Cátaros:
Membros de uma seita religiosa de origem
cristã que acreditam que o mundo visível e
tudo que ele encerra são obra do diabo, ser
supremo maléfico, rival de um Deus, ser
Supremo e bondoso.
Na
realidade, esta divisão entre os dois
princípios, primeiro, pode ser moderada ou
absoluta. Uns acreditam no Deus único, bom e
eterno que permitiu que Satanás organizasse
o mundo; os outros acreditam em dois
princípios absolutos e rivais, igualmente
criadores e eternos, perpetuamente em luta
um contra o outro.
O
catarismo, ao que se julga, nasceu em
Constantinopla e teria sido trazido para a
Europa Ocidental na sequência da segunda
cruzada. Uma assembleia de cátaros
albinenses e italianos reúne-se no castelo
de Saint-Félix de Caraman, próximo de
Toulouse, por volta de 1176. Estão aí
representadas seis Igrejas, a do Norte Loire,
de Albi, de Toulouse, de Carcassone, de Agen
e da Lombardia. Nomeiam-se os bispos e
fixam-se os limites das dioceses. No
Languedoc, os cátaros viverão relativamente
em paz entre si, ao passo que se produzem
divisões em Itália.
O
catarismo, que encontrou no Languedoc
(França), no século Xl, uma terra de
eleição, pretendia ser um retorno à pureza
dos primeiros tempos do cristianismo. Surgiu
no Limousin, no fim do século Xl e
estendeu-se pela região francesa do Midi:
Toulouse, Carcassonne, Narbonne, Foix e
Béziers, foram os seus principais centros.
Esta
doutina baseia-se num dualismo que afirma a
existência de dois princípios fundamentais
antagónicos, o do Bem, criador do mundo
espiritual, e o do mal, criador do mundo
material. O homem, despegando-se da matéria,
escapa ao domínio de Satan
, o deus
do Mal, e une-se ao bom Deus. A vida dos
cátaros, austera e impregnada de caridade
evangélica, valeu-lhe numerosos adeptos, mas
a Igreja dominante viu no catarismo um
perigo para a sua unidade, doutrina e
dogmas. A cruzada contra os albigenses,
entre 1209 e 1229, pregada pelo papa
Inocêncio 3º e levada a cabo por Simon de
Montfort, em benefício dos capetos,
desorganizou o movimento cátaro, protegido
pelos senhores feudais do Sul. A cristandade
nada lucrou com a repressão exercida contra
os heréticos e o património cultural
francês, com efeito, viu-se empobrecido
O
Catarismo
O catarismo, do grego katharos, que
significa puro, foi uma seita cristã da
Idade Média surgida no Limousin (França) ao
final do século XI, a qual praticava um
sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta,
manifestado num extremo ascetismo. Concebia
a dualidade entre o espírito e a matéria,
assim como, respectivamente, o bem e o mal.
Os cátaros foram condenados pelo 4º Concílio
Lateranense em 1215 pelo Papa Inocêncio III,
e foram aniquilados por uma cruzada e pelas
acções da Inquisição, tornada oficial em
1233.
Os cátaros, também chamados de albigenses,
rejeitavam os sacramentos católicos. Aqueles
que recebiam o baptismo de espírito,
consolamentum, eram considerados os
perfeitos e levavam uma vida de castidade e
austeridade e podiam ser tanto homens quanto
mulheres. Os crentes apenas eram os homens
bons e tinham obrigações menores; recebiam o
consolamentum na hora da morte.
Apesar desta hierarquia, os cátaros não
restringiam a experiência transcendental,
e/ou divina (no caso, também gnóstica) aos
mais graduados, mas a qualquer um que assim
desejasse e experimentasse estados alterados
de consciência.
Essa concepção sem hierarquia da
espiritualidade foi considerada pela igreja
católica uma ameaça para a fé e a unidade
cristã, já que atraiu numerosos adeptos.
Assim sendo, o catarismo foi considerado
herético e contra ele foi estabelecida a
Cruzada albigense (1209-1229). A cruzada
teve parte de interesses políticos, já que
as localidades onde se praticavam o
catarismo (nota: esta seita era conhecida
por sua tolerância religiosa ao passo que
conviviam, nos mesmos reinados, judeus,
pagãos, e até mesmo católicos)
encontravam-se ligadas ao reino da França,
porém independentes do mesmo.
No início do século XII, a Igreja católica
presenciará a difusão da heresia dos cátaros
("Kataroi", puro em grego) ou albigenses
(nome derivado da cidade de "Albi", na qual
vivia um certo número de heréticos) que se
propagará no território do Languedoc,
sudoeste da França (da língua occitâna da
região - "Língua do Oc"; Oc= "Sim", em
oposição à "Langue d'Oui", do norte da
França). Também se designava frequentemente
esta região por "Occitânia", que advém das
mesmas raízes linguísticas.
Antes de tudo, é conveniente ressaltar que o
catarismo não pertence exclusivamente ao
Languedoc, nem o Languedoc deve ser visto
exclusivamente sobre o prisma do catarismo.
Aderentes à doutrina cátara recebem
diferentes nomes no país em que se inserem:
Na Itália, eram conhecidos como "patarinos",
na Alemanha como "ketzers"; na Bulgária,
como "bogomils". Existiram cátaros na
França, na Catalunha, na Itália, na Alemanha
e, ao que parece, na Inglaterra.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua
origem havia sido um ser espiritual e para
adquirir consciência e liberdade, precisaria
de um corpo material, sendo necessário
várias reencarnações para se libertar. Eram
dualistas e acreditavam na existência de
dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal
(Satã), que teria criado o mundo material e
mal. Não concebiam a ideia de inferno, pois
no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus
do mal todos seriam salvos. Praticavam a
abstinência de certos alimentos como a carne
e tudo o que proviesse da procriação.
Jejuavam antes do Natal, Páscoa e
Pentecostes, não prestavam juramento, base
das relações feudais na sociedade medieval,
nem matavam qualquer espécie animal.
Os cátaros organizaram uma igreja e seus
membros estavam divididos em crentes,
perfeitos e bispos. As pessoas se tornavam
perfeitos (homens bons) pelo "ritual do
consolament" (esta cerimónia consistia na
oração do Pai Nosso; reposição da veste,
preta no início, depois azul, substituída
por um cordão no tempo da perseguição.
Tocava-se a cabeça do iniciante com o
Evangelho de são João, e o ritual terminava
com o beijo da paz). Os crentes podiam
abandonar a comunidade quando quisessem,
frequentavam a Igreja Católica, eram casados
e podiam ter filhos. Dessa forma, eles
poderiam levar uma vida agradável, obtendo o
perdão e sendo salvos.
Durante o período das perseguições as
igrejas cátaras foram destruídas, os ofícios
religiosos eram realizados em cavernas,
florestas e casas de crentes. A doutrina
cátara foi aceita por contrariar alguns
dogmas cristãos, principalmente no que se
refere a volta à pobreza e ao retorno do
cristianismo primitivo.
Devido à propagação da heresia cátara a
partir de 1140, a Igreja começa a tomar
medidas para combate-la, sendo que no início
tentava os heréticos a fé católica por meio
da pregação, não adoptando trágicas medidas,
pois isto não harmonizava com a caridade
pregada pelo cristianismo. Vemos aqui um
motivo político para investidas contra as
comunidades cátaras e sua doutrina. Poderia
haver outros motivos para tais investidas?
A maior parte das terras atingidas pela
heresia pertencia à província de Narbona,
somente a região de Albi ligada à província
de Bourges. O Languedoc é anexado a França
em 1229 pelo Tratado de Meaux. O êxito da
propagação da heresia nos bispados do
Languedoc pode ser explicado pela situação
política da região, independente do reino da
França, as altas autoridades eram os grandes
senhores feudais, o conde de Toulouse e o
visconde de Béziers, ambos simpatizantes da
heresia cátara.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas
pregações do monge Henrique, embora este não
fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas
palavras deixaram de pagar os dízimos e de
comparecer as igrejas, seus ensinamentos
foram combatidos por Bernardo de Clairvaux
(São Bernardo).
Os cátaros a exemplo dos primeiros cristãos
levavam vida ascética de alta
espiritualidade, vivenciando na prática um
cristianismo puro, numa total alta-renúncia
a tudo o que era deste mundo, eram
conhecidos como verdadeiros discípulos de
Cristo, a serviço do mundo e da humanidade,
um verdadeiro exemplo de amor ao próximo.
Os cátaros galgavam o caminho da
transformação ou da transfiguração.
Paz inverencial,
Franco
Os Cátaros
Nos meados do século XII, iniciou-se na
Itália um movimento religioso denominado
Cátarismo (Albigenses), a doutrina dos
cátaros era nitidamente diferente da Igreja
Católica, numa reacção à Igreja Católica e
suas práticas, como a venda de indulgências,
e a soberba vida dos padres e bispos da
época.
