
Frei
Luís
de Sousa
Baseado na
obra de

Almeida Garrett |
Editor: Carlos Leite Ribeiro
Setembro/2006 |

Manuel de Sousa Coutinho - "Frei Luís de
Sousa"
( de : www.instituto-camoes.pt)
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro
Manuel de Sousa Coutinho (nasceu em 1555 e
morreu em 1632), conhecido pelo nome
eclesiástico de Frei Luís de Sousa
(*03),
nasceu em Santarém, cerca do ano de 1555 e
faleceu em Lisboa no Convento de São
Domingos de Benfica
(*01)
em 1632. Filho de Lopo de Sousa Coutinho,
era um fidalgo cavaleiro da Ordem Militar
de Malta
(*02).
Viajou pelas Índias ocidentais e
orientais, onde foi feito prisioneiro de
piratas, que o encarceraram em Argel,
vindo a conhecer na prisão Miguel de
Cervantes (autor de D. Quixote e Sancho
Pança). Libertado em 1577, regressa a
Portugal, tendo sido nomeado capitão-mor
de Almada em 1579. Por entender que os
regentes do Reino deveriam ficar junto das
populações de Lisboa, assoladas pela
peste, queimou a sua própria casa, que
tinha sido requisitada para sede do
Governo. Por forma a evitar dissabores,
refugia-se em Espanha, onde continuou a
prestar diversos serviços ao rei Filipe II
de Espanha (I de Portugal), vivendo dois
anos em Valência. Regressa a Portugal em
1583 e casa-se com Madalena de Vilhena,
viúva de D. João de Portugal. Em 17 de
Março de 1594 é feito fidalgo cavaleiro.
Em 1600 é nomeado Capitão-Mor de Almada e
seu Guarda-Mor da Saúde.
Almada
Após um período mais desconhecido, mas que
se sabe que esteve na América latina,
nomeadamente no Peru, decide em 1613,
juntamente com a sua esposa abraçar a vida
religiosa, ingressando no dominicano
Convento de São Domingos de Benfica no dia
8 de Setembro de 1614 e a sua mulher, no
Convento do Sacramento.
Ao tornar-se frade, adopta o nome de Frei
Luís de Sousa, dedicando-se inteiramente à
escrita, nomeadamente à hagiografia e à
monografia. Foi crónista-mor da sua ordem
em Portugal, tendo viajado por diversos
conventos, recolhendo materiais para
completar a monumental obra «História de
São Domingos» cujo esboço tinha sido
iniciado por Frei Luís de Cácegas anos
antes. É hoje considerado um dos mais
brilhantes autores de língua portuguesa.
(*01)
- Mosteiro de São Domingos, em Benfica
(Lisboa): As condições naturais do local,
outrora um vale fértil com um curso de
água, explicam que se tenha verificado a
ocupação humana do território desde o
início da Pré-História.
São conhecidas estações arqueológicas dos
períodos do Paleolítico, Neolítico e
Calcolítico.
Existe a tradição que a Quinta da Granja
está assente sobre uma villa romana com a
configuração de um trevo de quatro folhas,
o que até à data ainda não foi confirmado.
E sob a Estrada das Garridas consta estar
soterrada uma ponte romana que atravessava
o pequeno ribeiro ali existente.
A presença muçulmana faz-se notar em
Benfica sobretudo pelas características
saloias que os habitantes levaram até ao
século XVIII. O saloio deriva do çahroi ou
saloy (habitante do campo), designação
dada com desdém pelos mouros aos
habitantes dos arrabaldes.
No início do século XIV, tinham
propriedades em Benfica: o Mosteiro de
Chelas, no Calhariz de Benfica (1304) e
Alfornel (1306); e o Mosteiro de São
Vicente de Fora em Benfica , Quinta da
Granja e Safardom.
Em 1322 surgem mencionados em documentos
desse período referências a Benfica-a-Nova,
onde foi construído o convento de São
Domingos de Benfica. Existiam em Benfica
Paços de El-Rei não frequentados, existem
apenas registos das presenças de D. Dinis
(1315), D. Afonso IV (1331), D. Pedro I,
(1364) e D. João I ( 1395).
O ano da criação da freguesia de Benfica
não é clara, mas supõe-se que date dos
primeiros tempos da Reconquista, tal como
sucedeu com a maioria das igrejas
paroquiais com a invocação de Santa Maria.
