ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -

 

BRASIL

 

Trabalho de Carlos Leite Ribeiro

 

 

Bloco Número 04

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lendas Gaúchas

 

 

 

Boitatá
Em tempos mui antigos, que as gentes mal se lembram, houve um grande dilúvio, que afogou até os cerros mais altos. Pouca gente e poucos bichos escaparam - quase tudo morreu. Mas a cobra-grande, chamada pelos índios de Guaçu-boi, escapou. Tinha se enroscado no galho mais alto da mais alta árvore e lá ficou até que a enchente deu de si as águas empeçaram a baixar e tudo foi serenando, serenando... Vendo aquele mundaréu de gente e de bichos mortos, a Guaçu-boi, louca de fome, achou o que comer. Mas - coisa estranha! - só comia os olhos dos mortos. Diz-que os viventes, gente ou bicho, quando morrem guardam os olhos a última luz que viram. E foi essa luz que a Guaçu-boi foi comendo, foi comendo... E aí, com tanta luz dentro, ela foi ficando brilhosa, mas não de um fogo bom, quente e sem de uma luz fria, meio azulada. E tantos olhos comeu e tanta luz guardou, que um dia a Guaçu-boi arrebentou e morreu, espalhando esse clarão gelado por todos os rincões. Os índios, quando viam aquilo, assustavam-se, não mais reconhecendo a Guaçu-boi. Diziam, cheios de medo: "Mboi-tatá! Mboi-tatá!", que lá na língua deles quer dizer: Cobra de fogo! Cobra de fogo! E até hoje o Boitatá anda errante pelas noites do Rio Grande do Sul. Ronda os cemitérios e os banhados, e de onde sai para perseguir os campeiros. Os mais medrosos disparam, mas para os valentes é fácil: basta desaprilhar o laço e atirar a armada em cima do Boitatá. Atraído pela argola do laço, ele se enrosca todo, se quebra e se some.

João de Barro

Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.
O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:
- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
 Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.
Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
O velho respondeu:
- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre
Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.
Negrinho do Pastoreio
No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém.
Entre os escravos da estância, havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não conheciam cerca de arame; quando muito alguma cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aqueles colocados por Deus Nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.
Pois de uma feita o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias às mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Pra quê! Apanhou uma barbaridade atado a um palanque e depois, cai-caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a estância.
Então foi outra vez atado ao palanque e desta vez apanhou tanto que morreu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a "panela" de um formigueiro e atirar lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo lanhado de laçaço e banhando em sangue. No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro. Qual não é a sua surpresa ao ver o negrinho do pastoreio vivo e contente, ao lado do animal perdido.
Desde aí o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela ou atirar num cano qualquer naco de fumo.
Padre morto na Tamandaré
No século passado, por volta de 1880, havia um Padre na cidade Tamandaré, cujo nome a igreja mantém em sigilo até hoje; certo dia começaram a suspeitar deste, pois as crianças não queriam ir à missa ou aproximar-se do padre. Tudo isto devido ao facto de o padre aliciar as meninas, filhas das beatas.
Para o sociedade daquela época isto era completamente incompreensível, pois o padre era uma das pessoas em que todos confiavam. Assim ele foi condenado a morte, sendo enforcado em plena praça pública em Tamandaré. 
Antes de morrer jogou uma praga para a cidade, dizendo que ela nunca se desenvolveria e que todas as vezes que acontecesse algum ato publico ao ar livre choveria pelo menos dia. Há quem confirme que estas pragas realmente aconteceram. E acontecem.
Revolta dos Dragões
Em 1742 ocorreu no estado a Revolta dos Dragões - Dragões da Independência, mesmo regimento que hoje está na Rampa do Planalto.
Saindo de Rio Grande, atuaram em todo estado. E, em torno deles se criou a Lenda dos Dragões, onde foram glorificados, heroificados e até mitificados.
A lenda: esses lendários dragões foram "os primeiros soldados mártires de Rio Grande, esses primeiros rio-grandenses soldados, radicados à gleba, que infundiram aos heróis desse pago a primeira lição de fidelidade e, ao mesmo tempo, de valor e energia."
Como se vê, na mitificação desses soldados, que teriam dado uma lição de fidelidade, há talvez uma das primeiras lendas rio-grandinas. Mas na verdade eles não lutaram por fidelidade, mas sim para rebelar-se da falta de condições que tinham.

 

 

Algumas cidades do Estado do Rio Grande do Sul

 

Porto Alegre

 

 

 

 

 

Porto Alegre (Capital do Estado). Apontamento do “Jornal do Comércio” do ano de 1900: “Cidade, capital e município do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, situada na margem esquerda do rio Guaíba, com uma população de 93 mil habitantes: Estrada de Ferro entre Porto Alegre e Uruguaiana. Escolas de Engenharia e Militar. Tem grande comércio”.

