Ordem de Cristo
Ordem que herdou, em Portugal, os bens e
muitos membros da Ordem dos Templários,
extinta pelo papa Clemente V e instâncias do
rei de França, Filipe – o Belo, que cobiçava
as suas riquezas.
Fundada pelo rei de Portugal, D. Dinis – o
Trovador, foi aprovada pelo papa João XXll,
que lhe atribuiu a regra de São Bento. A sua
sede transferiu-se em 1357 de Castro Marim
para a cidade de Tomar.
Teve um papel notável no empreendimento dos
Descobrimentos (descoberta, conquista e
evangelização de novas terras), sendo seu
administrador o Infante D. Henrique (filho
de D. João l e de d. Filipa de Lencastre).
Com D. Manuel l (que a chefiou desde 1484),
a ordem ficou dependente da Coroa. A Ordem
de Cristo foi secularizada em 1789 e,
extinta em 1910 e restabelecida em 1918 para
premiar serviços militares ou civis.
A cruz da Ordem de Cristo, símbolo que
adornou, entre outras coisas, as naus
portuguesas durante os Descobrimentos.
Nos séculos XII e XIII, a Ordem dos
Cavaleiros Templários ajudou os portugueses
nas batalhas contra os Mouros "infiéis". Em
troca recebeu extensas terras e poder
político. Os castelos, igrejas e povoados
prosperam sob a sua protecção. Em 1314, o
Papa Clemente V foi forçado a suprimir esta
rica e poderosa ordem, mas D. Dinis
transformou-a na Ordem de Cristo, que herdou
as propriedades e privilégios dos
Templários.
Os ideais da expansão cristã reacenderam-se
no século XV quando o seu Grão-Mestre,
Infante D. Henrique, investiu os rendimentos
da Ordem na exploração marítima. O emblema
da ordem, a Cruz da Ordem de Cristo,
adornava as velas dos navios que exploravam
os mares desconhecidos.
Sua origem data do século XVI, como
continuidade da Ordem dos Cavaleiros
Templários. No entanto, somente a partir do
século XV é que o seu grão-mestrado passou
ao poder dos reis de Portugal.
Foi a organização da Ordem de Cristo que
incentivou a navegação e a expansão do
Império Português, e os seus vastos recursos
custearam as fabulosas despesas desses
empreendimentos. Assim, as terras
conquistadas tiveram assegurado o domínio
espiritual cristão, enquanto seu domínio
temporal pertencia ao Rei. O símbolo da
Ordem aparecia gravado nas caravelas e nos
marcos de posse da nova terra.
Essa organização era sustentada, inclusive,
pelo privilégio, dado aos cavaleiros da
Ordem (administradores das terras
conquistadas), de receber o dízimo – imposto
correspondente à décima parte dos produtos
da terra – não só para atender às despesas
da Ordem, como também, propagação da fé e do
culto cristão.
D. Dinis e a Ordem de Cristo
D. Dinis, rei de Portugal, filho de D.
Afonso III e da infanta Beatriz de Castela,
neto de Afonso X de Castela. Foi aclamado em
Lisboa em 1279. Cognominado O Lavrador ou O
Rei-Agricultor (pelo impulso que deu no
reino àquela actividade) e ainda, O
Rei-Poeta ou O Rei-Trovador (pelas Cantigas
de Amigo que compôs e pelo desenvolvimento
da poesia trovadoresca a que se assistiu no
seu reinado), foi o sexto Rei de Portugal.
Foi o primeiro rei português a assinar os
seus documentos com o nome completo.
Presume-se que tenha sido o primeiro rei
português não analfabeto.
Como herdeiro da coroa, D. Dinis desde cedo
foi envolvido nos aspectos de governação
pelo seu pai. À data da sua subida ao trono,
Portugal encontrava-se em conflito com a
Igreja Católica. D. Dinis procurou
normalizar a situação assinando um tratado
com o Papa Nicolau III, onde jurava proteger
os interesses de Roma em Portugal. Salvou a
Ordem dos Templários em Portugal através da
criação da Ordem de Cristo, que lhe herdou
os bens em Portugal depois da sua extinção e
apoiou os cavaleiros da Ordem de Santiago ao
separarem-se do seu mestre castelhano.
D. Dinis foi essencialmente um rei
administrador e não guerreiro: envolvendo-se
em guerra com Castela em 1295, desistiu dela
em troca das vilas de Serpa e Moura. Pelo
Tratado de Alcanises (Espanha em 1297)
firmou a Paz com Castela, definindo-se nesse
tratado as fronteiras actuais entre os dois
países ibéricos. Por este tratado previa-se
também uma paz de 40 anos, amizade e defesa
mútuas.
A sua prioridade governativa foi
essencialmente a organização do reino:
continuando a vertente legisladora de seu
pai D. Afonso III, a profusa acção
legislativa está contida, hoje, no Livro da
Leis e Posturas e nas Ordenações Afonsinas.
Não são "códigos" legislativos tal como os
entendemos hoje, mas sim compilações de leis
e do direito consuetudinário municipal,
alteradas e reformuladas pela Coroa. Com
efeito, a incidência de questões de carácter
processual com igual peso ao carácter de
direito positivo das suas leis, denuncia a
crescente preocupação do rei em enquadrar o
direito consuetudinário (ou costumeiro) no
âmbito da Coroa, e em efectivar o seu poder
no terreno. As determinações sobre a
actuação de alvazis (oficiais concelhios),
juízes, procuratores e advocati demonstram
isto, já que um poder meramente nominal
sobre todos os habitantes do Reino, como era
típico na Idade Média, não se compatibiliza
com este esforço em esmiuçar os trâmites
jurídicos, ou em moralizar o exercício da
justiça. A criação de corregedores denuncia
claramente o início do processo territorial
da jurisdição da Coroa, extravasando os
domínio régios, a par da crescente
importância da capitalidade de Lisboa.
O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção
por Lisboa como local de permanência da
corte régia. Não existe uma capital, mas a
localização de Lisboa, o seu desenvolvimento
urbano, económico e mercantil vão fazendo da
cidade o local mais viável para se afirmar
como centro administrativo por excelência. A
articulação entre o Norte e o Sul do país -
este Sul que se torna alvo da maior atenção
e permanência dos reis - fazem de Lisboa
centro giratório para tornar Portugal
viável. Entre o Norte, onde a malha
senhorial é mais densa e apertada, e o sul,
onde o espaço vasto conquistado aos mouros
implanta sobretudo os domínios régios e as
ordens militares, assim como vastos espaços
de "res nullius", torna Portugal um reino
onde duas realidades diferentes se
complementam.
Preocupado com as infra-estruturas do País,
D. Dinis ordenou a exploração de minas de
cobre, prata, estanho e ferro e fomentou as
trocas com outros reinos, assinou o primeiro
tratado comercial com o rei de Inglaterra em
1308 e criou o almirantado, atribuído como
privilégio ao genovês Manuel Pessagno, e
fundando as bases para uma verdadeira
marinha portuguesa ao serviço da Coroa.
D. Dinis redistribuiu terras, promoveu a
agricultura e fundou várias comunidades
rurais, assim como mercados e feiras criando
as chamadas feiras francas ao conceder a
várias povoações diversos privilégios e
isenções. Um dos seus maiores legados foi a
ordem de plantar o Pinhal de Leiria, que
ainda se mantém, de forma a proteger as
terras agrícolas do avanço das areias
costeiras.
A cultura foi um dos seus interesses
pessoais. D. Dinis apreciava literatura e
escreveu vários livros pelo seu próprio
punho, com temas como administração ou caça,
e vários volumes de poesia. Durante o seu
reinado, Lisboa foi um dos centros Europeus
de cultura. A Universidade de Coimbra foi
fundada pelo seu decreto Magna Charta
Priveligiorum no qual foram desde logo
ensinadas as Artes, o Direito Civil, o
Direito Canónico e a Medicina. Mandou
traduzir importantes obras, tendo sido a sua
Corte um dos maiores centros literários da
Península Ibérica.
Os últimos anos do seu reinado foram,
marcados por conflitos internos. O herdeiro,
futuro D. Afonso IV, receoso que o
favorecimento de D. Dinis ao seu filho
bastardo, D. Afonso Sanches o espoliasse do
trono, exigiu o Poder e combateu o pai.
Nesta luta teve intervenção apaziguadora a
Rainha Santa Isabel que, em Alvalade se
interpôs entre as hostes inimigas já postas
em ordem de batalha. Tem como Descendente
também o Papa Bento XIII, que foi Papa de
1724 a 1730.
D. Dinis está sepultado no Convento de São
Dinis, em Odivelas.
Grande impulsão dos Descobrimentos
Portugueses
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Infante D. Henrique "O Navegador". Grande
impulsionador dos Descobrimentos
Infante de Portugal, 5.º filho d'el-rei D.
João I, e da rainha sua mulher, D. Filipa de
Lencastre; grão-mestre da ordem de Cristo,
duque de Viseu, fronteiro-mor de Leiria,
cavaleiro da ordem da Jarreteira, de
Inglaterra, senhor da Covilhã, de Lagos e de
Sagres, do Algarve, de cujo reino foi
governador perpetuo. nasceu no Porto a 4 de
Março de 1394, e faleceu em Sagres a 13 de
Novembro de 1460.
Em 1415, D. Henrique viajou até à cidade do
Porto com a incumbência de preparar a armada
destinada à conquista de Ceuta. Nos
estaleiros de Miragaia, então considerados
por Fernão Lopes como os mais importantes do
pais, foi aparelhada uma grande parte desta
frota. Aqui trabalhou-se dia e noite. Da
cidade e arredores, as populações ofereceram
toda a carne dos animais abatidos para
abastecimento das embarcações, ficando para
si apenas com as tripas. Daí a designação de
"tripeiros", dada aos naturais do Porto.
Aos rendimentos da sua casa senhorial junto
os da Ordem de Cristo, da qual foi nomeado
administrador em 1420. Esta ordem religiosa
e militar estava sedeada em Tomar, onde o
Infante mandou também construir os seus
paços. Os respectivos proventos foram
utilizados por D. Henrique, na organização
de expedições de reconhecimento do espaço
Atlântico.
