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SEBO LITERÁRIO
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Isabel Cristina Silva Vargas |
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CRÓNICAS
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Leitura
e
Crescimento
Isabel
C.S.Vargas
Ganhei
um
dos
livros
de
Padre
Fábio
de
Melo,
chamado
Mulheres
de
Aço
e de
Flores.
Contrariando
minha
expectativa
o
livro
não
se
tratava
de
histórias
religiosas.
É um
livro
bem
escrito,
falando
de
vivências
muito
sofridas
de
mulheres
que
provavelmente
o
autor
tenha
encontrado
em
sua
caminhada
de
evangelização.
Verídicas
ou
não,
não
importa,
pois
despertam
para
realidades
fortes,
diferentes
do
que
estamos
habituados
vivenciar,
mas
que
existem
em
quantidade.
Achei-o
um
ótimo
escritor
sem
nem
entrar
no
aspecto
religioso.
Li,
a
seguir
outro
livro
dele,
chamado
Quem
me
roubou
de
mim?
Este
também
nos
leva
a
sentir
com
ele
as
dores
humanas
com
as
quais
ele
se
defronta
na
missão
diária.
Vale
à
pena
a
leitura,
para
despertar
para
as
inúmeras
situações
que
ocorrem
e
que
são
situações
que
ao
invés
de
proporcionarem
o
crescimento
pessoal,
diminuem,
“seqüestram
a
subjetividade”
como
tão
bem
denomina.
Os
ensinamentos
servem
para
a
jovem
que
está
iniciando
a
vida,
para
a
pessoa
adulta,
madura,
para
sacudir,
conscientizar
e
reformular
condutas,
de
modo
a
não
se
tornar
algoz
de
ninguém,
muito
menos
de
si
mesmo
e
para
aquele
que
está
em
idade
avançada,
muitas
vezes
lamentando
uma
determinada
condição
de
vida,
descobrir
em
que
momento
se
deixou
aprisionar
e
perder
o
controle
de
si
mesmo.
Num
mundo
de
tantas
solicitações,
de
tanta
fluidez,
no
qual
tudo
parece
descartável,
diz
ele
que
o
ser
humano
fica
vulnerável
sendo
facilmente
roubado
de
si
mesmo.
De
uma
forma
sensível,
mas
ao
mesmo
tempo
didática
e
clara
coloca
sobre
os
cuidados
que
são
necessários
e
indispensáveis
para
que
o
ser
humano
se
crie,
se
fortaleça
e
tenha
condições
de
ser
pessoa,
o
que
implica
em
ser
proprietário
de
si
mesmo,
de
se
auto-conhecer
,de
se
colocar
à
disposição
para
servir,
processo
esse
que
engrandece
ambas
as
partes
envolvidas,
pois
implica
em
conhecimento
do
outro,
cooperação,
doação,
disponibilidade,
amor,
generosidade.
Muito
clara
a
colocação
que
faz
comparando
o
ser
humano
a
uma
edificação.
Diz
o
autor
que
“amar
alguém
consiste
em
observar
onde
estão
as
vigas
de
sustentação,
para
que
não
corramos
o
risco
de
derrubar
o
que
o
faz
permanecer
de
pé.”
(Sem
querer
parecer
amarga,
parece
que
há
pessoas
especialistas
em
descobrir
tais
pontos
vulneráveis,
para
mais
fácil
fazerem
ruir
as
edificações
humanas).
O
objetivo
de
cada
pessoa
é
procurar
melhorar
cada
uma
dessas
edificações,
amplia-las,
faze-las
crescerem
explorando
e
realizando
uma
gama
incomparável
de
possibilidades.
O
universo
daqueles
que
se
fazem
“pessoa”
se
expande,
ao
contrário
daquele
que
é
subjugado,
que
se
torna
propriedade
de
alguém,
diminuído
na
sua
essência,
sendo
considerado
apenas
como
objeto.
Inúmeros
são
os
casos
exemplificados,
como
do
rapaz
drogado,
da
jovem
manipulada
por
quem
julga
amar,
da
mulher
que
aceita
o
papel
de
vítima
numa
relação,
da
criança
a
quem
não
se
coloca
limite,
mostrando
que
o
poder
que
alguém
possa
exercer
sobre
o
outro
só
se
concretiza,
porque
assim
lhe
é
permitido.
Só
quem
está
de
posse
de
sua
integridade
emocional,
de
sua
subjetividade
pode
impedir
que
esse
processo
delimitador
e
constrangedor
se
concretize.