Eles eram extremamente radicais e dualistas
como os maniqueístas, acreditavam que a
salvação vinha em seguir o exemplo da vida
de Jesus, negavam que o mundo físico
imperfeito pudesse ser obra de Deus,
acreditavam ser o mundo criação do príncipe
das trevas, rejeitavam a versão bíblica da
criação do mundo e todo o antigo testamento,
acreditavam na reencarnação, não aceitavam a
cruz, a confissão e todos os ornamentos
religiosos.
Com medo da repressão da Igreja, os Cátaros
mantiveram sua fé em segredo, porém em pouco
tempo esta seita atraiu muitos seguidores.
Cresceram bastante no sul da França e se
estenderam a região do Flandres e da
Catalunha, funcionaram abertamente com a
protecção dos poderosos senhores feudais,
capazes de desafiar até mesmo o Papa.
O chamado "Pays Cathare" (País Cátaro) se
estendia pela zona chamada Occitania , atual
Languedoc, em uma extensão fronteiriça com
Toulouse até o oeste, nos Pirineus até o
sul, e no Mediterráneo até o leste. Em
definitivo, uma área política que, durante o
século XIII, limitava-se com a Coroa de
Aragão, França e condados independentes como
o de Foix e Toulouse.
O mais curioso nesta cultura é a cautela por
construir seus castelos e abadias em cima de
precipícios e inacessíveis colinas, as mais
elevadas possíveis, razão pela qual, na
actualidade, os fazem muito atractivos por
suas inabarcaveis vistas sobre o horizonte e
pela observação de paisagens
impressionantes.
Realizavam cerimónias de iniciação, suas
cerimónias eram muito simples, consistia
basicamente em um sermão breve, uma bênção e
uma oração ao Senhor, essa simplicidade
influenciou posteriormente uma gama de
seguimentos protestantes. Possuíam duas
classes ou graus.
Os leigos eram conhecidos como crentes, e a
esses não eram exigidos seguir suas regras
de abstinência reservada aos perfecti, ou
bonhomes eleitos, que formavam a mais alta
hierarquia do catarismo. Para ser um
perfecti tinham que tanto homem quanto
mulher, passar por um período de provas
nunca inferior a 2 anos, e durante esse
tempo, faziam a renúncia de todos os bens
terrenos, abstinham de carne e vinho, não
poderiam Ter contacto com o sexo oposto, e
nem dormirem nus. Depois deste período o
candidato recebia sua iniciação conhecida
com o nome de Consolamentum que era
realizada em público. Essa cerimónia parecia
com o baptismo e continha também uma
confirmação e uma ordenação.
Na idade média, marcada pela violência e
pela sede de poder da igreja Católica
Romana, o Catarismo chocou-se frontalmente
com o dogmatismo da Igreja. A religião
cátara propunha, como aspectos básicos, a
reencarnação do espírito, a concepção da
terra como materialização do Mal, por encher
a alma de desejos e prende-la às coisas
efémeras do mundo, e do céu como a do Bem,
numa concepção dualista do mundo. Mas o
principal ponto de discordância, e talvez o
mais original, tenha sido a de que os
cátaros não admitiam qualquer tipo de
intermediação entre o homem e Deus.
Esta crença chocou-se frontalmente com a
religião hegemónica em toda Europa, a base
da estrutura social, cultural económica e
religiosa do Feudalismo. Durante muito tempo
os cátaros foram relativamente poucos, com o
tempo, começou a entender-se pela Occitania,
até chegar a um ponto cujo resultado era
demasiado incómodo tanto para Roma como para
a França.
Um bastião religioso no centro da Europa não
fazia mais que estorvar a cristalização do
cristianismo de Roma no continente, e um
território não católico era um pretexto
ideal da Coroa da França para anexar as
terras do Languedoc e expandir-se.
Por esta razão, e também pela força que
assumiu o catarismo, a Igreja Católica fez
tudo para combater sua expansão,
clarificando o movimento como heresia, em
1209, o infalível Papa Inocêncio II
estimulou os fiéis a ir para as cruzadas
contra os hereges, com cerca de 20.000
cavaleiros os cruzados massacraram o povo,
muitos morreram torturados ou na fogueira,
sendo esta a primeira cruzada feita contra
cristãos e em território franco. O presente
que o santo Papa prometeu em compensação
para aqueles que participaram da campanha
era a partilha e doação das terras aos
barões que as conquistassem, ou seja,
converter-se-iam em senhores feudais.
A Cruzada Albigesa (devido à cidade de Albi),
comandadada por Simon de Montfort (1209 -
1224) e pelo Rei Luis VIII (1226-1229) durou
40 anos. A perseguição arrasou a região dos
Cátaros, a resistência teve que enfrentar-se
com duas forças enormes, o poder militar do
Rei de França e o poder espiritual da Igreja
Católica.
Na primeira fase da cruzada, foi destruída a
cidades de Béziers (1209), onde 60.000
pessoas morreram. Destruída a cidade, os
cruzados marcham para Carcassone, onde Simon
de Montfort se apossa dos condados de
Trencavel (carcassone, Béziers),
conquistando também Alzonne, Franjeaux,
Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
Em 1216, ouve outra investida contra os
cátaros. Simon morre em 1218, acabando
também a cruzada, sem, entretanto, extinguir
a heresia. Amaury, filho de Montfort,
oferece as terras conquistadas por seu pai a
Felipe Augusto, rei da França que as recusa,
seu filho Luís VIII acabará aceitando as
terras.
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do
norte, empreendeu uma nova cruzada que durou
cerca de três anos alcançando muitas
conquistas até chegar a Avignon, onde
termina o cerco contra os hereges. O
resultado dessa disputa foi um acordo
imposto pelo rei da França aos Senhores
feudais das áreas conquistadas e
consequentemente os domínios disputados
passariam para a coroa da França (Tratado de
Meaux, 1229).
Militarmente, apesar de terem o apoio de
pequenos condados, os cátaros não
conseguiram resistir ao genocídio das
cruzadas, mas elas não conseguiram erradicar
o Catarismo de forma definitiva. Foi a
Inquisição, a instituição que realmente
conseguiu exterminar definitivamente o
catarismo.
No chamado País Cátaro viviam outras pessoas
cuja religião era o catolicismo, Perguntado
sobre como distinguir entre os hereges e os
outros, o legado papal (inquisidor)
respondeu: "Matem-nos a todos. Deus se
encarregará dos seus".
Quarta-feira, 16 de Março de 1244, aos pés
de um penhasco da região de Ariège (Midi-Pyrenees)
nos Pirinéus, 225 homens e mulheres são
entregues à fogueira. O seu crime? Eram
Cátaros. Entrincheirados na povoação
fortificada de Montségur, a 1.200 metros de
altitude, e capturados após dez meses de
cerco tinham-se recusado a abjurar a sua fé.
O fenómeno Cátaro estendeu-se por toda a
Europa Ocidental desde o Norte da Itália até
à Borgonha, à Champagne, à Renânia, à
Flandres e até mesmo à Inglaterra. No Norte
a repressão foi tão rápida e violenta que
nem deu tempo para que se implantasse
qualquer tipo de organização. Em Itália, em
contrapartida, o movimento desenvolveu-se
durante muito tempo em total liberdade. O
mesmo se passou no Languedoc, mas aí a
aventura Cátara haveria de desembocar no
maior drama jamais conhecido por estas
partes da Europa.
A sociedade feudal é uma sociedade em
pirâmide. Divide-se em três ordens e na base
estão os que trabalham, todo o povo de
camponeses e artesãos. Na ordem
imediatamente acima ficam os que combatem,
guerreiros e nobreza. No topo os que rezam:
o clero. Esta sociedade foi abalada, ao
longo dos séculos XII e XIII por surtos de
dissidência religiosa e contestação que,
conscientemente ou não, faziam perigar esta
ordem tradicional. Fogueiras e forcas
tentaram em vão erradicar as heresias,
nomeadamente a mais importante de todas, a
dos Cátaros.
A igreja de Roma não podia aceitar que se
rejeitasse a autoridade do seu clero,
especialmente numa altura em que essa
autoridade ainda se estava a afirmar: o
valor dos seus sacramentos e os artigos
fundamentais do Dogma respeitantes à
criação, a Cristo e à Salvação. Por mais de
dois séculos a Santa Sé empenhou-se na luta
contra a Hydra Innumera: o dragão da heresia
Cátara.
