Ulisses (em grego Odusseus),
personagem grego, rei lendário de Ítaca,
filho de Laerte, pai de Telémaco e esposo de
Penélope, um dos principais heróis do cerco
de Tróia, onde se distinguiu pela sua
prudência e sagacidade. O regresso de
Ulisses à pátria constitui o trama de
Odisseia.
Segundo uma lenda, Ulisses, nas suas
viagens veio ao território ibérico do
litoral Atlântico e fundou no Tejo uma
cidade Ulissipo, hoje Lisboa.
“Lisboa ! Velha e nobre Ulisseia de
um país tão pequeno e tão grande,
simultaneamente !Das tuas sete colinas fala
a história inteira. E sempre que em ti
penso, vêm-me à lembrança os versos heróicos
de um poeta quase desconhecido nos dias de
hoje mas que no seu tempo foi muito grande:
refiro-me a Gabriel Pereira de Castro, o
autor de um glorioso poema épico, intitulado
“Ulisseia ou Lisboa Edificada” (1955) que
começa assim:
As armas e o varão que os mal
seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano
Que por perigos e trabalhos duros
Eternizou seu nome soberano.
A Grã Lisboa e seus primeiros muros
(Da Europa e largo Império Lusitano
Auto cabeça) se eu pudesse tanto
A Pátria, ao Mundo, à Eternidade
canto
Lembra-me, musa, as cousas e me
inspira
Como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira
Chegou ao Tejo à túmida corrente;
Ouvirá o som da lusitana lira
O negro acaso e lúcido oriente
Se tu dás a ser a meu sujeito falto
Para que caiba em mim furor tão alto
!
Aparece na Ilíada como diplomata e
guerreiro lúcido, tão prudente quanto
Aquiles e violento e arrebatado. É o autor
do estratagema do cavalo de madeira, que
marca toda a interpretação de sua figura de
homem “dos mil ardis”. A Odisseia o mostra
sob múltiplas luzes, Sófocles fez dele um
cínico (Filoctete), Eurípides um demagogo (Hécuba
o Ciclope), Platão o protótipo do mentiroso
(Hípias menor), Shakespeare o modelo do
político (Troilo e Créssida) e Giraudoux o
ancestral de todos os embaixadores cépticos
e indeferentes (A guerra de Tróia não
acontecerá). Dante fê-lo chegar ao XXVl
círculo do Inferno como ao termo de uma
busca do desconhecido e do absoluto que ele
teria compreendido durante toda sua vida.
Estima-se que a Ilíada (de Ílion,
Tróia) e a Odisseia tenham aparecido, a
primeira ao redor dos anos 750-725 a .C.; a
segunda entre os anos de 743-713 a. C.,
ambas escritas pelo poeta cego Homero (que
viveu no século 8 a.C.). Era uma história
que transitava oralmente de geração em
geração e preservada pelos aedos dos tempos
arcaicos, até que finalmente mereceu a
conversão à escrita. Enquanto uma, a Ilíada,
celebra a guerra, a outra, a Odisseia, é um
poema do mar, um grande épico sobre os
assombros enfrentados pelos marinheiros
gregos, sintetizados no mitológico Ulisses,
em suas peripécias pelo mundo salgado. A
Ilíada com 15.693 versos abrigados em 24
cantos, e a Odisseia com 12.110 contidos em
24 rapsódias, formam o mais extenso poema
épico da língua ocidental e, além de
educarem por séculos os gregos, foram o
ponto referencial de toda a literatura
ocidental que se seguiu deste então.
A Volta de Ulisses
Após vinte longos anos longe de casa,
Ulisses emociona-se ao pisar novamente o
solo de Ítaca. Um jovem pastor acolhe-o. Na
verdade, sob esse disfarce oculta-se a deusa
Atena, sua amiga, que lhe explica estar
reinando muita desordem em toda a ilha.
Os habitantes acreditam que Ulisses morreu,
e um grupo de jovens pôs na cabeça que é
preciso substituí-lo no trono. Instalados no
palácio de Ulisses como se estivessem em
casa, acham que a rainha Penélope deve
casar-se com um deles. Querem que Penélope
escolha, mas, já há alguns anos, ela
inventou um estratagema para evitar esse
matrimónio. Prometeu tomar sua decisão
quando completasse a tapeçaria que estava
tecendo. Mas a cada noite, escondida, a
rainha desmancha o que teceu durante o dia.
A deusa também conta a Ulisses que Telémaco,
o filho do herói, partiu à procura do pai.
Depois, ela transforma Ulisses num velho
mendigo, irreconhecível, e leva-o à casa de
Eumeu, o guardador de porcos. Ulisses
hospeda-se lá durante alguns dias, enquanto
Atena procura Telémaco e o traz para junto
do pai. É um momento de muita emoção para
Ulisses, que deixou um bebé e reencontra um
homem. Pai e filho abraçam-se e traçam um
plano. Telémaco então volta ao palácio.
Na manhã seguinte, Ulisses, disfarçado em
seus trajes de mendigo apresenta-se no
palácio. Um velho cachorro que está deitado
no pátio levanta-se e fareja Ulisses quando
este se aproxima. O cheiro lhe é familiar,
embora pouco distinto. De repente, o cão
Argos reconhece Ulisses, o bondoso dono que
não vê há tanto tempo. É alegria demais para
o pobre animal: ele cai morto ali mesmo.
Ulisses enxuga uma lágrima e entra no
palácio. Lá, os pretendentes bebem e
banqueteiam-se. Acolhem o mendigo com
zombarias e injúrias. Mesmo depois de
receber uma pancada, Ulisses refreia sua
cólera. Sofre em silêncio os insultos que
lhe são dirigidos em sua própria casa.
