Sebo - Vilma Matos

Odisséia em Ulisséia

Leiria

Capital de Distrito e da Alta Estremadura, já há muito que Leiria ultrapassou o morro do Castelo que fica entre os rios Lis e seu afluente Lena.
Leiria goza de atributos que lhe conferiram credenciais de grande centro comercial, industrial e turístico, dos mais importantes de Portugal.
Leiria foi palco de acontecimentos importantes da História de Portugal, como por exemplo: daqui foi enviado documento da fundação da Universidade de Coimbra, em Maio de 1290; o príncipe herdeiro, mais tarde D. Afonso lV, em 1320, em conflito com o pai (D. Dinis) pôs cerco ao castelo só o abandonando perante a proximidade do exército.
O altar da capela de São Simão foi testemunha do acordo de paz devido à interferência da bondosa Rainha Santa, entre o marido e o filho.
Leiria, sendo banhada pelo rio Lis e do seu afluente, o Lena, toda a sua região se caracteriza não só pela fertilidade dos campos que a marginam, facilmente irrigados, como também pela aptidão para a cultura florestal, representada pelas extensas áreas ocupadas pelo pinhal (pinheiro bravo). Tudo verdeja quando esses campos estão ocupados pelas culturas que lhes são próprias só os tons são diferentes. A sensação que se colhe percorrendo-a é de umas amenidades pouco vulgares, traduzidas por um ambiente saudável e calmante; nada é brusco, nada é agreste nada fere, magoa ou assusta. Apenas o morro onde se ergue o Castelo de Leiria e a Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, quebram a suavidade da paisagem.

Apenas de passagem

Revivendo sonhos...
Revendo os guardados
Em busca de lembranças perdidas
No passado
Na escuridão das mentiras
Verdades,
Não contadas
Encontra-se
Vida sofrida
Histórias inacabadas
No meio a tantas loucuras!
A verdade se encontra
Nas prateleiras da mente
Sobre a guarda do arquivista
Da biblioteca da vida.

Marinha Grande

Marinha Grande é a capital do vidro e dos moldes em aço para a indústria de moldes. É pequena, mas também é uma laboriosa cidade, conhecida em todo o mundo pela excelência da fabricação de moldes para plásticos. O concelho tem duas lindas praias: S. Pedro de Moel e Vieira de Leiria. Segundo a lenda do Pinhal do Rei, uma embarcação portuguesa vinda do Golfo da Gasconha, teria usado braças e lenha de pinheiros bravos dessa região, como combustível.
Contaram o sucedido à Rainha Santa Isabel, mostrando-lhe as sementes e dizendo-lhes que os pinheiros em França, estavam igualmente em terrenos arenosos e que se desenvolviam bem. Foi então deliberado lançar a semente a terra e, teria sido a Rainha quem transportou no seu avental, a arregaçada de penisco até uma clareira existente no pinhal.
D. Dinis ficou logo entusiasmado com o lindo desenvolvimento da sementeira e para ter em abundancia, teria dito aos mareantes que, para a outra viagem lhe trouxessem mais sementes. Vindo então o penisco e não pinhão, este foi lançado noutras clareiras. O povo cheio de curiosidade e amor a terra, passou a ir ver o Pinhal do Rei e o seu desenvolvimento em franco crescimento.
O Pinhal de Leiria, que inicialmente foi de todos que quisessem ir buscar madeiras, deve ter sido coutado pela primeira vez por D. Dinis, pois, D. Fernando I já lhe chamava 'o nosso pinhal', esse coutamento assim com as concessões dadas aos pobres de Paredes e Campos de Ulmar (Monte Real), dá princípio aos lugares que nasceram a sua volta e que se vão transformando em pequenos povoados. Hoje, um desses é a cidade de Marinha Grande.
Antes do final da tarde, apanhamos outro transporte que nos levou a São Pedro de Moel, uma das mais belas praias de Portugal.