Pouco depois da conquista de Ceuta, o
Infante enviou expedições às ilhas Canárias.
Os arquipélagos da Madeira e dos Açores,
possivelmente já conhecidos dos navegadores
portugueses, foram redescobertos em 1419 e
1427, e povoados por ordem do Infante. As
ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas
foram-lhe depois doadas pelo rei D. Duarte,
seu irmão, tendo o Infante promovido a sua
exploração económica.
O reconhecimento da costa ocidental
africana, que os europeus conheciam só até
ao Cabo Bojador, foi outro dos objectivos
que o Infante perseguiu. Estabelecendo-se
estrategicamente no Algarve, enviou
sucessivas expedições a partir da ponta de
Sagres. A passagem do Bojador por Gil Eanes,
em 1434, marcou o primeiro grande êxito
naquela direcção. O avanço das explorações
foi acompanhado pelo estabelecimento de
feitorias comerciais, a partir das quais se
trocavam produtos europeus por ouro,
escravos, malagueta, algodão e marfim. Até
1460, ano da morte do Infante, estava
reconhecida a costa até à Serra Leoa.
Dedicou-se muito ao estudo das Matemáticas,
e em especial ao da Cosmografia, quando
estas ciências apenas começavam a ser
conhecidas na Europa, e que ele fez cultivar
em Portugal. Foi devido a esses estudos, ás
meditadas informações que alcançou de seu
irmão D. Pedro, que viajara na Europa e na
Ásia, e à leitura dos escritores antigos,
que no seu espírito se formou a certeza de
que ao norte do Senegal, então considerado
braço do Nilo, existiam povos hereges, que
comerciavam entre si. Levar a luz cristã ao
espírito desses povos e colher fruto do seu
comércio, foi o grandioso plano do infante.
Contava apenas 21 anos de idade quando D.
João I determinou armá-lo cavaleiro e aos
seus dois irmãos D. Duarte e D. Pedro, com
as festas publicas de grande solenidade,
segundo o costume daqueles tempos. Mas o
infante D. Henrique desejava antes receber
as armas em verdadeira guerra, para onde o
arrastava a sua inclinação e valor. O
monarca louvou-o muito, e quando se pensou
na tomada de Ceuta, a maior e a mais
fortalecida praça de toda a Mauritânia, os
três infantes tomaram parte, distinguindo-se
na renhida batalha realizada em 21 de Agosto
de 1415, sendo e infante D. Henrique quem
ainda mais se distinguiu. Foi o comandante
da frota do Porto, e o primeiro que saltou
em terra. No dia 25 do referido mes de
Agosto seu pai o armou cavaleiro da ordem de
Cristo. D. João I saiu de Ceuta com a armada
em 2 de Setembro seguinte, e pouco dias
depois ancorou em Tavira, no meio das
jubilosas aclamações do povo. Reunindo ali
os seus filhos, declarou querer
remunerar-lhes o grande serviço que tinham
prestado. Ao príncipe D. Duarte, como
herdeiro da Coroa, nada podia oferecer que
fosse de maior valor; mas a D. Pedro
conferiu-lhe o título de duque de Coimbra, e
o senhorio de Montemor-o-Velho, Aveiro e
outras terras que daí em diante, por
constituírem o apanágio da sua categoria,
passaram a denominar-se do Infantado; o
infante D. Henrique foi feito duque de Viseu
e senhor da Covilhã. O título de duque era
então desconhecido em Portugal. Foi a
conquista de Ceuta que vem ainda mais fixar
os vagos desejos do infante D. Henrique de
desvendar os mistérios do oceano. Portugal,
efectivamente, formava nessa época, para o
ocidente o extremo do mundo conhecido. O mar
para o ocidente e para o sul era a região
dos profundos misteriosos, povoado de
terrores e de visões fantásticas. Foi na
expedição de Ceuta, em que ele apenas viu
primeiro como seus irmãos o ensejo de
praticar brilhantes feitos de armas, e de
conquistar dignamente as suas esporas de
cavaleiro, que não tardou a achar também
estímulo para empresa de maior alcance.
Ceuta era um empório do comércio entre a
Ásia, a Africa e a Europa. Além de todas as
razões que já tinha para tentar estas novas
aventuras, não deixou também de actuar no
seu espírito a razão comercial. Como de
costume foi o Infante D. Pedro o confidente
das intenções de seu irmão, e não se
esqueceu de auxiliá-las. Em 1416 saiu do
reino para viajar, e quando regressou em
1428, trouxe-lhe um tesouro precioso, o
livro manuscrito das viagens de Marco Pólo
com que o presenteara a senhoria de Veneza.
O infante D. Henrique, em 1416 ou 1419,
fundou uma vila no promontório de Sagres,
para onde foi viver; começou a encarar as
ondas do Oceano Atlântico, e a pensar na
forma de intentar por elas as suas
expedições descobridoras. Chamou do
estrangeiro um cosmógrafo celebre, Jaime de
Maiorga, e auxiliado por ele, entregou-se
com fervor ao estudo. A vila ficou conhecida
por Vila do Infante, e actualmente tem o
nome de Sagres. D. Henrique estabeleceu ali
uma escola de cosmografia e de navegação que
foi frequentada pelos cavaleiros da sua
casa, e por outros homens que se
entusiasmavam pelas suas empresas. Ainda que
não tivessem a forma regular dum curso
aqueles estudos, contudo a conversação do
infante, de Jaime de Maiorga, e de outros
homens célebres que se agrupavam em redor do
filho de D. João I, seria altamente
instrutiva para os cavaleiros que os
escutavam, e foram os mesmos que depois
guiaram as caravelas de D. Henrique nos seus
empreendimentos. Na vila, também o infante
estabeleceu estaleiros e oficinas de
construção naval, e erigiu o primeiro
observatório astronómico que existiu em
Portugal. Dentro da povoação havia uma
capela dedicada a N. Sr.ª da Conceição, e
fora a igreja de Santa Catarina, acima do
porto onde desembarcavam os que vinham nos
navios, e para que os mareantes que ali
morressem, fossem enterrados no cemitério
dela.
Estavam pois reunidos todos os, elementos
precisos para se levar a efeito a empresa
intentada pelo infante. Recursos não lhe
faltavam; como grão-mestre da ordem de
Cristo, podia aplicar os imensos rendimentos
dessa cavalaria religiosa a expedições em
que tanto lucrava a propagação da fé cristã.
Armado com as informações que obtivera em
Ceuta, decidiu-se a mandar todos os anos
alguns navios tentar explorações para o sul.
Começou então a série de descobrimentos, que
deviam levar o pendão das quinas aos confins
da terra, e imortalizar a memória do infante
D. Henrique. Em 1418 Bartolomeu Perestrelo
descobriu a ilha do Porto Santo, cuja
capitania lhe foi confiada com permissão de
el-rei; e João Gonçalves Zarco acompanhado
de Tristão Vaz Teixeira encontrou a Madeira;
estas ilhas, contudo, e a dos Açores, está
provada já serem conhecidas, tendo sido
descobertas no tempo de D. Afonso IV. Quando
os navegadores voltaram ao reino trazendo
notícias maravilhosas do que tinham visto.
D: João I e o infante rejubilaram; este por
ter conseguido o fim a que aspirava, aquele
pela glória e proveito que destes
descobrimentos provinham para o país,
ilustrando o seu reinado. D. Henrique,
porém, não se limitou a dirigir as
navegações, procurou colonizar as ilhas que
se iam descobrindo. A Madeira,
principalmente, mereceu‑Ihe os maiores
desvelos. Anos depois, em 1432, Gonçalo
Velho Cabral, comendador de Almourol,
encontrou as ilhas dos Açores. No
entretanto, não eram as ilhas do Atlântico
que cativavam os cuidados do infante; o que
mais o preocupava era esse mar tenebroso,
que os mareantes da Idade Média julgavam
impossível de transpor. Passar além do cabo
Bojador, julgava-se impossível. Vinte
tentativas se haviam feito para dobrar o
cabo, mas os navegantes sempre recuavam por
terror supersticioso. Finalmente, D.
Henrique armou uma barca, cuja capitania
confiou a Gil Eanes, seu escudeiro, que
partiu cm 1433 cheio de terror, e voltou sem
nada ter adiantado. Aportando às Canárias,
retrocedeu com uns cativos, convencido de
que ir além, era empresa que Deus puniria
com severidade. Instado pelo infante, tornou
a embarcar em 1434, e vencendo o terror,
teve a fortuna de dobrar o cabo fatídico.
(V. Eanes, Gil). Este facto ficou registado
como a data mais memorável da história das
nossas descobertas. As navegações
continuaram, recomendando sempre o infante
aos navegantes nas suas instruções, que
estudassem minuciosamente as costas que
percorriam, colhessem o maior número
possível de informações, e sobretudo não
deixassem de procurar saber onde vivia o
famoso Prestes João das Índias. Em 1436
Afonso Gonçalves Baldaia, copeiro de D.
Henrique, percorrendo a costa ao sul do
Bojador, descobriu o Rio do Ouro, e
desembocando na Angra dos Cavalos, continuou
navegando para o sul, e chegou à Pedra da
Galé. Distraiu-o desta ocupação, que foi a
sua glória, a infeliz empresa de Tânger, em
que ele foi com seu irmão, o infante D.
Fernando, que por ser ainda muito criança
não pudera acompanhar el-rei seu pai e seus
irmãos na tomada de Ceuta. Obtida a licença
de el-rei D. Duarte, partiram ambos os
irmãos a 22 de Agosto de 1437 para Tânger,
com uma esquadra e um exército bem pouco
proporcionado à grandeza da empresa que iam
tentar. Foi uma fatalidade, de que resultou
o cativeiro e morte do infante D. Fernando,
que ficou conhecido pelo cognome de infante
santo (V. Fernando, D.) Regressando a
Portugal, por ordem do monarca seu irmão, D.