Euricléia, uma criada que foi sua
ama-de-leite, aproxima-se dele para
lavar-lhe os pés, como mandam as leis da
hospitalidade. Graças a uma velha cicatriz,
logo reconhece seu rei e está a ponto de
dirigir-lhe a palavra, mas ele faz um sinal
para que a criada se cale.
Ao amanhecer, Ulisses é despertado por
barulhos estranhos: um choro no quarto de
Penélope e gritos na sala em que os
pretendentes, embriagados, planejam
assassinar Telémaco.

Descobriram a artimanha
de Penélope e resolveram obrigá-la a
escolher um marido.
Fazem uma grande reunião na sala do trono.
Altivamente, Penélope declara que só poderia
casar-se com um homem tão valoroso quanto
Ulisses. Ela propõe uma prova: ficará com
aquele que for capaz de retesar o arco do
herói e de fazer pontaria com tanta
exactidão que a flecha atravesse os
orifícios de doze lâminas de machado
alinhadas. Os pretendentes precipitam-se,
mas a prova é muito difícil. Nenhum deles
consegue sequer retesar o arco.
Então, o repugnante mendigo pede que o
deixem participar do concurso. É uma
gargalhada só... Todo mundo ri das
pretensões do pobre vagabundo.
Imperturbável, Ulisses pega o arco, ajusta a
flecha, retesa a sem esforço e atira. A
flecha atravessa os doze círculos.
Ninguém mais acha graça.
Na mesma hora, Ulisses joga longe o disfarce
e recupera a aparência normal. Telémaco e
Eumeu aproximam-se, armados com dardo. Uma
imensa tempestade abate-se sobre Ítaca bem
no momento em que Ulisses, ajudado pelo
filho, abate a flechadas todos os
pretendente.
Penélope ainda hesita. Não consegue
reconhecer seu marido, que ela não vê há
vinte anos. Então, pede às criadas que
preparem no sal de banquetes o leito de
Ulisses, para ali dormir aquele que, a seu
olhos, não passa de um mendigo.
Ulisses fica furioso. Construiu aquela cama
com suas próprias mãos, e ninguém pode
desmontá-la.
– Aliás – diz ele –, não há como tirá-la do
lugar, pois uma das suas colunas é uma
oliveira viva...
Por causa desse detalhe, do qual só ela e o
marido sabiam, Penélope finalmente reconhece
Ulisses. O herói está contentíssimo com a
fidelidade da mulher e a valentia do filho.
Depois de saborear alguns momentos de
repouso ao lado deles, retoma seus encargos
soberano. Devolve a calma e a prosperidade a
Ítaca. Dali em diante se os deuses quiserem,
Ulisses, Penélope e Telémaco viverão felizes
e tranquilos.
Fonte: QUESNEL, Alain. A Grécia. Mitos e
lendas.
A figura de Ulisses transcendeu o
âmbito da mitologia grega e se converteu em
símbolo da capacidade do homem para superar
as adversidades. Segundo a versão
tradicional, Ulisses (em grego, Odisseu)
nasceu na ilha de Ítaca, filho do rei
Laerte, que lhe legou o reino, e Anticléia.
O jovem foi educado, como outros nobres,
pelo Centauro Quirão e passou pelas provas
iniciáticas para tornar-se rei. A vida de
Ulisses é relatada nas duas epopeias
homéricas, a Ilíada, em cuja estrutura coral
ocupa lugar importante, e a Odisseia, da
qual é o protagonista, bem como no vasto
ciclo de lendas originadoras dessas obras.
Depois de pretender sem sucesso a mão de
Helena, cujo posterior rapto pelo tebano
Páris desencadeou a guerra de Tróia, Ulisses
casou-se com Penélope. A princípio resistiu
a participar da expedição dos aqueus contra
Tróia, mas acabou por empreender a viagem e
se distinguiu no desenrolar da contenda pela
valentia e prudência. A ele deveu-se,
segundo relatos posteriores à Ilíada, o
ardil do cavalo de madeira que permitiu aos
gregos penetrar em Tróia e obter a vitória.
Terminado o conflito, Ulisses iniciou o
regresso a Ítaca, mas um temporal afastou-o
com suas naves da frota. Começaram assim os
vinte anos de aventuras pelo Mediterrâneo
que constitui o argumento da Odisseia.
Durante esse tempo, protegido por Atena e
perseguido por Poséidon, cujo filho, o
Ciclope Polifemo, o herói havia cegado,
conheceu incontáveis lugares e personagens:
a terra dos lotófagos, na África
setentrional, e a dos lestrigões, no sul da
Itália; as ilhas de Éolo; a feiticeira
Circe; e o próprio Hades ou reino dos
mortos. Ulisses perdeu todos os companheiros
e sobreviveu graças a sua sagacidade. Retido
vários anos pela ninfa Calipso, o herói pôde
enfim retornar a Ítaca disfarçado de
mendigo. Revelou sua identidade ao filho
Telémaco e, depois de matar os pretendentes
à mão de Penélope, recuperou o reino,
momento em que conclui a Odisseia. Narrações
posteriores fazem de Ulisses fundador de
diversas cidades e relatam notícias
contraditórias acerca de sua morte. No
contexto da mitologia helénica, Ulisses
corresponde ao modelo de marujo e
comerciante do século VII a.C. Esse homem
devia adaptar-se, pela astúcia e o bom
senso, a um mundo cada vez mais complexo e
em contínua mutação. A literatura ocidental
perpetuou, como símbolo universal da
honradez feminina, a fidelidade de Penélope
ao marido, assim como achou em Ulisses e
suas viagens inesgotável fonte de
inspiração.