Para os Cátaros Deus era a origem de todas
as coisas. Mas, ao contrário dos católicos
que entendiam a dualidade Bem e Mal como
algo externo a Deus, sendo este a fonte do
Bem, os Cátaros entendiam que ambos, Bem e
Mal, emanavam de Deus. Deus era o criador de
todas as coisas e como tal não se devia
procurar a origem do Mal numa outra
entidade. Rejeitavam assim o conceito de
satanismo ou a existência de entidades de
onde emanasse o mal. Os Cátaros, de qualquer
forma, dissociam o Bem do Mal, o material do
espiritual. E toda a sua crença gira em
torno desta dualidade entre espírito e
matéria.
Os Cátaros chamavam a si próprios "bons
cristãos" ou "bons homens". Existia uma
distinção entre aqueles que recebiam o
Consolamentum, uma espécie de ordenação, e
os cristãos normais. O grupo dos "ordenados"
constituía a hierarquia cátara onde se
incluíam os prefeitos que, usualmente,
pregavam aos pares: o "filho mais novo" e o
decano.Havia um ou vários "filhos mais
novos" que se tornavam prefeitos itinerantes
e coordenados por um bispo que tinha à sua
responsabilidade uma determinada área
geográfica restrita. Nas vésperas da cruzada
anti-cátara havia seis bispados: Agen,
Lombers, Saint-Paul, Cabaret, Servian et
Montsegur. Entre as "decanonis" mais
importantes havia Moissac, Cordes, Toulouse,
Puylaurens, Avignonet, Fanjeaux, Montréal,
Carcassonne, Mirepoix, Le Bézu, Puilaurens,
Peyrepertuse, Quéribus, Tarascon-sur-Ariège.
Os Cátaros não admitiam que o mundo visível,
por muito belo que pudesse parecer, tivesse
sido criado por um bom deus. Se a Igreja de
Roma podia considerar-se satisfeita pela
maneira como a repressão fora conduzida nos
países do Norte aqui tinha pela Frente um
grave problema. A sólida implantação da
heresia cátara em França e nas cidades
italianas. No fim do séc. XII e início do
XII a base social do catarismo é já muito
vasta. Toca já todos os sexos e classes
sociais inclusivamente os grandes senhores
rurais. O catarismo era um grande fenómeno
social na nobreza local. Uma vez que o papa
tinha ordenado a confiscação de todos os
bens e a morte dos heréticos e dos seus
cúmplices, esta só era possível com uma
grande cumplicidade social.
O Conde de Toulouse era então Raimundo VI.
Era um grande senhor na medida em que
administrava territórios mais vastos que
muitos reinos da época. Possuía terras mais
vastas que o próprio rei de França. Mas
Raimundo VI tinha um carácter pacífico e
tolerante o que na época não era considerado
uma virtude num nobre especialmente pela
Igreja. A Igreja pensa que um senhor deve
saber impor a sua autoridade e a sua fé a
todos os homens e mulheres que vivem sob a
sua autoridade. Mas Raimundo é um homem que
respeita a fé dos outros e que sente pelos
cátaros alguma simpatia, mesmo não sendo
cátaro e acreditando mesmo em ideias muito
contrárias ao que os cátaros pregam. É um
homem que gosta do amor e das mulheres. Teve
várias mulheres. Por morte de algumas e
porque abandonou outras, tinha amantes,
filhos legítimos e ilegítimos. Se isto era
escandaloso aos olhos da Igreja, aos olhos
dos cátaros o seu comportamento era uma
abominação. Mas, apesar de tudo, ele
respeitava-os e protegia-os.
Houve, entretanto, um homem que tinha
tentado combater pacificamente os cátaros e
a sua religião dualista: um jovem cónego
castelhano, o futuro S. Domingos. Alguns
anos antes, Domingos obtivera do papa o
reconhecimento da Ordem dos Frades
Pregadores. S. Domingos nas suas viagens
pela Europa fica tão chocado com a falta de
liberdade de expressão como com a forma como
o verbo é usado pelos vários povos europeus:
com a espada. Defendia que a melhor forma de
converter as pessoas ao catolicismo era pela
força da palavra, pelo poder da expressão. E
é assim também que encara as cruzadas e a
luta contra a heresia, nomeadamente a cátara.
Os êxitos de S. Domingos no combate à
heresia cátara foram reais mas limitados. E,
seja como for, não impediram a cruzada.
Esta guerra, contra os cátaros, que o rei de
França não queria vão ser os barões do Norte
a fazê-la. Normandos, flamengos, da liga de
França, da Borgonha, Champagne e ainda
alemães, bávaros e austríacos. Um exército
maravilhoso e grande, como cantava um poeta
da época. No comando um chefe temível: Simon
de Monfort. Simon de Monfort é um guerreiro,
um homem vigoroso que tem o sentido da
batalha e o sentido estratégico mas é um
Senhor modesto que possui apenas algumas
propriedades na zona de Paris. Um homem com
uma fé profunda mas também um homem
demasiado brutal. Ora, acontece que uma lei
papal dizia que a terra conquistada
pertencia a quem a conquistasse (pagando
alguns tributos à Igreja) e as terras
cátaras era muito interessantes devido às
construções aí edificadas e ao comércio
mediterrânico a que davam acesso. Eram por
isso terras ricas e cultivadas, terras que
fascinam potenciais senhores. Para além do
desejo natural que Simon de Monfort poderia
ter tem uma outra coisa que outros não
possuíam para o colocar na posição de
escolhido para tomar as terras do Sul de
França: a bênção da Igreja.
Mais tarde Simon de Monfort exorta os
católicos da região a abandonarem a sua
terra, abandonarem os heréticos antes que o
seu exército avance. O conselho da terra
reúne e os habitantes da região decidem -
católicos e cátaros - que não abandonam as
suas terras e que, sobretudo, não estão
interessados em mudar de senhor.
A guerra vai infligir um rude golpe à
sociedade cátara mas também à sociedade da
Aquitânia e do Languedoc no seu conjunto:
católicos e cátaros à mistura. Não será
apenas em Béziers que será massacrada gente
que se calhar nunca tinha ouvido falar da
heresia. Promovido a Visconde de Carcassone
três semanas depois do massacre de Béziers,
Simon de Monfort consegue em apenas três
anos isolar completamente Toulouse. Em 1215,
o IV Concelho Ecuménico do Latrão, a maior
assembleia reunida até então pela
cristandade romana renova solenemente a
condenação da heresia cátara, reforça o
direito repressivo, destitui Raimundo VI e
outorga os respectivos títulos e domínios a
Simon de Monfort. Será, no entanto, preciso
muito mais que a guerra e os concílios para
restaurar a unidade da Igreja, impor a todos
o baptismo católico e acabar com o baptismo
de espírito dos heréticos. Os cátaros diziam
que Cristo se ensombrou, escondeu a sua luz
celeste à sombra da forma humana: "Senhor
não tenhas piedade da carne mas sim da alma
que ela retém como prisioneira".
Num belo dia de 1217, passando a vau o
Garona, Raimundo VI consegue reentrar em
Toulouse. Congrega em seu redor uma
população numerosa que se subleva
imediatamente e reconstrói as muralhas
arrasadas pelos franceses. Nove meses mais
tarde, ao cercar a cidade rebelde, Simon de
Monfort tomba para sempre com a cabeça
esmagada por uma bala de catapulta disparada
por mulheres. "E a pedra caiu a direito onde
devia cair. Em cheio no elmo de aço do conde
acertou. E os olhos, miolos, dentes, fronte
e queixada, tudo num ápice saltou. Caiu por
terra. Morto. Lívido. Ensanguentado". O
grande poema da Aquitânia, a canção da
cruzada, retrata a alegria que se apossou da
população de Toulouse e a dor que se abateu
sobre o campo dos cruzados. A morte de Simon
de Monfort é o sinal que faz disparar a
guerra de libertação.
Os actores que sobram são Raimundo VI, o
velho conde, Raimundo VII, seu filho e o
jovem conde de Toulouse, e o filho de Simon
de Monfort: Amouris de Monfort. Há uma
diferença enorme de personalidades entre
Raimundo VII e Amouris. Raimundo VII era
muito combativo, enérgico e tinha sido o
primeiro homem a provocar uma derrota a
Simon de Monfort enquanto que Amouris de
Monfort era um homem sem a capacidade
militar de seu pai. Numa determinada altura
Amouris encontra-se com o rei de França e
devolve todos os títulos e propriedades
recebidas do rei. E, nessa altura, a guerra
muda de natureza. Nos próximos anos a guerra
de libertação religiosa transforma-se numa
guerra de conquista de bens e propriedades
para a coroa francesa.
Mas, por enquanto, a contra-ofensiva do Sul
marca pontos. E a igreja cátara levanta de
novo a cabeça por todo o lado. O quotidiano
das prefeitos cátaros é uma vida
comunitária, não encerrada em claustros mas
vivida em casas situadas no coração das
vilas e aldeias. À imagem dos apóstolos
trabalham mesmo quando são de nascimento
nobre o que entra em ruptura total com a
sociedade feudal. O prefeito cátaro é um
religioso que observa uma regra mas que
também tem almas a seu cargo. É ao mesmo
tempo um monge e um cura de paróquia.