Henrique continuou com os descobrimentos. Em
1441 Nuno Tristão descobriu o Cabo Branco,
em 1443 a ilha de Arguim, onde se
estabeleceu uma feitoria, e em 1445 visitou
a costa da Senegalesa, chegando até Palmar.
A seguir, Diniz Dias dobra o Cabo Verde;
João Fernandes, em 1445, que sendo cativo em
Mauritânia, aprendera o árabe, penetra no
interior do Sudão e chega ao país dos
Tuaregues, sendo o primeiro europeu que
explorou o interior do continente negro até
Taguor; no ano seguinte, 1446, Álvaro
Fernandes descobre a Serra Leoa, e reconhece
a ilha de Gorea; em 1457 o veneziano Luís de
Cadamosto e o genovês António Nola, ambos ao
serviço do infante, descobriram a Gambia; em
1460 Diogo Gomes descobriu o arquipélago de
Cabo Verde, que Cadamosto pretendia ter
descoberto, e que mais tarde se provou não
ser verdade, pela relação do próprio Diogo
Gomes publicada em 1847 pelo Dr. Schmelles,
de Munique.
A fama de D. Henrique chegara às nações
estrangeiras e muitos homens ávidos de
aventuras, vinham pedir-lhe emprego nas suas
caravelas. Devotado apaixonadamente às
ciências cosmográficas, D. Henrique foi o
maior matemático do seu tempo; aplicou
utilmente o astrolábio à navegação, e
inventou as cartas planas. Quando se
reformou a Universidade, em 1431, estando em
Lisboa, fez-lhe doação por escritura da 12
de Outubro, dumas casas que comprara na
freguesia de S. Tomé, para nelas se lerem as
ciências que eram então aprovadas, e teve o
cuidado de distribuir ordenadamente as
diversas salas para os diversos exercícios
escolares. Em 25 de Março de 1448 fez mercê
à mesma Universidade de 12 marcos de prata,
anuais, e consignados nos dízimos da ilha da
Madeira, para salário da cadeira de prima de
teologia. Esta mercê foi confirmada por
carta de 12 de Setembro de 1460, pelo que se
lhe deu o título de Protector dos Estudos em
Portugal. 0 Infante D. Henrique deixou um
nome glorioso, e à, sua pátria uma herança
sublime. Foi o vulto mais brilhante da
história da Idade Média, o homem que deve
simbolizar para a história a glória dos
descobrimentos.
Apesar de não ter nunca sulcado as ondas do
Oceano; senão para as suas expedições de
conquista africana, teve o cognome de
Navegador, e na verdade bem merecido, porque
a ele se deve o primeiro impulso e o grande
incitamento das grandes navegações, que
tanto contribuíram para o progresso da
civilização, que ampliaram tanto o
conhecimento do mundo. Faleceu em Sagres,
conforme dissemos, no estado de solteiro.
Seu corpo foi primeiramente depositado na
igreja de Lagos, sendo dali trasladado para
o convento da Batalha em 1461, pelo infante
D. Fernando, seu sobrinho, filho de el-rei
Duarte, a quem pouco tempo antes havia
constituído herdeiro e adoptara como filho.
D. Fernando veio a casar com sua prima D.
Beatriz, filha do infante D. João, e foi o
pai de D. Diogo, duque de Viseu, e de D.
Manuel, duque de Beja, e rei de Portugal (V.
Beja, duques de). Sobre o túmulo vê-se a sua
estátua de pedra, que em relevo o representa
ao natural, vestido de armas brancas. e
coroado de coroa real entretecida de folhas
de carvalho, e uma rosa no meio; tem nela
três escudos: o primeiro com as armas do
reino de Portugal e as suas, e nos outros
dois as insígnias das duas ordens que
professara, de Cristo e da Jarreteira. Foram
sua divisa uns ramos pequenos, e curtos como
de carrasco com seus frutos pendentes, e por
mote em língua francesa as palavras: Talent
de bien faire. Esta divisa também se vê no
túmulo, tendo por baixo numa só linha, em
todo o comprimento do túmulo, um epitáfio em
letra alemã. El-rei D. Manuel lhe mandou
colocar também seu retrato na estátua de
mármore sobre a coluna, que divide a porta
travessa da igreja de Belém, como fundador
da antiga ermida de Nossa Senhora do
Restelo, que existiu primeiro naquele local.
Para perpetuar a memória do infante D.
Henrique, erigiu-se em Sagres um monumento
modesto. A portaria tem a data de 8 de Abril
de 1836, reinando D. Maria II, e é
referendada pelo então ministro do reino,
marquês de Sá da Bandeira. 0 escultor do
monumento foi Manuel Simões. Consta duma
lápide de mármore com 10 palmos e meio de
altura e 5 e meio de largura, embutida na
parede sobre a porta interior da entrada
principal da fortaleza de Sagres. Este corpo
é dividido em dois planos, tendo o superior.
em meio relevo, o escudo das armas do
infante com a legenda Talent de bien faire e
uma esfera armilar à direita e um navio à
vela, à esquerda. 0 plano inferior
compreende duas almofadas, na do lado
esquerdo com uma inscrição latina e na do
direito com a versão em português. Esta
lápide foi lavrada no arsenal da marinha,
levando o fabrico mais de três anos. 0
encarregado de a levar a Sagres, foi o
capitão-de-mar-e-guerra Lourenço Germach
Possolo. A colocação do monumento
realizou-se solenemente a 21 de Julho de
1840, assistindo a câmara municipal, o
capelão e a oficialidade de guarnição, o
governador da praça, e outras pessoas. Em
1844, o abade titular de Santa Eulália de
Rio de Moinhos, António Dâmaso de Castro e
Sousa, mais conhecido pelo abade de Castro,
requereu ao governo para ser colocada uma
estátua do infante D. Henrique na sala do
risco do arsenal de marinha, e sendo nomeada
uma comissão para estudar o assunto, decidiu
ela que a estátua devia ser levantada de
Belém. Afinal nada se fez, até que, na
sessão da Sociedade de Instrução no Porto,
realizada em 4 de Março de 1882, houve uma
proposta para que se erigisse uma estátua ao
grande navegador. Depois de muitos trabalhos
e contrariedades, constituiu-se em 1892 uma
grande comissão que dedicadamente trabalhou,
celebrando-se no Porto, sua terra natal, o
centenário do infante D. Henrique com toda a
solenidade e brilhantismo. Efectuaram-se as
festas nos dias 1, 2, 3 e 4 de Março de
1894, sendo os dias 3 e 4 considerados de
grande gala, por decreto de 28 de Fevereiro
de 1894. No dia 4 foi solenemente assente a
primeira pedra no momento, na praça do
Infante D. Henrique, assistindo a esta
cerimónia suas majestades el-rei senhor D.
Carlos e a rainha senhora D. Amélia,
representantes do governo, autoridades, etc.
0 monumento é obra do escultor Tomás Costa,
e inaugurou-se, também com a assistência da
família real, em31 de Outubro de 1900.
Publicou-se no Porto em 1894 um livro, 0
centenário do infante D. Henrique,
comemorativo do centenário henriquino,
profusamente ilustrado, com muitos artigos e
notícias curiosas. Em Londres, no ano de
1868, publicou-se uma grandiosa obra
intitulada: The life of Prince Henry of
Portugal, surnamed the navigator, de que é
autor Richard Henry Major. No Archivo
Pittoresco, vol. IX vem a biografia do
infante D. Henrique, escrita por Luís
Augusto Rebelo da Silva. Também se encontram
artigos no Summario de varia historia, do
Dr. José Ribeiro Guimarães, vol. IV, pág.
50; nos Varões e Donas; Occidente de 1894,
número dedicado ao centenário henriquino,
etc.
(Portugal - Dicionário Histórico,
Corográfico, Heráldico, Biográfico,
Bibliográfico, Numismático)
As Descobertas
As concepções do mar como fronteira entre o
mundo pacífico e ordenado da Cristandade e o
mundo inóspito dos monstros e dos excessos
da Natureza nem sempre excluem a preservação
de antigas tradições vindas da antiguidade
pagã, segundo as quais haveria para além do
mar desconhecido, ilhas de uma fecundidade
maravilhosa e com clima paradisíaco. É
verdade que elas se colocavam,
preferencialmente, nos mapas universais
anteriores ao século XlV, para os lados do
Oriente, isto é, na região que se
identificava com a das origens da
Humanidade, onde se situava também o Paraíso
terreal.
A caravela foi uma embarcação usada pelos
portugueses e espanhóis durante a Era dos
Descobrimentos. Segundo alguns historiadores
o vocábulo é de origem árabe carib
(embarcação de porte médio e de velas
triangulares — velame latino). De acordo com
outros, no entanto, a palavra seria derivada
de carvalho, a madeira usada para construir
as embarcações.
A caravela era um navio rápido, de fácil
manobra, apto para a bolina, de proporções
modestas e que, em caso de necessidade,
podia ser movido a remos. Eram navios de
pequeno porte, de dois mastros, um único
convés e ponte sobrelevada na popa;
deslocavam 50 toneladas. As velas «latinas»
(triangulares) eram duas vezes maiores que
as das naus, o que lhes permitia
ziguezaguear contra o vento e,
consequentemente, explorar zonas cujo regime
dos ventos era desconhecido. Apetrechada com
artilharia, a caravela transformou-se mais
tarde em navio mercante para o transporte de
homens e mercadorias.
Gil Eanes utilizou um barco de vela redonda,
mas seria numa caravela que Bartolomeu Dias
dobraria o Cabo da Boa Esperança, em 1488. É
de salientar que a caravela é uma invenção
portuguesa, em conjunto com os conhecimentos
que haviam adquirido dos árabes.
Cronologia dos Descobrimentos:
- 1418 – João Gonçalves Zarco
e Tristão Vaz Teixeira – descobrem a Ilha de
Porto Santo.
João Gonçalves Zarco
Fidalgo cavaleiro da casa do infante D.
Henrique, pertencente a uma família
distinta.