A mais antiga referência a Santa Maria de
Benfica data do ano de 1337, mno
testamente de D. Maria de Aboím. Depois,
só voltamos a ter notícias em 1390 e 1392,
e nessa da já teria a invocação de Nossa
Senhora do Amparo. Dessa época restam,
como vestígios, algumas cabeceirasda
sepulturas que serviram de adorno a uma
moradia perto da actual igreja de Benfica.
(*02)
- A Ordem dos Hospitalários (ou Ordem de
São João de Jerusalém) é uma tradição que
começou como uma Ordem Beneditina fundada
no século XI na Terra Santa, mas que
rapidamente se tornaria uma Ordem militar
cristã uma congregação de regra própria,
encarregada de assistir e proteger os
peregrinos àquela terra. Face às derrotas
e consequente perda desse território, a
Ordem passou a operar a partir da ilha de
Rodes, onde era soberana, e mais tarde
desde Malta, como estado vassalo do Reino
da Sicília.
Poder-se-á afirmar que a extinção desta
ordem se deu com a sua expulsão de Malta
por Napoleão. No entanto, os mesmos
cavaleiros iriam instalar-se na ilha de
Malta, doada por Carlos V do Sacro Império
Romano-Germânico, adoptando a designação
de 'Ordem de Malta.
Cerca de 1099, alguns mercadores de Amalfi
fundaram em Jerusalém, sob a regra de S.
Bento e com a indicação de Santa Maria
Latina, uma casa religiosa para recolha de
peregrinos. Anos mais tarde construíram
junto dela um hospital que recebeu, de
Godofredo de Bulhão, doações que lhe
asseguraram a existência, desligou-se da
igreja de Santa Maria e passou-se a formar
congregação especial, sob o nome de S.
João Baptista.
Em 1113 nomeou-a o Papa congregação, sob o
título de S. João, e deu-lhe regra
própria. Em 1120 o francês Raimundo de Puy,
nomeado grão-mestre, acrescentou ao
cuidado com os doentes o serviço militar.
Assim é a origem da Ordem dos
Hospitalários ou de S. João de Jerusalém,
designada por Ordem de Malta a partir de
1530, quando se estabeleceram na ilha do
mesmo nome, doada por Carlos V.
Ordem de aristocratas, nunca teve entre os
seus cavaleiros pessoas que não
pertencessem à fidalguia. O hábito regular
consistia numa túnica e num grande manto
negro, no qual traziam, pregada no lado
esquerdo, uma cruz de ouro, com esmalte
branco.
De início, na Espanha, havia uma só sede
(língua), a de Aragão, que englobava os
reinos de Portugal, Leão, Navarra, Aragão
e Castela. Em Portugal, entre os bens da
ordem, tinha especial importância o
priorado do Crato. Os reis viram receosos
crescer o poder dos senhores do Crato, que
se acentuou mais com a rebelião de D. Nuno
Gonçalves contra a regência do infante D.
Pedro (1392-1449).
D. João III, por morte do conde de Arouca,
doou o priorado a um membro da família
real, o infante D. Luís, em 1528, que se
intitulou grão-prior. Então o Rei, com
vista a futuros protestos, consegue do
papa Júlio III a bula de 1551, que D.
António, filho natural do infante, fosse
nomeado sucessor do pai. D. Maria I
consegue do Papa a independência do
grão-mestrado de Malta e, poucos anos
depois, o mesmo Papa decretou por bula em
1793 que, assim como pelo lado temporal o
grão-priorado de Portugal ficara isento de
qualquer interferência de Malta, também
pelo lado espiritual dependeria apenas da
Santa Sé. Assim, D. Pedro e D. Miguel
foram grãos-priores do Crato. A ordem foi
extinta em 1834 e os bens incorporados na
Fazenda Pública.
A possessão mediterrânica de Malta foi
capturada por Napoleão em 1798 durante a
sua expedição para o Egipto. Este teria
pedido aos cavaleiros um porto-salvo para
reabastecer os seus navios e, uma vez em
segurança em Valetta, virou-se contra os
anfitriões. O Grão-Metre Ferdinand von
Hompesch, apanhado de surpresa, não soube
antecipar ou precaver-se deste ataque,
rapidamente capitulando para Napoleão.
Este sucedido representou uma afronta para
os restantes cavaleiros que se
predispunham a defender a sua possessão e
soberania.
A Ordem continuou a existir, compactuando
com os governos por uma retoma de poder. O
Imperador da Rússia doou-lhes o maior
abrigo de Cavaleiros Hospitalários em São
Petersburgo, o que marcou o início da
Tradição russa dos Cavaleiros do Hospital
e posterior reconhecimento pelas Ordens
Imperiais Russas. Em agradecimento, os
Cavaleiros deposeram Ferdinand von
Hompesch e elegeram o Imperador Paulo I
como Grão-Mestre que, após o seu
assassinato em 1801, seria sucedido por
Giovanni Battista Tommasi em Roma,
restaurando o Catolicismo Romano na Ordem.