Tal como na Quaresma católica, o peixe
ficava de fora das proibições alimentares.
Acreditava-se então que nascia dentro de
água por geração espontânea. Os cátaros
rejeitavam o sacramento da Eucaristia. Para
eles a hóstia não passava de um simples
pedaço de pão. Jamais poderia ser o corpo de
Cristo. No entanto, em memória da última
ceia abençoavam ritualmente o pão quando o
partilhavam.
À data da morte de S. Domingos, em 1221, os
conventos Dominicanos já se tinham
multiplicado por toda a Europa Ocidental. De
Toulouse a Paris, de Valência a Bolonha.
Em 1227, a cruzada real está em marcha e
pela frente encontram um país exangue devido
a dezassete anos de guerra. Imediatamente a
seguir à derrota da Aquitânia, em 1229, a
Igreja Católica faz o balanço. Era
necessária uma instituição que se
encarregasse sistematicamente de reprimir e
suprimir os heréticos. É a Inquisição que
passa a exercer funções desde 1233 e que se
encarrega desta missão. A Inquisição não só
será totalmente independente do poder
militar e político como também é totalmente
independente das arquidioceses locais. Não
depende senão do Papa e de si mesma. A
Inquisição é entregue aos Dominicanos pois
estes são opositores teológicos dos cátaros.
O catarismo não era a primeira heresia que
atacava a Igreja. A Igreja sempre tinha
sabido desenvolver novos anti-corpos. O
trabalho da Inquisição vai ser o de um
confessionário obrigatório itinerante. Os
inquisidores não são muito numerosos e a
inquisição não é uma instituição rica,
sobretudo no seu inicio. Os inquisidores têm
diante de si uma tarefa imensa. Têm que
passar por todas as localidades, cidades,
vilas e aldeias e interrogar as pessoas.
Assim, a Inquisição terá que funcionar como
um tribunal itinerante. Todas as confissões
eram tratadas como confissões em sede de
justiça. Os documentos eram devidamente
preservados, e por vezes copiados ou
recopiados para serem enviados para outro
local onde teriam melhor guarda ou onde se
poderia dar seguimento com celeridade ao
processo. Todo o trabalho tinha como
objectivo conseguir descobrir quem eram os
ministros heréticos de qualquer seita e
afastá-los.
Mas no Languedoc a tarefa da Inquisição não
foi fácil pois as populações eram
particularmente hostis ao seu trabalho. A
violência das populações reflecte a vontade
existente de fazer surtidas para roubar os
documentos conseguidos pelos Inquisidores.
Foi o que aconteceu em Avignonet durante a
noite da Ascensão de 1242. Era de Montségur
o comando que tinha descido para assassinar
os inquisidores em Avignonet. Alpendurado a
1.200m de altitude sobre um esporão dos
Pirinéus, Montségur é, por excelência, o
símbolo emblemático do drama cátaro. Pequena
localidade fortificada erguida à medida das
necessidades da igreja cátara servia de
refúgio à hierarquia que fugia da cruzada e
da Inquisição. Mais de 200 prefeitos e
prefeitas e outros tantos laicos, entre os
quais uma guarnição de uma centena de
homens, tinham-se aí instalado.
Um ano após o massacre de Avignonet, o
exército real, apostado em cortar a cabeça
do dragão apertava o cerco a este sítio. A
praça forte não se rendeu senão ao fim de
dez meses. Após o massacre das duzentas
pessoas em Montségur, há registos de cátaros,
fossem da hierarquia ou laicos, que fogem e
se refugiam na Itália, sobretudo na
Lombardia. A paz que aí encontram não dura
muito.
As hierarquias cátaras acabam por se verem
constrangidas ao reduto fortificado de
Cirlien. Cirlien será um novo Montségur.
Assediada a praça rendeu-se a 1276 e
duzentos prefeitos e prefeitas foram
queimados. Nos Balcãs, em contrapartida, a
heresia dualista, transformada em religião
de Estado na Bósnia mantém-se até à
conquista turca no século XV. Recusando
aliar-se, tanto à Igreja de Roma como à
Igreja Ortodoxa, os bósnios, se bem que de
etnia eslava, passam para o Islão. Os seus
descendentes são os actuais muçulmanos da
Bósnia.
O exílio, a prisão, a morte. A Inquisição no
Languedoc quase conseguiu atingir
inteiramente o seu objectivo. Podia
julgar-se a heresia cátara completamente
erradicada quando em 1300 aparece no condado
de Fois um prefeito de verbo afiado, Pierre
Auhtier.
"As igrejas são as casas dos ídolos porque
as estátuas dos santos que lá existem são
apenas ídolos e todos aqueles que adoram
ídolos são idiotas pois foram eles próprios
que os modelaram com uma chave e outros
utensílios de ferro".
Em 1300 qualquer coisa tinha mudado. A
pregação de Pierre Authier já não alcançava
êxito junto dos nobres e dos burgueses.
Nesta altura, ao invés do que se passava nos
primeiros tempos do catarismo, a heresia
dualista colhe mais adeptos junto dos
camponeses e das massas de trabalhadores. O
catarismo torna-se uma religião popular.
Pierre Authier, em 1284 é um homem sem
problemas. Trabalhava para o Conde de Fois e
tinha uma carreira promissora. Um dia, após
uma conversa com o seu irmão Guillaume sobre
a heresia descobre em si uma vocação cátara
e resolve partir da região para a Lombardia
onde encontra comunidades cátaras. Durante
quatro anos fica na Lombardia a estudar o
catarismo e ao fim desse tempo torna-se
prefeito. Poderia ter ficado na Lombardia e
continuar aí a sua pregação. Mas decide
voltar à região de Fois. Durante dez anos
quase não vê a luz do dia uma vez que vive
escondido em caves e grutas. Anda um pouco a
pé apenas durante a noite e é à noite que
faz os seus percursos das viagens que
precisa fazer. Isto leva-o a ficar doente e
fraco. E, no entanto, executa a sua decisão
de voltar a Fois com uma força e uma fé
extraordinárias. É verdadeiramente o último
grande personagem do catarismo antes de
Bernard Guy, o grande inquisidor tomar em
mãos a tarefa de exterminar a heresia
dualista.
Graças aos registos de Jacques Fournier, os
registos da vida de certas aldeias é
conhecida em todos os seus pormenores quase
diários. Este cisterciense, bispo de Parmier
foi um inquisidor fora do vulgar com uma
paciência e uma curiosidade sem limites.
Os Cátaros
- Edna da Silva - Fonte: Projeto PROLICEN
No início do século XII, a Igreja Católica
presenciará a difusão da heresia dos cátaros
(kataroi, puro em grego) ou albigenses (nome
derivado da cidade de Albi, na qual vivia um
certo números de heréticos) que se propagará
no território do Languedoc, sul da França.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua
origem havia sido um ser espiritual e para
adquirir consciência e liberdade, precisaria
de um corpo material, sendo necessário
várias reencarnações para se libertar. Eram
dualistas acreditavam na existência de dois
deuses, um do bem (Deus) e outro do mal
(Satã), que teria criado o mundo material e
mal. Não concebiam a ideia de inferno, pois
no fim o deus do Bem triunfará sobre o deus
do Mal e todos serão salvos. Praticavam a
abstinência de certos alimentos como a carne
e tudo o que proviesse da procriação.
Jejuavam antes do Natal, Páscoa e
Pentecostes, não prestavam juramento, base
das relações feudais na sociedade medieval,
nem matavam qualquer espécie animal.
Os cátaros organizaram uma Igreja e seus
membros estavam divididos em Crentes,
Perfeitos e Bispos. As pessoas se tornavam
Perfeitos (homens bons), pelo ritual do
congelamento ( esta cerimonia consistia na
oração do pai nosso; reposição da veste,
preta no início, depois azul, substituída
por um cordão no tempo da perseguição.
Tocava-se a cabeça do iniciante com o
Evangelho de S. João , o ritual terminava
com o beijo da paz), faziam voto de
castidade, cabendo-lhes a guarda, a
transmissão e a vivência da fé cátara. Os
Crentes participavam do ofício divino,
escutando o sermão de um Perfeito, dividiam
o pão entre si que não era considerado o
corpo de Cristo. Os Crentes podiam abandonar
a comunidade quando quisessem, frequentavam
a Igreja Católica, eram casados e podiam ter
filhos, contribuíam para a sobrevivência dos
Perfeitos, recebiam o consolament nas
vésperas de sua morte. Desta forma, eles
poderiam levar uma vida agradável, obtendo o
perdão e sendo salvos.