Vale
à
pena
a
leitura,
pela
sua
forma,
conteúdo
e
exemplo,
mostrando
como
evangelizar
implica
em
abrir
mentes
para
possibilitar
a
posse
de
sua
própria
identidade.
Para
que
este
processo
de
libertação
e
expansão
de
realize
é
necessário
amor
e
doação
por
parte
daqueles
que
nisto
se
empenham. |
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Leitura
x
preconceito
Isabel
C.
S.
Vargas
Tenho
observado
que
muitas
pessoas
cultivam
uma
atitude
que
me
parece
um
tanto
preconceituosa
com
relação
a
certos
tipos
de
leitura.
Valorizam
como
algo
bom,
digno
de
ser
lido,
obras
consideradas
clássicas
tanto
nacionais
quanto
estrangeiras.
Não
se
discute
o
valor
de
tais
obras.
O
que
quero
salientar
é a
atitude
de
tais
pessoas
que
além
de
fazerem
distinção
entre
os
tipos
de
leitura,
em
decorrência
passam
a
classificar
o
autor
da
obra
e o
leitor
como
de
segundo
escalão
ou
categoria
inferior.
Vejo
certo
desdém
pela
literatura
considerada
de
auto-ajuda.
Aliás,
alguns
nem
consideram
literatura.
Outros
menosprezam
os
leitores
de
best-sellers
como
se
não
fossem
dignos
de
serem
lidos,
pois
se
configuram
apenas
como
sucesso
comercial.
Muitos
desvalorizam
os
livros
de
Paulo
Coelho,
outros
já
me
disseram
que
preferem
os
livros
de
fase
anterior
de
Lya
Luft
porque
os
livros
dela
na
atualidade
se
parecem
com
auto-ajuda.
Claro
que
todos
somos
livres
para
pensar,
agir
e
escolher
as
preferências.
Enfatizei
que
os
livros
de
Lya
citados
pela
pessoa
que
ponderava
eram
direcionados
para
pessoas
mais
maduras
e
que
ela
era
muito
jovem.
Ocorre
que
não
é
possível
fazer
afirmações
sem
considerar
a
realidade
social
e
econômica
do
nosso
país.
Não
é
viável
exigir
um
mesmo
tipo
de
leitura
indiscriminadamente
considerando
como
leitor
só
quem
lê
um
determinado
tipo
de
obra.
Há
que
ser
considerado
o
poder
aquisitivo
da
população
em
geral,
o
interesse
individual,
a
localização
geográfica,
o
que
dispõe
à
sua
volta,
o
tipo
de
família
no
qual
está
inserido,
o
tipo
de
escola
que
freqüenta,
se
freqüenta,
o
grau
de
escolaridade
que
possui
ou
que
se
encontra
no
momento,
o
maior
ou
menor
incentivo
do
meio
que
o
cerca.
Ao
valorizar
só o
leitor
de
obras
consideradas
clássicas
ou
universais
ocorre
uma
elitização
de
um
tipo
de
leitor
e,
automaticamente,
a
discriminação
com
relação
aos
demais
leitores
e
tipos
de
leitura,
como
aquelas
que
se
referem
aos
autores
não
clássicos,
ou
melhor,
aos
mais
populares,
mais
vendidos,
regionais,
romances,
leituras
dirigidas
aos
adolescentes,
as
populares
revistas
em
quadrinhos
ou
gibis,
ao
público
infantil,
aos
leitores
de
jornal,
de
revistas
femininas,
de
revistas
especializadas
–
futebol,
carros,
esporte
em
geral,
de
determinas
profissões-,
aos
que
lêem
na
internet.
Não
é
irreal
afirmar
que
encontramos
quem
faça
distinção
com
o
tipo
de
jornal
que
é
lido
sem
considerar
que
muitas
vezes
o
gosto
pela
leitura
pode
ser
despertado
por
qualquer
um
destes
objetos
de
leitura.
Importa
se
aquilo
que
é
lido
produz
algum
efeito
positivo
no
leitor,
se
estimula
coisas
boas,
desperta
para
uma
realidade,
ou
induz
a
ter
sonhos,
ou
até
esquecer
as
agruras
da
vida,
ou
se
consolar,
se
lhe
traz
informação,
se
produz
conhecimento,
prazer,
entretenimento,
conscientização,
força
para
enfrentar
a
realidade
ou
empreender
um
novo
projeto
de
vida.