Seguiu desde muito novo a carreira marítima,
e por mais de uma vez exerceu o comando das
caravelas, que guardavam as costas do
Algarve. Quando o infante D. Henrique se
lançou no caminho das explorações marítimas,
João Gonçalves Zarco foi o primeiro que se
lhe ofereceu para o coadjuvar nesses
empreendimentos. Aproveitando o
oferecimento, o infante D. Henrique, em
1418, mandou preparar um barco, e
entregando-o a João Gonçalves Zarco e a
Tristão Vaz Teixeira, mandou-os ou demandar
terras desconhecidas, ou procurar umas ilhas
que já apareciam nos mapas, e a que teriam
aportado 50 ou 60 anos antes outros
navegadores portugueses. João Gonçalves
Zarco chegou depois dalguns dias de viagem,
à ilha que chamou de Porto Santo, voltando
logo a Portugal a dar conta do resultado da
sua expedição. O infante ficou
satisfeitíssimo, e tratou logo de colonizar
a ilha. Ordenou pois a João Gonçalves Zarco
e a Trintão Vaz Teixeira que voltassem a
Porto Santo, dando-lhes por companheiro
outro criado da sua casa, chamado Bartolomeu
Perestrelo. Foi nessa segunda viagem que
descobriram ou demandaram a ilha da Madeira,
saindo Tristão Vaz e Gonçalves Zarco do
Porto Santo no dia 1 de Julho de 1419, e
indo aportar à Madeira no ponto a que
chamaram de S. Lourenço, por ser de S.
Lourenço, também o nome do navio que os
conduzia. Fizeram depois em torno da ilha
uma viagem de circum-navegação, e foram
pondo nomes aos diferentes acidentes da
costa. Nessa viagem recebeu a principal baía
da ilha o nome de Baía do Funchal, e uma
grande lapa onde se escondiam muitos lobos
que os viajantes caçaram, o nome de Câmara
de Lobos, tomando desse sitio o próprio João
Gonçalves Zarco e os seus descendentes o
apelido de Câmara.
Voltando a Portugal, receberam os dois
navegadores do Infante o devido premio.
Confirmou a João Gonçalves Zarco o apelido
de Câmara, e deu-lhe por armas escudo em
campo verde, e nele uma torre de menagem com
cruz de ouro, e dois lobos-marinhos
encostados à torre com paquife e folhagens
vermelhas e verdes. e por timbre outro
lobo-marinho sentado em cima do paquife.
Além disso, dividindo a ilha em duas
capitanias, fez mercê duma delas, a do
Funchal, a João Gonçalves Zarco. Partiu este
para a sua ilha, depois de ter casado com
uma senhora por nome Constança Rodrigues de
Almeida, e todo se entregou à colonização da
sua maravilhosa propriedade. Não se esqueceu
contudo dos seus deveres de cavaleiro, nem
sobretudo da multa gratidão que devia ao
infante D. Henrique, e, quando este quis
tentar a expedição de Tanger, veio pôr-se à
sua disposição. No cerco de Tanger foi
armado cavaleiro pelo infante, e tendo
escapado com vida a essa desastrosa
expedição, tornou para a Madeira, onde,
aproveitando as ricas maltas que existiam
ali, fez construir alguns navios com que de
vez em quando auxiliou o infante nas suas
expedições de descobrimento para além do
cabo Bojador. Diz-se que foi ele, mas não se
sabe com que fundamento, o primeiro que pôs
a artilharia a bordo. Esses instrumentos
guerreiros eram então bem imperfeitos e de
bem pouco serviam, mas, assim como eram, se
alguém se lembrou de a pôr a bordo, foram de
certo portugueses que precisavam bem de
todos os meios de defesa que o génio humano
lhes pudesse sugerir para se defenderem nas
aventurosas expedições que tentavam contra
desconhecidos perigos. Os navios de Gonçalo
Zarco figuraram, como se disse, nos
descobrimentos para além do cabo Bojador, e
um sobrinho de Gonçalves Zarco, Álvaro
Fernandes, foi um dos nossos descobridores
mais felizes e audaciosos. João Gonçalves
Zarco morreu na segunda metade do século XV,
cheio de anos e de felicidades, deixando
filhos que foram tronco de algumas das mais
nobres famílias portuguesas. O ramo
principal da sua casa é hoje representado
pelos descendentes dos condes e marqueses da
Ribeira Grande.
Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico,
Heráldico, Biográfico, Bibliográfico,
Numismático e Artístico, Volume VII, pág.
722. Edição em papel em 1904-1915 João
Romano Torres – Editor.
- 1419 – Os mesmos e Bartolomeu Perestrelo –
descobrem a Ilha da Madeira.
- 1431 – Gonçalo Velho Cabral – descobre a
Ilha de Santa Maria.
- 1434 – Gil Eanes – dobra o Cabo Bojador.
Durante anos, o nome de Gil Eanes deixa de
aparecer na Crónica dos Feitos da Guiné,
embora não seja de duvidar que permaneceu ao
serviço do Infante e continuou a viver em
Lagos, onde o iremos encontrar alguns anos
mais tarde. As viagens portugueses à África
Ocidental sofreram uma pequena pausa (ou
abrandamento), no último quartel dos anos
trinta, mas foram retomadas no princípio da
década de quarenta, com resultados que
pareciam ter uma importância económica
significativa (sobretudo a captura de
escravos), ao ponto de motivarem a
iniciativa privada para armar navios e levar
a cabo algumas expedições. A primeira delas
tem lugar no ano de 1444, é proposta por um
tal Lançarote (“almoxarife de el-Rei naquela
vila de Lagos”) e leva como segunda figura e
capitão de um dos navios, Gil Eanes, “aquele
que escrevemos que primeiramente passara o
cabo Bojador” – como diz o cronista. São
seis caravelas que se dirigem à Ilha das
Garças, a sul dos Baixos de Arguim, onde
Nuno Tristão já tinha estado no ano
anterior. A expedição tinha objectivos
essencialmente comerciais, mas isso não era
incompatível com a exploração de algumas das
ilhas mais a sul, sobre as quais, aliás, já
havia informações concretas de que era
possível fazer grande número de cativos,
como viria a acontecer. Em Naar e Tider, com
relativa facilidade, deram caça aos mouros
que andavam desprevenidos em fainas de
pesca, ou que viviam perto da costa. A zona
não é fácil para a navegação com as
caravelas, mas à custa dos batéis e com
saídas bruscas obtiveram o maior número de
escravos que alguma vez tinha sido feito por
qualquer expedição portuguesa. No dia 8 de
Agosto de 1444 – um dia após a sua chegada –
teve lugar no terreiro, defronte da porta da
vila, a macabra partilha duma mercadoria que
se viria a tornar habitual. Dois anos
depois, o mesmo Lançarote volta a pedir ao
Infante para organizar nova expedição,
apresentando-lhe como argumento o mal que os
mouros daquela ilha de Tider vinham fazendo
aos portugueses, e propondo-se destruir o
seu poder, com o mesmo sentido da cruzada
que já estivera presente Ceuta e em todas as
campanhas contra os mouros do Norte de
África. O Infante aceita a proposta e a
expedição forma-se com 14 navios, um dos
quais comandado por Gil Eanes, que viria a
ser o porta estandarte na batalha travada na
Ilha, e da qual saíram vitoriosos. Embora
seja claro e notório que Lançarote colocara
nesta expedição os mesmos objectivos que
tivera em 1444, e estava disposto a
prosseguir a sua caça aos escravos, o
Infante definira a batalha como a missão
fundamental da esquadra, autorizando o
regresso dos capitães que não quisessem
continuar a aventura. Gil Eanes foi um dos
regressou imediatamente, alegando a
fragilidade do seu navio e a proximidade do
Inverno. Não voltamos a ter notícias dele,
mas é normal que tenha continuado a viver em
Lagos, pois era ali que tinha os seus
negócios e a sua vida, sempre ligada ao mar.
Luís Jorge Semedo de Matos
- 1435 – Gil Eanes e Afonso Gonçalves
Baldaia – Atingem a Angra dos Ruivos,
descobrem o Rio do Ouro e chegam à Pedra da
Galé.
Afonso Gonçalves Baldaia era natural do
Porto e copeiro-mor do Infante D. Henrique.
Acompanhou Gil Eanes, que em 1434 dobrara o
cabo Bojador, na sua expedição de 1435, que
atingiu a Angra dos Ruivos. Chefiou em 1436
uma expedição que chegou ao rio do Ouro,
tendo aí desembarcado e explorado o sertão,
com a ajuda de dois moços fidalgos, Heitor
Homem e Diogo Lopes de Almeida, mas não
conseguiu levar a cabo a incumbência dada
pelo Infante de achar gente com fosse
possível comunicar. Trouxe, porém, consigo
uma série de observações que muito
contribuíram para o progresso da ciência
geográfica em Portugal. Em 1437, D. Duarte
nomeia-o almoxarife das sisas e direitos
reais do seu almoxarifado do Porto. O nome
Baldaia volta a encontrar-se cerca de 1450
entre os povoadores da região das Lajes, na
ilha Terceira.
- 1443 – Nuno Tristão – Dobra o Cabo Branco
e chega à Ilha de Arguim.
- 1443 – Dinis Dias atinge a costa da Guiné
e chega ao Cabo Verde
- 1443 – Álvaro Fernandes – Descobre o Cabo
dos Mastros.
- 1460 – Diogo Gomes e António da Nola –
Descobrem o arquipélago de Cabo Verde.
Diogo Gomes de Sintra
Diogo Gomes, que terá nascido nos finais do
primeiro quartel do século XV, pertencia à
casa senhorial do infante D. Henrique
[1394-1460]. Esteve envolvido nas viagens de
descobrimento portuguesas, tendo
nomeadamente efectuado uma expedição à
Madeira. Em 1445, participou com Gil Eanes e
com Lançarote de Freitas na grande frota
mercantil que largou de Lagos com destino ao
litoral africano. Anos mais tarde, em 1556,
navegou até aos rios da Guiné ao serviço do
Infante. No retorno desta expedição, teria
visitado algumas das ilhas até então
desconhecidas do arquipélago de Cabo Verde.
