Hispânia
foi o nome dado pelos antigos romanos a toda
a Península Ibérica (Portugal, Espanha,
Andorra e Gibraltar) e às duas províncias
criadas posteriormente durante a República
Romana: Hispânia Citerior e Hispânia
Ulterior. Durante o Principado, a Hispânia
Ulterior foi dividida em duas novas
províncias: a Bética e a Lusitânia, enquanto
a Hispânia Citerior foi rebaptizada para
Tarraconense. Mais tarde, a parte ocidental
da Tarraconense foi desanexada, inicialmente
como Hispânia Nova, e mais tarde rebaptizada
para Callaecia (ou Galécia, praticamente
correspondente à actual Galiza). Durante a
tetrarquia de Diocleciano (284 d.C.), o sul
da Tarraconense foi desanexado para
constituir a província Cartaginense. O
conjunto de todas as províncias hispânicas
formavam uma única diocese civil, sob a
direcção do vigário de Hispaniae, cujas
competências se estendiam também à
Mauretânia Tingitana (ao redor de Tânger)
que, portanto, eram oficialmente
consideradas 'hispânicas'.
A ocupação romana teve início a 218 a.C. com
o desembarque dos Romanos em Ampúrias e
terminou em meados do século V d.C., altura
em que toda a península assistiu à invasão
dos Suevos, Alanos e Vândalos e, mais tarde,
dos Visigodos. Ao longo de todo este
período, tanto os povos como a organização
política do território sofreram profundas e
irreversíveis mudanças, e a Hispânia
converteu-se numa parte fundamental do
Império Romano, proporcionando-lhe um enorme
caudal de recursos materiais e humanos, ao
mesmo tempo que foi uma das regiões mais
estáveis do Império.
Com
grande parte da península já fora do seu
controlo, o Imperador Romano do Ocidente,
Honório (r. 395-423), encarregou a sua irmã,
Galla Placidia, e o seu marido, Ataúlfo, o
rei visigodo, de restaurar a ordem,
concedendo-lhes o direito de se instalarem
na península contribuindo, para isso, na
defesa e manutenção da região. Os Visigodos
conseguiram subjugar os Suevos e expulsar os
Vândalos, que migraram para o Norte de
África. Em 484, estabeleceram Toledo como
capital. Note-se, portanto, que a ocupação
visigótica não constituiu, de forma alguma,
uma invasão propriamente dita, já que este
eram, inclusive, assistidos no governo por
hispano-romanos, e o latim permaneceu a
língua oficial.
O Cristianismo, introduzido logo no século I
e doravante sustentado como religião oficial
do Império Romano, tornou-se fundamental
durante a ascendência visigótica, já que a
Igreja permitia a coesão dos povos.

Início de Portugal
Conde
de Borgonha, o Bom, fundador da monarquia
portuguesa, por ter sido pai de D. Afonso
Henriques, 1.º rei de Portugal. N. em Dijon
em 1057, data que se considera mais
provável, e fal. em Astorga em 1114. Era o
4.º filho do duque Henrique de Borgonha e de
sua mulher, Sibila, neto de Roberto I, duque
de Borgonha-Baixa, e bisneto de Roberto, rei
de França.
Quando em 1086 as notícias da guerra contra
os muçulmanos chamaram a alistar-se debaixo
das bandeiras de D. Afonso VI, rei de Leão e
de Castela, os príncipes dalém dos Pirinéus,
o príncipe Henrique veio para Espanha na
companhia de seu primo Raimundo de Borgonha,
filho do conde Guilherme de Borgonha, irmão
de sua mãe. Os dois príncipes granjearam
grande reputação pelo seu valor nas guerras
em que entraram, e em prémio dos serviços
prestados, D. Afonso VI casou sua filha D.
Urraca com Raimundo, e D. Teresa ou Tareja,
filha bastarda, com D. Henrique. Em 1093 D.
