
Perfume
Ângelo Rodrigues
http://es.geocities.com/alkionehoxe/
Vagueio
Clandestino
pelas sombras
perfumadas
do desejo
em busca
da Última-barreira
que está algures
para além
dos precipícios olfactivos
da Rosa.
Descanso.
Sento-me em cima
da felicidade
de um pássaro bizarro.
Estou alto e tenho medo,
medo de não permanecer
eterna-mente alto.
Descarrego do olhar
a luz de todas as manhãs do mundo.
Encosto a Alma
à cor azul do céu e do mar.
Fecho sono-lenta-mente os olhos.
Actuam em mim,
como que por encanto,
mil sentidos virgens.
Consigo cheirar
o perfume intenso,
orgástico e arrebatador
da Rosa-Esotérica.
Sei agora
que estou perto da
Última-Barreira.
Depois do jantar, alguns dos amigos tentaram convencer-me a não
viajar para Algarves, segundo eles, eu ainda teria muitas coisas
para
conhecer em Lisboa. Pouco adiantava a falação deles, sou
bastante teimosa
e, não estava disposta a desistir da pré-falada viagem. Passado
o tempo, já no
Hotel, levando em consideração os conselhos dos amigos, achei
melhor
desfazer o compromisso assumido, com a colega escritora, antes
mesmo de
chegar a Portugal. Não foi fácil esta decisão. É que eu, quando
me
comprometo com alguém, gosto de cumprir com minha palavra.
No dia seguinte ao memorável acontecimento foi noticiado:
Sábado, 13 de dezembro de 2003, 18h30min Horas, em Lisboa
Portugal. Campo Pequeno, Palácio Galveias. Lançamento da X
Antologia
"Poiesis".
Presentes: cerca de 200 pessoas (quase todos escritores).
A nossa querida Autora do CEN, Vilma Matos, uma das escritoras
desta Antologia, obteve um enorme êxito! Foi, sem dúvida, a
rainha do
lançamento, que teve a presença de Sua Exª., o Embaixador do
Brasil, em
Portugal. A Vilma encantou todos com os seus poemas e,
sobretudo, como
os apresentou, que mereceu os maiores encômios, incluindo os do
Senhor
Embaixador do Brasil. Parece que devemos estar todos orgulhosos
por este
grande êxito!
Após a festa de Lançamento, todos foram jantar à Casa do
Ribatejo
em Lisboa, onde a Vilma também brilhou à grande altura,
recitando e
dançando.
Parabéns Vilma Matos!
Carlos Leite Ribeiro
Escritor/Jornalista da Agência de Notícias “Lusa”

Aconteceu em Fátima
No terceiro dia
estava programado um passeio à famosa Vila de
Fátima. Passaria pela estrada que dá acesso ao Distrito do
Ribatejo. Esta
pertence ao distrito de Santarém. Posteriormente, passaria por
Batalha,
Leiria, Marinha Grande, São Pedro de Moel (todas do distrito de
Leiria -
Província da Estremadura).
Neste dia, igualmente aos outros me levantei cedo, apesar das
agitações durante o evento do qual me propus a participar.
Estava entre
cansada e emocionada, devido ao êxito do evento e dos meus
objetivos
alcançados. As imagens se plasmavam, como se estivesse revivendo
tudo
novamente. Mesmo tendo ido para a cama um pouco mais tarde do
que
pretendia, não foi empecilho para as seis horas da manhã já
estar de pé.
Tomei um delicioso banho morno, desci para tomar o pequeno
almoço
(café da manhã).
A curiosidade é algo constante em minha vida, por isso, essa
vontade
inconteste de viajar pelas cidades e distritos de Portugal.
Queria vivenciar e
descrever fatos interessantes que pudessem interessar não só a
mim, mas
também, aguçar a curiosidade do leitor, que por ventura venha a
ler as
páginas deste livro. Quando saí do quarto, era por volta das
oito e quinze.
Ao descer, passei na recepção e pedi que me chamassem um táxi. A
recepcionista, prontamente atendeu ao meu pedido e, enquanto
esperava o
táxi, aproveitei para obter algumas informações acerca de como
chegar à
Fátima. Foi quando um casal se aproximou, eu os conheci na noite
anterior.
