e docemente nos seus
delicados ouvidinhos. Aí seria o momento de dar o bote. Com tudo combinado,
Joaquim rumou ao trabalho ainda temendo qualquer insucesso do irmão.
Não foram poucas as vezes em que Joaquim telefonou a Diguinho perguntando se
este conseguira todos os ingredientes da primeira lista, sendo que somente na
sétima ligação aquele recebeu uma resposta positiva. No que concerne à segunda
lista, o garoto já havia marcado para jogar videogame com Fernanda, mas falando
de um modo extremamente carinhoso. Poucas horas mais tarde, Joaquim retornou a
ligar para o irmãozinho, obtendo novamente resposta positiva, sendo que este
precisara contar uma história razoavelmente longa para que a mocinha pegasse no
sono e ele ganhasse liberdade para buscar peças íntimas da irmã mais velha dela
no armário. Agora, com o fito de realmente caprichar na ação, o gajo fingiu que
executaria uma tarefa na sala onde trabalhava a sua amada, visto que pretendia
cortar u’a mecha de cabelos da mesma, para que os trabalhos de mãe Meninona não
tivessem volta.
Joaquim bateu à porta da sala de Sofia, que lhe permitiu a entrada logo que
olhou pela vidraça da porta. O cachopo já se encontrava com uma tesoura
afiadíssima num dos bolsos. Assim que foi atendido com esmero, ele disse à moça
que precisava de clipes para prender folhas, objetos que ele sabia se
localizarem no armário sito atrás da cadeira de Sofia, moçoila organizada toda
vida, não espalhados sobre a mesa ou numa caixinha sobre esta. Então, ao ver a
jovem se virar de costas, ele se aproximou, enfiou a mão no bolso direito da
calça, mas não achou o objeto. A gerente de vendas então disse “aqui estão”
sorrindo, fechou o armário, virou-se para Joaquim e lhe entregou os clipes.
Ao perguntar ao confuso e apaixonado gajo se era somente aquilo que ele
desejava, este disse que não, gaguejou e solicitou ademais uma resma de papel
ofício, o que fez a mulher novamente realizar o procedimento inteiro. Ele fuçou
rapidamente o bolso esquerdo da calça, sem achar tesoura alguma, o que o deixou
desesperado, embora não externasse sofrimento. Contudo, sua testa o denunciava,
haja vista o transpirar excessivo dele. Ao se virar com a resma em mãos, Sofia
novamente lhe sorriu, deixou-a sobre os braços do colega de trabalho e
questionou novamente se este necessitava de algo mais. Joaquim, visivelmente
confuso, perguntou baixinho a si próprio onde estava a sua tesoura, mas a
rapariga ouviu e lhe respondeu que o objeto se encontrava no bolso esquerdo da
camisa social do gajo. Este lhe deu um sorriso amarelo em troca.
O cachopo então disse a ela que precisava de cinco envelopes para
correspondência, o que fez Sofia regressar ao armário dessa vez já aberto. Ele,
buscando ser lesto nas ações, deixou a resma cair de seus braços diretamente
sobre os pés, o que o fez soltar um médio grito de dor, assustando um pouco a
colega, que se virou para trás e riu ao vê-lo saltitar com os pés alternados.
Ela, consequentemente, se agachou para pegar o objeto caído, mas nem percebeu
que um punhado da ponta de seus cabelos parara justamente à altura da lâmina de
guilhotina que ficava sobre a mesa. Ao perceber isso, o jovem, que conversava
com a linda dama para distraí-la, se esticou agilmente e acionou a guilhotina,
recolhendo ainda de modo mais lesto a mecha cortada, antes que a moça se
reerguesse.
Tão logo se evadiu do local de labor, Joaquim, que já marcara nova consulta com
a mãe Meninona, pegou o carro e se dirigiu agilmente para casa, ao encontro do
irmão. Não tardou a encontrá-lo. Deu-lhe um abraço apertado, agradeceu-lhe
deveras e partiu para cumprir seu objetivo do dia. Ao conversar com a
profissional dos feitiços, esta constatou que de fato nenhum ingrediente
faltara. Mais ainda: tanto a calcinha quanto o sutiã e até a mecha de cabelos
estavam ali! Por conseguinte, ela lhe questionou se ele realmente estava certo
de que gostaria de prosseguir com as intenções, ao que o jovem nem pestanejou,
dizendo que obviamente não estava a fim de desistir de seus intentos amorosos
com a beldade. Diante disso, conseguintemente, a mãe de santo avisou ao rapaz
que os efeitos poderiam ser muito além dos esperados, visto que a cachopa
poderia sufocá-lo por ciúmes, mesmo porque só fora pedido ao guri levar um dos
três ingredientes íntimos da amada. Ela ainda lhe disse que o amor inclusive
superar a morte... Joaquim nem se importava. Afinal, ele jamais soubera o que
era ter para si os ciúmes d’alguma dama, o que certamente poderia lhe elevar a
autoestima!
