CONTRASTES
Ivan Jubert Guimarães
O mundo está cheio de futilidades,
Não mais espaço para as alegrias,
Fica difícil encontrar a felicidade,
Em meio aos contrastes de cada dia.
Se de um lado há uma classe privilegiada,
Que tem posses e desfruta de tudo,
Do outro há milhões que não possuem nada,
E que andam pelas ruas, quase desnudos.
Algumas crianças estão em boas escolas,
Outras não têm onde aprender a ler,
Estas viverão de pedir esmolas,
E aquelas escolherão o bem viver.
O crescimento do país não pára,
O consumo não para de crescer,
Falta, no entanto, muita vergonha na cara,
Pois muitos não têm sequer o que comer.
Hoje se mata pobres moradores de rua,
Enquanto a cidade dorme recolhida,
À noite não se olha mais para a lua,
Mas para o chão, para tirar outra vida.
Em que estamos nos transformando?
Não seria melhor aprender a repartir,
Do que imiscuir-se nos desmandos,
Matando inocentes e se pondo a rir?
Talvez queiram acabar com a pobreza
Que assola a classe de pele escura;
Aqueles que pensam viver na nobreza,
Não possuem o caráter da lisura.
Sim, no Brasil existe o preconceito,
O pobre é tratado pior do que o animal,
É que temos um governo que não tem peito
Para for fim a essa injustiça social.
Não houve abolição da escravatura,
Pelo menos ninguém se lembra disso;
Será que existe uma solução futura
Ou ninguém irá assumir esse compromisso?
Ricos e pobres sempre existiram no mundo,
Rico muitas vezes é ladrão e não
trabalhador,
E o pobre quase nunca é um vagabundo,
Trabalha pesado e para comer dá o seu suor.
Ivan Jubert Guimarães
11/05/2011
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TERNURA
Ivan Jubert Guimarães
Ternura começa na infância,
É coisa de nossa meninice,
É um amor sentido à distância,
Que transforma tudo em meiguice.
Ternura é sentimento puro,
É carinho e amizade também,
É aquilo que eu tanto procuro,
E difícil de achar em alguém.
O carinho que eu tenho por ti,
Minha amiga e companheira,
É belo como o canto do bem-te-vi,
É perfumado como a floreira.
E assim, como a mais bela flor,
Não existe ternura sem amizade,
Amizade e ternura é quase amor,
Ternura é feita de paz e felicidade!
Ivan Jubert Guimarães
23/07/2012
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A ÚLTIMA
VALSA
Ivan Jubert Guimarães
Elas poderiam estar em seu baile de
debutantes. Vestidos brancos, um anelzinho
solitário nas mãos e, no salão, pessoas
alegres, pais, irmãos, amigos e namorados.
Quinze anos, pelo menos antigamente, era uma
data muito significativa para as mocinhas.
Era quando elas eram apresentadas à
sociedade e eram cortejadas por todos. Era o
que marcava para elas o início da vida, já
quase adulta.
Os tempos mudaram e já não se fazem bailes
de debutantes como antigamente. Hoje as
mocinhas morrem aos quinze anos e suas vidas
se esvaem pelas ações irresponsáveis e
maldosas de seus algozes.
Nesses novos tempos de rock e de outros
ritmos que não existiam no meu tempo, é
provável que as mocinhas de quinze anos
nunca tenham ouvido uma valsa. Mas, hoje, eu
tocarei uma valsa para Eloá e vou escolher
uma valsa bonita, todas são bonitas é
verdade, mas para ela vou tocar “Contos dos
Bosques de Viena”.
Já coloquei o CD e agora vou esperar um
pouco até que a música termine.
Pronto, foram quase quatro minutos de valsa
e com meus olhos fechados eu pude ver Eloá
de branco dançando alegremente, faces
ruborizadas por estar sendo admirada pelos
presentes. Ela valsava por todo o salão como
certamente faria.
A música acabou e as imagens se apagaram e
estou de volta a este mundo que já não tem
Eloá. Mas eu pude ver a alegria em seus
olhos, o brilho de encantamento, as luzes do
salão magistrais em lustres de cristal.
Ela vive e viverá para sempre, já que a
morte não existe. Ela agora descansa não da
vida, mas do final de um baile onde dançou o
tempo todo.