Antes mesmo de se aproximarem, o cavalheiro foi logo dizendo em
tom
alegre e descontraído: - "Senhorita, por gentileza, pode nos
chamar um táxi?
Precisamos ir à Praça da Espanha“. Nesta ocasião, a moça falou:
"A Sra.
Vilma Matos também vai à Praça da Espanha e por serem amigos,
sugiro
que utilizem o mesmo táxi”.
Sem dúvida, éramos amigos de ideais e estávamos ligados pelo
amor à
literatura em língua portuguesa. Após ouvirmos a sugestão,
sorrimos e
fomos andando rumo à porta principal, o táxi já estava à nossa
espera.
Em poucos minutos, chegamos à Praça da Espanha, de onde sairia o
autocarro (ônibus) que me levaria até a Rodoviária, para depois,
tomar o
Expresso com destino à Magnífica Fátima. Conforme a crença,
nesse lugar,
a mãe de Jesus Cristo havia aparecido para três crianças: Lúcia
(na época
ainda viva), Jacinta e Francisco Marto (falecidos) e mantido
contato verbal
com elas. Ao chegarmos à Rodoviária, despedimo-nos e cada um
seguiu seu
destino. Ainda permaneci um longo tempo no local, em virtude do
Expresso ter atrasado. Isso me deixava aflita, por conta das
horas que se
passavam como um "passe de mágica". Eu deveria retornar ao
hotel, antes
do anoitecer, para tentar comunicação com minha família.
Finalmente, o Expresso deu partida e meu coração começou a se
agitar dentro do peito. Tinha curiosidade e queria aproveitar
essa viagem
para conhecer vários lugares (Distritos).
Sem explicações plausíveis, sentia-me leve como um pássaro e
alcei
vôo... Saí cortando o vento, amansando tempestades causadas
pelos meus
oportunos pensamentos, quando, de repente, alguém tocou
delicadamente
em meu ombro. De súbito, olhei para ver quem ousava tirar-me de
um
mundo ilusório, construído pela necessidade que tem minha mente
fértil e
sedenta de novidades. Por vezes, precisamos percorrer por estes
caminhos
certos e incertos, em busca de nosso próprio Eu. Naquele
instante, meus
sonolentos olhos visualizaram uma mulher de estatura mediana,
rostinho
branco e faces pálidas. Seus olhos eram grandes, cinzentos,
enigmáticos e
traziam consigo um semblante quase que angelical. Usava vestido
branco,
cabelos cobertos por um lenço da mesma cor e, em seu pescoço, um
enorme crucifixo.
De imediato, percebi que se tratava de uma religiosa (freira).
Ela
parecia ler meus pensamentos. Esboçou um sorriso iluminado e,
sem
demora, perguntou-me: _ "Você vai à Fátima?" Diante da
delicadeza, com
que fui abordada, respondi-lhe todas as perguntas, embora tenha
me
limitado a usar somente alguns monossílabos. Após o diálogo,
voltei a
observar os caminhos por onde passávamos. Procurava alguma coisa
que
me fizesse esquecer as perplexidades que estavam me acontecendo,
mesmo
sabendo que nada seria encontrado, visto que a paisagem estava
totalmente
encoberta pela névoa.
O Expresso parou para algumas pessoas desembarcarem ou
embarcarem, então fiquei atenta observando a movimentação
daquela
gente, muito interessante o jeito próprio de cada pessoa se
comportar, meus
olhares e atenções tinham se voltado para os passageiros, estava
sempre em
busca de decifrar o enigma que existe em cada pessoa e que se
torna visível,
através das expressões faciais, olhares, movimentação do corpo,
forma de
como se acomodam nas poltronas, reações diante das conversas e
outros,
para mim, o ser humano é um ator que representa sempre diversos
tipos de
papéis, variando-os conforme a necessidade do momento.
Apesar da chuva forte, ainda nutria em meu âmago a esperança de
ver
o sol durante o percurso. Segundo a senhora que estava sentada
ao meu
lado, lá em Fátima não estava chovendo e nem nevando; portanto,
concluí
que teríamos um belo encontro com o "astro-rei", já que, em
Lisboa, estava
um pouco difícil de vê-lo.