Ignorar
que
o
mundo
atual
produz
muitos
bens,
muitas
facilidades
mas
também
muita
ansiedade
e
que
uma
simples
leitura
pode
ajudar
até
a
compreender
melhor
o
que
está
sentindo
e
como
pode
tentar
melhorar
é
desconsiderar
o
encanto
e o
poder
das
palavras.
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Lembranças: dos
verões, do
laranjal e do
trapiche
Isabel C. S.
Vargas
Nossos verões
eram divididos
entre a praia em
outro estado e o
Laranjal. No mês
de férias do
trabalho,
viajávamos para
fugir da rotina,
geralmente em
Janeiro. O outro
mês passávamos
no Laranjal.
Meus filhos
aproveitavam a
liberdade que a
casa propicia,
ao contrário do
confinamento e
“segurança” do
apartamento nos
outros meses do
ano. Os
vizinhos- alguns
os mesmos até
hoje- tinham
crianças que
regulavam de
idade.
As meninas
juntavam-se nas
brincadeiras
típicas da
idade, como
brincar de
boneca, pular
amarelinha,
andar de
bicicleta, jogo
de vôlei, pular
corda, andar de
patins e
patinete, tomar
banho de
piscina. Quando
maiores reuniam
a turma do
colégio, ouviam
música, faziam
reuniões para
jogar conversa
fora à volta da
piscina, num
“dolce fare
niente” jogados
na rede, comendo
pipocas, picolés
ou inventando
algo para comer.
À noite o
programa eram os
passeios na
orla, alguma
festa eventual
proporcionada no
local onde hoje
é o shopping e
que
anteriormente
era uma quadra
de jogos com
público cativo.
Naquela época o
Clube Valverde
administrava o
trapiche. Como
éramos sócios
desde a década
de 80, quando
compramos a casa
próximo ao
Clube, tínhamos
o hábito de
transitar pelo
trapiche,
apresentando a
carteira de
sócio da
entidade. Era,
certamente,
muito melhor do
que hoje, em
estado precário,
terra de
ninguém, mas que
assim mesmo se
constitui em um
belíssimo cartão
postal ao mesmo
tempo em que
denuncia o
descaso do poder
público.
O Clube, como
outros da
cidade, enfrenta
dificuldades e
ainda sobrevive,
com festas
eventuais que
fazem parte do
calendário de
eventos da
Apespel,
entidade que
congrega os
clubes sociais
de Pelotas, em
sua maioria.
Abre suas portas
graças ao
trabalho de
diretores que
trabalham para
isto, apenas
pelo prazer
fazendo eles
mesmos todo tipo
de atividade lá
dentro.
Não quero fazer
injustiças com
outras
diretorias,
entretanto
lembro-me da
abnegação de
Paulo Curi
Hallal na
presidência,
cujos almoços
que realizava
aos domingos
eram de
freqüência
obrigatória. A
secretária,
Dona. Ramona –se
não me trai a
memória- ligava
avisando dos
almoços e
reservando os
ingressos. À
tarde havia
escolha das
tituladas
realizada por
concurso.
Boneca,
Cinderela foram
escolhidas desta
forma.
Lígia G.Satte
Alam foi uma
linda Cinderela.
Eram festas que
congregavam toda
a família com
muita alegria e
sem competições
acirradas. Esta
é uma das
características
e finalidade dos
clubes: reunir
as famílias,
congregar todas
as idades.
O trapiche
sempre foi ponto
de visitação, no
inverno e verão,
ponto de
freqüência
obrigatória dos
pescadores.
Homens,
mulheres,
famílias
inteiras ali
pescavam
desfrutando de
paz de espírito,
tranqüilidade,
convivência
harmoniosa com
outros
pescadores
amadores. Pescar
no trapiche era
um bálsamo para
a alma de
muitos. Uma
amiga conseguia
suportar os
dissabores de
sua convivência
familiar
passando horas
sentada a
pescar. Era
terapêutico.
Na gestão de
Osvaldo Ramos e
Clori, meus
queridos amigos,
o trapiche
ganhou atenção
especial. Além
da portaria
ganhou um
banheiro,
rústico é
verdade, mas que
atendia as
necessidades dos
freqüentadores.
Ficava ao fundo,
à direita, na
plataforma.
Alguns anos
depois foi
destruído, creio
que na mesma
ocasião em que
um vendaval
derrubou outras
partes da
estrutura.