Cada Igreja Cátara tinha um bispo, o
primeiro se estabeleceu no Norte da França
por volta de 1149. O voto de pobreza ficou
ameaçado pelo desenvolvimento de igrejas e
bens materiais. Em 1167, realizou-se o
Concílio de Saint-Felix de Caraman, no
Languedoc, presidido pelo bispo Nicetas de
Constantinopla (hierarca bogomilo), que
exortou os heréticos a adoptar um dualismo
absoluto, organizando os bispados do
Ocidente.
Durante o período das perseguições as
Igrejas Cátaras foram destruídas, os ofícios
religiosos eram realizados em cavernas,
florestas e casas de Crentes. A doutrina
cátara foi aceita por contrariar alguns
dogmas cristãos, principalmente no que se
refere a volta à pobreza e ao retorno do
cristianismo primitivo.
Devido a propagação da heresia cátara a
partir de 1140, a Igreja começa a tomar
medidas para combatê-la, sendo que no início
tentava converter os heréticos a fé católica
por meio da pregação, não adoptando medidas
trágicas pois isto não harmonizava com a
caridade pregada pelo cristianismo.
A Igreja Católica estabeleceu a repressão as
heresias por meio de concílios, exigindo que
o poder secular participasse do processo.
Desta forma, através do estudo do cânone 27
do III Concílio de Latrão (1179) e do cânone
3 do IV Concílio de Latrão (1215),
verificar-se-á os princípios adoptados pela
Igreja Católica para reprimir a doutrina
cátara. Embora o conteúdo desses cânones não
tenham sido inteiramente obedecidos,
percebe-se a necessidade que a Igreja
Católica tinha de eliminar a heresia cátara,
pois esta ameaçava seu poder. A Igreja só
poderia manter-se no poder com a certeza de
que era a verdadeira herdeira de Cristo e de
que passavam por ela os caminhos que levavam
a salvação.
Propagação do catarismo pelo Sul da França
A maior parte das terras atingidas pela
heresia pertencia á província de Narbona,
somente a região de Albi estava ligada a
província de Bourges. O Languedoc é anexado
a França em 1229 pelo Tratado de Meaux.
O êxito da propagação da heresia nos
bispados do Languedoc, pode ser explicado
pela situação política da região,
independente do reino da França, as altas
autoridades eram os grandes senhores
feudais, o conde de Toulouse e o visconde de
Béziers, ambos simpatizantes da heresia
cátara.
O arcebispo Berengário de Narbona, da
família real de Aragão, descuidará dos
assuntos espirituais em favor de questões
políticas. A justiça só era executada
mediante pagamento e o clero permitia que os
padres trabalhassem ou casassem.
Isto propiciou a difusão do catarismo, que
clamava pela castidade absoluta, repelindo a
autoridade papal, a culto às imagens e ao
sacramento. Censuravam os poderes públicos e
o direito de julgar e ordenar. Possuíam um
ideal de Igreja Santa, com um sacerdócio
purificado, vivendo em pobreza evangélica.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas
pregações do monge Henrique, embora este não
fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas
palavras deixaram de pagar os dízimos e de
comparecer as igrejas, seus ensinamentos
foram combatidos por Bernardo de Clairvaux
(São Bernardo). Henrique foi preso, porém ,
as maiores ameaças a Igreja se situavam em
outras esferas. Os maiores aliados dos
heréticos pareciam ser os cavaleiros, que os
protegiam contra os ataques, da mesma forma
agiam a maioria das casas nobres da região.
A transmissão da heresia fazia-se de uma
domus (casa) a outra, através da palavra
falada. A palavra escrita era o meio mais
elitista portanto de alcance reduzido.
Esta heresia foi extirpada com dificuldade,
devido as relações de poder. As estruturas
sociais e a cultura laica aceitavam as
doutrinas propagadas pelos Perfeitos e os
protegiam da repressão.
No início da repressão a Igreja lançava a
excomunhão (pena espiritual que a Igreja
aplicava ao pecado mortal da contumácia e da
desobediência ao direito e ao juiz), como
meio de induzir o poder secular a
participar da perseguição e do combate aos
hereges. Recorrendo mais tarde ao uso da
violência, instituindo o Tribunal da
Inquisição. Os cátaros foram acusados de
abalarem a ordem social existente, e de
aspirarem a destruição da sociedade medieval
e da humanidade. Pois condenavam o
casamento, que teria como objectivo a
procriação, porém os crentes podiam casar e
ter filhos. Os padres não eram necessários,
qualquer leigo poderia realizar um baptismo.
Acreditavam na existência de dois deuses (um
do Bem, outro do Mal), sendo que a Igreja
Católica era monoteísta. Renunciavam aos
bens materiais, pregando o retorno ao
cristianismo primitivo, estas divergências
levaram a Igreja Católica a combater os
cátaros. A repressão as heresias foi
estabelecida através de concílios, será
abordado neste trabalho o III Concílio de
Latrão (1179), e o IV Concílio de Latrão
(1215), pois ambos excomungaram os cátaros.
O III Concílio de Latrão, foi convocado pelo
papa Alexandre III, tendo como objectivo
principal por fim a dissidência dentro da
Igreja e a briga entre o imperador Frederico
I (Barbaroxa) e o papado. O acordo firmado
em Veneza (1177), finalizou o conflito que
durou quase 20 anos. Este concílio surgiu
após a morte do papa Adriano IV (1159), pois
os cardeais haviam nomeado dois papas
(Alexandre III e Victor IV). O imperador
Frederico I, apoiou o papa Victor IV,
declarando guerra aos estados italianos e
especialmente a Igreja Romana que desfrutava
de grande autoridade. Alexandre III, acabou
vencendo o conflito e convoca um concílio
para estabelecer a conclusão da paz. Além
de resolver a dissidência entre o papado e o
imperador, o concílio também reforçou a
unidade e o poder da Igreja. O cânone 27
desse concílio excomunga os hereges chamados
cátaros, patarinos e publicanos e faz um
apelo aos príncipes para que defendam a fé
cristã. Os cátaros e seus seguidores estavam
sob anátema, ninguém poderia ajudá-los ou
abrigá-los em suas terras, pois alguns
senhores feudais os protegiam. Se alguma
pessoa morresse como herege não poderia ser
recebido ou enterrado entre os cristãos, os
bens dos hereges serão confiscados. Porém os
hereges que se arrependessem obteriam o
perdão e a recompensa eterna, sendo
concedido indulgências para quem colaborasse
na descoberta de hereges. Os bispos e padres
que não combaterem os hereges e seus erros,
seriam punidos com a perda de seus cargos,
até obterem o perdão. Neste concílio,
também são excomungados no mesmo cânone os
bandidos e mercenários que devastavam a
província de Narbona, desrespeitando
igrejas, maltratando crianças, viúvas e
órfãos, como se fossem pagãos. Mesmo que
este concílio não tivesse a intenção da
repressão armada contra os heréticos, estes
são excomungados e deveriam receber o mesmo
tratamento dispensado aos mercenários, pois
ambos interferiam no poder da Igreja.
Contudo, as decisões tomadas durante este
concílio não são aplicadas e os legados do
papa não conseguem impedir os progressos do
catarismo no Languedoc. Com a queda de
Jerusalém em 1187, que passou as mãos dos
infiéis, a heresia no Languedoc foi um pouco
esquecida. Contudo, quando Inocêncio III
assume em 1198 o trono pontifical enviaria
novos legados a província de Narbona,
recomeçando a repressão. Em 1215,
realiza-se o IV Concílio de Latrão,
presidido pelo papa Inocêncio III. Neste
concílio, são anatematizados novamente todos
os hereges, os condenados serão entregues as
regras seculares, e confiscadas suas
propriedades. Os suspeitos de heresias a
menos que provassem sua inocência através de
uma defesa, serão anatematizados e evitados
por todos até se justificarem, mas se
estiverem sob excomunhão por um ano serão
condenados como hereges. Autoridades
seculares deveriam combater a heresia, caso
contrário poderiam ser excomungados pelo
bispo da província e se não se justificassem
no prazo de um ano, o problema passaria ao
supremo pontífice, que poderá oferecer o
território para ser administrado por
católicos fiéis. Os acusados de heresia não
poderão tomar parte da vida pública, nem
julgar ou herdar, nem eleger pessoas ou dar
testemunhos em um tribunal de justiça. Este
concílio acabará confirmando o que já havia
sido proposto no III Concílio de Latrão,
tentara repreender os hereges, através da
exclusão da sociedade, instigando seus
membros a participarem da repressão em nome
da fé cristã, a excomunhão seria o princípio
de um processo que se tornaria violento. Um
processo que eliminará qualquer tentativa de
fé que diferencie dos dogmas instituídos
pela Igreja Católica.