Afonso atravessou o rio Mondego, tomou
Santarém, Lisboa e Sintra, dilatando assim o
domínio cristão até ao rio Tejo. Como o
ocidente da península hispânica formava um
domínio já bastante extenso para que os seus
chefes pudessem lembrar-se em se tornarem
independentes, pensou em delegar o seu poder
para esses lados num homem de confiança. Fez
pois de Raimundo conde soberano de Galiza, e
de Henrique governador do condado de
Portucale, sob a suserania de Raimundo. O
território entre o Minho e o Tejo
compreendia então três territórios o condado
de Portucale, que ia do Minho ao Douro; o de
Coimbra, do Douro ao Mondego; e o novamente
conquistado aos sarracenos, do Mondego ao
Tejo, de que D. Afonso fizera governador
Soeiro Mendes, com a sede do governo em
Santarém. Este território foi retomado pelos
moiros logo em 1095. e parece que este
desastre contribuiu para que D. Afonso VI
libertasse o conde D. Henrique da suserania
de seu primo Raimundo, porque em 1097 já
governava independentemente o seu condado, e
em 1101 encontrava-se na corte do rei de
Leão e de Castela. Estavam, portanto,
sossegadas as fronteiras de Portugal, e os
muçulmanos, concentrando todos os seus
esforços no oriente da península e nas
fronteiras de Castela, contentavam-se no
ocidente só com a posse de Lisboa e de
Sintra, que por esse lado limitavam o seu
império já tão disseminado. Vendo a Espanha
quase tranquila, procurou o conde D.
Henrique outro campo em que pudesse empregar
a sua irrequieta actividade. Seduziu-o, como
a tantos outros príncipes, o movimento das
cruzadas. Entre os anos de 1102 e 1104
continuas expedições demandavam a Terra
Santa, e D. Henrique, nos primeiros meses de
1103 partiu para o Oriente, donde voltou em
1105, sem que a historia faça menção dos
feitos que praticou, o que se explica por
ele ter partido mais como simples
voluntário, do que como chefe dalgum
poderoso contingente. Desde essa época
envolveu-se nas intrigas que tinham por fim
ampliar o território que dominava. e
conseguir tornar-se independente.
Continuando a guerrear os moiros,
conquistou-lhe mais terras, vencendo o
régulo Hecha e o poderoso rei de Marrocos
Hali Aben Joseph. Excelente guerreiro, sábio
e prudente administrador, aumentou
consideravelmente as terras do seu condado,
merecendo o cognome de Bom, que a historia
lhe deu. D. Afonso VI não tinha filho varão
legítimo, por conseguinte Raimundo, marido
de D. Urraca, esperava receber a herança,
mas o monarca mostrava-se tão afeiçoado a
seu filho natural D. Sancho que se receava
que lhe deixasse a coroa em testamento.
Prevendo este caso, e dispondo-se a anular o
testamento pela força, pediu a aliança de
seu primo, e fez com ele um pacto em 1107,
pelo qual o conde D. Henrique se comprometia
a auxiliá-lo nas suas pretensões à, coroa,
recebendo em troca ou o distrito de Galiza
ou o de Toledo, e a terça parte do tesouro.
Raimundo, porém. morreu em Outubro desse
mesmo ano, D. Sancho pouco tempo depois, e
D. Afonso em 1109, ficando D. Urraca
legitima herdeira. Diz-se que D. Henrique,
vendo o sogro já moribundo, procurou
persuadi-lo a que lhe legasse o ceptro,
porque não convinha que passasse para as
mãos de D. Urraca, apesar da legitimidade da
herança, ou para as de D. Afonso, filho do
conde Raimundo, criança de três anos. Nada
conseguiu, mas os barões castelhanos
obrigaram D. Urraca a um segundo casamento,
com D. Afonso, rei de Aragão e Navarra,
casamento que o papa anulou alegando serem
os noivos parentes em grau proibitivo. D.
Afonso não se importou com a deliberação do
papa, porém D. Urraca, que casara contra
vontade, tomou o partido contrário ao do
marido, que pretendia despojá-la dos seus
estados. Estabeleceu-se a guerra civil, e D.
Henrique tomou a defesa da cunhada. Indo
depois a Astorga, ali adoeceu e morreu. O
seu corpo foi trasladado para Braga, e
sepultado numa capela da sé. Em 1512 o
arcebispo. D. Diogo de Sousa o transportou
para a capela-mor da mesma igreja, onde se
tem conservado. Por morte de seu marido,
ficou D. Teresa governando o condado de
Portucale na menoridade de seu filho D.
Afonso Henriques, que apenas contava três
anos de idade.
Fonte: Portugal - Dicionário Histórico,
Corográfico, Heráldico, Biográfico,
Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, págs. 900-901.

Foi
durante a dominação árabe que os cristãos
organizaram as cruzadas. Seguiu para a
Lusitânia, com a finalidade de livrá-la das
mãos dos mouros, o Conde Dom Henrique,
tronco dos reis portugueses; partira de
França com cavaleiros, pondo suas armas a
serviço de Afonso VI, rei de Leão e de
Castela. Tantos serviços prestou à religião
e à coroa, que recebeu do rei sua filha D.