Por volta de 1460 voltou à região da Guiné,
em nova expedição mercantil e de
descobrimento, decerto ainda ao serviço do
infante D. Henrique. Aquando da morte do
Navegador , ocorrida em finais de 1460,
Diogo Gomes foi encarregado pela coroa
portuguesa de proceder à trasladação dos
restos mortais de Lagos para o Mosteiro da
Batalha. A partir de então, recebeu diversas
mercês de el-rei D. Afonso V [r.1438-1481],
tendo desempenhado diversas funções
administrativas, como as de almoxarife e de
vedor dos Paços Reais em Sintra, razão pela
qual é por vezes designado como Diogo Gomes
de Sintra. À volta de 1485, Diogo Gomes
redigiu uma circunstanciada relação das
primeiras viagens portuguesas de
descobrimento através do Atlântico e ao
longo da costa ocidental de África, que
então permaneceu manuscrita, com o título de
De prima inventione Guynee . Durante muito
tempo supôs-se que Diogo Gomes teria ditado
a sua narrativa em português ao alemão
Martim Behaim [c.1436-1507], que então
residia em Portugal, e que este a teria
traduzido para latim. Contudo, recentes
investigações linguísticas revelam que o
latim do texto original, o qual faz parte do
chamado Manuscrito de Valentim Fernandes ,
conservado em Munique, não seria da
responsabilidade de um alemão, devendo-se
antes a um redactor português. Assim,
poderia ter sido o próprio Diogo Gomes a
redigir em latim o relato Do primeiro
descobrimento da Guiné . O navegador
henriquino faleceu em data incerta, por
volta de 1500. A sua relação constitui uma
fonte essencial para a história das
primeiras viagens de descobrimento lançadas
a partir do Algarve.
Diogo Gomes de Sintra - Edição de Aires
A. Nascimento & Henrique Pinto Rema -
Lisboa: Edições Colibri, 2002
- 1460 – João de Santarém e Pedro Escobar –
Descobrem as Ilhas de São Tomé e Príncipe.
João de Santarém, a quem se atribui o
descobrimento das ilhas do S. Tomé e
Príncipe, e duma boa parte da costa da
África Ocidental.
Em cumprimento do contrato que fizera com D.
Afonso V, Fernão Gomes da Mina mandou em
1740 Pedro de Escobar e João de Santarém
descobrir novas terras. As que descobriram
foram a costa da Mina, a de Benin, a do
Calabar e a do Gabão, e além disso as ilhas
de S. Tomé e Príncipe. Depois nunca mais
apareceu na história o nome de João de
Santarém.
- 1471 – Fernando Pó – Descobre as Ilhas de
Fernando Pó e Ano Bom.
- 1481 – Diogo de Azambuja – Constrói a
fortaleza de São Jorge da Mina.
- 1482 – Diogo Cão – Chega à foz do Rio
Zaire ou Congo.
Sobre a vida de Diogo Cão pouco se conhece,
sendo escassas e ambíguas as informações que
nos restam, à semelhança do que se passa com
as viagens pelas quais é recordado. Ao
certo, apenas se sabe que a sua família se
instala em Vila Real e que ele se torna
escudeiro da Casa Real. O francês Eustache
de la Fosse identifica-o como um dos
capitães portugueses que patrulham o golfo
da Guiné, cerca de 1480. Entre 1482 e 1486
realiza, provavelmente, duas ou três viagens
de exploração da costa africana a sul do
Cabo de Santa Catarina. Na primeira dessas
viagens atinge a foz do rio Congo, que
explora mais de uma centena de quilómetros
para o interior, até á catarata de Ielala
onde manda fazer uma inscrição numa rocha. A
extensão e amplitude do rio leva-o a
acreditar que acaba de contornar a África e
de atingir o Índico. Dessa convicção informa
o rei Dom João II após o seu regresso a
Lisboa em Março ou Abril de 1484, que o
recompensa com o título de cavaleiro.
Para sul do rio Congo
Dom João II, acreditando que o caminho para
a Índia está aberto, envia novamente o
navegador com a missão até mais adiante e
explorar o acesso ao Índico. Ao mesmo tempo,
na Oração de Obediência que envia ao papa
Inocêncio VIII e que é lida em Roma por
Vasco Fernandes de Lucena em 11 de Dezembro
de 1485, o monarca vangloria-se do facto dos
seus navios estarem à porta da Índia. Mas,
na viagem (ou viagens) que então realiza, em
1485-86, Diogo Cão constata o seu erro, ao
verificar que a costa africana se prolonga
bastante para sul da foz do Congo. O limite
meridional das suas viagens é atingido em
Janeiro de 1486, em 22º 10' de latitude sul,
quando chega à chamada Serra Parda. De volta
a Lisboa, comunica a sua nefasta descoberta
a Dom João II. Em seguida desaparecem
quaisquer menções à sua pessoa na
documentação. Este facto é explicado pela
sua eventual morte ou pelo seu afastamento
da Corte, por imposição do rei, insatisfeito
com o equívoco cometido.
As dúvidas
Existe desacordo quanto ao número exacto das
viagens realizadas por Diogo sobre a sua
rigorosa datação. Os cronistas coevos
contradizem-se: João de Barros e Rui de Pina
garantem que foram duas viagens, Duarte
Pacheco Pereira e António Galvão afirmam ter
sido apenas uma. Outros autores arriscam a
existência de uma terceira viagem. Na
verdade, boa parte do que se julga conhecer
sobre as viagens de Diogo Cão depende dos
padrões que deixa ao longo do seu trajecto e
das respectivas inscrições, assim como da
toponímia incluída cartas como uma de
Cristóforo Soligo, datada de cerca de 1486,
da carta Martellus e do globo de Martim
Behaim, de 1492. De qualquer forma, é
incontroversa a importância das suas
navegações na preparação da circum-navegação
de África. É também com as suas viagens que
se inicia a prática de assinalar com padrões
em pedra as terras descobertas pelos
portugueses e que se estabelecem os
primeiros contactos com o rei do Congo.
Tratado de Tordesilhas
- 1487 – Bartolomeu Dias – Dobra o Cabo das
Tormentas ou da Boa Esperança.
Barlolomeu Dias
Célebre navegador português,
descendente de Dinis Dias. Ignora-se onde e
quando nasceu.
Em 1486, confiou-lhe D. João II o
comando de duas caravelas, de 50 toneladas
cada uma, para ir colher notícias do Prestes
João.
Descobriu primeiro a angra dos Ilhéus,
hoje baía de Spencer, e o cabo das Voltas.
Assaltou-o em seguida violento temporal.
Treze dias andaram os navegantes à mercê do
vento e das ondas. Quando o tempo serenou,
procuraram costa para leste e só encontraram
mar.
Navegaram então para o norte e foram
descobrindo diversos portos. Não quiseram,
porém, as tripulações passar além de um rio,
a que foi dado o nome de rio do Infante, e
obrigaram o capitão a retroceder. Foi só
então que descobriram o grande cabo, que
haviam dobrado sem dar por tal (1487).
Aí levantou Bartolomeu Dias o padrão
chamado de São Filipe, e ao cabo deu o nome
de Tormentoso, que D. João II substituiu
pelo de Boa Esperança.
Bartolomeu Dias acompanhou, em 1500,
Pedro Álvares Cabral na famosa viagem em que
este descobriu o Brasil. Quando a frota
seguia para a Índia, o navio, em que ia
Bartolomeu Dias, naufragou (1500) e o
valente marinheiro achou a morte junto do
mesmo cabo da Boa Esperança, de que fora
glorioso descobridor, verificando-se assim o
vaticínio do gigante Adamastor em Os
Lusíadas.
- 1498 – Vasco da Gama – Descobre o Caminho
Marítimo para a Índia.
- 1500 – Pedro Álvares Cabral – Descobre a
Terra de Santa Cruz (Vera Cruz) Brasil.
- 1501 – João Fernandes Labrador – Descobre
a Terra do Labrador.
- 1501 – Gaspar Corte Real – Descobre a
Terra Nova.
Gaspar Corte Real
Corte-Real nome de uma família distinta de
navegadores dos séculos XV e XVI com o nome
ligado ao descobrimento da Terra Nova, cerca
do ano de 1472, por João Vaz Corte Real,
navegador português que para além desta
expedição organizou ainda outras viagens que
o terão levado até à costa da América do
Norte, explorando desde as margens do Rio
Hudson e São Lourenço até ao Canadá e
Península do Labrador.
Em 1474 foi nomeado capitão-donatário de
Angra e a partir de 1483, também da Ilha de
S. Jorge. Os seus três filhos, todos
navegadores audaciosos, Gaspar Corte-Real,
Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real,
continuaram o espírito de aventura de seu
pai tendo os dois primeiros desaparecido
depois de expedições marítimas, em 1501 e
1502 respectivamente. Vasco Anes quis ir em
busca de seus irmãos mas o Rei não lhe
concedeu autorização, tendo sucedido a seu
pai como Capitão-Donatário.
Quem foi o primeiro Navegador a descobrir o
Canadá? E a América?
Hoje aceita-se que João Vaz Corte Real possa
ser considerado como o primeiro europeu que
chegou à Costa Americana, pelo menos, mais
de vinte anos antes de Colombo.
filho mais novo, Gaspar, em 1500 fez a sua
primeira viagem à Terra Nova (New Found Land)
então chamada "Terra dos Corte-Reais".
Partiu em 1501 numa segunda expedição ao
Continente Americano e nunca mais voltou. O
outro filho Miguel, partiu em 1502 em busca
de seu irmão e também nunca mais foi visto.
Um médico Luso-Americano, o Dr. Manuel
Luciano da Silva, que como Historiador e
Pesquisador amador, viu e reconheceu em Fall
River, Massachusetts, prova vastamente
ignorada de que Miguel Corte-Real ali esteve
em 1511.