Para alegrar meu coração, alimentei durante algumas horas a
esperança de embebedar-me com as belezas campestres
portucalenses. Isso
ficou apenas no campo da imaginação, pois estávamos chegando, e,
naquela
oportunidade não seria mais possível, deixaria para outra
ocasião. Quem
sabe, durante o percurso de volta a Lisboa.
Quando chegamos à Fátima era cerca de treze e trinta. Num
primeiro
momento, a visão foi bem mais agradável do que aquela que pude
ver ao
longo do trajeto. Fiquei encantada diante da beleza do lugar e
uma força
brotava dentro de mim, como se eu, não fosse uma só pessoa e não
tivesse
um só espírito, era assustador e ao mesmo tempo acalentador, não
tinha
dúvidas estava mesmo entrado em contato com seres especiais. Mas
que
seres eram esses? Ainda não sabia...
O sol acariciava minha pele, como se fosse um afago e o frio,
que
anteriormente me incomodava, por demais, nesse tempo não tinha
tanta
importância. Estava deslumbrada com o magnetismo daquele lugar
que era
reconfortante e acolhedor. Sentia-me abraçada e atraída por seus
mistérios.
Quase tudo ali me fascinava com exceção dos devotos da santa
que,
movidos pela fé se arrastavam de joelhos por sobre uma trilha
que os levava
ao santuário. O que também, chamou minha atenção foi a grande
quantidade de velas acesas (verdadeiras fogueiras). Vi que
algumas eram do
tamanho de uma pessoa, em sua fase adulta. Contudo, não tinha
dúvidas de
que naquele lugar tudo poderia acontecer. Fui envolvida por uma
“força
estranha” que me fez andar, sem perceber qual era a direção que
estava
tomando. Lembro-me que se projetou em minha mente uma imagem
fluídica e através dela recebi mensagens de amor e fé. A
princípio não dava
para assimilar bem, sendo que aos poucos fui compreendendo que
se
tratava de uma advertência sobre algo que estaria ou iria
acontecer, seriam
"coisas" muito graves, mas, que não me preocupasse, pois tudo
seria
resolvido ao seu tempo e não ficarem marcas, nem seqüelas. Daí,
quase sem
fôlego e desfalecendo, mentalmente perguntei: - Será com o meu
trabalho?
Não. Nesta hora tive a certeza que a “coisa” era em minha casa,
com minha
família. Creio que depois desse breve dialogo telepático, perdi
mesmo os
sentidos!
O frio era intenso, embora o sol estivesse ardendo em minha
pele.
Aos poucos, fui retornando ao mundo real e por um longo tempo,
permaneci parada, tentando analisar o que tinha acabado de ver e
ouvir.
Talvez fosse melhor ficar em estado de alerta. Foi quando vi que
ao meu
lado, tinha um senhor me indagando: - "Moça, o que você tem? O
que lhe
aconteceu? A senhora está com uma fisionomia estranha, como se
tivesse
visto algo que mais ninguém conseguiu ver!" Olhei para o
cavalheiro e falei:
- Senhor, por favor, queira me desculpar se lhe assustei, é que,
foi bem mais
forte do que eu. Espero que tenha sido apenas fantasias mentais.
Não se
preocupe, estou bem. Não foi nada, era só um pensamento ruim. Já
passou
e muito obrigada por sua gentileza. Ele poderia ficar tranqüilo,
enquanto
que eu ficaria na esperança de que nada de ruim acontecesse com
minha
família.
Nesse ínterim, percebi que tinha subido uma escadaria que dava
acesso ao santuário, ainda atordoada, buscava a luz que
iluminara minha
vida. Felizmente, pela misericórdia de Deus a minha memória
armazenou
uma mensagem (aviso). Firmei bem o pensamento, no que me foi
transmitido telepaticamente, no sentido de acreditar que tudo
não passaria
de “mais um capitulo do livro luminoso da vida”. O que mais me
afligia era
não saber qual o tipo de problema que futuramente teria de
enfrentar. Tudo
estava confuso, no entanto, a promessa de que todas as coisas
seriam
resolvidas, deixava-me fortalecida.