Teresa, como esposa, e a província ou país
de Portugal para administrar.
Afonso Henriques é o primogênito desse
consórcio. Morto Afonso VI, os mouros
tomaram Lisboa, enquanto o Conde D. Henrique
conquistou a cidade de Cintra. Enquanto há
revoluções em Espanha, por ocasião da morte
do rei de Castela, Portugal vai-se
fortificando. Mouros são vencidos e o Conde
D. Henrique, sábio administrador e grande
guerreiro, recebe o nome de "O Bom".
Morto o Conde, D. Teresa pretendeu casar-se
com D. Fernando Perez, mas seu filho,
Afonso-Henriques, se opôs. Luta, então,
contra a mãe, derrota-a e mais ao exército
de D. Afonso VII, de Leão e Castela.
Obtida a vitória, está assegurado o trono de
Portugal, que fica independente em 1143,
quando, na Conferência de Samora, Espanha
reconhece Afonso-Henriques como rei.
Afonso-Henriques é, pois, o fundador da
Monarquia Portuguesa. Morreu com setenta e
quatro anos, reinou quarenta e seis. Subiu
ao trono seu filho D. Sancho I.

Origens da Língua Portuguesa
À facilidade comunicativa entre a comunidade
de expressão portuguesa e a comunidade
galega acrescentamos o facto de a língua
portuguesa ter o seu berço na Galiza
medieval, que incluía o território da actual
Comunidade Autónoma Galega transcendendo-o
ainda amplamente, pelo que parece legítimo
reivindicar-se que a Galiza seja reconhecida
pelo resto da Lusofonia como membro de pleno
direito.
O Português é uma língua nascida no Noroeste
da Península Ibérica, que cresceu para sul.
Inicialmente um conjunto de dialectos
provinciais (galego-portugueses), passou a
língua da nação e depois a veículo de um
império; hoje, é uma língua transnacional e
transcontinental. A autonomização do
galego-português a partir do século VII na
antiga província romana Gallaecia et
Asturica (Galiza, Norte de Portugal,
Ocidente e Astúrias) é denunciada por dois
fenómenos de mudança fonética que afectam
profundamente o seu léxico: palatalização
dos grupos iniciais pl-, kl-, fl-, para a
africada palatal surda ts-: plicare > tsegar
>, chegar; clamare > tsamar > chamar;
flagrare > tseirar > cheirar;
enfraquecimento e síncope das soantes
intervocálicas latinas – n - e - l -: bene >
bee > bem; mala > maa > má.
Distinguem-se na história do português dois
grandes ciclos: o da elaboração da língua,
desenvolvido entre os séculos IX e XV na
esteira da reconquista do território dos
Árabes; este foi repovoado pelos povos do
Norte, que transplantaram a sua língua para
o Sul, onde ela se transformou pelo contacto
com a língua local e pela mistura, nas novas
terras, de dialectos que no Norte se achavam
separados. Os dialectos da terra de
reconquista são, por isso, mais homogéneos
que os seus parentes mais velhos do Norte.
Por outro lado, a transferência do poder
para o Centro do Reino, com capital em
Lisboa, fez que a partir do século XV os
novos dialectos falados nessa região
ganhassem ascendente sobre os do Norte e
fossem a base de uma norma culta de
características meridionais, que seria vista
como a língua nacional.
As origens da língua escrita vinham do
século XII: uma breve Notícia de Fiadores,
de 1175, é o documento mais antigo, hoje
conhecido, que procura representar a língua
que se falava; curiosamente, foi produzido
no mesmo círculo em que, por 1196, seria
escrita a mais antiga cantiga trovadoresca,
Ora Faz Ost'o Senhor de Navarra, de João
Soares de Paiva. Depois, vários documentos,
entre os quais avultam o Testamento de 1214
do rei Afonso II e a contemporânea Notícia
de Torto, atestam do crescente uso do
português escrito, até que a partir de 1255
começa a produção regular de documentos
escritos em português, seguindo o exemplo da
Chancelaria de Afonso III. Ao mesmo tempo,
crescia a produção de textos literários
(lírica trovadoresca, tradução de novelas
francesas de cavalaria, literatura de
espiritualidade), graças aos quais é
possível observar as mudanças que a língua
sofreu e que, por graduais transições, a
levaram a transformar-se na língua clássica.
