Antologia Virtual
“Verso e Prosa - 2”

IX

Junho 2012

ORGANIZADORA:

Isabel Pakes

Pág. 02

 

01 - CRISTIANE GRANDO

Nascida em Cerquilho-SP- Brasil, em 15 de janeiro de 1974. Escritora brasileira. Tradutora de textos literários (francês, espanhol e português). Autora de Fluxus, Caminantes,Titã, Gardens, grãO, Galaxia e Claríssima - poesia em português, francês, espanhol, catalão, inglês e italiano. Laureada UNESCO-Aschberg de Literatura 2002. Doutora em Literatura (USP, São Paulo), com pós-doutorado em Tradução (UNICAMP, Campinas), sobre as obras e manuscritos de Hilda Hilst. Professora convidada de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira na Universidad Autónoma de Santo Domingo (UASD) de 2007 a 2011. Diretora-fundadora do espaço cultural Jardim das Artes (Cerquilho-SP, Brasil, 2004-2005) e do Centro Cultural Brasil-República Dominicana (São Domingos, 2009-2011), extensão cultural da Embaixada do Brasil em São Domingos. Seus ensaios, produções literárias e traduções estão publicados em inúmeras antologias, jornais e revistas impressas e virtuais, em alguns casos revistas científicas, de diversos países da América e Europa. Cristiane Grando possui ampla experiência em leitura de poesia para públicos escolares e universitários no Brasil, França, Chile, Argentina, República Dominicana, Haiti, Porto Rico e EUA, em congressos de poesia, eventos culturais, acadêmicos, feiras e bienais de livro. Autora do Portal Cen. Blogs:
Blog “Fluxus: poesia ilustrada”: http://cristianegrando.blogspot.com
Blog “Papeles volantes, de Cristiane Grando”: http://cristianegrando1.blogspot.com
Revista “Benfazeja”: http://www.benfazeja.com/search/label/Cristiane%20Grando
Página Web em espanhol: http://www.letras.s5.com/archivogrando.htm

 

À minha avozinha


vive longe a minha avozinha
e eu lhe escrevo
conto contos
de todas as partes

do meu país
encho minha memória de pássaros e fotos
para lhe mostrar em um contínuo estado de paz
a fluidez e a liberdade do mundo:
a clara consciência das folhas

ao escrever e ler contos para a minha avozinha
sou espontânea sem querer sê-lo

escrevo sem apegar-me a nada
para perder-me em minhas histórias
e jamais encontrar uma saída lógica

porque mais vale a imaginação
(iluminá-la no meio da noite)

e porque
tudo se transforma

Cristiane Grando

Amor Embriagado



trança
o jardim
e canta o
bêbado
uma longa e triste canção de amor

ao ver
uma flor
em meio a tantas
que ali nem
existiam

flor bela
branca
lágrima
anêmona

impulsivo arranca
a frágil florzinha

e um vento
vem
(Ah . . .)

voz
branca
pálida
(Ánemos traz)
cantando
a tristeza de um amor
Embriagado

e os gritos
e m b r u m a d o s
na voz
que vem
embr
iag
ados
começam a berrar:

Anééééliaaaaaaaaaaaa . . .

Cristiane Grando

  

 

02 - DANIELA CRISTINA SILVA

 