Visita a São Pedro de Moel

Este lugar é um verdadeiro Éden. Tudo é muito tranqüilo, apenas se escuta o assoviar do vento e o gemido das águas quando batem nos rochedos, deixando no ar, uma leve impressão, que ali, está acontecendo um encontro romântico. É realmente um paraíso! Tudo pode acontecer entre seres de toda e qualquer espécie que habitam aquele misterioso lugar. O envolvimento é inexplicável. Fui tomada por uma preciosa magia capaz de fazer um poeta “caminhar por sobre as águas” ou escalar as ondas como se fossem as montanhas do Alaska.
A freirinha continuava com a mesma postura da hora em que nos conhecemos. Empregando meias palavras ela sempre me alertava e, dessa vez, ela estava mais atenta aos meus movimentos, como se quisesse me alertar sobre coisas que eu ainda não sabia. Com mansuetude, disse-me que permanecesse ali, pois ia guardar sua bagagem. Mas que bagagem? Não me lembrava de vê-la trazendo malas, fiquei quieta e a obedeci.
Aproveitei para apreciar as belezas do lugar, enquanto ela voltava, tirei algumas fotos, pena que ainda não tinha nenhuma foto do anjo amigo, a freirinha. De repente, ela surge em minha frente e me olha com extrema doçura, nessa hora, ousei olhar dentro de seus olhos e quase me afoguei em suas profundezas, o que vi, não encontrei palavras para descrever. Percebi minha garfe, então, para disfarçar minha ousadia e fugir da imensidão de seu olhar, expressei o desejo de fotografá-la. Ela sorriu e disse: “Não adianta, elas sempre queimam.” Apesar de ter considerado estranho à forma como me falou, não fiz mais nenhum comentário, apenas me limitei a observá-la, eu tinha a pretensão de descobrir o que ela escondia, por traz de seu sorriso angelical. Durante todo o tempo em que estivemos juntas, não me deixou perceber nenhum tipo de preocupação, passava-metranqüilidade e fé. Era amiga e solícita.
Depois das fotos, fomos ao restaurante “Carlos Preto”, onde pedimos “Escalopes de Veado”. A conversa durante o almoço fortaleceu meu espírito, minha alma. Não tinha sido abordado o assunto referente à Odisséia em Ulisséia mensagem recebida no Santuário de Fátima. Com certeza, ela percebeu minha aflição que transparecia, através do meu semblante. Era óbvio que no meu íntimo existia o temor de algo que estava por vir, por isso, talvez o zelo daquela aparente desconhecida. Vim compreendê-la melhor, quando retornei a Lisboa.
Lamentei por não ter prosseguido a viagem em companhia da freira, já estava me acostumando com sua presença.
Aproveitei o tempinho que me restava, para tirar mais fotos da bela paisagem, inclusive do hotel Mar & Sol que ficava próximo do restaurante onde almoçamos, na histórica Vila de São Pedro de Moel, esta, além de linda, era também muito fria.
Não sei explicar o fato, parece coincidência, mas as fotos da feira não serviram.

 

São Pedro de Moel

Este lugar é banhado pelo Oceano Atlântico. Praia da Freguesia de Nossa Sra. do Rosário, concelho de Marinha Grande. A praia pequena, limitada pelo norte por rochas abruptas, e ao sul por um pequeno ribeiro facilmente vadeável, não tem boas condições para a prática de desportos náuticos, pois o mar é geralmente agitado e aparenta as mais alterosas ondas da costa portuguesa.
São Pedro de Moel - A sala de visitas da Marinha Grande. "A lenda do Penedo da Saudade”. Recordamos que "Penedo da Saudade" existem dois: um romântico situado em Coimbra e o outro em S. Pedro de Moel. É deste que vamos contar a Lenda. O drama de que vamos contar (lenda), trata-se do Duque de Caminha: D. Miguel Luís
Meneses e de sua esposa D. Juliana. Este feliz casal vivia uma vida muito recatada no seu palácio, afastado do bulício, das intrigas da Corte e da política bem efervescente naquela época.

Lenda do
Penedo da Saudade

Mas... Certo dia, o nobre casal foi surpreendido por um dos seus criados que anunciou a chegada do senhor Marquês de Vila Real, pai de D. Miguel de Meneses. D. Juliana teve logo o presságio de se tratava de algo grave, dado que se levantou empalidecida.
Em vão, seu esposo, D. Miguel, tentava acalmar sua amantíssima esposa. Entretanto, mandou entrar seu pai.
Não obstante o desejo do Marquês era falar a sós com seu filho, este insistiu para que a esposa ficasse presente. - Seja! – concordou, por fim, o Marquês de Vila Real. O seu aspecto era grave, o que deixou o casal ainda mais inquieto. D. Miguel quis saber da visita de seu pai: - O que se passa, senhor meu pai?... Este encarou bem de frente o filho e retorquiu-lhe: - Senhor Duque de Caminha e meu filho, chegou a hora Del rei D. João lV pagar a sua tirania! A conspiração está organizada e dela fazem parte o arcebispo-primaz, o Conde de Armamar, D.Agostinho de Vasconcelos, eu e vós! Muito surpreso D. Miguel que não havia sido anteriormente consultado, tentou não fazer parte da conjura: - Não, meu pai! O velho fidalgo quase fuzilou o filho com o olhar: -E se vos der uma ordem? Não deveis trair-nos! D. Juliana assistia atônita e horrorizada ao diálogo trágico travado entre seu sogro e o seu marido.
Cabisbaixo e bastante consternado, D. Miguel, não tendo outra alternativa, decidiu ser um dos conjurados. D. Juliana, perante a louca decisão de seu amado esposo, caiu desmaiada num canapé, onde, momento antes, partilhava das carícias do esposo que tanto amava.
Gorada a conjura, feitos prisioneiros todos os conjurados, entre os quais estava o Duque de Caminha, foram encarcerados na fortaleza de S. Vicente de Belém (Torre de Belém - Lisboa).
Aí, no silêncio da noite, estendido nas palhas putrefactas do cárcere, D. Miguel tomou noção da sua fraqueza em ter acedido às ordens de seu pai! Tomou então a decisão de escrever a Del-Rei pedindo-lhe perdão - mas em vão. D. Juliana também implorou a Del-Rei o perdão para o marido - mas também sem o conseguir. D. Miguel de Meneses subiu ao cadafalso e com a morte pagou a fidelidade que o ligava a seu pai. Inocente? Culpado?... a decisão fora sua.
Para o povo, ele estaria inocente e pagou pelo crime do pai. Refugiada em S. Pedro de Moel, a Duquesa de Caminha ia todos os dias chorar as suas desgraças, num penedo solitário. Os soluços que soltava de seu peito e as lágrimas que jorravam de seus olhos misturavam-se com as ondas do mar e iam se espalhando, qual balada trágica, por esse mundo afora. Perante tamanha dor, o povo de S. Pedro de Moel, passou a chamar àquele rochedo, o Penedo da Saudade. E assim, fez-se lenda...