Após um longo espaço de tempo, fiz uma oração de agradecimento e
me afastei do santuário. Precisava pôr minhas idéias em ordem
para, depois,
comprar presentes (prendas) para meus familiares e amigos.
No decorrer da tarde, a nítida lembrança da mensagem recebida na
tarde de domingo me emocionava, trazendo aos meus olhos lágrimas
de
saudade e preocupação.
Ao terminar com as compras, dirigi-me à rodoviária. Era muito
tarde
e teria que retornar a Lisboa. O Expresso não tinha chegado,
então, resolvi
ir ao café e conferir a lista de nomes, verificando se o que
comprei era
suficiente para atender todas as encomendas. Chegou a ser
divertido,
quando percebi que a bendita lista, depois de ter sido conferida
por diversas
vezes, ainda faltavam lembrancinhas!
Aproveitei a demora do transporte para ir a uma loja vizinha e
comprar as “prendas” que faltavam. Nessa ocasião, sucedeu mais
um fato
que aqui vale ser narrado. É que, depois de comprar um leque e
também
escolher mais algumas medalhinhas, o proprietário da loja, sem
qualquer
motivo, mandou-me escolher uma outra. Daí, falei: - Senhor, não
há
necessidade, peguei o suficiente. Obrigada!
Mais uma vez, ouvi sua voz mansa e firme: - "Mas esta é para a
senhora conduzir consigo, dentro de sua bolsa!" Tentei
demonstrar
naturalidade, diante da cortesia do proprietário da loja, não
acreditava que
fosse este um gesto comum, para com todos os clientes. Além do
mais,
como ele poderia saber que eu não tinha intenção de ficar com
uma, para
mim? Como adepta da Doutrina Espírita, aquela medalhinha não
iria fazer-me
nenhuma diferença. Mesmo assim, resolvi obedecer ao gentil
Senhor.
Escolhi uma medalha e, em seguida, guardei-a na bolsa. Agradeci
o brinde e
sai sem fazer comentários. Não compreendia bem o motivo daquela
gentileza, no entanto o fato ficou guardado no arquivo dos
acontecimentos
relevantes. É realmente de causar estranheza que o dono da venda
tenha me
dado uma prenda, se ao menos eu tivesse efetuado uma compra
razoável!
Retornei à cafeteira para fazer a conferência da lista de nomes.
Estava
descontraída. Senti que uma mão delicada tocava em meu ombro,
olhei para
trás e, uma agradável surpresa, novamente a freirinha de olhos
brilhantes,
dessa vez com a notícia: - “O Expresso não vai chegar hoje. Deu
defeito,
quando estava vindo para cá". Não acreditei no que estava
ouvindo. Diante
de minha impotência, arregalei os olhos e, antes de falar
qualquer coisa, ela
disse mais: - "Não se preocupe que a levarei para pernoitar no
abrigo onde
também irei dormir". Foi difícil acreditar no que estava
ouvindo, era a
última coisa que eu gostaria de ouvir.
Tinha que ser um sonho, ou melhor, um delirium. O pior é que
tudo
era verdade, o ônibus não chegou mesmo e, eu tive que aceitar o
amável
convite. Ela chamou num táxi para nos levar até uma casa de
aparência
muito antiga. O sol estava baixo, por isso, foi possível
apreciá-lo,
demoradamente, enquanto pensava em tudo o que vinha me
acontecendo e
o que, ainda poderia acontecer.
Durante a noite, apesar de ter sido calma, quase não consegui
dormir,
minha cabeça doía. A irmãzinha e as outras freiras passaram
quase toda à
noite em vigília, e eu, entre dormindo e acordada, não
compreendia bem o
que elas falavam ou faziam... O ambiente era confortável, mesmo
assim,
não via a hora do dia amanhecer. Logo cedo, fomos apanhar o
Expresso.
Chegando à estação, tinha muita gente para apanhar a mesma
condução que nós, quase todos com destino a Leiria, alguns
passageiros
ficaram em Batalha, sendo que neste local todos os passageiros
tiveram que
desembarcar e esperar um outro Expresso que os levassem aos seus
destinos.