Em 1206, chegaram ao Languedoc o bispo
espanhol Diego de Osma, acompanhado pelo
subprior Domingos de Guzman, estes
pretendiam instruir as massas ignorantes no
catolicismo através da pregação. Obtiveram
alguns êxitos, porém o assassinato de Pierre
de Casstelnau (legado do papa), em 1208,
precipitou uma mudança na condução política
da Igreja.
O conde Raimundo de Toulouse, era suspeito
do assassinato, sendo excomungado pelo papa
Inocêncio III, que escreveu ao rei da
França, Filipe Augusto, para expulsar o
acusado dos Estados do Languedoc, ordenando
uma cruzada contra Raimundo VI.
O novo legado do papa, Amaury, anunciou a
cruzada contra os cátaros e contra os
senhores que os protegiam. Um exército
mercenário comandado por Simão de Montfort,
declarou guerra ao vice-condado de Trencavel,
que estava sob protecção de Raimundo VI e
Rogério de Trencavel. Raimundo VI, teve que
se humilhar ante a Igreja, e acabou perdendo
seus domínios.
Na primeira fase da cruzada, foram
destruídas as cidades de Béziers (1209),
onde 60.000 pessoas morreram. Destruída a
cidade, os cruzados, marcham papa Carcassone,
onde Raimundo VI foi preso, acabando por
morrer na prisão. Simão de Montfort, se
apossa dos condados de Trencavel (Carcassone,
Béziers), conquistando também Alzonne,
Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
Minerve, foi sitiada em 1210,sendo queimadas
140 pessoas. A próxima conquista seria
Corbiéres, chegando até a cidade de Puivert.
O conde de Toulouse, tinha como aliado o
conde de Foix, o conde de Comminges e o
visconde de Béarn. Em 1212, estabelece-se
uma coligação entre Pedro de Aragão e
Raimundo VI, Simão de Montfort derrotou-os
na batalha de Muret (1213), onde Pedro
acabou morrendo.
O IV Concílio de Latrão, confirmou as
possessões de Montfort, além de propiciar a
conciliação dos senhores do Sul com a
Igreja, com o compromisso de perseguirem a
heresia.
Em 1216, a Provença subleva-se e Montfort
trava nova batalha contra os hereges. Com a
morte de Inocêncio III, coube a Honório III,
lançar uma nova cruzada. Raimundo VII, filho
de Raimundo VI, obteve vitória sobre
Montfort, na batalha de Beaucaire. Simão
morre em 1218, acabando também a cruzada,
sem entretanto extinguir a heresia. Amaury,
filho de Montfort, oferece as terras
conquistadas por seu pai a Filipe Augusto,
rei da França que as recusa, seu filho Luís
VIII acabará aceitando as terras.
Porém, Raimundo VII, entra em luta com
Amaury, para retomar o seu feudo no
Languedoc. Em 1224, Luís VIII, liderando os
barões do Norte, empreendeu uma nova cruzada
que durou cerca de três anos alcançando
muitas conquistas até chegar a Avignon, onde
termina o cerco contra os hereges. O
resultado dessa disputa foi um acordo entre
o rei da França e Raimundo VII, pelo qual a
filha de Raimundo se casaria com um irmão do
rei, consequentemente os domínios disputados
passariam para a Coroa da França (tratado de
Meaux, 1229). Raimundo VII, teve que se
submeter ao rei da França, sendo coagido a
reconhecer a vontade da Igreja e atacar a
heresia.
A partir de 1240, verifica-se novas revoltas
no Midi. Numa revolta em Avignoret, alguns
inquisidores são assassinados, como
consequência a cidade foi conquistada, e
retomada a cruzada.
Montségur, o grande reduto dos cátaros, é
atacado e tomado de assalto em 1243. Durante
o ataque os cátaros, conseguiram retirar seu
"tesouro" do castelo e escondê-lo (alguns
acreditam que se tratava de riquezas, outros
que o tesouro eram livros ou então apenas
alusão a sabedoria dos Perfeitos). A queda
de Montségur marca o fim da Igreja Cátara
organizada. Alguns sobreviventes se
refugiaram na Catalunha e na Itália. Uma
outra fortaleza a de Quéribus, caíra em
1255.
Pierre Authié, adepto do catarismo, continua
a divulgar a doutrina, sendo preso em 1310,
quando se dirigia a Castelnaudary e
condenado a morte na fogueira. Guillaume
Bélibaste e Philippe d’Alayrac, ambos
cátaros, fogem da prisão em Carcassone.
Philippe acaba sendo capturado e queimado.
Bélibaste refugia-se em Mosella, nas
montanhas de Valença, e acaba sendo traído
por Arnaud Sicre (de família cátara), que
tentava reconquistar os bens de sua família,
espionando para a Inquisição. O último
ministro cátaro, fora queimado em
Villerouge-Termenès, em Corbiéres, por ordem
do arcebispo de Narbone, em 1321.
A instauração da Inquisição, está ligado ao
momento em que a Igreja se torna parte de um
sistema institucionalizado de dominação
feudal. Com o triunfo do catolicismo no
Baixo Império Romano, no século IV, a Igreja
e o Estado se estabelecem com identidade de
interesses, a heresia passa a identificar-se
como crime político. Entre os séculos V e
IX, a Igreja foi consolidando sua hegemonia,
impondo uma unidade ritual, buscando unir as
diversidades religiosas. Em 1216,
institui-se a ordem mendicante dos
pregadores de S. Domingos. Com o objectivo
de não só pregar a fé católica, mas de agir
em sua defesa. Pouco depois, nasceria a
ideia de um tribunal organizado no combate
as dissidências religiosas. A heresia cátara
fornece ao papado a oportunidade de
transformar em realidade o seu poder
político repressivo. No ano de 1233, o papa
Gregório IX, promulga duas bulas, nas quais
decide mandar monges dominicanos aos locais
onde havia focos heréticos. E em 1252, uma
bula do papa Inocêncio IV, completará o
processo de institucionalização da
Inquisição como tribunal.
Durante os processos inquisitórios, não era
permitido a defesa legal, sendo proibido o
apelo à sentença. A tortura seria aplicada
não só aos acusados, mas também aos que os
acorbetassem. S. Agostinho, considerava a
tortura um meio útil para devolver ao
rebanho as ovelhas desgarradas, já que estas
só causariam dano a sociedade.
O papa era o inquisidor-mor, lhe cabendo a
incumbência de designar inquisidores. Os
inquisidores dominicanos, chegaram a França,
em 1233, onde foi instalado o primeiro
tribunal permanente da Inquisição. As
violências e perseguições se salientaram
entre os anos de 1277-1278, os inquisidores
chegaram a ser repelidos em Béziers e
Carcassone (1296), pelo povo e pelas
autoridades municipais, havendo uma queda na
simpatia popular da Inquisição.
O catarismo desaparecerá completamente do
território francês, após ter sido extirpada
de Montaillou, última aldeia francesa que
ainda sustentava esta heresia no início do
século XIV.
A Igreja Católica usou de vários meios para
eliminar a heresia, no início tentou
converter os hereges pela pregação dos
monges, depois através da excomunhão dos
pecadores, e finalmente o que obteve maior
resultado a Inquisição. As heresias acabaram
por alertar a Igreja para seus problemas
espirituais e de que seria necessário uma
reforma, principalmente no que se refere a
corrupção do clero. Porém a maior crítica à
Igreja da Idade Média, centrasse no abuso de
seu poder, a opressão à liberdade
religiosa, à liberdade de consciência, ao
direito de escolher.
O movimento herético cátaro (séc. XII-XIV),
é importante para se compreender os
processos utilizados pela Igreja na
repressão. A instauração da Inquisição que
ocorre nesse período, perpetua-se até o
século XIX.
Durante o
período das perseguições as igrejas cátaras
foram destruídas, os ofícios religiosos eram
realizados em cavernas, florestas e casas de
crentes. A doutrina cátara foi aceita por
contrariar alguns dogmas cristãos,
principalmente no que se refere a volta à
pobreza e ao retorno do cristianismo
primitivo.
Devido à propagação da heresia cátara a
partir de 1140, a Igreja começa a tomar
medidas para combate-la, sendo que no início
tentava os heréticos a fé católica por meio
da pregação, não adoptando trágicas medidas,
pois isto não harmonizava com a caridade
pregada pelo cristianismo. Vemos aqui um
motivo político para investidas contra as
comunidades cátaras e sua doutrina. Poderia
haver outros motivos para tais investidas?