Afonso Lopes Vieira

Vale ressaltar aqui uma personalidade histórica que viveu nestas terras, trata-se do poeta português, Afonso Lopes Vieira mantinha seu refúgio predileto em S. Pedro de Moel. Onde se fugiava da azafama da cidade e à dispersão em que habitualmente o habitava. Além desta, tinha uma outra que ficava no Largo da Rosa, em Lisboa. Foi nestas duas casas que mais deixou marcas de sua presença e sinais de sua existência, repleta de paixão pela poesia e pela literatura portuguesa. A casa tinha uma varanda que parecia se impor ao ar majestoso do mar, fazendo frente à brisa salgada e ao rumor das águas que se estendem pela praia. Em dias de mar revolto, estas batem na muralha que separa a magnífica casa do mar azul e do horizonte longínquo, onde o sol se põe ao fim da tarde...
O Poeta fazia questão de marcar a sua presença em muitas das paredes da casa, com o símbolo or piango or canto. Azulejos pintados, imagens alegóricas de figuras ilustres ou litúrgicas. Quis deixar claro que ali viveu um homem cuja “alma é só de Deus e o corpo da água e do mar”.
A varanda era o seu cantinho favorito. Ali recebia seus convidados e amigos, e, sobretudo, sonhava sobre o mar azul, sobre a vista maravilhosa que penetrava pelas janelas da varanda. Não era a grandiosidade da casa, a decoração ou a construção que faziam com que o Poeta gostasse tanto daquela casa; mas a simples maresia salgada, os gritos das gaivotas, o som das ondas que rebentam contra as rochas ou se estendiam no areal, o som dos pinheiros que abanam ao vento, o simples e vasto oceano. Estas eram razões mais do que suficientes e verdadeiras para prender um simples mortal a um paraíso natural da mais nobre simplicidade.
Ao fim da tarde, quando o sol resolve deitar-se e os seus últimos feixes de luz se iluminam despedindo do dia, a pequena varanda transforma-se em camarote, ideal para se assistir a uma das maravilhas da natureza - o pôr-do-sol. Depressa a marquise é invadida por uma luz doirada que faz sobressair as vieiras simbólicas das cortinas alaranjadas...
As velhas tamargueiras continuam vivas após mais de cinqüenta anos.Se naquela casa, ainda existe um pouco de Afonso Lopes Vieira pode ser encontrado por toda a casa até nas velhas tamargueiras, em cada verso de poemas seus que pairam no ar nostálgico que rodeia a casa.
Às vezes, no meio da noite, para encanto dos presentes, Afonso chegava-se mais à beira da muralha que separava a praia da casa, e, naquele momento, inventava uma dança. Com a mesma dedicação com que escrevia os seus poemas, ele dançava ao som do mar, da natureza nocturna e ao som do respirar da casa...
A casa do poeta Afonso Lopes Vieira, foi centro de reunião de muitos escritores e intelectuais.Tem excelente situação, com vistas para o mar.
O poeta Afonso Lopes Vieira, faz uma referência a esta casa, numa poesia das Ilhas de Bruma:


" Numa casa que está rezando ao Mar
e tem Camões coroado
não de loiro celebrado
mas de espinhos a sangrar,
aí vivi, sonhei eu,
ao som do mar, que tangia:
os sonhos, ele nos deu,
ditava e eu escrevia ".


A casa, depois da morte do poeta e por sua disposição testamentária, foi entregue a Câmara Municipal da Marinha Grande para funcionar como colônia balneária para filhos de operários vidreiros e guardas florestais.

 

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