Neste trabalho falámos de:

Centauros
Na mitologia grega, os centauros
eram a personificação das forças naturais
desenfreadas, da devassidão e embriaguez.
Centauro era um animal fabuloso, metade
homem e metade cavalo, que habitavam as
planícies da Arcádia e da Tessália. Seu mito
foi, possivelmente, inspirado nas tribos
semi-selvagens que viviam nas zonas mais
agrestes da Grécia. Segundo a lenda, era
filho de Ixíon, rei dos lápitas, e de Nefele,
deusa das nuvens, ou então de Apolo e Hebe.
Em ambos os casos parece clara a alusão às
águas torrenciais e aos bosques. A história
mitológica dos centauros está quase sempre
associada a episódios de barbárie.
Convidados para o casamento de Pirítoo, rei
dos lápitas, os centauros, enlouquecidos
pelo vinho, tentaram raptar a noiva,
desencadeando-se ali uma terrível batalha. O
episódio está retratado nos frisos do
Pártenon e foi um motivo frequente nas obras
de arte pagãs e renascentistas. Os centauros
também teriam lutado contra Hércules, que os
teria expulsado do cabo Mália. Nem todos os
centauros apareciam caracterizados como
seres selvagens. Um deles, Quirão, foi
instrutor e professor de Aquiles, Heráclito,
Jasão e outros heróis, entre os quais
Esculápio. Entretanto, enquanto grupo, foram
notórias personificações da violência, como
se vê em Sófocles. Nos tempos helénicos se
relacionavam frequentemente com Eros e
Dionísio. As representações primitivas dos
centauros os mostram como homens aos quais
se acrescentava a metade posterior de um
cavalo. Mais tarde, talvez para realçar seu
carácter bestial, só o busto era humano. Foi
esta a imagem que se transmitiu ao
Renascimento.
.
ILÍADA
A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o
primeiro verso, é o motivo central da
Ilíada, epopeia do poeta grego Homero, que
inicia a literatura narrativa ocidental.
Relato de um dos episódios da guerra de
Tróia, travada entre gregos e troianos, a
acção da Ilíada se situa no nono ano depois
do começo da guerra, a qual duraria um ano
mais, e abarca no conjunto cerca de 51 dias.
O título deriva de Ílion, nome grego de
Tróia. O poema é constituído por 15.693
versos, em 24 cantos de extensão variável. A
divisão em cantos foi feita pelos filólogos
de Alexandria. A Ilíada narra um drama
humano, o do herói Aquiles, filho da deusa
Tétis e do mortal Peleu, rei de Ftia, na
Tessália, em torno do fim da guerra dos
gregos contra Tróia. Segundo a lenda, a
guerra foi motivada pelo rapto de Helena,
esposa do rei de Esparta, Menelau, por Páris,
filho do rei Príamo, de Tróia. Agamenon,
chefe dos exércitos gregos, arrebatara a
Aquiles, o mais valoroso dos guerreiros
gregos, sua cativa Briseide. Em protesto,
Aquiles retirou-se para o acampamento com
seus guerreiros, e recusou-se a entrar em
combate. É nesse momento que tem início a
Ilíada, com o verso "Canto, ó deusa, a
cólera de Aquiles". Para apaziguar Aquiles,
Agamenon envia-lhe mensageiros, com o pedido
de que entre na luta. Aquiles recusa-se e
Agamenon com seus homens entram no combate.
Os troianos tomam de assalto as muralhas
gregas e chegam até os navios. Aquiles
concorda em emprestar a armadura a seu amigo
Pátroclo, que repele os troianos mas é morto
por Heitor. Cheio de dor pela morte do
amigo, Aquiles esquece a divergência com os
gregos e investe contra os troianos, vestido
com uma armadura feita por Hefesto, deus das
forjas. Consegue fazer recuar para dentro
dos muros da cidade todos os troianos, menos
Heitor, que o enfrenta, mas aterrorizado
pela fúria de Aquiles, tenta fugir. Aquiles
o persegue e finalmente atravessa-lhe com a
lança a garganta, única parte descoberta de
seu corpo. Agonizante, Heitor pede-lhe que
não entregue seu cadáver aos cães e às aves
de rapina, mas Aquiles nega piedade, e
depois de atravessar sua garganta mais uma
vez com a lança, ata-o pelos pés a seu carro
e arrasta o cadáver em volta do túmulo de
Pátroclo. Somente com a intervenção de Zeus,
Aquiles aceita devolver o cadáver a Príamo,
rei de Tróia e pai de Heitor. O poema
termina com os funerais do herói troiano.
Alguns dos personagens da Ilíada, em
particular Aquiles, encarnam o ideal heróico
grego: a busca da honra ao preço do
sacrifício, se necessário; o valor
altruísta; a força descomunal mas não
monstruosa; o patriotismo de Heitor; a fiel
amizade de Pátroclo; a compaixão de Aquiles
por Príamo, que o levou a restituir o
cadáver de seu filho Heitor. Nesse sentido,
os heróis constituem um modelo, mas o poema
mostra também suas fraquezas - paixões,
egoísmo, orgulho, ódio desmedido. Toda a
mitologia helénica, todo o Olimpo grego, com
seus deuses, semideuses e deidades
auxiliares, estão maravilhosamente
descritos. Os deuses, que mostram vícios e
virtudes humanas, intervêm constantemente no
desenvolvimento da acção, alguns em favor
dos aqueus, outros em apoio aos troianos.