Feito isso, não restava alternativa outra diferente de se iniciarem logo os
trabalhos. Mãe Meninona entregou uma caixa que continha os três ingredientes
íntimos de Sofia e pediu que Joaquim os enterrasse no quintal dele tão logo
regressasse ao lar. Disse-lhe igualmente que logo cedo a moça o procuraria,
“dando-lhe trabalho”. Ele então esfregou as mãos e proferiu um “oba! É assim que
eu gosto!”, para sorriso da mulher. Joaquim regressou ledo ao lar após pagar
pela segunda consulta e pelo trabalho espiritual, agradeceu novamente ao irmão,
remunerou bem os serviços deste e se deitou tranquilamente. Não dormia assim de
modo tão doce fazia dias!
Na manhã seguinte, Joaquim acordou eufórico, visto que estava ávido para
verificar o resultado da mandinga toda. Ele tomou seu café da manhã, preparou o
do irmão mais novo, agradeceu novamente a este e rumou ao local de labuta
diária. Ao chegar lá, estacionou o veículo e se dirigiu à sala da cachopa. Ao
chegar a este recinto, não viu ninguém, o que o fez ir à própria sala de
trabalho. Qual não foi sua surpresa ao, chegando à própria sala, verificar que
Sofia o aguardava sentada na cadeira do próprio rapaz! Joaquim fez expressão de
quem nem acreditava no que seus olhos podiam enxergar! Ela havia arrumado tudo
ao redor e, tão logo o viu, sorriu largamente, levantou-se da cadeira e deu uma
corridinha ao encontro dele até abraçá-lo.
- Oi, Joaquim! Senti tanto a sua falta!
- Oi-oi, Sofia. Eu também senti a sua – disse ele timidamente.
- Ah, pare com essa timidez! Hoje eu descobri, no caminho para cá, que sou louca
por você, garanhão. Adorei o seu jeitinho ontem à tarde. Tão meigo, tão doce,
tão terno...
- Poxa, Sofia... Nem sei o que lhe dizer...
- Apenas diga que me ama, ora. – disse ela, rindo meigamente.
- Mas eu a amo! E muito!
- Ora, eu também o amo! Vamos tomar um cafezinho após o outro e conversar um
pouco?
- Bem, se é você quem está dizendo isso, vamos.
E conversaram por quase uma hora, entre beijos candentes deveras, até o patrão
de ambos, o Senhor Jaques, perguntar por que cada um dos dois não se encontrava
na própria sala trabalhando e que o salário dos dois era razoavelmente caro para
ele. Ao ouvir o patrão, Sofia ainda ensaiou uma reclamação, uma vez que estava
literalmente encantada por Joaquim. Coube a este pedir carinhosamente que o
deixasse guiar a situação, sendo que ela nem pestanejou e ficou apenas
observando o deslindar do caso, que se deu através de um pedido de desculpas em
nome do casal e com uma promessa de ficarem até uma hora além do horário normal
trabalhando duramente. Cada um regressou à própria sala, conquanto a moça
estivesse desconcentrada.
Sofia ainda telefonou para o ramal de Joaquim, dizendo não conseguir prestar
atenção ao que fazia, o que fez o gajo se dirigir rapidamente à sala desta e lhe
dizer que, caso esta se dedicasse concentradamente, ele recompensaria os
esforços da amada com uma belíssima noite de amor num quarto de hotel sito ali
próximo mesmo. ele nem podia crer que dissera aquelas palavras, uma vez que
jamais dissera aquilo a mulher alguma e mesmo era virgem! Teria que contar de
fato com a paciência da moça mais do que já contara com isso até então...
Ao terminarem o labor uma hora depois do horário normal, ambos já haviam
almoçado juntos e agora saíam unidos a um dos hotéis sitos proximamente ao
prédio de trabalho. Joaquim estacionou o veículo, Sofia pegou a chave e conduziu
o namorado ao apartamento. Ao adentrarem este, ela correndo o arrastou para o
quarto e o empurrou à cama. Seguido disso, ela se jogou para cima do gajo e lhe
ensinou tudo o que este tanto precisava aprender... Desvirginou-o e ambos
ficaram a suspirar. A alegria tomava conta de ambos. Repetiram as cenas ainda
algumas vezes antes de ele conduzir Sofia até o lar desta e ele seguir ao dele.