Essa prova é constituída por uma grande
pedra (Dighton Rock) em que se podem ver
vários escudos em V com cruzes idênticas às
usadas nas velas das Naus e Caravelas
Portuguesas, o nome Miguel Corte Real e a
data 1511.
Depois de gravada, a pedra Dighton esteve
500 anos ao "sabor dos ventos e das marés".
A erosão é tremenda, estando a pedra muito
maltratada. Sempre que maré subia, a tapava
quase totalmente, e sempre que descia e a
destapava os ventos arrastavam areias que a
desgastavam. No Inverno os gelos, no Verão o
Sol, sempre as ondas, e ainda, humanos, que
lá escrevinharam coisas. O pior foi o
vandalismo humano até 1974 quando a pedra
foi colocada dentro de um pavilhão fechado.
Em 1818 O Professor Delabarre da Browns
University, escreveu (Em inglês): "Eu vi
clara e indubitavelmente, a data 1511.
Ninguém até à data a viu, ou detectou na
pedra ou em fotografia, mas uma vez vista, a
sua presença genuína não pode ser negada".
O Dr. Manuel Luciano da Silva compreendeu a
importância desta descoberta e tornou-se o
seu Moderno Paladino.
O Doutor dedicou muitos anos da sua vida, a
sua considerável influencia e muito do seu
dinheiro, para que a pedra Dighton fosse
reconhecida como testemunha de facto
histórico significante e salva do seu
ambiente destrutivo.
E, finalmente em 1973, a sua instância, um
pavilhão octogonal foi construído para
abrigar a pedra, e hoje existe o Museu da
Pedra Dighton, no que se tornou um Parque
Estatal.
O Dr. Silva escreveu dois livros e muitos
artigos, e tem feito centenas de palestras
para disseminar esta informação.
- 1502 – João da Nova – Descobre as Ilhas de
Ascensão e Santa Helena.
Fidalgo da Galiza que veio servir para
Portugal, onde el-rei D. Manuel o fez
alcaide de Lisboa.
Pouco depois do descobrimento da índia, e
depois de ter partido para o Oriente a
esquadra de Pedro Alvares Cabral, el-rei D.
Manuel entendeu que devia contratar com
alguns mercadores o armarem e carregarem
também navios para a Índia, proposta que
logo vários negociantes estrangeiros
residentes em Lisboa aceitaram com alegria,
sendo o primeiro que fez esse contrato um
florentino chamado Bartolomeu Manhione.
Armou ele um navio, o rei armou três, e a
esquadra composta destas quatro embarcações,
foi confiada ao comando de João da Nova,
saindo de Lisboa a 5 de Março de 1501. Era a
terceira esquadra que partia para a índia,
considerando-se como primeira a da
descoberta. No caminho seguiu rumo muito ao
ocidente como fizera Alvares Cabral, e assim
descobriu a ilha da Ascensão. João da Nova
primeiro deu-lhe o nome de ilha da
Conceição, e foi Afonso de Albuquerque quem
depois o mudou para o de ilha da Ascensão.
Chegando à Índia fundou uma nova feitoria,
em Cananor, alegrou muito os portugueses que
Álvares Cabral deixara na índia e que não
esperavam tão cedo navios da Europa, porque
não supunham que partisse de Lisboa uma nova
esquadra antes do ter regressado a de
Alvares Cabral, e derrotou a esquadra de
Calecut que se quisera opor à sua passagem,
e que João da Nova levou adiante de si
varejando a com a sua artilharia,
afundando-lhe um ou dois navios a cada
descarga, e maravilhando e aterrando esses
pobres orientais, que não supunham que uma
pequena esquadra de quatro navios pudesse
praticar semelhantes façanhas. Voltando a
Portugal com uma boa carregação de pimenta e
de outras especiarias, João da Nova
descobriu um caminho nos mares da Africa
Ocidental, uma nova ilha, a de Santa Helena,
que depois se tornou tão afamada, por estar
ali cativo o grande Napoleão. Em 1505 partiu
do novo para a índia com o vice-rei D.
Francisco de Almeida. Apenas chegou a Cochim,
porém, teve serias desavenças com D.
Francisco, porque este lhe não quis
reconhecer a nomeação que levava para
capitão-mor da primeira esquadra que tivesse
do se fazer ao mar. Pediu então licença para
voltar ao reino, e chegou a Lisboa ainda a
tempo de tornar à índia como capitão de um
dos navios da esquadra do Afonso de
Albuquerque, esquadra que foi de conserva
com a de Tristão da Cunha até Socotorá. O
navio comandado por João da Nova era um dos
melhores desse tempo, e chamava-se Flor de
la mar. Em Socotorá separaram-se as duas
esquadras, seguindo Tristão da Cunha para a
índia, e Afonso de Albuquerque para o Mar
Vermelho, afim de cruzar no estreito do
Bal-el-Mandeb e assaltar as naus de Meca.
Era essa uma nova empresa lucrativa que
sorria muito aos seus capitães, mas Afonso
de Albuquerque tinha outra empresa em mente,
mil vezes mais gloriosa, a da conquista de
Ormuz. Tristão da Cunha, ao separar-se,
devia deixar-lhe mantimentos suficientes,
mas não deixou, e Afonso de Albuquerque
aproveitou esse facto de menos lealdade do
capitão-mor, para começar a pôr em execução
os seus projectos. Declarou que precisava de
ir procurar mantimentos à Arábia, e, como os
não podia obter senão à viva força, assaltou
vitoriosamente com esse pretexto Calayate,
Curiate e Mascate. Os capitães não
estranharam isso muito, e acompanharam-no
sem murmurar, mas quando viram que ele
prosseguia nessa empresa de assaltar as
cidades da Arábia (porque o seu plano era o
de chegar a Ormuz precedido duma reputação
terrível) começaram a recalcitrar, e João da
Nova, o mais orgulhoso e o mais
insubordinado de todos, pediu-lhe licença
para partir para a Índia. Afonso de
Albuquerque declarou-lhe que não podia
prescindir do seu navio. João da Nova
mostrou-se descontente, soltando palavras
descomedidas, e Afonso de Albuquerque
prendeu-o, dando-lhe por menagem a sua nau.
Em seguida foi tomar Orcafate, e nesse
ataque resgatou João da Nova com a sua
bravura a sua insubordinação. Apareceu enfim
diante de Ormuz, e ali estabeleceu o nosso
domínio. (V. Albuquerque, Afonso de,
Portugal, vol. I, pag. 130 e seguintes). Os
capitães mostravam-se descontentes, e
esperavam ansiosos que Afonso de Albuquerque
se resolvesse a ir em busca das naus de
Meca, que em tal não pensava, tratando
placidamente de construir a sua fortaleza. O
descontentamento foi aumentando até que se
transformou quase em revolta aberta. Os
capitães mostravam-se insolentes e eram os
primeiros a incitar as tripulações a
sublevar-se. João da Nova era um dos chefes
deste movimento revolucionário. Um dia
Afonso de Albuquerque ordenou-lhe que fosse
a uma expedição à terra firme, e João da
Nova respondeu que não ia. Intimado para
dizer a razão daquela recusa, replicou que a
tripulação não queria ir, e ele não havia de
ir sozinho. Então Afonso de Albuquerque, num
ímpeto de cólera, foi à nau de João da Nova,
onde a tripulação estava efectivamente
revoltada, e pegando na espada dum grumete
obrigou os tripulantes a embarcarem nos
escaleres, e como João da Nova hesitava,
puxou-lhe pelas barbas e também o obrigou a
embarcar. João da Nova chorava de raiva e de
vergonha ao lembrar-se de semelhante
insulto, mas naquele momento não fez senão
obedecer, e corno ele obedeceram os
marinheiros, tal era o prestigio da energia
de Afonso de Albuquerque, tal foi a
influencia quase sobre-humana que Afonso de
Albuquerque soube exercer naquele momento
verdadeiramente terrível, em que jogava a
sua vida e a sua autoridade. Os capitães não
pensaram mais em se revoltarem, mas pensaram
em desertar; contudo, João da Nova ficara
por tal maneira subjugado pela energia do
seu comandante, que não foi o primeiro que
desertou, apesar de ser o mais queixoso.
Desertaram os seus três colegas mesmo de
Ormuz, e ficaram sós ele e Afonso de
Albuquerque. Vendo o grande capitão a
impossibilidade de continuar com dois navios
em Ormuz, foi então cruzar para o cabo
Guardafui. Dali lhe fugiu João da Nova, que
foi levar as suas queixas ao vice-rei D.
Francisco de Almeida. A intriga foi
formidável; conseguiu semear no espírito
daqueles dois importantes vultos a discórdia
e a desconfiança. D. Francisco de Almeida
chegou a prender Afonso de Albuquerque,
apesar dele estar nomeado governador da
índia. Foi preciso que D. Fernando Coutinho,
indo do reino, fizesse reconhecer a
autoridade de Afonso de Albuquerque para D.
Francisco de Almeida ceder. João da Nova já
então não tomava parte na luta que se
travara entre o vice-rei e o governador;
adoecera gravemente, vindo a falecer em
Cochim em 1509. Afonso de Albuquerque,
apesar dos muitos agravos que dele tinha,
acompanhou o seu enterro com sinais de
grande sentimento.
Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico,
Heráldico, Biográfico, Bibliográfico,
Numismático e Artístico, Volume Y, págs.
130-131 . Edição em papel © 1904-1915 João
Romano Torres – Editor
- 1502 – Fernando Noronha – Descobre a Ilha
de Fernando Noronha.
Fernão de Noronha, também chamando Fernando
de Noronha ou Fernão de Loronha (século XV -
século XVI), foi um judeu português
convertido ao catolicismo (cristão-novo).
Rico empreendedor, comerciante e armador.