Zeus, o deus supremo do Olimpo, imparcial,
intervém apenas quando o herói ultrapassa os
limites, ao proporcionar o tenebroso
espectáculo de passear à volta de Tróia
arrastando o cadáver mutilado de Heitor. O
poema encerra grande volume de dados e
pormenores geográficos, históricos,
folclóricos e filosóficos, e descreve com
perfeição os modelos de conduta e os valores
morais da sociedade do tempo em que foi
escrita a obra. Uma questão muito discutida
é o fundo histórico do ciclo da guerra de
Tróia. Possivelmente, sua origem remonta a
reminiscências da luta, travada antes da
invasão dória, no século XII a.C., entre
povos de cultura micénica, como os aqueus, e
um estado da Anatólia, o de Tróia. É
historicamente comprovada a existência de
estabelecimentos micénicos na Anatólia, sem
que se conheçam as causas possíveis da
guerra. O mundo helénico a que se refere a
Ilíada não parece circunscrever-se ao de uma
época cronológica determinada. É muito
provável que as lendas foram incorporando
elementos de diferentes etapas da
civilização, no curso de sua transmissão
oral e até textual. Aponta-se, por exemplo,
a descrição de armamentos e técnicas
militares, e até rituais, correspondentes a
diferentes períodos históricos, desde o
micénico a aproximadamente meados do século
VIII a.C. Salvo alguns prováveis acréscimos
atenienses, nenhum dado ultrapassa esse
período, o que reforça a tese de que o poema
foi redigido nesse último período. A língua
e o estilo homéricos foram em grande medida
herdados da tradição épica. Por esse motivo,
a língua, basicamente o dialeto jónico, com
numerosos elementos eólios, é um tanto
artificial e arcaizante, e não corresponde a
nenhuma modalidade falada normalmente. A
métrica empregada é o hexâmetro, verso
tradicional na épica grega.

ODISSÉIA
Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra
iniciadora da literatura grega escrita, a
Odisseia, de Homero, expressa com força e
beleza a grandiosidade da remota civilização
grega. A Odisseia data provavelmente do
século VIII a.C., quando os gregos, depois
de um longo período sem dispor de um sistema
de escrita, adoptaram o alfabeto fenício. Na
Odisseia ressoa ainda o eco da guerra de
Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O
título do poema provém do nome do
protagonista, o grego Ulisses (Odisseu).
Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e
marido de Penélope, Ulisses é um dos heróis
favoritos de Homero e já aparece na Ilíada
como um homem perspicaz, bom conselheiro e
bravo guerreiro. A Odisseia narra as viagens
e aventuras de Ulisses em duas etapas: a
primeira compreende os acontecimentos que,
em nove episódios sucessivos, afastam o
herói de casa, forçado pelas dificuldades
criadas pelo deus Poséidon. A segunda consta
de mais nove episódios, que descrevem sua
volta ao lar sob a protecção da deusa Atena.
É também desenvolvido um tema secundário, o
da vida na casa de Ulisses durante sua
ausência, e o esforço da família para
trazê-lo de volta a Ítaca. A Odisseia
compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro
(seis sílabas), e a acção se inicia dez anos
depois da guerra de Tróia, em que Ulisses
lutara ao lado dos gregos. A ordem da
narrativa é inversa: tem início pelo
desfecho, a assembleia dos deuses, em que
Zeus decide a volta de Ulisses ao lar. O
relato é feito, de forma indirecta e em
retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces
- povo mítico grego que habitava a ilha de
Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que
conduzem Ulisses a Ítaca. O poema
estrutura-se em quatro partes: na primeira
(cantos I a IV), intitulada "Assembleia dos
deuses", Atena vai a Ítaca animar Telémaco,
filho de Ulisses, na luta contra os
pretendentes à mão de Penélope, sua mãe, que
decide enviá-lo a Pilos e a Esparta em busca
do pai. O herói porém encontra-se na ilha de
Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na
segunda parte, "Nova assembleia dos deuses",
Calipso liberta Ulisses, por ordem de Zeus,
que atendeu aos pedidos de Atena e enviou
Hermes com a missão de comunicar a ordem.
Livre do jugo de Calipso, que durou sete
anos, Ulisses constrói uma jangada e parte,
mas uma tempestade desencadeada por Poséidon
lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é
descoberto por Nausícaa, filha do rei
Alcínoo. Bem recebido pelo rei (cantos VI a
VIII), Ulisses mostra sua força e destreza
em competições desportivas que se seguem a
um banquete. Na terceira parte, "Narração de
Ulisses" (cantos IX a XII), o herói passa a
contar a Alcínoo as aventuras que viveu
desde a saída de Tróia: sua estada no país
dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a
luta com o ciclope Polifemo; o episódio na
ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus
companheiros provocam uma violenta
tempestade, que os arroja ao país dos
canibais, ao abrirem os odres em que estão
presos todos os ventos; o encontro com a
feiticeira Circe, que transforma os
companheiros em porcos; sua passagem pelo
país dos mortos, onde reencontra a mãe e
personagens da guerra de Tróia. Na quarta
parte, "Viagem de retorno", o herói volta à
Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII).