Uma semana depois o casal se encontrava consolidado no labor e produzia
pessimamente mal, o que levou Jaques a demiti-los sem pestanejar. Ao passo que
Sofia não se preocupava o mínimo que fosse com a despedida, Joaquim não parava
de pensar no assunto, temendo a vindoura falta de dinheiro para si e para o
irmão, visto que os dois moravam sozinhos, uma vez que os pais não mais eram
vivos. Já ela morava numa casa maior e era sustentada pelos pais, sendo que o
dinheiro que ela auferia servia para gastar com seus luxos, mas não lhe faria
tanta falta, visto que teria estes cobertos pelos ricos ascendentes diretos.
Joaquim precisava fazer algo! Afinal, a dama parecia não ter mais limites! Ele
facilmente estava perdendo o amor e o respeito por ela, de tão submissa que esta
se portava. Não era possível! Ele batalhara durante anos para ter o amor da
rapariga, mas agora, em uma semana, já queria deixá-lo para trás! Seria possível
mesmo? Ao procurar novamente a mãe de santo, esta disse que nada poderia fazer,
visto que o avisara que o feitiço era irrevogável no que tangia a seus efeitos.
O cachopo já tinha até medo da resposta de Sofia, pois esta se mostrava cada vez
mais submissa e sufocante, tendo mesmo já espantado algumas outras moças que
haviam fitado o casal.
Como conhecia o ex-patrão há dois anos e este sabia acerca da habitual
eficiência do casal, Joaquim procurou-o para pedir-lhe o emprego de volta.
Achava ele merecer um crédito por todo o período de labor intenso. Dois anos de
muita dedicação do cachopo e de guria! Não foi tão difícil convencer Jaques
acerca da necessidade do retorno dele. Contudo, o gajo nada mencionou acerca de
Sofia, uma vez que o jovem queria se livrar da namorada, por mais difícil que
pudesse lhe parecer...
Uns minutos depois apareceu uma estagiária nova, Brigite, que acabou sendo
encaminhada por Jaques a ter a supervisão de Joaquim. Esta era tão linda quanto
Sofia, mas não de pele clarinha, loira, de olhos verdes e estatura mediana.
Brigite era morena, de cabelos castanhos, olhos idem e alta. Esta ainda tinha
dezenove aninhos e estava buscando realmente aprender com a empresa. Tinha
curiosidade de sobra para matar, sede de aprender, o que encantou por completo o
cachopo.
Sofia já telefonara dezessete vezes para o celular de Joaquim, mas sem que este
atendesse, por já ter na mente que o namoro se findara por completo, pensamento
do qual não partilhava a ex-amada. Aliás, ele já recebera trinta e duas ligações
desta ao longo do exaustivo mas doce dia de labuta após a moça verificar que o
mesmo não se encontrava em casa. Exaustivo por causa da insistência da
ex-namorada, porém doce por causa da presença da nova e encantora estagiária.
Depois do serviço, ele e Brigite resolveram sair para conversar sobre tudo que
não fosse trabalho. A conversa foi descontraída e leve, diversamente daquelas
tidas com Sofia, as quais só haviam existido por haverem sido propiciadas pela
mandinga. A moça descartada, contudo, ainda buscaria se vingar do amado e de
quem lhe tinha roubado o coração e conseguido a atenção. Mal sabia o cachopo que
eles estavam sendo observados pela rapariga, a qual não acreditava que ele fora
reintegrado à empresa sem que ela igualmente o tivesse sido!
Joaquim ainda levou Brigite até a sua casa e se despediu com um suave e veraz
beijo nos lábios desta, que suspirou e lhe devolveu o beijo, conquanto de modo
mais cálido, o que Sofia vislumbrou de longe, com uso de um binóculo. O ódio, o
rancor estava estampado no rosto escarlate da traída mulher, que esperou de seu
carro até que o amado saísse com o seu. Tão logo este saiu de cena, a guria
atravessou a rua e tocou a campainha da casa da estagiária, que atendeu
lestamente, imaginando poder ser o seu novo amado. Ao ver que não era este quem
estava à sua porta, a moleca perguntou no que poderia ajudar Sofia, sendo que
esta retirou uma faca de trás de suas costas e lhe disse com intensidade:
“morrer!!!”. Esfaqueou-a no abdômen, o que a fez desabar e estrebuchar. A
agressora não cessou os ataques e continuou, dando duas dezenas de facadas ao
total. Sofia ainda puxou com esforço o cadáver para dentro da própria casa onde
morara Brigite.