Amanhã será outro dia e ela certamente
começará a ser preparada para voltar, embora
eu creia que uma missão maior lhe esteja
reservada. Quem vai tão cedo é porque já fez
o que tinha que fazer por aqui.
Querem ver e sentir Eloá? Toquem “Contos dos
Bosques de Viena”.
Ivan Jubert Guimarães
20/10/2008
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UM CRAVO
NA LAPELA
Ivan Jubert Guimarães
Mário era um sujeito comum em seus trinta e
poucos anos. Sujeito esforçado, trabalhador
e honesto. É! talvez não fosse tão comum
assim. Mas estamos falando de outra época,
do final da década de 50. Ele trabalhava a
semana inteira numa loja de calçados da Rua
São Bento, no centro de São Paulo. Por ali,
passavam diariamente muitas pessoas e,
naquela época, as pessoas se vestiam bem
para ir ao trabalho. E era ali por perto que
ficava o centro bancário da cidade.
A loja onde Mário trabalhava era das mais
movimentadas da região, sempre apresentando
novidades e os últimos lançamentos da moda
em calçados masculinos e femininos.
Quando um cliente se sentava à sua frente,
era muito difícil sair sem comprar pelo
menos um par de sapatos, o que fazia de
Mário um excelente vendedor.
Agora, quando uma mulher bonita se sentava à
sua frente, Mário ficava diferente; ao
fazê-la experimentar o calçado escolhido,
ele tocava o tornozelo feminino com um toque
todo especial. Colocava o calçado no pé da
mulher e com os dedos ele puxava levemente a
perna da moça e ela nem percebia a visão que
proporcionava ao Mário. Os elogios que ele
fazia, acabavam por convencer a cliente a
comprar aquele par de sapatos e, muitas
vezes, acabava vendendo outro par de outro
modelo para ser usado em outra ocasião.
Todo mundo gostava de ser atendido por ele
quando entrava na loja, pois ele entendia de
pés. Quando o freguês estava indeciso entre
um par e outro, Mário fazia com que ele
comprasse os dois pares, pois a indecisão
era sinal de que o cliente havia gostado dos
dois.
Quando chegava os sábados, Mário trabalhava
até às 15 horas quando a loja fechava. Ele
pegava seu paletó, vestia-o e saía da loja
que já havia baixado suas portas.
Caminhava pela Rua São Bento e pegava a Rua
Direita em direção à Praça da Sé, onde
pegaria o ônibus para ir para casa. Antes de
pegar o ônibus, porém, ele sempre parava em
um bar de esquina onde tomava um vermute
tinto. Era seu aperitivo preferido.
Já em casa, Mário descansava alguns minutos
sobre sua cama e por volta das seis da tarde
começava a se preparar para a noite de
sábado. Fazia a barba usando uma navalha
profissional, aparava o bigode, tomava um
banho e depois penteada seus cabelos,
colocando um pouco de Quina Petróleo. Ia
para o quarto, abria o guarda roupa e
escolhia aquele terno listrado de sempre,
vestia a camisa de colarinho, fazia um nó
perfeito na gravata e, antes de sair de
casa, pegava um cravo e colocava em sua
lapela. Estava pronto para mais uma noite de
sábado.
Voltava ao centro da cidade, vestido com
aprumo e dirigia-se ao Avenida Danças, onde
ele comprava alguns tíquetes e dançava quase
a noite toda com as dançarinas
profissionais. Ele adorava dançar e as
mulheres adoravam dançar com ele. Ele sabia
todos os ritmos musicais e se houvesse um
concurso, certamente ele seria o vencedor.
Suas noites de sábado sempre terminavam na
manhã de domingo, pois de madrugada já não
havia ônibus. Mário então quando não
conseguia a companhia de uma das dançarinas
ia parar num dos muitos bordéis da região.
Ele era gentil com as mulheres, tratava-as
como clientes, embora ali o cliente fosse
ele. Muitas vezes precisava sair com a
madrugada ainda escura, mas às vezes
conseguia dormir um pouco mais. O que
diferenciava Mário dos outros clientes das
putas, era que na hora em que ele partia,
sempre tirava o cravo da lapela e o pousava
no travesseiro junto com o pagamento pela
companhia.
Ivan Jubert Guimarães
14.08.2006
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