Juntamente com outros cristãos-novos,
comerciantes portugueses, obteve concessão
para explorar os recursos naturais do Brasil
durante três anos e em 1503 obteve da Coroa
o contrato para exploração do pau-brasil, a
valiosa madeira de tinturaria. O consórcio
financiou a expedição de Gonçalo Coelho em
1503 que em 24 de Julho descobriu a
magnífica ilha que mais tarde tomaria seu
nome. Em 1506, Noronha e os sócios extraíram
das novas terras mais de 20 mil quintais de
pau-brasil, vendidos em Lisboa com um lucro
de 400% a 500%.Em 1511, associado a
Bartolomeu Marchioni, Benedito Morelli e
Francisco Martins, participou da armação da
nau Bretoa, que a 22 de Julho retornou a
Portugal com uma carga de 5 mil toras de
pau-brasil, animais exóticos e 40 escravos,
mulheres em sua maioria.
Como consequência do contrato e da expedição
de Gonçalo Coelho, o rei D. Manuel I
(1495-1521) doou, em 1504, a Fernão de
Noronha, a primeira «capitania do mar» no
litoral : a ilha de São João da Quaresma,
actual Fernando de Noronha.
Em 1532, foi por D. João III (1521-1557)
feito fidalgo de cota de armas.
- 1509 – Fernão de Magalhães (ao serviço de
Espanha) – Faz a 1ª viagem de
circum-navegação à Terra.
- 1542 – João Rodrigues Cabrilho – (Ao
serviço de Espanha) Descobre a Califórnia,
na costa do Pacífico.
João Rodrigues Cabrilho (também conhecido
como Juan Rodríguez Cabrillo) foi um
navegador e explorador português do século
XVI.
Ao serviço da coroa espanhola efectuou
importantes explorações marítimas no Oceano
Pacífico (costa Oeste dos actuais U.S.A.) e
terrestres na América do Norte, participando
na conquista da Capital Azteca de
Tenochtitlan, com o conquistador espanhol
Hernán Cortés em 1521, participou também com
Pedro de Alvarado e mais 300 europeus, na
conquista dos territórios que compreendem
hoje as Honduras, Guatemala e San Salvador,
entre 1523 e 1535, ajudando a fundar Oaxaca
(um dos 31 Estados do México).
Ao serviço da Espanha João Rodrigues, no mês
de Junho do ano de 1542, largou amaras de
Navidade na costa Oeste do México, navegando
para o Norte, e três meses depois alcançou a
Baia de San Diego, tornando-se o primeiro
europeu a desembarcar no que é actualmente o
Estado da Califórnia.
A nacionalidade portuguesa de João Rodrigues
não oferece dúvidas, pois é o próprio
cronista e Chefe das Índias Espanholas, D.
António Herrera y Tordesillas, que na sua
Historia General de los hechos de los
Castellanos en lás Islas y tierra firme del
Mar Oceano o confirma, ao dizer ter ; D.
António de Mendonça aprestado os navios "São
Salvador” e “Victoria” para prosseguirem na
exploração costeira da Nova Espanha “y que
nombrô por Capitan dellos a Juan Rodriguez
Cabrillo Português, persona muy platica en
las cosas de la mar”, embora alguns
biógrafos e historiadores, em especial Harry
Kelsey, afirmem que Juan Rodríguez Cabrillo
tenha nascido em Sevilla (Espanha) em data
incerta. Morreu em 3 de janeiro de 1543 no
Sul do actual Estado americano da
Califórnia, desconhecendo-se o local da sua
sepultura.
Os dois maiores feitos das Descobertas,
foram sem dúvida o Caminha Marítimo para a
Índia e o Brasil.
Vasco da Gama - Descoberta do caminho
marítimo para a Índia
O projecto para o caminho marítimo para a
Índia foi delineado por D. João II como
medida de redução dos custos nas trocas
comerciais com a Ásia e tentativa de
monopolizar o comércio das especiarias. A
juntar à cada vez mais sólida presença
marítima portuguesa, D. João almejava o
domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em
Império. Porém, o empreendimento não seria
realizado durante o seu reinado. Seria o seu
sucessor, D. Manuel I que iria designar
Vasco da Gama para esta expedição, embora
mantendo o plano original.
Porém, este empreendimento não era bem visto
pelas altas classes. Nas Cortes de
Montemor-o-Novo de 1495 era bem patente a
opinião contrária quanto à viagem que D.
João II tão esforçadamente havia preparado.
Contentavam-se com o comércio da Guiné e do
Norte de África e temia-se pela manutenção
dos eventuais territórios além-mar, pelo
custo implicado na expedição e manutenção
das rotas marítimas que daí adviessem. Esta
posição é personificada na personagem do
Velho do Restelo que aparece, n'Os Lusíadas
de Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque
da armada.
El-Rei D. Manuel não era dessa opinião.
Mantendo o plano de D. João II, mandou
aparelhar as naus e escolheu Vasco da Gama,
cavaleiro da sua casa, para capitão desta
armada. Curiosamente, segundo o plano
original, D. João II teria designado seu
pai, Estêvão da Gama, para chefiar a armada;
mas a esta altura tinham ambos já falecido.
A 8 de Julho de 1497 iniciava-se a expedição
semi-planetária que terminaria dois anos
depois com a entrada da nau Bérrio rio Tejo
adentro, trazendo a boa-nova que elevaria
Portugal, durante décadas, ao imortal
prestígio marítimo.
Iniciava-se, assim, a expedição a 8 de Julho
de 1497. A linha de navegação de Lisboa a
Cabo Verde foi a habitual e no Oceano Índico
é descrita por Álvaro Velho: «rota costeira
até Melinde e travessia directa deste porto
até Calecute». Durante esta expedição foram
determinadas latitudes através da observação
solar, como refere João de Barros.
Relatam os Diários de Bordo das naus muitas
experiências inéditas. Encontrou esta
ansiosa tripulação rica fauna e flora.
Fizeram contacto perto de Santa Helena com
tribos que comiam lobos-marinhos, baleias,
carne de gazelas e raízes de ervas; andavam
cobertos com peles e as suas armas eram
simples lanças de madeira de zambujo e
cornos de animais; viram tribos que tocavam
flautas rústicas de forma coordenada, o que
era surpreendente perante a visão dos negros
pelos europeus. Ao mesmo tempo que o
escorbuto se instalava na tripulação,
cruzavam-se em Moçambique com palmeiras que
davam cocos.
Apesar das adversidades de uma viagem desta
escala, a tripulação mantinha a curiosidade
e o ânimo em conseguir a proeza e conviver
com os povos. Para isso reuniam forças até
para assaltar navios em busca de pilotos.
Com os prisioneiros, podia o capitão-mor
fazer trocas, ou colocá-los a trabalhar na
faina; ao rei de Mombaça pediu pilotos
cristãos que ele tinha detido e assim trocou
prisioneiros. Seria com a ajuda destes
pilotos que chegariam a Calecute, terra tão
desejada, onde o fascínio se perdia agora
pela moda, costumes e riqueza dos nativos.
Sabe-se, por Damião de Góis, que durante a
viagem foram colocados cinco padrões em
mármore: São Rafael, no rio dos Bons Sinais;
São Jorge, em Moçambique, Santo Espírito, em
Melinde; Santa Maria, nos Ilhéus, e São
Gabriel, em Calecute. Estes monumentos
destinavam-se a afirmar a soberania
portuguesa nos locais para que outros
exploradores não tomassem as terras como por
si descobertas.
A entrada em Calecute sofreu alguma
oposição, também devido ao patrocínio dos
mercadores árabes que queriam manter os
Europeus afastados. A perseverança de Vasco
da Gama fez com que se iniciassem, mesmo
assim, as negociações entre ele e o samorim,
de onde resultava uma carta comprobatória do
encontro que dizia:
«Vasco da Gama, fidalgo da vossa casa, veio
à minha terra, com o que eu folguei. Em
minha terra, há muita canela, e muito cravo
e gengibre e pimenta e muitas pedras
preciosas. E o que quero da tua é ouro e
prata e coral e escarlata».
A 12 de Julho de 1499, depois de mais de
dois anos do início desta expedição, entra a
caravela Bérrio no rio Tejo, comandada por
Nicolau Coelho, com a notícia que iria
emocionar Lisboa: os portugueses chegaram à
Índia pelo mar. Vasco da Gama tinha ficado
para trás, na ilha Terceira, preferindo
acompanhar o seu irmão, gravemente doente,
renunciado assim aos festejos e felicitações
pela notícia.
Das naus envolvidas, apenas a São Rafael não
regressou, pois teria sido queimada por
incapacidade de a manobrar, consequência do
reduzido número a que se via a tripulação no
regresso, fruto das doenças responsáveis
pela morte de cerca de metade da tripulação,
como o escorbuto, que se fez sentir mais
afincadamente durante a travessia do Oceano
Índico.
Vasco da Gama retornava ao país em 29 de
Agosto e seria recebido pelo próprio rei D.
Manuel I com contentamento que lhe atribuía
o título de Dom e grandes recompensas. Fez
Nicolau Coelho fidalgo da sua casa, assim
como a todos os outros, conforme os serviços
que haviam prestado.
D. Manuel I apressa-se a dar a notícia aos
reis de Espanha, numa exibição orgulhosa do
feito e para avisar, simultaneamente, que as
rotas seriam doravante exploradas pela Coroa
Portuguesa.
A Descoberta do Caminho Marítimo para a
Índia, despertou inimizades a Portugal:
parafraseando o que diz Luís Adão da
Fonseca, Vasco da Gama trazia da Índia para
o reino uma excelente notícia que se
consubstanciava no cumprimento da missão,
mas trazia uma má notícia: o comércio de
especiarias não podia ser feito de forma
pacífica e sossegada, comprando, trocando e
vendendo produtos. No Oriente, os árabes
tinham-se apercebido do perigo que
representava aquela presença portuguesa e
não tardaram a instigar o Samorim de Calecut
contra estes intrusos que podiam dar-lhes
cabo do negócio. Outros insatisfeitos com a
descoberta do caminho marítimo para a Índia
eram certamente os italianos e, sobretudo,
os venezianos que complementavam o comércio
árabe, distribuindo a partir do Mediterrâneo
os produtos orientais.