Poucos minutos depois, a assassina já vasculhara toda a residência, tendo
chegado por trás da mãe de Brigite e a degolado. O pai dormia ao fim de um
intenso dia de labuta, sendo que a moça preferiu regressar até a cozinha, ferver
água numa leiteira, voltar até o quarto onde o pai da família dormia em paz e
fazê-lo de fato dormir em paz após receber um banho de água fervendo diretamente
na genitália e assaz estrebuchar como a filha o fizera sem ele saber.
Feito tudo isso, a assassina dirigiu-se até a sala novamente para verificar nas
fotos se alguém mais parecia ser membro da família. Ao imaginar fortemente que
não, ela tratou de telefonar do celular de Brigite para o de Joaquim. A surpresa
deste foi gigantesca e o medo maior ainda! Isso o fez pegar o carro e voejar
rumo à casa da amada nova sem prudência alguma. Os outros é que tiveram atenção
por ele no trânsito, o que nunca precisava acontecer em situações normais.
Ao chegar à entrada, viu uma poça de sangue, o que o desnorteou completamente. A
porta estava aberta, o que permitiu uma ágil entrada do rapaz. A seguir, ele viu
a mãe de Brigite caída na cozinha defronte à geladeira e o pai desta caído sobre
a cama. Ambos mortos de modo trágico. Ele nem tinha tido o prazer de os
conhecer! Mas o pavor tomava cada vez mais conta do cachopo, que vasculhou todo
o interior da casa sem encontrar, todavia, a estagiária, o que o fez dirigir-se
ao quintal da casa. De longe ele viu Brigite sentada no banco junto com Sofia,
abraçada a esta. Era uma vista extremamente macabra! O cachopo ainda chegou
correndo e gritando já de longe.
- Saia de perto dela, assassina!
- Se eu sair, ela pode perder a cabeça, amor... – respondeu ela rindo.
Ao se levantar do lado de Brigite, Sofia deu um tapinha nas costas desta, sendo
que a cabeça da estagiária despencou do pescoço e rolou pelo piso da varanda.
Joaquim chorou e teve convulsões de desespero, visto jamais ter tido antes um
amor correspondido à altura sem que ele houvesse apelado para a mandinga. Não
poderia ser! Brigite estava morta! Um amor que nascera rapidamente agora se
manteria sem as duas almas juntas! Um ódio nada conhecido pelo cachopo o fez
partir em disparada no sentido de Sofia, a qual o aguardou com a faca na mão
direita atrás das costas. Assim que ele chegou, ela desferiu-lhe um golpe que,
não fosse o esgueirar lépido de Joaquim, ter-lhe-ia estripado. Contudo, este a
seguir, com o intermédio do curso realizado de autodefesa, imobilizou o braço
destro da mulher e apertou-o com força fazendo pender a faca ao piso. Ele
capturou a faca para si, mas não esperava que ela tivesse um canivete no bolso
esquerdo da calça. A moça ainda tentou feri-lo novamente no abdômen, sendo que,
por instinto, ele, em contra-ataque, acertou-lhe o coração. Sofia caiu em
convulsões sobre o piso... até morrer.
Joaquim levou o corpo até seu carro, o pôs no banco do carona, levou-o para o
quintal e o enterrou, para que a ex-namorada descansasse em paz finalmente.
Quando estava ao lado do corpo de Brigite, chorando deveras por umas horas,
ouviu, todavia, um sussurro por trás de suas costas... A voz era de Sofia! Mas
como? Ela estava morta! Ao olhar para trás, ele viu a face da falecida. Seus
olhos estavam claros como a luz do sol, alvos completamente. Não houve tempo
para mais nada: a morta o esfaqueou no peito, sendo que Joaquim caiu do banco e
foi se arrastando de costas pela varanda até chegar ao quintal. Suas mãos e
roupas se sujaram de terra, mas ele seguia tentando fugir da namorada-cadáver a
qualquer custo. Ao chegar novamente perto do local em que cavara a tumba de
Sofia, ouviu o sorriso desta, sem saber o porquê do mesmo. de repente, ele se
desequilibrou e caiu no buraco. A seguir, Sofia, com a faca ensangüentada em
punho e voltada para o amado, libertou um grito medonho de vitória e se
precipitou em face do rapaz, cravando-lhe novamente no peito a faca. Joaquim
morreu nos braços da outrora querida amada.
No dia seguinte, estava estampado nos jornais: “Massacre na Rua Conde Sem Fim.
Quatro mortos, sendo dois na mesma tumba”. Mãe Meninona leu a reportagem e
reconheceu o rapaz Joaquim com facilidade, o que lhe fez dizer, do alto de sua
convicção: “eu bem que lhe avisei que o amor poderia superar a morte e que
poderia sufocá-lo... Quem mandou ele não me dar ouvidos?”.
Paulo Roberto de Oliveira Caruso

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