
Laços Milenares
Entre brasileiros e portugueses
Existem grandes afinidades
Não posso desprezar a hipótese
De que seja resquício deixado
Por nossos antepassados.
Creio que está no sangue,
Não é, totalmente de graça
E muitos contam, com toda certeza
Que nossos ancestrais
Tinham suas origens
Na fidalguia portuguesa.
Talvez seja por isso
Que insisto em dizer
Amo os brasileiros
Mas também amo aos portugueses.

As amigas portuguesas
Na hora marcada, alguém bateu na porta. Eram elas. Confesso, não
imaginei que Manuela fosse tão jovem, ela e a filha Joana
pareciam irmãs. As
duas eram alegres e sorridentes, até me fizeram lembrar a
simpatia e
descontração da Vládia Pinheiro, uma colega de trabalho e fiel
amiga.
Manuela e Joana me trouxeram sacolas contendo casacos, camisolas
(blusas de gola alta), cachecóis e outros. Apesar de minha irmã
Maria José
que reside em Brasília, ter me enviado alguns agasalhos, não era
o suficiente.
Acontece que eu não tinha noção do frio que assolava Lisboa, por
isso, teria
passado sérios apuros se não fosse mais esta cordialidade das
amigas
portuguesas. Meus olhos brilharam ao abrir as sacolas contendo
os
agasalhos, na mesma hora agi como se fosse uma criança.
Imediatamente,
experimentei peça por peça, até a última. Tudo foi muito rápido,
tínhamos
que sair, então, à proporção que ia experimentando as jogava uma
em cima
da outra, fazendo um amontoado de peças. Por fim, decidi
continuar com a
saia vermelha, a mesma que estava usando antes da chegada das
amigas.
Para dar um toque especial, optei por uma blusa de gola alta
(camisola) e um
lindo casaco de couro de porco, de um marrom escuro (presentes
da
Manuela e Joana).
Após esse pequeno desfile particular fomos ao encontro do
Carlos, já
era um pouco mais das treze horas, e, quando chegamos à
recepção, lá
estava o nosso amigo português, que, embora nos tenha recebido
com um
largo sorriso, deixou transparecer que não apreciava esperar por
muito
tempo. Ao verificar essa expressão, constatei que os homens, não
importando as suas nacionalidades, tendem a serem impacientes
nas
questões que envolvem os costumeiros atrasos das mulheres!

Trajeto ao restaurante
Manuela era gentil e
queria descrever-me tudo que encontrávamos
pelos caminhos. Até parecia um cicerone. Enquanto ela falava o
Carlos a
escutava atentamente e sempre que ela dava uma pausa, ele
assumia o
comando das informações, dando maior ênfase no que estava sendo
explicado. Parecia orgulhoso por ter uma amiga tão especial e
inteligente.
Ele a conhecia desde que Manuela tinha 15 anos, era amiga de
seus filhos.
Atualmente, Manuela é casada com o senhor Rui Madeira e, desse
enlace
matrimonial nasceu Joana (17 anos -2003).
O Carlos e a Manuela se empolgaram nas narrativas e terminaram
por
me deixar, totalmente atrapalhada, eles falavam rápido, o que
dificultava a
minha compreensão. Eu, ainda atordoada devido à longa viagem,
sentia-me
um tanto quanto perdida e não conseguia maior concentração no
que estava
sendo dito.
Nas horas mais difíceis da comunicação, pedia ajuda a Joana que,
pausadamente traduzia o que a mãe e o amigo tentavam dizer-me.
Enquanto isso, eu experimentava uma estranha sensação de
vaidade, por ter
a companhia de pessoas amigas que, gentilmente me mostravam uma
das
cidades mais belas da Europa.

Pátio dos Leitões
Chegando ao restaurante “Pátio dos Leitões”, fomos recebidos por
uma senhora, conhecida da Manuela. A mesma nos conduziu até uma
mesa
reservada para quatro pessoas. Pedimos para entrada, pão passado
ao alho.
O prato principal foi leitão à moda da casa e para acompanhar
arroz, salada
de verduras, batatas fritas etc., tudo isso regado a vinho e a
uma boa
conversa.
No decorrer do almoço, conversamos sobre assuntos variados,
sendo
que na maioria das vezes, os diálogos eram sempre direcionados
para a
literatura clássica ou contemporânea. A relação profissional e
amorosa
entre os habitantes do Brasil e Portugal tem fundo histórico e
marca a vida
de cada pessoa que se declara amante dessa história, das letras
e das artes.
Estava feliz, mesmo assim, não conseguia esquecer o problema de
comunicação com o Brasil, foram inúmeras as tentativas e todas
frustradas.
Não tinha jeito, a operadora não completava as chamadas.
Manuela,
ao ver minha angústia, gentilmente pôs o seu telemóvel (celular)
à minha
disposição. Por um instante, sentia-me aliviada, mas por um
motivo que não
se pode precisar, não foi possível completar a ligação, o
sistema de
comunicação estava interrompido. Movida pela preocupação, meus
pensamentos insistiam em divagar pelos oceanos imaginários de
minha
mente poética. Em silêncio, agradecia a Deus e a minha família
que me
encorajaram a realizar esse ousado projeto de viagem.
Muito embora, no meu íntimo algo estivesse doendo, foi possível,
antes do final da tarde brincar, sorrir, fotografar e ser
fotografada. Não era
justo, afinal tinha tomado todas as precauções para não ter
falhas com as
nossas comunicações telefônicas. Por culpa da operadora todo meu
esforço
foi inútil. Tentei disfarçar a preocupação e me deixei levar
pela contagiante
empolgação do Carlos e da Manuela. Atenta à conversa, já
compreendia
quase tudo que estava sendo dito. A conversa estava a cada
instante, mais
agradável. Assim, sentia-me realizada em estar com os irmãos
lusitanos.