No início da década de 1800, a Ordem
encontrava-se severamente enfraquecida
pela perda de Priores em toda a Europa.
Apenas 10% dos lucros chegavam das fontes
tradicionais na Europa, sendo os restantes
90% provindos do Priorado Russo até 1810,
facto cuja responsabilidade é parcialmente
atribuída pelo governo da Ordem, que era
composta por Tenentes, e não por
Grão-Mestres entre 1805 e 1879, até o Papa
Leão XIII restaurar um Grão-Mestre na
Ordem (Giovanni a Santa Croce. Esta medida
representou uma reviravolta no destino da
Ordem, que se tornaria uma organização
humanitária e cerimonial. Em 1834, a
Ordem, reactivada, estabeleceu nova sede
em Roma e foi, a partir daí, designada
como Ordem
Vários autores remontam a sua existência
em terra portuguesa ao período final do
governo de D. Teresa. Segundo o Dr. Rui de
Azevedo, entre 1122 e 1128 a rainha D.
Teresa teria concedido aos freires desta
Ordem o mosteiro de Leça do Balio, sua
primeira casa capitular. A carta de couto
e privilégios outorgados à Ordem do
Hospital em 1140 por Dom Afonso Henriques
atesta a importância que já então teria.
Em 1194 D. Sancho I doou aos cavaleiros de
S. João do Hospital a terra de Guidintesta,
junto ao Tejo, para aí construírem um
castelo, ao qual o monarca, no acto de
doação pôs o nome de Castelo de Belver.
D. Sancho II em 1232 doou-lhe os largos
domínios da terra que, por essa altura,
recebeu o nome de Crato, onde os freires
fundaram uma casa que se tornou célebre. O
superior português da Ordem dos
Hospitalários era designado pelo nome de
prior do Hospital, e a partir de D. Afonso
IV por prior do Crato.
Ver artigo principal: Prior do Crato.
Não consta que por esse tempo tivessem os
Cavaleiros do Hospital mosteiro de
freiras, embora tivessem fratisas que
usavam hábito e viviam em suas casas. O
primeiro mosteiro de freiras hospitalário
foi fundado em Évora, em 1519, por Isabel
Fernandes, e mais tarde transferido para
Estremoz pelo infante D. Luís, quando este
filho de D. Manuel I foi prior do Crato.
Por alvará de 1778, foram-lhes confirmadas
todas as aquisições de bens de raiz feitas
no Reino e permitiu-se que os cavaleiros
sucedessem a seus parentes por testamento,
no usufruto de quaisquer bens que não
fossem da coroa ou vinculados em morgado,
revertendo por morte destes para as casas
de onde tinham sido saído. A ordem foi
extinta pelo diploma de 1834 que extinguiu
todos os conventos de religiosos.
(*03)
- Frei Luís de Sousa: Drama em três actos
de Almeida Garrett, estreado em 1843 e
publicado em 1844 com notas do autor,
baseado livremente na vida de Manuel de
Sousa Coutinho, que na vida eclesiástica
assumiu o nome de Frei Luís de Sousa.
A obra concentra-se no período da vida de
Manuel de Sousa Coutinho imediatamente
antes do seu ingresso, juntamente com a
esposa D. Madalena de Vilhena, na vida
monástica: um seu biógrafo atribuiu essa
decisão ao facto de o primeiro marido de
D. Madalena, D. João de Portugal, tido por
morto na Batalha de Alcácer Quibir, estar
ainda vivo e ter regressado a Portugal,
tornando ilegítimo o casamento de D.
Manuel e bastardos os seus filhos. Garrett
acentua o carácter dramático desta
situação, dando ao casal uma única filha
adolescente, Maria de Noronha, e um aio
ainda dedicado à figura do seu velho amo,
D. João de Portugal. O desfecho trágico é
desencadeado pelo nacionalismo de Manuel
de Sousa Coutinho, que prefere pôr fogo ao
seu palácio a nele acolher os
representantes da opressão espanhola e se
vê forçado a tomar residência no antigo
paço que fora de D. João de Portugal; este
regressa ao antigo lar, disfarçado de
romeiro, e confirma as apreensões de D.
Madalena ao se identificar com o retrato
de D. João. Os esposos adúlteros, falecida
a filha, decidem ingressar na vida
religiosa.