Nome artístico: Dany Silva, 25 anos. Moro em Cerquilho, nascida em Tietê(SP), formada em Zootecnia pela Unesp – Botucatu/SP. Especialização em trabalhos com eqüinos e psicologia canina Tenho um relacionamento muito forte, intimo e acredito que eterno com a arte! Amo poesia, amo escrever, funciono melhor a noite, admiro muito a lua... sou bipolar, acreditem. Prefiro meus animais à que gente falsa, mesquinha e preconceituosa, adoro violetas, artes marciais e o cheiro da pata do meu cachorro. Faço arte sempre, aluna da turma de teatro da prefeitura de Cerquilho - Prof. Hugo Muneratto; sou integrante do grupo 7 faces [estrangeiros] com direção de Kátia Mota e do grupo teatral Artede Porão – Cerquilho. E, nas horas vagas, sou Daniela! Vale ressaltar que por muitos anos deixei a arte adormecida em minha alma e devo a essas pessoas abaixo relacionadas, gratidão eterna e incondicional por acreditarem em meu potencial e porque são meus pontos de equilíbrio na vida, uma família que Deus me permitiu escolher: Lucila Rodrigues, minha vózinha; Ana Lúcia, minha dinda; Ester Moreira, poeta, amiga, mãe, exemplo, meu tudo... deusa! Devo o que sou e sei de poesia, amor, perdão a ela!; Ivan Vagner - meu “mestro”!; Kátia Mota - minha TIM, a mulher que me viu estrear em seu colo no grupo 7 faces [estrangeiros]; e por fim, minha estrela maior, Isabel Pakes - aquela que me deu oportunidade de realmente acreditar em minhas linhas mal traçadas! OBRIGADA vezes infinito! Blog “Alma de Felipa”:http://almadefelipa.blogspot.com.br/

 

METAMORFOSE


Coração grita, desabita uma terra de ninguém...
Coração explode, sangra...
Alguém socorre essa metamorfose?
Ora lagarta, ora borboleta... Libélula, talvez [!]
Coração menstrua, amadurece, recua...
Recua diante do medo do desconhecido,
daquilo que não se sente ser merecido
e diante do amor, sê dá por vencido;
Permanece muito tempo adormecido [no casulo],
e, quando tudo parece perdido... coração sonha!
Sonha colorido, refrescante , enlouquecido ...
Coração grita,
desperta,
se alegra,
E a lagarta antes feia ,
borboleta bruxa e libélula mandingueira,
transformam-se em paz... aquela paz faceira,
tudo renova,
Metamorfoseia [...]

Dany Silva

DEFINIÇÕES


Não!
Não mesmo... não aceito definição.
Femêa,
Mulher,
Menina... urgente em evolução,
Contradição...
Cio...
Paixão [!]
Anjo em rebeldia, insana docilidade, suave e amarga.
Traços marcantes, sulcos no rosto,
Cicatrizes na pele... uma tatuagem no pescoço.
Ser que nasce e morre a cada instante
nasce por sentir o frescor do sol, o acalento da lua...
vislumbra um filme no brilho das estrelas;
nasce porque consegue decifrar desenho em nuvem
e percebe o quanto é clássico o ballet do desabrochar das flores ...
Perfume,
Borboletas,
Colibris e violetas
[Morre]
murcha, chora, sofre...
Morre pela escuridão, por ser muda a canção,
Murcha por não sentir latejar o latido de seu cão...
Chora por motivos que a [razão] não compreende,
Sofre por desejar o amor que está distante, desaparecido, sumido!
Para nada existe definição
Julgamento lento,
Vida as pressas,
Versos curvilíneos que circundam o coração do poeta.

Dany Silva

  

 

03 - ESTER MOREIRA

 

Nascida em São Paulo em 24/09/1972, mudou-se para o Japão em 1996 retornando ao Brasil em 1999. Mudou-se para Cerquilho no início do ano 2000. Servidora pública municipal. Divorciada, mora com seus 03 cães: Penélope, Brisa e Mano. Ama a poesia, ama interpretar. O palco é Escreve desde a adolescência e em 2001 participou do XIV Festival de Poesias de Cerquilho como poetisa, e de lá pra cá participou de quase todas as suas edições, recebendo prêmios seja como poetisa ou como interprete. Em 2012, vem participando ativamente nos Saraus Artísticos Literários das cidades de Cerquilho e de Porto Feliz/SP.

 

O ELEITO


Não me julgue sem nada saber.
Se minha cor não o agrada,
Se meu corpo o incomoda,
Isso só pertence a você.

Minha cor o faz pensar
Que eu nada sei fazer,
Mas não sabe que o saber
Não tem cor e nem querer.

O meu corpo o leva a achar
Que não tenho sentimento,
Que não possuo paixão,
Mas todo corpo
É moradia certa de um coração.

O seu Deus o leva a crer
Que nada sei de bondade,
Mas Ele, em todas as suas faces
Nos fez irmãos em sua vontade.