Digamos pois que Portugal arranjara alguns
inimigos com a abertura da via do Cabo da
Boa Esperança e com a hipótese de colocar na
Europa as especiarias e outras riquezas
asiáticas, a preços muito mais baixos dos
que vinham a ser praticados. A estadia de
Vasco da Gama na Índia, e a animosidade que
aí se levantou, mostrava isso mesmo, e os
meses que se seguem a esta triunfal chegada
são meses de debate intenso, para encontrar
uma estratégia adequada que impusesse a
presença portuguesa no Oriente.
Muita gente continua a pensar que a empresa
no Oriente é uma loucura de ambição
desmedida: o Norte de África, o Mediterrâneo
e o Atlântico, são os espaços que interessam
a Portugal, para os quais lhe escasseiam já
as forças; e o Oriente é apenas um dispersar
inútil de esforços. Mas o rei estava
decidido a levar a cabo essa empresa, para a
qual tinha poderosos aliados financeiros e
ideológicos: o negócio da especiaria era
tentador e a empresa tinha o mesmo cunho de
cruzada que animara os cavaleiros medievais
e que servira de motor na guerra em
Marrocos. Para além disso, D. Manuel
sentia-se um predestinado para grandes
feitos, um escolhido por Deus - como já
tivemos ocasião de referir. Portanto a
decisão de continuar era a mais provável,
mas os resultados da viagem de Vasco da Gama
traziam algumas reservas quanto à forma de
entrar nos negócios da Índia. Havia pois que
tomar opções.
É de crer que duas posições se tenham
configurado: uma de pendão mais militar, que
promovia uma entrada em força, para dominar
os poderes locais, obrigá-los a uma
vassalagem ao rei de Portugal e controlar o
comércio; e outra mais diplomática, que
privilegiava a vertente negocial,
continuando a acreditar que era possível ir
à Índia comprar especiaria sem fazer a
guerra. Nesta fase, não me parece possível
que outras posições estivessem em jogo,
porque as informações continuavam a ser
muito escassas. Vasco da Gama saiu do
Malabar sob ameaça de navios locais e tinha
observado a animosidade do Samorim, por
isso, é provável que se sentisse mais
inclinado para a guerra; mas essa guerra
apresentava-se em Lisboa com contornos
difusos e incertos, parecendo um esforço
desmesurado para as capacidades do país.
Certamente que aqueles que apontavam a via
de África usavam este argumento a seu favor
e pressionavam o rei.
Como sabemos, D. Manuel enviou nova esquadra
à Índia em Março de 1500, e os preparativos
devem ter começado muito tempo antes. Pedro
Álvares Cabral saiu com 13 navios, que não
se aprontam em meia dúzia de meses. Podemos,
pois, concluir que era uma intenção anterior
à chegada de Vasco da Gama. Porém, a decisão
de nomear Cabral para a comandar foi tomada
pouco tempo antes da partida, e talvez seja
esse o mais significativo sinal da hesitação
do rei, quanto às características da
empresa. Não seria lógico que o comando
recaísse em quem tinha experiência dos
tratos orientais? Treze navios representam
um poder naval apreciável para a época e
para as circunstâncias. O que teria feito
Vasco da Gama, com essa força naval, em
frente de Calecut?... Pensando nas
humilhações que aí já tinha sofrido,
parece-me natural que se inclinaria mais
para a guerra do que para a diplomacia. Mas
a opção do rei foi outra: depois de se saber
que a Rota do Cabo era possível e de terem
sido analisadas as notícias do que ocorrera
na Índia, D. Manuel decidiu enviar uma
esquadra numerosa, que, talvez, tivesse o
objectivo de impressionar os poderes locais
e mostrar a força do rei português, mas que
ainda se destinava a negociar e comprar
especiarias. Ainda não estava tomadauma
decisão clara pela via da guerra no Oriente
- que, seguramente, era defendida por Vasco
da Gama – e o balanceamento pela nomeação de
um ou outro capitão é a expressão visível
das alternativas em jogo. As principais
ordens militares portuguesas – sobretudo
Santiago e Cristo – alinham-se neste debate
estratégico, desde o primeiro momento, e,
muitas vezes, a escolha de postos de comando
teve a ver com a influência de uma ou outra
ordem junto do poder real. Neste caso,
parece ser claro que a nomeação de Cabral
corresponde a uma vitória da Ordem de
Santiago, contra a nomeação de Vasco da Gama
que representaria a posição da Ordem de
Cristo.
J. Semedo de Matos - CTEN FZ
Pedro Álvares Cabral- a caminho da Índia,
aportou terra de Vera Cruz (Brasil)
Acredita-se nascido em Belmonte, na Beira
Baixa, Portugal. Foi o terceiro filho de
Fernão Cabral, governador da Beira e
alcaide-mor de Belmonte, e de Isabel de
Gouveia de Queirós. Assim, seu nome original
teria sido Pedro Álvares Gouveia, pois
geralmente apenas o primogénito herdava o
sobrenome paterno. Posteriormente, com a
morte do irmão mais velho, teria passado a
ser Pedro Álvares Cabral. A 15 de Fevereiro
de 1500 - quando recebeu de D. Manuel I, a
carta de nomeação para capitão-mor da armada
que partiria para a Índia - já usava o
sobrenome paterno.
Páginas portuguesas dizem de sua nobreza,
que remontaria a um terceiro avô, Álvaro Gil
Cabral, alcaide-mor do Castelo da Guarda sob
os reis D. Fernando (1367-1383) e D. João I
(1385-1433), da dinastia de Avis. Teria
recebido por mercê as alcaidarias dos
castelos da Guarda e Belmonte, com
transmissão à descendência. Eram terras
fronteiras da Espanha, de pastorícia, origem
dos símbolos das cabras passantes do escudo
de armas da família Cabral.
Aos 11 anos de idade mudou-se para o Seixal
(onde ainda hoje existe a Quinta do Cabral),
estudando em Lisboa: literatura, história,
ciência como, por exemplo, cosmografia,
aptidões marinheiras, além de artes
militares. Na corte de D. João II
(1481-1495), onde entrou como moço fidalgo,
aperfeiçoou-se em cosmografia e marinharia.
Com a subida ao trono de D. Manuel I em
1495, foi agraciado com o foro de fidalgo
do Conselho do Rei, o hábito de cavaleiro da
Ordem de Cristo e uma tença, pensão em
dinheiro anual. Casou-se com D. Isabel de
Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque,
aumentando sua fortuna - pois a de seu pai
devia dividir com os dez irmãos.
Em 1499, Pedro Álvares Cabral disse ao rei
D. Manuel l que estava com muita vontade de
descobrir o Brasil, então ele o nomeou
capitão-mor da primeira armada que se
dirigiria à Índia após o retorno de Vasco da
Gama. Teria então cerca de 33 anos. Foi a
mais bem equipada do século XV, integrada
por dez naus e três caravelas, transportando
de 1.200 a 1.500 homens, entre funcionários,
soldados e religiosos. Deveria desempenhar
funções diplomáticas e comerciais junto ao
Samorim, reerguendo a imagem de Portugal,
instalando um entreposto comercial ou
feitoria e retornar com grande quantidade de
mercadorias.
Integrada por navegadores experientes, como
Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, a armada
partiu de Lisboa a 9 de Março de 1500. A 22
de Abril, após 43 dias de viagem e tendo-se
afastado da costa africana, avistou o Monte
Pascoal no litoral sul da Bahia. Muitas
pessoas ignoram esse fato, mas a primeira
coisa que Cabral fez ao colocar um pé no
Brasil foi pôr o outro, senão ele caía. No
dia seguinte, houve o contacto inicial com
os nativos. A 24 de Abril, seguiu ao longo
do litoral para o norte em busca de abrigo,
fundeando na actual Baía de Santa Cruz
Cabrália, nos arredores de Porto Seguro,
onde permaneceu até 2 de Maio.
Cabral tomou posse, em nome da Coroa
portuguesa, da nova terra, a qual denominou
de Terra de Vera Cruz, e enviou uma das
embarcações menores com as notícias,
inclusive a famosa carta de Caminha, de
volta ao reino. Retomou então a rota de
Vasco da Gama rumo às Índias. Ao cruzar o
cabo da Boa Esperança, quatro de seus navios
se perderam, entre os quais, ironicamente, o
de Bartolomeu Dias, navegador que o
descobrira em 1488.
Chegaram a Calicute a 13 de Setembro, depois
de escalas no litoral africano. Cabral
assinou o primeiro acordo comercial entre
Portugal e um potentado na Índia. A feitoria
foi instalada mas durou pouco: atacada pelos
muçulmanos em 16 de Dezembro, nela pereceram
cerca de 30 portugueses, entre os quais o
escrivão Pêro Vaz de Caminha. Depois de
bombardear Calicute e apresar barcos árabes,
Cabral seguiu para Cochim e Cananor, onde
carregou as naus com especiarias e produtos
locais e retornou à Europa. Chegou em Lisboa
a 23 de Junho de 1501. Foi aclamado como
herói, não obstante o facto de, das 13
embarcações, terem regressado apenas seis.
Convidado para comandar nova expedição ao
Oriente, desentendeu-se com o monarca acerca
do comando da expedição e recusou a missão,
vindo a ser substituído por Vasco da Gama.
Não recebeu mais nenhuma outra missão
oficial até ao fim da vida. Faleceu
esquecido e foi sepultado na Igreja da Graça
cidade de Santarém, segundo alguns em 1520,
e outros, em 1526.
Casou-se em 1503 com D. Isabel de Castro,
sobrinha de Afonso de Albuquerque, deixando
descendência. Em 1518, era cavaleiro do
Conselho Real. Foi senhor de Belmonte e
alcaide-mor de Azurara.
Cabral, lembrado pelos brasileiros como
aquele que "descobriu" o Brasil, não recebeu
do rei as mesmas honrarias outorgadas a
Vasco da Gama. No Brasil, é o grande
homenageado a cada dia 22 de Abril.
Foram-lhe erguidos um monumento na cidade do
Rio de Janeiro e outro em Lisboa, na avenida
que tem o seu nome; de igual modo, sua terra
natal o homenageou
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
– Marinha Grande – Portugal