A maior parte das terras atingidas pela
heresia pertencia à província de Narbona,
somente a região de Albi ligada à província
de Bourges. O Languedoc é anexado a França
em 1229 pelo Tratado de Meaux. O êxito da
propagação da heresia nos bispados do
Languedoc pode ser explicado pela situação
política da região, independente do reino da
França, as altas autoridades eram os grandes
senhores feudais, o conde de Toulouse e o
visconde de Béziers, ambos simpatizantes da
heresia cátara.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas
pregações do monge Henrique, embora este não
fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas
palavras deixaram de pagar os dízimos e de
comparecer as igrejas, seus ensinamentos
foram combatidos por Bernardo de Clairvaux
(São Bernardo).
De acordo
com este cenário, temos um motivo político
para que a Igreja promova mais uma cruzada.
Compondo as “Cruzadas do Ocidente”, a
Cruzada Albigense vem por objectivo acabar
com a heresia cátara no sul da França.
Em 1206, chegou ao Languedoc o bispo
espanhol Diego de Osma, acompanhado pelo
superior Domingos de Guzman, estes
pretendiam instruir as massas ignorantes no
catolicismo através da pregação. Obtiveram
alguns êxitos, porém o assassinato de Pierre
de Castelnau (legado do papa), em 1208,
precipitou uma mudança na condução política
da Igreja. Qual seria o motivo do
assassinato? Seria os bispos apenas um ardil
para um plano já definido de repressão
violenta? Qual seria o real objectivo desta
cruzada?
O conde Raimundo de Toulouse era o suspeito
do assassinato, sendo excomungado pelo papa
Inocêncio III, que escreveu ao rei da
França, Felipe Augusto, para expulsar o
acusado dos estados do Languedoc, ordenando
uma cruzada contra Raimundo VI.
O novo legado do papa, Amaury, anunciou a
cruzada contra os cátaros e contra os
senhores que os protegiam. Um exército
mercenário comandado por Simão de Montfort
declarou guerra ao vice-condado de Trencavel,
que estava sob proteção de Raimundo VI e
Rogério de Trencavel. Raimundo VI teve que
se humilhar ante a igreja, e acabou perdendo
seus domínios.
Na primeira fase da cruzada, foram
destruídas as cidades de Béziers (1209),
onde 60.000 pessoas morreram. Destruída a
cidade, os cruzados marcham para Carcassone,
onde Raimundo VI foi preso, acabando por
morrer na prisão. Simão de Montfort se
apossa dos condados de Trencavel (carcassone,
Béziers), conquistando também Alzonne,
Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
Em 1216, ouve outra investida contra os
cátaros. Desta vez, Raimundo VII, filho de
Raimundo VI, obtém vitória contra Montfort,
na batalha de Beaucaire. Simão morre em
1218, acabando também a cruzada, sem,
entretanto, extinguir a heresia. Amaury,
filho de Montfort, oferece as terras
conquistadas por seu pai a Felipe Augusto,
rei da França que as recusa, seu filho Luís
VIII acabará aceitando as terras. Raimundo
VII entra em luta com Amaury para retomar
seu feudo em Languedoc. Em 1224 Luís VIII
liderando os barões do norte, empreendeu uma
nova cruzada que durou cerca de três anos
alcançando muitas conquistas até chegar a
Avignon, onde termina o cerco contra os
hereges. O resultado dessa disputa foi um
acordo entre o rei da França e
consequentemente que os domínios disputados
passariam para a coroa da França (Tratado de
Meaux, 1229). Raimundo VII teve que se
submeter ao rei da França, sendo coagido a
reconhecer a vontade da Igreja e atacar a
heresia.
As cruzadas contra os albigenses duraram em
torno de 50 anos.
«»
Erasmo

Desiderius Erasmus Roterodamus, conhecido
como Erasmo de Roterdão ou Erasmo de Roterdã,
(nascido provavelmente a 27 de Outubro de
1466 em Roterdão e falecido a 12 de Julho de
1536 em Basiléia) foi um teólogo e um
humanista neerlandês.
Ele nasceu em Geert Geertsen, em Roterdão,
Holanda do Sul, Países Baixos. Ele
acreditava (erroneamente) que a raiz da
palavra "Geert" tivesse origem em begeren
(desejar) e traduziu isto para o latim e
para o grego. A informação sobre a sua
família e sobre a sua juventude é vagamente
referida nos seus escritos. Ele era quase
seguramente filho ilegítimo. O seu pai foi
um padre chamado Gerard. Pouco se sabe sobre
a sua mãe para além do nome: Margarete.
Apesar de ilegítimo, os seus pais tomaram
conta dele até às suas mortes prematuras,
com a peste negra, em 1483. Nessa altura a
sua educação ficou a cargo de uma série de
mosteiros, e foi uma educação exemplar, a
melhor possível a um jovem do seu tempo.
Realizou os votos monásticos aos 25 anos,
aproximadamente. Contudo, diz-se que nunca
viveu como tal, sendo inclusive um grande
crítico da vida monástica e das
características que julgava negativas na
Igreja.
Frequentou o Collège Montaigu em Paris e
continuou os seus estudos na Universidade de
Paris, então o principal centro da
escolástica, apesar da influência crescente
do Renascimento da cultura clássica, que
chegava de Itália. Erasmo optou por uma vida
de académico independente, independente de
país, independente de laços académicos, de
lealdade religiosa, e de tudo que pudesse
interferir com a sua liberdade intelectual e
a sua expressão literária.
Os principais centros da sua actividade
foram Paris, Louvain, Inglaterra e Basileia.
No entanto, nunca pertenceu firmemente a
nenhum destes sítios. O seu tempo em
Inglaterra foi frutuoso, tendo feito
amizades para a vida com os líderes
ingleses, mesmo nos dias tumultuosos do rei
Henrique VIII: John Colet, Thomas More,
Thomas Linacre e Willian Grocyn. Na
Universidade de Cambridge foi o professor da
divindade de Lady Margaret e teve a opção de
passar o resto de sua vida como professor de
inglês. Ele esteve no Queens' College, em
Cambridge e é possível que tenha sido
alumnus.
Foram-lhe oferecidas várias posições de
honra e proveito através do mundo académico,
mas ele declinou-as todas, preferindo a
incerteza, tendo no entanto receitas
suficientes da sua actividade literária
independente.
Entre 1506 e 1509 esteve em Itália. Passou
ali uma parte do seu tempo na casa editorial
de Aldus Manatius em Veneza. Apesar disto,
teve uma associação com académicos italianos
menos activa do que se esperava.
A sua residência em Louvain expôs Erasmo a
muitas críticas mesquinhas por parte
daqueles que eram hostis aos princípios do
progresso literário e religioso aos quais
ele devotava a vida. Ele interpretava esta
falta de simpatia como uma perseguição e
procurou refúgio em Basiléia, onde, sob
abrigo de hospitalidade suíça, pôde
expressar-se livremente e onde estava
rodeado de amigos. Foi lá que ele esteve
associado por muitos anos com o grande
editor Froben, e aonde uma multidão de
admiradores de (quase) todos os cantos da
Europa o vieram visitar.
A produtividade literária de Erasmo começou
relativamente tarde na sua vida. Apenas
quando ele dominou o Latim é que começou a
escrever sobre grandes temas contemporâneos
em Literatura e em Religião.
A sua revolta contra as formas de vida da
igreja não resultou tanto de dúvidas quanto
à verdade da doutrina tradicional, nem de
alguma hostilidade para com a organização da
Igreja. Sentiu antes a necessidade de
aplicar os seus conhecimentos na purificação
da doutrina e na liberalização das
instituições do cristianismo.
Como académico, tentou libertar os métodos
da Escolástica da rigidez e do formalismo
das tradições medievais, mas não ficou
satisfeito. Ele viu-se como o pregador da
rectidão. A sua convicção em toda a vida foi
que o que era necessário para regenerar a
Europa era uma aprendizagem sã, aplicada
liberalmente e sem receios pela
administração de assuntos públicos da Igreja
e do Estado. Esta convicção confere unidade
e consistência a uma vida que, de outra
forma, pode parecer plena de contradições.
Erasmo viu-se livre e distante de quaisquer
obrigações comprometedoras; no entanto
Erasmo foi, num sentido singularmente
verdadeiro, o centro do movimento literário
do seu tempo. Ele correspondeu com mais de
quinhentos homens da maior importância no
mundo da política e do pensamento, e o seu
conselho em vários assuntos era procurado
avidamente, se bem que nem sempre seguido.
Aquando da sua estadia em Inglaterra, Erasmo
iniciou a examinação sistemática dos
manuscritos do Novo Testamento, por forma a
preparar uma nova edição e uma tradução para
Latim. Esta edição foi publicada por Froben
de Basiléia em 1516 e foi a base da maioria
dos estudos científicos da Bíblia durante o
período da Reforma.
Ele publicou uma edição crítica do Novo
Testamento Grego em 1516 - Novum
Instrumentum omne, diligenter ab Erasmo Rot.