Foi num dia de
procissão de N.
Senhora dos
Navegantes que
meu marido e meu
filho foram para
lá pescar. Meu
filho devia ter
uns 12 anos.
Arrumou a maleta
de pesca,caniço,
lanche,
refrigerantes e
lá se foram. Foi
nesta tarde, sob
as bênçãos de
Nossa Senhora
que meu filho
conseguiu um
feito, que ao
ser contado e
recontado,
muitos achavam
tratar-se de
mais uma
história de
pescador.
Conseguiu fazer
uma pescaria,
que para a sua
idade e para o
local, ainda
mais com o
movimento dos
barcos na
procissão se
constituiu em um
grande feito.
Pescou um peixe
que aos seus
olhos infantis
era imenso, se
comparado aos
outros miúdos
que fisgavam a
linha. Era uma
“cascuda” de
quase 3 kg. Não
é história não.
Meu marido levou
para pesar. Para
quem imagina que
o troféu virou
um saboroso
jantar naquela
noite,
enganou-se. O
mesmo ficou por
meses no freezer
para servir de
prova do feito
realizado, ou do
infortúnio do
coitado do
peixe.
Eu costumava
dizer que era um
presente de
Nossa Senhora
que passava ali
naquela tarde
festiva de
devoção, de fé,
de agradecimento
e louvor.
A natureza
retribui com
bênçãos o
cuidado e o
respeito que por
ela
manifestamos. |
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Liberdade
e
Crescimento
Isabel
C.S.Vargas
Percebo
o
quanto
é
difícil
para
as
pessoas
entenderem
que
o
caminho
para
um
bom
relacionamento
é a
confiança
e a
liberdade.
E,
naturalmente,
o
amor.
Em
nome
dos
sentimentos
muito
tem
sido
exigido.
Algumas
pessoas
têm
dificuldade
de
entenderem
que
ninguém
é
dono
de
ninguém
que
os
gostos,
desejos,
aspirações
de
uma
pessoa,
não
são
necessariamente
os
de
outra.
Claro
que
temos
que
educar
as
crianças,
apontar
caminhos
e
dar
limites,
mas
temos,
sobretudo,
que
amá-las.
Até
uma
determinada
idade,
somos
quem
sinaliza
quem
dá
diretriz,
diz
o
sim
ou o
não,
mas
quando
os
filhos
são
adultos
eles
seguem
seu
próprio
caminho,
independente
de
nossa
vontade,
gosto
ou
desejo.
Muitos
pais
tentam
projetar
nos
filhos
suas
expectativas.
Querem
realizar
através
deles,
sonhos
que
não
puderam
realizar.
Induzem
à
determinadas
carreiras,a
determinadas
práticas
,
muitas
vezes
sem
considerar
a
vontade,
a
aptidão
ou
vocação
do
filho.Nada
mais
sufocante
que
isto.
Aquele
que
se
sente
sufocado,
aprisionado,
desconsiderado
ignorado
em
seus
anseios,
em
seu
eu,
tende
a
procurar
se
libertar,
buscar
conquistar
seu
espaço
o
mais
rápido
possível.
É
preciso
aprender
a
confiar,
dar
espaço
onde
cada
um
possa
exercitar
sua
vontade,
realizar
suas
habilidades
e
potencialidades,
conquistar,
atingir
metas,
se
auto-afirmar.
Aquele
que
se
sente
satisfeito,
realizado,sente-se
livre,
valorizado
e
não
oprimido,
como
um
mero
executor
de
vontades
alheias.
Quem
está
feliz
onde
está,
fazendo
o
que
gosta,
não
vai
embora.
Ou
melhor,
até
poderá
ir,
quando
sentir
necessidade
de
voar
mais
alto
e
mais
longe,
mas
quem
sai
feliz
apoiado,
saindo
de
um
local
onde
lhe
foi
permitido
viver,
crescer
como
pessoa,
volta,
porque
leva
tudo
isto
no
coração.
Ali
será
sempre
o
seu
ninho,
o
seu
lugar
de
aconchego,
de
calor
humano,
o
seu
referencial.
Por
isso,
se
quisermos
alguém
perto
de
nós,
temos
que
abrir
o
coração,
a
mente,
e as
portas
para
que
saiba
e
sinta
que
o
que
o
prende
são
os
laços
indestrutíveis
do
amor. |
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Livro de Visitas

Para
pág. 4 |
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