SEBO LITERÁRIO

   

Marcos Milhazes***
 

 
 
Poesias
 
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Absinto...

Marcos Milhazes***


Quando a paixão caminha no adverso
Talvez a estrofe distraída possa mostrar o verso
Abstrato da vida da existência
e de suas verdades intocadas e contidas.

Temer-se o entrever
Segredos da cega visão!
Lobrigar sentimentos, nem pensar!
Não quero e nem gosto dessa forma de gostar

Presságio sentido e vislumbrado
Sagaz admissão vazia de um amor perecido
Difícil de ser esquecido
O que fazer desse tema repetido?
Apenas um simplório lamentar!
Sempre serão os caminhos estreitos e estranhos de um pesar.

Restando-me apenas sentar numa mesa de sentimentos
Degustar esse terrível sofrimento.
Aquele degustado outrora com ternura.
Beber agora com gosto de absinto,
minhas mágoas de dor e amargura e sem temor.

Tentar curtir com dignidade nesse momento, essa dose de licor...

Marcos Milhazes***

 

Ponto Final

Marcos Milhazes***


Foi como uma fogueira que não queimava
Apenas ardia.
Teria sido como uma luz que pensava iluminar,
mas não enxergava no escuro
que apenas clareava.

Teria sido como o trovão zangado,
que esbravejava aos ventos,
mas não trazia a chuva.
Poderia ter sido a luta da geleira contra o Sol
Mas não vislumbrava que já era água.

Poderia ter sido como um ditador
Que imagina ser o dono de pessoas
Um ser amado!
Mas não via o fato, que era um amaldiçoado

Bem, foi como nosso amor.
Espetacular em tantos eventos
Lindo em vários momentos
Cheio de promessas e juras,
Sem sentir, cometeu tantas injurias
Arrogante,
não percebeu o que era tão notório de ser sentido.

O simples fato de nunca ter existido...

Marcos Milhazes***

 

Viés

Marcos Milhazes***


Malfadada minha vida
Deixaste-me sem guarida
Nem a margarida devolveste-me
Minha marca em ti,
já não mais registra,
o fim da minha agonia

Saíste pela tangente,
evitaste o inerente,
tão claro como a noite
Foste em forma de açoite
Evitaste-me, tal gelo
na luta com o Sol

Flagrante foi, sua intenção daninha
Meus versos, até meus escritos secastes
como Nordeste
Ânsia escrava do espúrio
Estúpido fui
Demente sua partida, tornei-me
Um pano, como uma tesoura cega,
que não mais tem direito a ele.

Sim, no fim sem esperar,
pela mão salvadora ou da autora.
Na minha aflição nômade,
desorientado se a vida seguia ou escorria, ria!

Que pela opção do destino,
tornei-me a linha rebelde ao pano.
Não percebia que andava certo como as serpentes,
ou ambulava em oblíquo
Torto como foi o nosso colóquio...

Marcos Milhazes***

 

Lendas

Marcos Milhazes***


Como astro estrela brilhando,
chegaste límpida em meu lago.
Pura, trouxe-me a sua brancura.
Cálida deste-me sua boca.
Sem se apresentar entraste em meus sonhos.

Histórias, contadas pelos olhos
que vê de uma janela a magia do farol da Lua
Como a da canção que se eleva ao máximo
com suas claves para tocar um coração.

Mãos aflitas atiradas ao vento
ao encontro do desconhecido.
Adormecido encontrava-se.
Faminto pelo cheiro de sentimentos.
Vadio cão das ruas sossegadas,
por ela tu passeavas.

Vestida de brisa leve
Eterna como o amor, aproximaste
Deslumbrado, tosco e arredio,
lá estava aquele coração...

Intrépido valente ante o perigo maior.
Guerreiro de tantas lutas suadas,
ferido, ainda sangrando em vertentes,
temente pela própria sorte.

Entregou-se naquela batalha à vencedora...
E sem ao menos ela tivesse tal conhecimento.
Ali, jazia!
O momento maior de uma guerra desarmada.

Palavras deformadas pela mão do poeta
Ou pela força da imaginação de um escrito.
Deram as mãos e seguiram passos afora
sem se importarem com o barulho do mundo

Vencido e vencedora,
entregaram-se à paz solene.
E o corpo cravado de amor,
ali jaz, feliz e em paz.
Nas mãos de sua algoz...