Recognitum et Emendatum. A edição incluiu
uma tradução em Latim e anotações. Baseou-se
também em manuscritos adicionais
recentemente descobertos.
Na segunda edição, o termo mais familiar "Testamentum"
foi usado em vez de "Instrumentum". Esta
edição foi usada pelos tradutores da versão
da Bíblia do Rei Jaime I de Inglaterra. O
texto ficou conhecido mais tarde como o
textus receptus. Erasmo publicou mais três
edições - 1522, 1527 e 1535. Foi a primeira
tentativa por parte de um académico
competente e liberal de averiguar aquilo que
os escritores do Novo Testamento tinham
efectivamente dito. Erasmo dedicou o seu
trabalho ao Papa Leão X, como patrono da
aprendizagem, e considerou o seu trabalho
como o seu principal serviço à causa do
Cristianismo. Imediatamente depois, começou
a publicação das suas paráfrases do Novo
Testamento, uma apresentação popular do
conteúdo de vários livros. Este, como todos
os seus livros, foi publicado em Latim, mas
as suas obras eram imediatamente traduzidas
noutras línguas, com o seu encorajamento.
«»
Lutero Precursor da Reforma Protestante na Europa,
Lutero nasceu na Alemanha no ano de 1483 e
fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele
foi ordenado padre, mas devido as suas
ideias que eram contrárias as pregadas pela
igreja católica, ele foi excomungado.
Sua doutrina, salvação pela fé, foi
considerada desafiadora pelo clero católico,
pois abordava assuntos considerados até
então pertencentes somente ao papado.
Contudo, esta foi plenamente espalhada, e
suas inúmeras formas de divulgação não
caíram no esquecimento, ao contrário, suas
ideias foram levadas adiante e a partir do
século XVI, foram criadas as primeiras
igrejas luteranas.
Apesar do resultado, inicialmente o
reformador não teve a pretensão de dividir o
povo cristão, mas devido à proporção que
suas 95 teses adquiriram, este fato foi
inevitável. Para que todos tivessem acesso
as escrituras que, até então, encontravam-se
somente em latim, ele traduziu a Bíblia para
o idioma alemão, permitindo a todos um
conhecimento que durante muito tempo foi
guardado somente pela igreja.
Com um número maior de leitores do livro
sagrado, a quantidade de protestantes
aumentou consideravelmente e entre eles,
encontravam-se muitos radicais. Precisou ser
protegido durante 25 anos. Para sua
protecção, ele contava com o apoio do Sábio
Frederico, da Saxónia.
Foi responsável pela organização de muitas
comunidades evangélicas e, durante este
período, percebeu que seus ensinamentos
conduziam a divisão. Casou-se com a monja
Katharina Von Bora, no ano de 1525, e teve
seis filhos.
A Igreja
Católica vinha, desde o final da Idade
Média, perdendo sua identidade. Gastos com
luxo e preocupações materiais estavam
tirando o objectivo católico dos trilhos.
Muitos elementos do clero estavam
desrespeitando as regras religiosas,
principalmente o que diz respeito ao
celibato. Padres que mal sabiam rezar uma
missa e comandar os rituais, deixavam a
população insatisfeita.
A burguesia comercial, em plena expansão no
século XVI, estava cada vez mais
inconformada, pois os clérigos católicos
estavam condenando seu trabalho. O lucro e
os juros, típicos de um capitalismo
emergente, eram vistos como práticas
condenáveis pelos religiosos.
Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro
para a construção da basílica de São Pedro
em Roma, com a venda das indulgências (venda
do perdão).
No campo político, os reis estavam
descontentes com o papa, pois este
interferia muito nos comandos que eram
próprios da realeza.
O novo pensamento renascentista também fazia
oposição aos preceitos da Igreja. O homem
renascentista, começava a ler mais e formar
uma opinião cada vez mais crítica.
Trabalhadores urbanos, com mais acesso a
livros, começaram a discutir e a pensar
sobre as coisas do mundo. Um pensamento
baseado na ciência e na busca da verdade
através de experiências e da razão.
A Reforma Luterana
O monge alemão Martinho Lutero foi um dos
primeiros a contestar fortemente os dogmas
da Igreja Católica. Afixou na porta da
Igreja de Wittenberg as 95 teses que
criticavam vários pontos da doutrina
católica.
As 95 teses de Martinho Lutero condenava a
venda de indulgências e propunha a fundação
do luteranismo ( religião luterana ). De
acordo com Lutero, a salvação do homem
ocorria pelos actos praticados em vida e
pela fé. Embora tenha sido contrário ao
comércio, teve grande apoio dos reis e
príncipes da época. Nas suas teses, condenou
o culto à imagens e revogou o celibato.

Na França, João Calvino começou a Reforma
Luterana no ano de 1534. De acordo com
Calvino a salvação da alma ocorria pelo
trabalho justo e honesto. Essa ideia
calvinista, atraiu muitos burgueses e
banqueiros para o calvinismo. Muitos
trabalhadores também viram nesta nova
religião uma forma de ficar em paz com sua
religiosidade. Calvino também defendeu a
ideia da predestinação.
Na Inglaterra, o rei Henrique VIII rompeu
com o papado, após este se recusar a
cancelar o casamento do rei. Henrique VIII
funda o anglicanismo e aumenta seu poder e
suas posses, já que retirou da Igreja
Católica uma grande quantidade de terras.
Preocupados com os avanços do protestantismo
e com a perda de fiéis, bispos e papas
reúnem-se na cidade italiana de Trento (
Concílio de Trento ) com o objectivo de
traçar um plano de reacção. No Concílio de
Trento ficou definido :
- Catequização dos habitantes de terras
descobertas, através da ação dos jesuítas;
- Retomada do Tribunal do Santo Ofício -
Inquisição : punir e condenar os acusados de
heresias
- Criação do Index Librorium Proibitorium (
Índice de Livros Proibidos ) : evitar a
propagação de ideias contrárias à Igreja
Católica.
Intolerância
Em muitos países europeus as minorias
religiosas foram perseguidas e muitas
guerras religiosas ocorreram, frutos do
radicalismo. A Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648), por exemplo, colocou católicos
e protestantes em guerra por motivos
puramente religiosos. Na França, o rei
mandou assassinar milhares de calvinistas na
chamada Noite de São Bartolomeu.
«»
DAMIÃO DE
GÓIS - Escritor, humanista - 1502-1574 -
obra de Orlando Neves
Em 1502: Nasce Damião de Góis, em Alenquer.
- 1511: Entra para o Paço da Ribeira como
pajem do rei D. Manuel. - 1523: É mandado
para a Flandres como escrivão da Feitoria;
visita Friburgo para conhecer Erasmo - 1529:
Parte em missão de D. João III para Dantzig,
Vilna, Posen e Cracóvia: - 1531: De novo em
missão real vai à Dinamarca; passa por
Witemberg onde conhece Lutero e Melanchton;
regressa a Antuérpia e fixa-se depois em
Lovaina. - 1532: Publica em latim Legation
Magni Indoru. - 1533: É chamado a Lisboa,
convidado para tesoureiro da Casa da India,
recusa o cargo e vai em peregrinação a
Santiago de Compostela. -
1534: Viaja a Estrasburgo e depois a Friburgo onde é
hóspede de Erasmo durante quatro meses;
inscreve-se como estudante na Universidade
de Pádua. - 1538: Publica em Veneza o Livro
de Marco Tulio Cícero, em latim. - 1539:
Casa em Lovaina com Joana van Hargen;
matricula-se na Universidade de Lovaina;
publica os Comentari Rerum Gestarum in India.
- 1540: Publica Fides, Religio Moresque
Aethiopum - 1541: Sai em Lovaina Hispaniae
Urbis Ubertia et Potentia. - 1542: Lovaina é
atacada pelos franceses; Damião de Góis é um
dos que mais se distingue na defesa da
cidade; é feito prisioneiro e libertado após
intervenção de D. João III. - 1544: Publica
Aliquot Opuscula. - 1545: Regressa a
Portugal. - 1546: Sai em Lisboa, Urbis
Lovaniensis Obsidio. - 1548: É nomeado
guarda-mor da torre do Tombo. - 1554:
Publica, em Évora, Urbis Olisiponensis
Descriptio - 1559: O regente cardeal D.
Henrique encarrega-o de escrever a Crónica
de D. Manuel.
- 1566: Saem, em português, a
1ª e a 2ª Partes da Crónica de D. Manuel. -
1567: Saem as 3ª e 4ª Partes da Crónica de
D. Manuel e a Crónica do Príncipe D. João. -
1571: É preso pela Inquisição. - 1572: Em
Outubro é condenado a prisão perpétua no
mosteiro da Batalha. - 1574: Morre em sua
casa de Alenquer, segundo parece,
assassinado.
.
Trabalho e
pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha
Grande – Portugal
|