As primeiras notícias de moradores na área de Porto Alegre datam de 1732 e 1740, anos em que se fizeram outorgas de sesmarias no local. Em 1752, aí chegam novos moradores: sessenta casais de colonos açorianos. Começou logo a formar-se um povoado, que logo tomou o nome de Porto dos Casais e que alguns anos mais tarde, em 1773, passou a abrigar o governo da capitania, transferida de Viamão. Seu progresso foi muito lento. No início do século XIX, contava apenas 6 mil habitantes. Possuía 57 habitantes e servia de escoadouro para a produção de localidades como Santo António da Patrulha, Conceição do Arroio (actual Osório). Gravataí, Viamão, Rio Pardo, Santo Amaro, Taquari, Triunfo e Cachoeira. Assim, em 1810, foi elevado a vila com o nome de Porto Alegre e em 1822 passou à categoria de cidade. Com a Independência, iniciou-se a era da colonização alemã. Em 1824 chegaram os primeiros imigrantes destinados a São Leopoldo. A partir daí o progresso seria mais rápido. A partir daí o progresso seria mais rápido. Toda a segunda metade do século XIX é marcada por obras públicas e melhoramentos urbanos. Em 1848 iniciou-se o calçamento das ruas; em 1861 foi contratada a obra para o fornecimento de água encanada ao domicílio; em 1870 inaugurou-se o serviço de “choras” (de bondes de tracção animal), a iluminação a gás e em 1884, foi implantado o serviço de telefones. Em 1889, havia na cidade nove fábricas de cerveja e 316 tavernas e a população era de cerca de 50 mil habitantes. Ao terminar o século esse número seria elevado para 73 mil habitantes. No início do século XX surgem melhoramentos, como a introdução do carro electrico (bonde electrico), em 1907 e no ano seguinte a iluminação pública electrica. Embora a os caminhos de ferro (ferrovias) tenham sido introduzidas em 1874, com a construção da linha Porto Alegre e São Leopoldo, só em 1910 é que se faria a ligação directa com o eixo ferroviário do Vale do Jacuí, já instalados entre Santa Maria e o rio dos Sinos. No sector portuário, também, Porto Alegre demandava a realização de obras de vulto. Com o aparecimento da navegação a vapor, surgiram dificuldades com relação ao calado dos navios, e a produção da campanha passou a se escoar por Montevidéu. Foi necessário a realização de obras de drenagem no Rio Grande, no canal da Lagoa dos Patos, e que se construísse o cais, de 1913 a 1920, para que Porto Alegre recuperasse o comércio Ca campanha. A partir daí o crescimento demográfico da cidade torna-se mais rápido que o do Estado. A cidade começa a crescer ao longo das linhas do “bonde”. Foi para o Norte que o crescimento da cidade mais se acentuou. Nessa direcção se estendem as principais estradas, inclusive a ferrovia. A cidade penetra nos municípios vizinhos em busca de terrenos mais baratos para a construção de residências da classe pobre. Canoas, Supucaia e Esteiro são assim incorporados à área urbana de Porto Alegre, que tende atingir São Leopoldo.

 

 

 

Caxias do Sul

 

 

 

 

 

Pertence à microrregião Vinicultora de Caxias do Sul, a 760 metros de altitude. Fundada na década de 1870, com a vinda de imigrantes italianos para o Nordeste do Planalto Meridional, Caxias do Sul foi município independente desde 1890, passando a cidade em 1910. Aí se realizam anualmente a Festa Nacional da Uva, uma exposição agroindustrial e festivais do Centro de Tradições Gaúchas. Antes da chegada dos imigrantes italianos a região era habitada por índios Caingangues, e daí vem sua denominação antiga de Campo dos Bugres, designada até 1864. Por ali também passavam tropeiros em seus deslocamentos entre o Sul do Estado e o centro do Brasil, e os jesuítas também tentaram fundar algumas reduções, embora sem sucesso. Na segunda metade do século XIX, em virtude da guerra de unificação italiana, aquele país europeu se encontrava em grave crise social e económica, e os agricultores empobrecidos já não conseguiam garantir a subsistência. Nesta época o governo Imperial do Brasil decidiu empreender a colonização de áreas desabitadas do Sul do Brasil, e resolveu-se incentivar a vinda de imigrantes da Itália, após o bom sucesso da iniciativa semelhante com o elemento germânico. Assim, ao governo da Província coube definir as terras que seriam ocupadas, e em 1869 a escolha recaiu sobre a Encosta Superior do Nordeste, mais especificamente na área então conhecida como Fundos de Nova Palmira, região formada por terras devolutas, delimitadas pelos Campos de Cima da Serra ao Norte e pela região dos vales, ao Sul, de colonização alemã. Em 1875 chegam os primeiros colonos, na sua grande parte oriundos da região do Vêneto, após enfrentarem a árdua travessia do Oceano Atlântico, que durava cerca de um mês, em navios superlotados e onde as mortes por doenças e más condições gerais eram comuns. Inicialmente os imigrantes aportavam no Rio de Janeiro, onde permaneciam em quarentena na Casa dos Imigrantes. Dali embarcavam num vapor até ao Sul. Chegando a Porto Alegre eram encaminhados ao antigo Porto Guimarães, hoje o município de São Sebastião do Caí, ou para Montenegro e Rio Pardo, e dali subiam a serra a pé, em lombo de burros ou em carretas, atravessando a região ainda praticamente selvagem, até chegarem ao Campo dos Bugres. Antes de receberem as terras prometidas pelo governo, o que geralmente demorava muito, as famílias eram instaladas em barracões, donde o epíteto Barracão também atribuído à pequena sede colonizadora. O Governo Imperial era responsável pelo transporte dos colonos e pela divisão e distribuição dos lotes com 63 hectares de área para cada família, pela abertura de estradas e concessão de ferramentas e sementes. Como os lotes de 63 hectares eram muito grandes, gradativamente foram reduzidos para 44, 30 e 25 hectares. Estes lotes eram reembolsados ao governo em prazos de 5 e 15 anos. Um ano depois já se encontravam no local cerca de dois mil colonos. Em 11 de Abril de 1877, por determinação da Inspectoria Especial de Terras e Colonização da Província do Rio Grande do Sul, a denominação oficial passava a ser Colónia Caxias, em homenagem ao Duque de Caxias.

Continua no quinto bloco...

 

 

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