Apesar do disfarce de mendigo, dado por
Atena, Ulisses é reconhecido pelo filho,
Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que,
ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma
cicatriz. Assediada por inúmeros
pretendentes, Penélope promete desposar
aquele que conseguir retesar o arco de
Ulisses, de maneira que a flecha atravesse
12 machados. Só Ulisses o consegue. O herói
despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se
reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a
vingança de Ulisses (cantos XIV a XXIV): as
almas dos pretendentes são arrastadas aos
infernos por Hermes e a história termina
quando Atena impõe uma plena reconciliação
durante o combate entre Ulisses e os
familiares dos mortos. A concepção do poema
é predominantemente dramática e o carácter
de Ulisses, marcado por obstinação, lealdade
e perseverança em seus propósitos, funciona
como elemento de unificação que permeia toda
a obra. Aí aparecem fundidas ou combinadas
uma série de lendas pertencentes a uma
antiquíssima tradição oral com fundo
histórico. Há forte crença de que a Odisseia
reúna temas oriundos da época em que os
gregos exploravam e colonizavam o
Mediterrâneo ocidental, daí a presença de
mitos com seres monstruosos no Ocidente,
para eles ainda misterioso. Pela extrema
perfeição de seu todo, esse poema tem
encantado o homem de todas as épocas e
lugares. É consenso na era moderna que a
Odisseia completa a Ilíada como retrato da
civilização grega, e as duas juntas
testemunham o génio de Homero e estão entre
os pontos mais altos atingidos pela poesia
universal.

TRÓIA
A Ilíada, um dos épicos de Homero, narra a
guerra que causou a destruição da Tróia
lendária. A Tróia histórica constitui um dos
mais ricos e extensos sítios arqueológicos
do mundo antigo. Tróia é uma cidade
proto-histórica, actualmente identificada
com uma das nove cidades superpostas
descobertas na colina Hissarlik, na Turquia.
Foi erguida por colonos gregos, por volta do
ano 700 a.C., no estreito de Dardanelos, no
extremo noroeste da Anatólia, um local que
já havia sido ocupado por sucessivas
populações pré-helénicas. A lenda do
conflito entre aqueus e troianos pela posse
da cidade forneceu o argumento da Ilíada e
obras posteriores. Entre 1870 e 1890,
Heinrich Schliemann identificou o local da
antiga Tróia na colina de Hissarlik, e ali
descobriu sete cidades superpostas,
destruídas por guerras ou catástrofes.
Wilhelm Dörpfeld, que o auxiliava desde
1882, prosseguiu as escavações e identificou
restos de mais duas cidades. Os estudos que
o americano Carl William Blegen realizou
entre 1932 e 1938 confirmaram a existência
das nove cidades. Tróia I, o estrato mais
antigo, data de 3000 a 2600 a.C., primeira
fase do bronze antigo. É um pequeno recinto
fortificado com menos de cinqüenta metros na
parte mais larga. Tróia II, ainda bem
pequena e fortificada, tinha cem metros de
extensão máxima. Seria mais um castelo
simples, porém rico, destruído pelo fogo por
volta de 2300 a.C. Nesse estrato
descobriu-se jóias e objectos preciosos que
Schliemann, acreditando que se tratava da
Tróia homérica, denominou tesouro de Príamo.
Tróia III, IV e V foram cidades de
importância local que existiram no período
de 2300 a 1900 a.C., quando terminou o
bronze antigo. Tróia VI, bem mais importante
e rica, surgiu pouco antes de 1725 a.C. e
foi destruída por um terremoto em
aproximadamente 1275 a.C. De suas ruínas
ergueu-se Tróia VII- a verdadeira Tróia
épica, destruída por volta de 1200 a.C.
Tróia VIII é da época clássica da Grécia e
Tróia IX pertence ao período
helenístico-romano, quando Alexandre nela
fez um sacrifício dedicado a Aquiles, de
quem julgava descendente. No século IV d.C.,
desapareceram completamente os vestígios
históricos da cidade. Páris, filho do rei
Príamo de Tróia, raptara Helena, esposa de
Menelau, rei de Esparta e famosa por sua
beleza. Para se vingar, Menelau formou um
poderoso exército comandado por Agamenon e
no qual se destacaram Aquiles e Ulisses. O
cerco de Tróia, de dez anos, foi marcado por
feitos heróicos de ambos os lados, até que,
sob inspiração de Ulisses, os gregos
construíram um gigantesco cavalo de madeira
e o abandonaram perto das portas de Tróia,
fingindo uma retirada. Apesar dos presságios
de Cassandra, os troianos levaram para
dentro da cidade o cavalo, que trazia em seu
interior os guerreiros de Ulisses. Abertas
as portas, os gregos saquearam e destruíram
Tróia. O herói troiano Enéias, filho de
Vénus, escapou com alguns partidários e,
depois de muitas aventuras, se instalou no
Lácio. Os descendentes desse grupo deram
origem ao povo romano. É quase certo que a
lenda tenha um núcleo de verdade, mas é
impossível provar-lhe a historicidade. Uma
interpretação de documentos hititas, feita
em 1957, favoreceu a hipótese de que os
aqueus fossem um povo pré-helénico
originário da Europa. Na época de Tróia VI,
os aqueus, a partir da região, teriam se
espalhado pelo Egeu e formado colónias de
micenianos, de onde mais tarde saíram
conquistadores de Tróia VII-a. As frequentes
migrações de povos nessa época, no entanto,
não permitem comprovar a hipótese.

.
ATENA
Embora a mitologia lhe reservasse várias
atribuições, em todas elas Atena
personificava a serenidade e a sabedoria
características do espírito grego. Zeus,
segundo a Mitologia Grega, para evitar o
cumprimento de uma profecia, engoliu sua
amante grávida, a Oceânide Métis. Depois
ordenou a Hefesto que lhe abrisse a cabeça
com um golpe de machado e dela nasceu Atena,
já armada. Acredita-se que ela era
originalmente a deusa-serpente cretense,
protectora do lar. Adoptada pelos micénicos
belicosos, seu carácter tutelar completou-se
com o de guerreira. Finalmente,
transformou-se na deusa protectora de Atenas
e outras cidades da Ática. Como todos os
deuses do Olimpo, Atena tinha um carácter
dual: simbolizava a guerra justa e possuía
uma disposição pacífica, representando a
preponderância da razão e do espírito sobre
o impulso irracional. Em Atena residia a
alma da cidade e a garantia de sua protecção.