O seu dinheiro o faz imaginar
Que está acima dos outros,
Mas se é assim tão forte
Quero vê-lo vencer a morte.

O meu jeito de amar
Faz você me olhar de lado
Como se fosse possível
Existir um amor errado.

Todos estes seus pensamentos
Que o fazem sentir-se “o eleito”,
São equívocos chamados
Preconceitos...

Ester Moreira

  

 

04 - ISABEL PAKES

 

Nascida em Araçoiaba da Serra/SP, aos 26/09/1947. Residente em Cerquilho/SP. Servidora pública estadual aposentada. Escritora, poeta e declamadora premiada, vencedora em diversos concursos de poesias, nacionais e internacionais ( de 1986 a 1992). Condecorações: MEDALHA “CIDADE DE CERQUILHO” conferida pela Câmara Municipal de Cerquilho, em 1992; MADRINHA DO FESTPOPLI – FestivaL de Poesias da Escola Plínio, da cidade de Tietê/SP; MEDALHA “FILHOS ILUSTRES DA CIDADE DAS ROSAS” conferida pela Prefeitura Municipal de Cerquilho – 2008. Livros publicados: “Transcendência” (poesias) Editora Scortecci e em eBook - Sebo Literário, no Portal Cen; e “Era uma vez um grão de areia” - conto dedicado às crianças de todas as idades - Edição on-line: Clube de Autores, em livro e eBook. Blog: Isabel Pakes - http://belpakes.blogspot.com.br/

 

MÁGINA
(À minha filha Érica, dona da “maginação”)


Sozinha no quintal
a menininha brincava.
Cantava, dançava...
Sem parar, tagarelava.

Em uma conversa animada
falava, falava e ria,
feliz com as amiguinhas
que somente ela via.

Um burburinho de fadas
na ciranda da amizade,
cantigas de amor e paz,
de crença e felicidade.

O quintal transfigurado
era um jardim encantado.
Tudo ali resplandecia
cheirando à alecrim dourado.

Um coral de passarinhos,
a brisa alegre a soprar,
folhas e flores bailando,
borboletas a rodopiar...

E mais um lindo arco-íris
à luz do sol a brilhar.
Na reinação da criança
tudo é possível “criar”.

No mesmo tempo-espaço,
realidade e fantasia
compunham um só universo
pleno de luz e poesia.

Menina e Natureza
em perfeita harmonia.
Alquimia da pureza:
criança, sonho e magia!

- Querida, é hora do lanche. Vem!
- Ah, mamãe! Você me tirou de mágina,
eu não queria isso, não!
- Mágina... O que é mágina, meu bem?
- Mágina, mamãe, é um lugar aqui, ó,
dentro da minha "maginação".

Isabel Pakes

A AVEZINHA DO BEIRAL


Pousava ali, às tardes, a avezinha do beiral. Ia levar seu canto, seu alento... De repente, um ruído surdo cortou sua voz. Ruíra, por fim, o velho e soturno sobrado, tanto fustigar-lhe as ondas de mil pensares em turbilhão. Não mais assombraria o poeta com suas lembranças mórbidas, cheias de nódoas e farpas. Não mais. Sob os escombros das lôbregas paredes esfacelaram-se os seus desconfortos, seus entraves. Ele, o poeta, escapara ileso. Desperto do pesadelo, abriu-se à vida como olhos de condor. O coração pedia luz. E a vida resplandecia em cores, de horizonte a horizonte, sob o infinito azul, onde o tempo é sempre alvor. Em tempo, rebuscou seus anais, reviu seus feitos, atualizou conceitos... Revisou sua história com um novo olhar. Havia muito a acrescentar, novas estradas a percorrer, metas a alcançar.
Cálido soprava o vento. Em correntes ascendentes espalhava na atmosfera o perfume das flores que aspirara na primavera, como a receber em festas a nova estação. Hora de retomar-se, beber da própria fonte a água revitalizante, percorrer os campos interiores... Extrair o joio, aventar as ramas... Dourar a fronte sobre os trigais dos sonhos. Colher os frutos amanhados no tempo do sonhar risonho, enxertados de poesia no coração da semente, vingada à força da Vida, aos ralos raios de sol que, clandestinamente, adentravam o velho sobrado pelas fendas das janelas cerradas.
Agora, sem mais paredes a cercear-lhe os ideais, sem mais o ranço da névoa densa a ofuscar-lhe a vista, sem mais a trava da solidão a emperrar-lhe os passos, lá vai o velho poeta, retemperado à luz clara dos dias de verão. Coração desassombrado compartilhando a colheita, a alma fértil germinando novos versos... Enquanto a avezinha se eleva sobre os escombros e segue-o... de longe... a cantar...