Marcos Milhazes***

 

Meu Rio de Janeiro

Marcos Milhazes***


Raras libélulas faceiras.
Trejeitos e truques de ocultar-se em casulos
da suas aladas asas prometidas em fases
espargidas passeias nos meus canteiros.
Tange e pinta aquele véu de seda
Nas secretas cores sem entrar em pânico.
Moro na floresta da Tijuca e Jardim Botânico

Registrada em certidão de hieróglifos
Renascidas da outra, como a pérola e a ostra
Residentes em mares de águas cristalinas,
azuis ou verdes que pela manhã de labuta me
chantageia e seu vento me abana...
Sou a Restinga, Prainha, Recreio, Barra, São Conrado,
Ipanema, Leblon, Leme e Copacabana

Da pálida luz e sombria
A lua vadia jazia deveras só por momentos
Como uma estante lotadas de livros jamais lidos
Como músicas clássicas nunca apreciadas.
Jogo meu samba de malandro nas calçadas
Porém todos falam em forma de letras cravadas
Sou a velha Lapa!

Saudades reclusas e dons esquecidos,
Chamados de versos, estrofes, citação ou poemas
Formas ultrapassadas e quase extintas
Na visão de um lírico futuro com jeito de passado
Sou a velha "Academia de Letras"

Por Deus, não se ofendas, apenas me entendas!
E eu estou preste ao vazio da mente
Vou ser jubilado da hierarquia literária
Por favor, me lavras antes que me faltem as palavras...
Eu sou o velho poeta das praças

Não abro mão da minha vaidade
Como um coração de mãe coerente
Carrego no meu ventre todo o tipo de gente
Ao lado da Vila Isabel de Martinho e Noel.
Toco meu samba na manha e não poderia ser diferente
Dou nó em pingo d água e tiro fácil nó de lã
Com licença pessoal, sou o maior do mundo
Me chamo Maracanã

Meu irmão, sou suburbano de gente modesta,
de moradores de favela, chamado pelos ricaços de bandidos.
Antes, dê uma olhada no espelho e na sua classe requintada.
Quem sabe!
Até poderia se achar uma agulha no palheiro!
E perceber, quem tem raiz traça seu próprio destino
Com licença gente boa, sou cria de Quintino

Respeitosamente peço licença a todos
Lá do alto, o abraço do meu Cristo Redentor
Com orgulho puxo a cadeira , sento e digo.
Mas não me fales que nunca fui um cara maneiro.
Modestamente, nem por tudo isso deixo de ser
Flamengo, catimbeiro, fiel a São Jorge, carioca da gema
e também filho do meu Rio de Janeiro

Marcos Milhazes***

 

Jogos da Vida

Marcos Milhazes***


De fato!
Sempre seremos repetitivos como dantes
Quando falamos de amor, alegria ou dor.
Aplicamos tão somente a arte do escrevedor

Buscamos nos minerais sermos brilhantes
Quando falamos da vida real, seremos mutantes
E da bebida?
Somos tal a parte boa da água ou a ardida

Dos astros,
ousamos riscar o céu em nossa ânsia demente.
Seremos então uma mágica estrela cadente
Da seca que no nordeste mata ou adia
Seremos a esperança sagrada de um dia
de chuvas e trovoadas
Para conforto dos humildes pobres
das bacias vazias.

Dos tempos fortes, temporal e vendaval
Seremos a calmaria
Dos nossos manifestos de revolta
pela desigualdade
Clamaremos nessa guerra
por igualdade
Armados apenas de mãos, tinta, papel e verdade

Se de tudo nada conseguirmos,
teremos apenas uma certeza.
Nossos versos jamais serão esquecidos
Sejam de poesia, amizade, amor ou revolta.
Coisas de poder de governos
ou de corações partidos.
Falando para amigos ou até os inimigos.
De nossas mágicas mãos
tudo acaba em escritos

Nada nos importa e nos priva de escrever qualquer tema
Carregados de tamanha energia
Sempre seremos os dois lados da moeda da vida
Quando girada,
tanto faz o resultado dessa emoção.

Viciada,
sempre dará do poeta a esfinge do seu coração...

Marcos Milhazes***

 

 

Livro de Visitas

        

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