Revista "HAIKAI - com Amor"

01 Setembro 2006

Editora: Benedita Azevedo

Neste primeiro número da revista, tentaremos mostrar aos nossos leitores um pouco de teoria sobre o Haikai,, a sua história e consolidação na Literatura  Brasileira..

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AS TRILHAS DO HAICAI

 

Segundo estudos feitos, o mais antigo haikai que se conhece é de autoria do poeta Fugiwara-Sadaye (1.162-1242), que viveu no tempo Do imperador Gotoba (1.180-1239), cujo texto é o seguinte:

 

“Espalhadas flores

quer pegar e pega apenas

o vento de chuva.”

 

Neste período, também foi escrita a primeira poesia em língua portuguesa, “Cantiga da Ribeirinha” de Paio Soares de Taveirós ( 1.189 ou 1.198), há uma dúvida com diferença de nove anos. Essa composição foi feita em homenagem a D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, a preferida de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. ( Note-se que já haviam canções orais, essa foi a primeira escrita de que se tem notícia)

 

“No século XVII Bashô, que era um poeta boêmio, fez escola e consolidou o haikai, essa poesia essencialmente sintética muito popular no Japão; porém a poesia mais popular é a “tanka”, de trinta e uma sílabas.”

Essa composição do haicai, como é praticada hoje, é resultante do “haikai do renga” (ou tanka), muito usada antes de Bashô; era um poema coletivo, em que um poeta compunha a primeira estrofe ( hokku), um terceto com 5-7-5 sílabas  (ou sons). Em seguida outro poeta compunha a segunda estrofe, um dístico de 7-7 sílabas (ou sons). E assim, cada poeta que chegava escrevia um dístico de 7-7 sílabas (ou sons), chegando a centenas. Levavam anos para completar o poema. Não havia pressa em concluí-lo.

Bashô era adepto do “kasen”, um poema encadeado de apenas 36 estrofes ( do haikai do renga.

 

 

AS TRILHAS DO HAICAI NO BRASIL

 

O haiku é chamado, no Brasil, haicai. O haicai é uma poesia de estação ou “saisonnière”. Tem que se limitar a impressões efêmeras, do momento que passa. O haicai está ligado às quatro estações do ano: de primavera, de verão, de outono e de inverno.  Ele se inspira nos elementos da natureza em cada uma dessas fases do ano. Os motivos de estação são a razão de ser da poética do haicai. Chama-se  em japonês “ki dai”.

 

Segundo o registro de Shuhei Uetska (1876-1935), encarregado de conduzir os primeiros imigrantes pelo hoje histórico navio Kasato Maru, que ancorou no porto de Santos em 18 de junho de 1908, foi um bom poeta de haikai, e compôs esse poema logo ao pisar em terras brasileiras, acompanhado por (793) compatriotas que vinham tentar a vida no Brasil.

 

“A nau imigrante

chegando: vê-se lá no alto

a cascata seca.”

 

Entretanto, as obras que devem ser consideradas como marco inicial do haicai no Brasil são:

 

a)      “Trovas Populares Brasileiras”(1919), de Afrânio

Peixoto.

 

b)      “Relance da Alma Japonesa”(1926), de Wenceslau de Morais.

 

Mas o primeiro livro exclusivamente de haicais é de Waldomiro Siqueira Júnior - Hai-kais (1933).

 

“O haicai é, dentre as formas poéticas japonesas, a que foi mais amplamente aclimatada no Brasil.”

 

Afrânio Peixoto, Guilherme de Almeida, Haroldo de Campos, Millôr Fernandes, Paulo Leminski e Luís Antônio Pimentel são os que encabeçaram a lista, entre outros.

 

O haicai chegou ao Brasil nos livros de viagens, aonde vinham traduzidos do francês ou do inglês, e vários outros divulgadores.

Paulo Prado cita como exemplo de haicai, no prefácio do Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, a primeira estrofe do livro de Julen Vocance, publicado em 1921, “Art Poètique”.

Os estudiosos do haicai brasileiro dizem que Afrânio Peixoto foi um dos primeiros cultivadores dessa poesia e teria aprendido com os autores franceses e não do contato com os imigrantes japoneses.

Mas foi Guilherme de Almeida com seu prestígio de poeta consagrado e a boa qualidade de alguns de seus haicais, que o consolidou na Literatura Brasileira.

No aspecto de musicalidade o haicai não tinha uma estrutura aceitável de acordo com a nossa tradição. Suas 17 sílabas distribuídas em um terceto de 5-7-5 (sons), sem rimas, pareciam soar desarticulado aos ouvidos de nossos poetas, acostumados à sonoridade da trova. 

Guilherme de Almeida começou a escrever haicais em 1936. Em 1937 publicou o artigo “Os meus haicais”, onde apresenta sua própria maneira do que seria haicai em português: um terceto com 5-7-5 sílabas métricas, com título, de maneira que o primeiro verso rima com o terceiro e a segunda sílaba do segundo verso rima com a sétima sílaba métrica ( ou som), resolvendo assim, o problema da sonoridade no haicai.

Seus haicais foram publicados no livro “ Poesia Vária”, em 1947.

Dentro do movimento haicaísta brasileiro, há muitos seguidores de Guilherme de Almeida, o que lhe valeu a conquista do que se pode chamar de “ Escola Guilhermista”. Veja um de seus poemas:

Romance

 

E cruzam-se as linhas

No fino tear do destino,

Tuas mãos nas minhas.