Isabel Pakes

  

 

05 - IVAM WAGNER MARCON

 

Nascido em 1971, na cidade de Tatuí. Graduado em Pedagogia; Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica; Orientador Pedagógico de Educação Integral/Infantil e Educação Especial. Prêmios, honrarias e outros: Ganhador de 6 Menções Honrosas no FEPOC- Festival de Poemas de Cerquilho-1991, 1994, 1995, 1997, 1998 e 2011; Vencedor de 9º Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho – 2010; Vencedor do 10º Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho – 2011; Classificado na Fase Municipal do Mapa Cultural Paulista (Categorias: Crônica, Conto e Poesia) - Cerquilho/SP- 2011; Classificado na Fase Regional do Mapa Cultural Paulista (Categoria: Crônica)- Araçoiaba da Serra/SP- 2011; Finalista Estadual do Mapa Cultural Paulista (Categoria Crônica)- São Paulo/SP- 2012; Medalha de Menção Honrosa com o poesia “Interlúdio com o Sentimento” no XI FEPOC- “Festival de Poesias de Cerquilho”- Cerquilho/SP -1997; 1º lugar no 9º TMP/2010- Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho- Cerquilho/SP – 2010; 1º lugar no 10º TMP/2011- Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho- Cerquilho/SP – 2011; Poesia “Eu... Narciso”- 4ª colocada no XXIV FEPOC- “Festival de Poesias de Cerquilho”- Cerquilho/SP – 2011; Finalista na Fase Estadual do Mapa Cultural Paulista 2011/2012- Categoria Crônica- São Paulo/SP.- 2011/2012; Jurado efetivo do COLIJUC - Concurso Literário Infanto-Juvenil de Cerquilho, exclusivo para estudantes da rede pública municipal dessa cidade; Participação nos Saraus de Cerquilho e de Porto Feliz/SP, na Casa de Cultura “D. Narcisa Stettener Pires, dessa cidade”, como um dos organizadores e como poeta – 2011 e 2012. Blog: http://marcondiversos.blogspot.com.br/

 

CÉU


Ontem não vi estrelas no céu
(Também nenhuma delas me habitava).
Sem nuvens, estrelas ou anjos.
Um céu só.
Um céu vazio e vazado como saudade repentina.

...Sem começo nem fim...

Ivan Vagner Marcon

SAUDADE


Minhas mãos tocam apenas o ventre
lento e profundo de minha existência
enquanto o tempo corre livre
pelas ruas vazias de meu ser: ausência.

Vez por outra, preencho o vazio
com uma foto de nostálgica alegria
e arrisco-me solitário, tendo somente frio
sombra e pensamento por companhia: agonia.

Emoções das horas inexatas e divididas
Que se apresentaram em parcas esperanças
Insinuando-me várias belezas finitas
como tua presença que me envolveu: lembranças.

Arde em mim a falta do teu abraço
A vontade de perdoar os deslizes
mas este abismo, este nosso espaço
Erodiu-me na pele a tua marca: cicatrizes.

Meu pensamento explode em verbo
Fico de braços abertos à espera da intimidade
Mas não consigo dizer o que quero
E o silêncio se faz em dor e eco... Saudade.