Na tragédia Euménides, Ésquilo deu expressão
acabada à figura sábia e prudente de Atena,
atribuindo-lhe a fundação do Areópago,
conselho de Atenas. O mito afirma que Atena
inventou a roda do oleiro e o esquadro
empregado por carpinteiros e pedreiros. As
artes metalúrgicas e os trabalhos femininos
estavam sob sua protecção; o culto a Atena
se baseava no amor ao trabalho e à cidade.
Seu principal templo, o Pártenon, ficava em
Atenas, onde anualmente celebravam-se em sua
honra as Panatenéias e davam-lhe o nome de
Atena Partênia. Foi representada por Fídias
na célebre estátua do Pártenon, de que se
conserva uma cópia romana do século II da
era cristã. Os relevos desse templo
apresentam sua imagem guerreira, com
capacete, lança, escudo e couraça. Os
romanos assimilaram-na à deusa Minerva (que,
com Juno e Júpiter, compunha a tríade
capitolina) e acentuaram ainda mais seu
carácter espiritual, como símbolo da
justiça, trabalho e inteligência.

POSÉIDON
As tempestades que, segundo Homero, Poséidon
provocou para evitar que Ulisses (Odisseu),
que o ofendera, retornasse à pátria, são um
exemplo característico do temperamento irado
que a Mitologia Grega atribuía a esse deus.
Poséidon (ou Posídon), deus grego dos mares,
era filho de Cronos, deus do tempo, e Réia,
deusa da fertilidade. Eram seus irmãos Zeus,
o principal deus do panteão grego, e Hades,
deus dos infernos. Quando os três irmãos
depuseram o pai e partilharam entre si o
mundo, coube a Poséidon o reino das águas.
Seu palácio situava-se no fundo do Mar Egeu
e sua arma era o tridente, com que provocava
maremotos, tremores de terra e fazia brotar
água do solo. Pai de Pégaso, o cavalo alado
gerado por Medusa, esteve sempre associado
aos equinos e por isso se admite que tenha
chegado à Grécia como deus dos antigos
helenos, que também levaram à região os
primeiros cavalos. O temperamento impetuoso
de Poséidon, cuja esposa era Anfitrite,
conduziu-o a numerosos amores. Como pai de
Pélias e Nereu, gerados pela princesa Tiro,
era o ancestral divino das casas reais de
Tessália e Messénia. Seus outros filhos
eram, na maioria, seres gigantescos e de
natureza selvagem, como Órion, Anteu e o
Ciclope Polifemo. Embora tenha perdido uma
disputa com Atena pela soberania da Ática,
foi também cultivado ali. Em sua honra
celebravam-se os Jogos Ístmicos,
constituídos de competições atléticas e
torneios de música e poesia, realizados a
cada dois anos no istmo de Corinto. Os
artistas plásticos acentuaram a ligação de
Poséidon com o mar e representaram-no como
um homem forte, de barbas brancas, com um
tridente na mão e acompanhado de golfinhos e
outros animais marinhos. A Mitologia Romana
identificou-o com o deus Neptuno.

CICLOPES
A construção das colossais muralhas das
antigas cidades micénicas foi uma das muitas
façanhas atribuídas aos ciclopes pela
mitologia grega. Segundo as lendas e obras
épicas da antiga Grécia, os ciclopes eram
gigantes monstruosos, de força descomunal,
que possuíam apenas um olho no meio da
testa. Para Hesíodo os ciclopes eram três,
filhos de Urano, o céu, e de Gaia, a terra.
Chamados Brontes, Estéropes e Arges,
forjaram os raios para Zeus e o ajudaram a
derrotar seu pai, Cronos. Homero os
descreveu na Odisseia como filhos de
Poséidon, deus das águas, pertencentes a uma
raça de pastores selvagens que habitavam a
longínqua ilha de Trinacria, provavelmente a
Sicília. Para escapar com vida da fúria dos
monstros, Ulisses cegou seu chefe, Polifemo.
Outros autores, inspirados em Hesíodo,
relatam que os ciclopes trabalharam como
ferreiros para Hefesto. Habitavam o monte
Etna e as profundezas vulcânicas e
realizaram importantes trabalhos para os
deuses, como o capacete de Hades e o
tridente de Poséidon. Também se atribuía a
eles o controle dos fenómenos atmosféricos,
a erupção dos vulcões e a edificação de
construções gigantescas irrealizáveis por
homens comuns. Segundo uma das lendas, foram
todos mortos por Apolo. São frequentes as
representações desses personagens míticos
nos vasos e baixos-relevos antigos; nas
pinturas de Pompeia, são representados com
os raios próprios dos deuses.

ÉOLO
A mitologia grega apresenta três personagens
com o mesmo nome de Éolo, cujas tradições se
confundem, o que acarreta certa confusão
para essa figura. Um dos heróis com o nome
de Éolo é o rei mítico da Magnésia, na
Tessália, filho de Helena e pai de Sísifo.