 

GUILHERME DE ALMEIDA

 

 

Guilherme de Almeida foi um dos fundadores e primeiro presidente da Aliança Brasil-Japão.

 

 

MAIS ALGUMAS INFORMAÇÕES

 

1.      O haicai refere-se a um evento particular, ou seja, não é generalização.

 

2.      Apresenta tal evento como “acontecendo agora” e não no passado ou no futuro – um momento vivenciado no presente.

3.      O haicai é um exercício de concisão e sobriedade.

 

4.      Não se utiliza títulos por desviar o foco da emoção para a recriação, ou seja, o título conduz o leitor a um direcionamento da emoção.

 

5.      Os sentimentos humanos são submetidos à sensação física que os gerou.

 

6.      A descrição simples e sem artifícios estilísticos de uma sensação é a regra.

 

Bibliografia indicada

 

1.  GOGA. O H. Masuda,  – O haicai no Brasil – Editora Oriento – São Paulo, 1988.

2.  GOGA. H. Masuda, e ODA. Teruko, – Natureza, Berço do haicai – Empresa jornalística Diário Nippar, São Paulo, 1996.

 

Fontes usadas para pesquisa

 

1. Fonte: www.kakinet.com – Caqui – Empório

2. Fonte: www.geocities.com/humbertodelmaestro

 

Do Livro: NAS TRILHAS DO HAICA  de minha autoria.

 

Praia do Anil, Magé – RJ, 22 / 08 / 06

Benedita Silva de Azevedo

 

Notícias

 

Grêmio Haicai Sabiá inaugurado em Magé

O Grêmio Haicai Sabiá, na cidade de Magé, estado do Rio de Janeiro, foi inaugurado oficialmente em 17 de junho de 2006, com a presença dos haicaístas do Grêmio Haicai Ipê, Edson Kenji Iura, Teruko Oda, Guin Ga Eden, Valdir Peyceré, Sérgio Brown e Juliana Bittencourt, e os haicaístas do novo Grêmio: Demétrio Sena, Maria Madalena Ferreira, Iraí Verdan e Benedita Azevedo.

Prestigiaram a inauguração intelectuais de outros gêneros literários: Maria Nascimento, presidente da UBT-RJ (União Brasileira de Trovadores, seção Rio de Janeiro), Marilza Albuquerque de Castro, presidente da APALA (Academia Panamericana de Letras e Artes) e do IBRACI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais), Reinaldo José Ferreira, Presidente da Academia Mageense de Letras e Alzir Ferreira, tesoureiro da AML. Os haicaístas Demétrio Sena e Iraí Verdan também pertencem à AML.

  O objetivo principal do Grêmio Haicai Sabiá é levar esta modalidade de poesia às crianças e adolescentes das escolas e atendê-los em seu espaço sempre que precisarem de orientação. Mas o Grêmio está de portas abertas para todos aqueles que desejarem estudar e compor haicais. O grupo inicial está formado por Demétrio Sena, Maria Madalena Ferreira, Iraí Verdan e Regina Célia de Andrade, sob a COORDENAÇÃO DE BENEDITA AZEVEDO. O grêmio funcionará em caráter permanente com reuniões mensais. 

E-mail: bsazevedo@uol.com.br 

I CONCURSO NACIONAL DE HAICAI CAMINHO DAS ÁGUAS  

A 1.ª Edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, recebeu 87 inscrições, de 13 Estados brasileiros, do Distrito Federal e da Suíça, num total de 46 cidades. De 65 inscrições válidas, num total de 130 haicais, foram classificados 10 conforme o previsto no Regulamento do Concurso.   

A premiação do I CONCURSO NACIONAL DE HAICAI CAMINHO DAS ÁGUAS será no dia 12 de agosto de 2006, segundo sábado do mês, às 16h, na Sala 1 de Congresso do Sesc/Santos, sito à Rua Conselheiro Ribas, 136, Bairro Aparecida, na cidade de Santos/SP.

Benedita Silva de Azevedo, Coordenadora do Grêmio Haicai Sabiá e Autora do Portalcen conseguiu a 4º e a 9º colocação.

 1o lugar
Antônio Seixas
Magé/RJ

No primeiro encontro,
as gotinhas de sereno
nos cabelos dela.


2o lugar
Mara Rejane Rodrigues Corrêa Segalla
Curitiba/PR

Quintais devassados
e bocas lambuzadas.
Tempo de caqui.


3o lugar
Isnelda Weise
Blumenau/SC

Bicicleta nova
as pés de tronco antigo.
-- Caqui que não cai.


4o lugar
Benedita Silva de Azevedo
Magé/RJ

Dentro da bacia
Boa porção de água limpa --
Sereno da noite.


5o lugar
Humberto Del Maestro
Vitória/ES

Gota de sereno
cai da pétala de rosa.
-- Chão mais perfumado!


6o lugar
Alberto Murata
São Paulo/SP

Sereno desperta
mendigo em banco de praça.
Sonhos se evaporam.


7o lugar
Franciela Silva
Londrina/PR

Em cima da árvore
Procuro o caqui mais belo.
Pássaro se assusta.


8o lugar
Yara Shimada
Niterói/RJ

A um canto da rua
o gato remexe o lixo.
Suave, o sereno.


9o lugar
Benedita Silva de Azevedo
Magé/RJ

Caqui, promoção --
Duas freguesas disputam
A última caixa.


10o lugar
Rogério Koiti Togashi
São José dos Campos/SP

à beira da estrada
um velho vende caquis:
que tarde tranqüila!

 

Benedita Silva de Azevedo

Fonte: www.kakinet.com

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