A peça de Garrett revela notável unidade
de acção, reduzindo ao mínimo
indispensável o número de personagens e
deixando entrever o desfecho trágico logo
desde a primeira cena. A estrutura da peça
denuncia ainda o tributo do autor ao
teatro clássico, em que fizera os
primeiros ensaios literários: o aio Telmo
assemelha-se por vezes ao coro da tragédia
clássica, não há quaisquer parênteses
humorísticos e o desencadear da catástrofe
tem ecos do teatro grego.
Características mais inovadoras e mais
propriamente românticas são a utilização
da prosa e da linguagem corrente, com
hesitações, marcas de oralidade frequentes
e vocabulário do quotidiano; a
sensibilidade exacerbada das personagens,
perseguidas pelo pressentimento da
desgraça e pela presença obsessiva de uma
espera que sufoca a vida e as acções da
família; o patriotismo da personagem
principal, manifesto na resistência aos
governadores espanhóis; a apresentação de
figuras do povo (como o criado Telmo) como
personagens capazes do mesmo sentir
trágico que as da nobreza; a oposição
entre o indivíduo e a sociedade, patente
sobretudo na figura de D. Madalena; a
religiosidade e mesmo as superstições das
personagens, sempre atentas a agoiros e a
sonhos reveladores.
“D. Madalena de Vilhena: “Em tudo o mais
sou mulher, muito mulher.”
Esta afirmação de Madalena é uma exacta
auto-caracterização de uma personagem
romântica. Na realidade, D. Madalena foi
sempre dominada pelo sentimento do amor.
Religiosa, sim, mas não compreendia que o
amor de Deus pudesse exigir o sacrifício
do amor humano. Amava a filha, sim, mas o
amor de mulher (para com Manuel de Sousa)
era superior ao amor de mãe. Senhora
virtuosa, como convinha à sua dignidade
social, mas essa virtude oscilava entre a
realidade e a aparência (amou o segundo
marido ainda quando vivia com o primeiro).
Uma mulher bem nascida, da família e
sangue dos Vilhenas, cujos sentimentos
dominam a razão:
- O sentimento do amor à Pátria é
praticamente inexistente: considera a
atitude dos governadores espanhóis como
uma ofensa pessoal;
- Para ela, é inaceitável que o
sentimento do amor de Deus possa conduzir”
Um dos temas mais importantes da obra é,
sem dúvida, o da liberdade de amar, mesmo
contra as convenções sociais da época. A
personagem de Maria de Noronha, a filha
adolescente perfeitamente inocente dos
actos de seus pais, é a própria
personificação da beleza e da pureza que
pode ser engendrada mesmo por uma relação
socialmente condenável. A recepção da obra
não deixou de ver nisto um paralelo com a
vida do autor, que se separara da primeira
mulher para viver em mancebia com D.
Adelaide Pastor, da qual tivera igualmente
uma filha ilegítima. O tema do amor livre
interessou igualmente Alexandre Herculano
e foi abundantemente glosado no segundo
romantismo português, nomeadamente por
Camilo Castelo Branco.
Frei Luís de Sousa, que continua a ser
considerado um clássico da literatura de
língua portuguesa e uma das criações
máximas do seu teatro, foi inicialmente
apenas lido a um grupo selecto de amigos
do autor (entre os quais Herculano). A
primeira representação fez-se em privado,
no teatro da Quinta do Pinheiro, no mesmo
ano de 1843, tendo o próprio Garrett
desempenhado o papel de Telmo. A peça só
teve a sua estreia pública em 1847, no
Teatro do Salitre, em versão censurada
pelo regime cabralista. A versão integral
só foi levada à cena no então Teatro
Nacional (actual Teatro Nacional de D.
Maria II) em 1850.
"Almeida Garrett, foi o escritor do belo
drama "Frei Luís de Sousa. João Baptista
da Silva Leitão, a que só depois
acresceram os apelidos com que se
notabilizou ( Visconde de Almeida
Garrett), nasce a 4 de Fevereiro numa casa
da velha zona ribeirinha do Porto, não
longe da alfândega de que o pai possuía o
cargo de selador-mor; a 10, é baptizado na
igreja de Stº Ildefonso. Filho segundo,
entre cinco irmãos, de António Bernardo da
Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão,
família burguesa ligada à actividade
comercial e proprietária de terras na
região portuense e nas ilhas açoreanas".
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(Almada)
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro, para “Jornal “Capital” em 1984; e
“Cá Estamos Nós”, programa radiofónico em
1986.
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