Foi o ancestral dos eólios e deu nome à
terra em que viviam, a Eólia, na costa oeste
da Anatólia. Seus filhos Cânace e Macareu
cometeram incesto e depois se suicidaram. A
história deles serviu de tema à tragédia
Éolo, de Eurípides, que se perdeu. O segundo
personagem de nome Éolo é neto do mesmo rei
da Magnésia e filho do deus Poséidon com
Melanipe. Quando esta deu à luz gêmeos, seu
pai mandou cegá-la, prendeu-a num calabouço
e expôs as crianças à intempérie. Teano,
esposa do rei da Icária, ameaçada de
abandono pelo marido por não conceber,
acolheu os dois, mas pouco depois deu também
à luz gêmeos. Mais tarde, sugeriu aos filhos
legítimos que matassem Éolo e Beoto, mas
como estes eram filhos de um deus, levaram a
melhor e mataram os filhos de Teano. O rei,
que preferia os adoptivos, soube da
verdadeira história, mandou matar Teano e
casou-se com Melanipe. Homero, na Odisseia,
fala de um Éolo, filho de Poséidon. Rei dos
ventos, acolheu Ulisses em sua ilha e
deu-lhe um odre, em que guardava os ventos
adversos. Em liberdade ficou apenas Zéfiro,
que soprava suavemente sobre as velas das
naus. Enquanto Ulisses dormia, seus
companheiros, à procura de vinho e de ouro,
abriram o odre e desencadearam uma tormenta
que acabou por devolvê-los à Eólia. Esse
episódio levou Éolo a pensar que os deuses
perseguiam Ulisses e seus companheiros e,
por isso, negara-lhes ajuda para prosseguir
viagem.

HADES
As escassas referências a Hades nas lendas
gregas, em comparação com os outros grandes
deuses, revelam o temor que essa divindade
infundia ao povo. Hades era filho de Cronos
e de Réia, irmão de Zeus e de Poseidon.
Destronado Cronos, coube a Hades o mundo
subterrâneo, na partilha que os três irmãos
fizeram entre si. Reinava, em companhia de
sua esposa Perséfone, sobre as forças
infernais e sobre os mortos, no que
frequentemente se denominava "a morada de
Hades" ou apenas Hades. Embora
supervisionasse o julgamento e a punição dos
condenados após a morte, Hades não era um
dos juízes nem torturava pessoalmente os
culpados, tarefa que cabia às Erínias. Era
descrito como austero e impiedoso,
insensível a preces ou sacrifícios,
intimidativo e distante. Invocava-se Hades
geralmente por meio de eufemismos, como
Clímeno (o Ilustre) ou Eubuleu (o que dá
bons conselhos). Seu nome significa, em
grego, "o invisível", e era geralmente
representado com o capacete que lhe dava
essa faculdade. O nome Plutão ("o rico" ou
"o distribuidor de riqueza"), que se tornou
corrente na religião romana, era também
empregado pelos gregos.

Helena de Tróia
Na mitologia grega, Helena de Tróia
era filha de Zeus e de Leda, irmã gémea da
rainha Clitemnestra, irmã de Castor e Pólux,
esposa do rei Menelau, com a reputação de
mulher mais bela do mundo. O seu rapto feito
pelo príncipe troiano Páris desencadeou uma
guerra. Após este acontecimento, foi
perdoada pelo marido, e levada de volta para
Argos, seu reino. Após a morte de Melenau,
foi expulsa do reino pelo seu própio filho,
Nicostrato. Foi morar com a rainha Polixo,
uma amiga. Certa vez, após tomar banho, foi
morta enforcada pela serva da rainha, que
estava com ódio mortal de Helena, pois havia
perdido seu marido na guerra.
Helena era filha de Zeus e Leda.
Helena casou com Menelau, rei de Esparta, e
na época que Páris veio visitá-los tinham
uma filha, Hermíone. Menelau recebeu Páris
muito bem em sua casa, mas Páris pagou esta
hospitalidade raptando Helena e fugindo com
ela de volta a Tróia. A participação de
Helena nesta situação é explicada de várias
maneiras: foi raptada contra a sua vontade,
ou Afrodite deixou-a louca de desejo por
Páris ou, a mais elaborada de todas, nunca
foi para Tróia, e foi por causa de um
fantasma que os gregos gastaram dez longos
anos em guerra.
Menelau, marido de Helena convocou todos que
podia para ajudá-lo a montar uma expedição
contra Tróia, de modo a recobrar sua esposa.
O líder da força grega era Agamenon, rei de
Micenas e irmão mais velho de Menelau. Os
heróis gregos afluíram de todos os cantos do
continente e das ilhas para o porto de Áulis,
o ponto de reunião a partir do qual
planejavam velejar através do Egeu até
Tróia.

Cavalo de Tróia
De acordo com a lenda associada à conquista
de Tróia pela Grécia, na chamada Guerra de
Tróia, um grande cavalo de madeira foi
abandonado junto às muralhas de Tróia.
Construído de madeira e oco em seu interior,
o cavalo abrigava alguns soldados gregos
dentro de sua barriga. Deixado na porta da
cidade pelos gregos, os Troianos acreditaram
que ele seria um presente como sinal de
rendição do exército. Após a morte de
Lacoonte, um grego que atirou um dardo no
cavalo, o presente entrou na cidade.
Durante a noite, os guerreiros deixaram o
artefacto, abriram os portões da cidade. O
exército grego pôde assim entrar sem esforço
em Tróia, tomar a fortaleza, destruí-la e
incendiá-la.
O cavalo de Tróia teria sido uma invenção de
Odisseu (o guerreiro mais sagaz da Ilíada e
personagem da Odisseia) e construído por
Epeu.
Apesar de ser parte da história da Guerra de
Tróia, o cavalo de Tróia só é descrito em
detalhes na Eneida, obra da literatura
latina que conta a fundação de Roma.