Distância
Quando ouvimos a palavra distância
Relacionamos com saudades
Ou algo desconhecido
Principalmente quando se tem do outro lado
Um amor sofrido.
É bem verdade que podemos utilizar
O telefone convencional ou celular.
Mas se tratando de amor
O bem mesmo é ficar ao lado
Quando não há outro jeito
O melhor é dar-se por conformado
Em apenas ouvir a voz
Do ser Amado.
E neste caso, em que o telefone não funcionou?
O jeito foi secar as lagrimas
Aproveitar a grande oportunidade
Para fotografar e ser fotografada
Registrar minha passagem
Por esta cidade.

No final do almoço, tiramos
mais algumas fotos e, antes de nossa
saída, a Manuela me apresentou ao senhor Orlando Silva,
proprietário do
estabelecimento. Ele era um homem de meia idade que com
desenvoltura
me conduziu até um compartimento e me apresentou dois jovens
brasileiros. Um era cantor (Junior Ribeiro) e o outro o seu
empresário. Eles
tinham sido contratados para fazerem shows, naquela casa.
Demorei um
pouco, queria saber mais sobre o trabalho deles. Quando retornei
à mesa, o
Carlos se queixou da minha demora. Desculpei-me, por ter
esquecido que a
Manuela tinha que arrumar suas malas para viajar no dia seguinte
(treze),
para o Brasil, precisamente, Fortaleza – Ceará. Quando saímos do
restaurante, fomos visitar algumas comunidades e pontos
turísticos. Lisboa
é uma magnífica cidade e tem muita beleza para ser apreciada! Do
que senti
falta, foi da fauna, da flora (do verde das nossas matas) e do
clima tropical
existente aqui no Brasil. Em Lisboa, as plantas pareciam estar
mortas.
Acredito que seja por causa da baixa temperatura,
característica, daquela
época do ano (dezembro). Isso despertou em mim, um sentimento
nostálgico.
Durante o passeio, preferi continuar com Joana, no banco
traseiro, a
nossa conversa era interessante e me conduzia ao um mundo
jovial, sem
muitas preocupações. Enquanto, a Manuela alegremente conduzia o
seu
automóvel pelas ruas e avenidas de Lisboa, sendo que estas eram
estreitas e
com muitas ladeiras e ainda tinham os carros, que ficavam
estacionados
quase nas calçadas, dificultando a passagem dos pedestres. Esta
percepção
me deixava desmotivada, a conduzir um automóvel por aquelas
vias. De
certa forma, desses altos e baixos por onde passamos deu para se
obter uma
visão panorâmica e sistêmica da área construída de Lisboa.
A magnitude realeza lisbonense me deixou impressionada. Além de
sua rara beleza, ainda é bem assistida pelos diversos meios de
transportes
que facilitam as locomoções de seus habitantes e turistas, a
citar: o metro
(metrô), comboio (trem), autocarro (ônibus) e táxi. Este último,
por ser
caro, o usuário precisa dispor de uma boa condição financeira
para poder
utilizá-lo, por isso é o menos usado pela grande maioria. O
custo de vida
nessa cidade é altíssimo, o que condiciona o turista menos
favorecido
financeiramente a ficar atento com seus gastos.
Apesar da carestia, o turista não fica impedido de se locomover
e
usufruir das riquezas monumentais que embriagam as nossas
sensibilidades
e embelezam as ruas, avenidas, praças dessa antiga cidade
européia. Tudo
isto nos leva a vivenciar um pouco da emoção do que foi o começo
da
história do povo brasileiro.

Lenda de Lisboa
Em
tempos primórdios, nada existia da cidade de Lisboa, a não ser a
sua própria
configuração. Ora, conta à lenda que a costa que hoje é Lisboa,
tinha um estranho nome:
Ofiusa – que quer dizer terra de serpentes. E as serpentes
também tinham a sua rainha.
Uma rainha muito estranha, sendo metade mulher e a outra metade
serpente, senhora de
um olhar feiticeiro e de uma voz muito meiga. Às vezes, esta
estranha rainha subia ao alto
de um monte e gritava tanto ao vento, só para que pudesse ouvir
a sua própria voz: Este é o
meu reino! - Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano
se atreverá a pôr
aqui os pés. Ai de quem ousar, pois as minhas serpentes não o
deixaram respirar um
minuto se quer! Mas esta estranha rainha estava muito enganada.
De fato, durante muito tempo, ser humano nenhum se aventurou a
desembarcar
nesta costa que ela pensava que estaria amaldiçoada pelos deuses
e também pelos homens.
Porém, um dia, vindo de muito longe, um herói lendário chamado
Ulisses, famoso pelas
suas aventuras guerreiras, atracou onde hoje é a cidade, capital
de Portugal – Lisboa.
Como ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu, ao
desembarcar, subiu a
um monte e, com sua máscula voz, gritou ao vento: - Aqui
edificarei a cidade mais bela do
Universo! Dar-lhe-ei o meu próprio nome: Será a Ulisséia,
capital do Mundo! Sua
profecia se cumpriu e, hoje embora não tenha o nome do herói
mitológico grego, Ulisséia é
uma das mais belas cidades do Mundo e chama-se Lisboa.