As principais mudanças são: no plano
fonético, eliminação de hiatos, convergência
para o ditongo –ão das terminações nasais em
–õ, -ã e –ão hiático, elevação para –u do –o
final átono dos nomes, queda do – d –
intervocálico na segunda pessoa plural dos
verbos (amades > amaes > amais), início da
redução para duas do sistema de quatro
sibilantes; no plano morfológico,
regularização de paradigmas verbais
(substituição de formas irregulares por
formas analógicas) e nominais (mudanças de
género); no plano lexical, entrada de
cultismos por relatinização.
O segundo grande ciclo da história do
português consiste na expansão da língua: o
período de finais do século XIV a inícios do
século XVI é aquele em que a língua mais
radicalmente se transfigura. Enquanto se
reestruturava e consolidava dentro de
portas, a língua portuguesa começa a
expandir-se para fora da Europa, pelo que, a
partir de aqui, é preciso distinguir entre
português-europeu e português extra-europeu.
Português-europeu: o léxico enriquece-se por
vários motivos: contacto com línguas
exóticas, importação de cultismos latinos e
gregos, adopção do castelhano como segunda
língua literária. Afirma-se um padrão
nacional, descrito pelos gramáticos. Os
dialectos distribuem-se segundo um mapa
muito semelhante ao moderno. Quanto a
estruturas linguísticas, registam-se, a
partir do século XVIII, a fixação da ênclise
enquanto posição regular dos pronomes
pessoais átonos, a elevação das vogais
fechadas e e ou em posição pré-tónica, que
passam a ser pronunciadas como e mudo e como
u e que, hoje, chegam mesmo a desaparecer,
em forte contraste com a fonética
brasileira; nos dialectos europeus do Centro
e Sul de Portugal, simplificação da africada
ts em s e palatalização do –s final de
palavra e sílaba; na região de Lisboa,
centralização do ditongo ei em âi. O som do
português europeu não sofreu, depois disto,
alterações significativas.
Português extra-europeu: fora da Europa, o
português teve dois tipos específicos de
actuação, logo a partir do século XVI:
transplantou dialectos de Portugal para
territórios como o Brasil, a África e a Ásia
e aí teve desenvolvimentos próprios,
chegando aos nossos dias com plena
vitalidade nos dois primeiros espaços e em
estado de relíquia no último (um dos
principais problemas da linguística do
português consiste em determinar se as
diferenças que se detectam entre as
variedades portuguesa e brasileira devem ser
encaradas a nível de norma ou a nível de
sistema); ao longo do litoral africano e
asiático, o português associou-se a línguas
locais para produzir pidgins e crioulos,
possivelmente segundo uma matriz única (o
proto-crioulo português), que explicaria
semelhanças entre línguas que nunca
estiveram em contacto. Este processo deu,
como resultados modernos, a situação
linguística de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São
Tomé e certas áreas do Índico e da Oceania,
onde predominam crioulos de base portuguesa.
Este processo de crioulização também ocorreu
no Brasil, mas uma maciça imigração europeia,
constante desde o século XVI até ao XX,
levou a que o português prevalecesse sobre
os crioulos. O mesmo aconteceu em Angola e
em Moçambique, com a imigração dos séculos
XIX e XX.
Fonte : Entrada "Língua Portuguesa" - por
: I.Ca. Dicionário Temático Da Lusofonia
Texto Editores (www.textoeditores.com )

O
português, antes e depois de Luís Camões
A língua portuguesa tem 800 anos. Sua
História remonta ao século XII, quando dom
Dinis fundou a Universidade de Coimbra,
promovendo o desenvolvimento cultural de
Portugal. " Esse rei-trovador ordenou que
fosse usada a língua portuguesa nos
documentos públicos, substituindo a língua
oficial latina", escreve Elis de Almeida
Cardoso. Só no século XIV, no entanto, o
português se tornaria a língua de Lisboa.
Nessa época, o galego (que tem semelhança
com o português e é falado na Galiza, região
da Espanha ao norte de Portugal) começa a
ser visto pelos portugueses como língua
arcaica. É nesse eixo Coimbra -Lisboa que o
português moderno vai se constituir. A
divisão da língua portuguesa entre arcaica e
moderna se dá em 1572, com a publicação de
Os Lusíadas, de Luís Camões.
Fonte : A Língua que falamos, de Susana
Herculano - Houzel; págs. 75 a 89
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Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
– Marinha Grande – Portugal
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