Após mais uma refrega, gregos e
troianos estão esfalfados, desorientados e
desanimados e voltam para suas bases – uns,
para o acampamento; os outros, para a
cidade. Depois da morte de Heitor e Aquiles,
os dois lados estão num impasse.
No lado grego, a exaustão faz-se sentir
amargamente. São dez anos desde que deixaram
a pátria para reaver Helena, mas, apesar de
todas as mortes e sofrimentos, Tróia
continua inconquistável. Esquecendo o antigo
entusiasmo, os mais cansados já falam em
voltar para casa. É mais que hora de fazer
alguma coisa, e, se a força não consegue
derrotar Príamo, talvez a astúcia seja a
solução.
Pelo menos, essa é a convicção de Ulisses.
Pacientemente, ele arquitecta um plano e,
debaixo do maior segredo, o propõe ao rei
Agamenon. Este ouve-o com atenção, dá alguns
palpites e resolve aceitar a proposta de
Ulisses.
Algum tempo mais tarde, enquanto todos os
aqueus dormem; um homem esgueira-se entre as
tendas e escapa da vigilância das
sentinelas. Muito ferido, deixa o
acampamento e, mancando, dirige-se a Tróia.
Ao chegar às portas da cidade, faz tanta
algazarra que os vigias, apesar de
desconfiados, acabam abrindo-as. O
desconhecido conta sua história:
– Eu me chamo Sínon e era prisioneiro dos
gregos. O esperto Ulisses e Agamenon
reduziram-me ao lamentável estado em que me
encontro. Mas consegui fugir e suplico que
me dêem asilo.
O homem é levado a Príamo, o qual, após
ouvi-lo, resolve oferecer-lhe a
hospitalidade e os cuidados de que
necessita. O velho e sábio soberano de Tróia
nem desconfia de que Sínon, primo de
Ulisses, é um espião e está ali para
destruir a cidade.
De manhã, do alto das muralhas os habitantes
de Tróia descobrem um espetáculo assombroso:
as tendas e os navios gregos desapareceram.
Até onde a vista alcança, não há mais nenhum
vestígio da presença dos aqueus. No entanto,
diante da maior porta da cidade ergue-se um
cavalo de madeira. Que significa uma coisa
dessas?
Mandam buscar Sínon, na esperança de que ele
possa explicar aquela situação esquisita. O
espião engana-as dizendo que os gregos,
cansados de lutar inutilmente, voltaram a
sua terra. O cavalo seria apenas um meio de
tentar garantir sua segurança durante a
viagem marítima – enquanto ele ficar fora da
cidade, os aqueus serão poupados pelas
tempestades. Se, porém, o cavalo entrar em
Tróia, toda a frota grega naufragará.
Os troianos dão gritos de alegria. Vão enfim
poder vingar-se daqueles que os fizeram
sofrer durante dez anos. Abrem os pesados
portões e apressam-se em trazer para dentro
o cavalo.
Cassandra, filha de Príamo, tem o dom de ler
o futuro. Ela prediz que, se os troianos
tomarem o cavalo, então as piores
catástrofes ocorrerão. Mas suas advertências
são motivo de descrédito de zombaria.
Os troianos começam a trabalhar, uns
empurrando e outros puxando o animal. Ao fim
de muito esforço, o colossal cavalo chega
dentro da cidade, diante do templo de Atena.
Quando a noite cai, os súditos de Príamo,
serenos, vão dormir. Enquanto descansam,
abre-se no ventre do cavalo um alçapão
habilmente escondido. Do corpo oco do bicho
saem uns dez guerreiros. Acompanhados de
Sínon, vão à entrada de Tróia, livram-se
sentinelas e abrem as portas. Armados da
cabeça aos pés, os aqueus penetram na
cidade. O plano de Ulisses é um sucesso: a
partida dos gregos era uma farsa, e os
navios voltaram com a escuridão.
Os gregos lançam-se sobre os adormecidos
troianos. É uma carnificina. O velho Príamo
e seus filhos são passados pelo fio da
espada. Resistir é impossível, pois os
troianos nem ao menos conseguem reunir-se
para enfrentar o inimigo.
No palácio de Príamo, o príncipe Enéias cai
da cama. Acaba de ter um pesadelo enviado
por sua mãe, a deusa Afrodite. Ainda mal
desperto, dirige-se ao terraço, onde vê que
o sonho era realidade: um gigantesco
incêndio devasta Tróia.
Recuperando o sangue-frio, Enéias reúne
alguns troianos apavorados. Segura pela mão
o filho, Ascânio, e carrega nas costas
Anquises, seu velho pai. Evitando os lugares
onde há lutas, o pequeno grupo consegue
fugir, escapando à morte.
Enquanto isso, os gregos tornam-se senhores
de Tróia e não deixam vivo um só homem. As
mulheres e as crianças passam a ser escravas
dos vencedores. Quando amanhece, a cidade
antes gloriosa, está reduzida a um monte de
cinzas e escombros.
No meio de toda essa desolação, um homem
está no auge da felicidade: Menelau.
Finalmente recuperou Helena! Ela, a
causadora de todo esse horror, entra no
navio do marido sem nem ao menos lançar um
olhar para as troianas em lágrimas, sem nem
pensar em Páris um segundo sequer...
O antigo pastor do monte Ida, morto no
decorrer da guerra, sem querer acabou
cumprindo a profecia: causou a completa
destruição de sua cidade.
Fonte: QUESNEL, Alain. A Grécia. Mitos e
lendas.
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Trabalho e Pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
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