Ivan Wagner Marcon

  

 

06 - KATIA MOTA

 

Nascida em 09/12/1975, em São Paulo, capital. Começou a escrever em 2007. Estudante de Letras em Português e Espanhol. Em 2008 concluiu a oficina de literatura “A invenção do Personagem e da História” ministrada pela professora Sueli Pereira Aduan, pela Oficina Grande Othelo de Sorocaba. Menção Honrosa no 9º Concurso de Literatura da Fundação Cultural de Canoas - RS. 1º lugar na Fase Municipal Mapa Cultural Paulista e Menção Honrosa na Fase Regional Mapa Cultural Paulista 2009/2010, categoria Poesia. 20º lugar XXV Concurso Internacional Literário Edições AG. O poema “Mulheres”, publicado no blog Katia em Anexo, foi dramatizado e apresentado em palestras de Filosofia na Oficina Grande Othelo de Sorocaba. Menção Honrosa na categoria Conto no FEPOC - Festival de Poesias de Cerquilho/SP – 2009, com o conto “A casa da árvore”. Menção Honrosa na categoria Conto no FEPOC - 20l0, com o conto “Cheiro de Tangerina”. Classificada para a Fase Muncipal do Mapa Cultural Paulista 2011/2012, nas categorias Conto e Poesia. Classificada para a Fase Regional e Estadual do Mapa Cultural Paulista 2011/2012, na categoria Contos. Colaborou com poemas nas edições 6, 9, 12 da Revista Cultural Novitas. Participação nos Ebooks “Somente o Necessário”, 1 e 2 da Editora Novitas.Idealizadora e diretora do Grupo Poético Teatral 7 Faces [Estrangeiros]. Colabora esporadicamente com o blog Comendo Livros: http://comendolivros.blogspot.com.br/. Publica seus textos nos blogs: kátia em Anexo: www.katiaemanexo.blogspot.com.

 

O GATO


Saaabe (é, meu sabe é assim cantado irritantemente).
Eu nunca gostei muito de gatos, creio que a independência deles me agride um pouco. Então decidi: nunca terei gatos...
E lá estava aquele... um dia apareceu em cima do muro e lá ficou com seu passo lento e calculado... me olhando, de longe. Petulância.
No outro dia, o desgramado estava dormindo no capacho da porta de entrada e não ousou se mexer quando aproximei-me, só me restou pulá-lo, tenho coração, deixei lá, era tão quieto.
No terceiro dia ele miou. Saltou do muro. Enroscou-se entre minhas pernas, deslizou os pêlos macios por entre os tornozelos. Sedutor. Confesso deixei à porta uma fresta. Não sou culpada por ele entrar, entrou por conta.
E sento no sofá o gato se aninha no colo, o tamanho exato do corpo leve. É quente. Ele se agrada disso eu sei. Me peguei lendo em voz alta esses dias e entre palavra e outra, minha mão alisava o seu arfar lento e barulhento. Ouvia-me como outra voz dita.
Esses dias estava tomando café, assim, de um salto alcançou a mesa e me encarou, me olhou nos olhos. Tive medo. Do amarelo dos seus olhos. Não, tive medo do verde dos seus olhos. Não, eu tive medo do mar revolto dos seus olhos. Eu tive medo.
Na minha cama ele me segue. Se aninha na dobra dos meus joelhos. É quente, então deixo, as vezes me apalpa e deita no ventre. É quente então eu deixo.
O gato não tem dono. A independência dele me agride um pouco, não depende de mim. Eu tenho medo; Da cama vazia.

LOUCURA


Hoje quero me desgrudar da sombra.
Que nada me siga;
Arrancar da alma a sina maldita,
de amar sem medida.
A loucura desdenha de mim.
Ah alma maldita!
Que pacto fez com o absurdo?

Cala-te!
Não me chame!
O que?
Não te ouço.
Tenho medo!
Eu tenho medo.
Me tira daqui que não sei voltar.

Do verde não sei o que é o azul.
Me botou cativa.
Estocolmo.
Vai devagarzinho.
Que tenho que aprender a andar sozinha...
Não ria enquanto escoro pelas paredes.
Recolhe os cacos do chão.
Descansa seu peso na rede.
E espere que eu durma.
Não faz barulho
Me embala em sussurros.
Vela meu sono.
Que um dia acordo gente grande.

Kátia Mota

  

 

 
Para índice                                         para 3ª pág.