Revista "Aquilo
que a Gente Sente"
Maio de 2010
Participantes: Membros
da
Liga dos
Amigos
do Portal CEN
Edição e Arte Final: Iara Melo

Perdidas na estrada
Benedita Azevedo
Naquele ano, como tivesse
deixado o colégio no turno
da tarde, convencida por um
casal amigo de que poderia
ganhar muito dinheiro, com o
lançamento, na praça, de um
produto americano, a
professora Solange formou
uma equipe de vendas e
passou a gerenciá-la.
Recrutou professores das
escolas onde trabalhava e
durante seis meses ficou
entre o 2º e 5º lugares, a
nível nacional. A gerente
que a recrutou estava sempre
no 1º lugar.
Cada pessoa da sua equipe
que recrutasse um número x
de vendedoras, também
passaria a gerente, e,
durante seis meses, ela
ganhava uma porcentagem
sobre a venda daquele grupo
e tinha de dar treinamento à
nova equipe, assim como
recebia da sua gerente e lhe
pagava uma porcentagem.
A pirâmide chegou a uma
de suas irmãs, que formou um
grupo na cidade onde morava.
Alice, a coordenadora
regional foi com Solange
treinar o novo grupo num
domingo e precisavam estar
de volta no mesmo dia, já
que tinham reunião semanal
de todas as equipes na
segunda-feira cedo, na sede
da empresa, na capital.
Aquela seria a quarta equipe
remanescente de seu grupo.
Em três meses ganhara três
vezes mais do que na escola.
Sua casa ganhara piso,
portas, cortinas e móveis
novos. Chegava a entregar
dois marajós lotados de
encomendas, na sexta feira.
Não tinha tempo de separar
os pedidos e pagava um
salário mínimo para que seu
filho e a esposa o fizessem
às quintas feiras à noite.
Até então tinha atingido
todos os objetivos propostos
pela distribuidora. E já
participara de dois
congressos nacionais. Uma
semana em Águas de Lindóia,
em São Paulo e outra no Rio
de Janeiro, no Hotel
Nacional.
Solange não estava no seu
carro, que ficara na
revisão. Teriam de ir de
ônibus, que saía apenas uma
vez por dia, da rodovia. Na
volta para São Luís, após a
reunião, perderam o da
rodoviária e foram com a
irmã da professora tentar
apanhar um na rodovia. E
quem disse que aparecia
algum? Desanimadas a
quatrocentos quilômetros de
casa, quase meia noite,
surgiu um ônibus ao longe na
estrada. A irmã disse que
ele as levaria até Peritoró
e de lá seria mais fácil
apanhar outro para a
capital.
Elas sentaram-se nos dois
únicos assentos vagos.
Cansadas, logo adormeceram.
Acordaram com o motorista
anunciando que os
passageiros teriam vinte
minutos para tomar café.
Estavam justamente em
Peritoró. Quase passaram do
ponto! Era quase uma hora.
Desceram e dirigiram-se ao
balcão, onde perguntaram a
que horas teria ônibus para
São Luís. Souberam que só
dali a duas horas. Ficaram
desconsoladas. Iriam chegar
a casa às cinco da manhã.
Alice ficou desesperada e
comentou que seria difícil
fazer a reunião às nove
horas.
Solange perguntou se ela
não tinha ninguém que a
substituísse numa
emergência. Ela disse que o
marido o fazia, mas que, no
dia anterior não se sentira
bem, pois tinha problemas
cardíacos. A companheira
sugeriu que ela o avisasse,
por telefone, do atraso do
ônibus, o que foi feito de
imediato. Alice quis saber
se Solange queria telefonar
e ficou sabendo que ela
morava sozinha.
Procuraram um lugar para
sentar. Não tinha. As poucas
cadeiras do lugar estavam
ocupadas. Sentaram-se na
calçada. A coordenadora
pediu à companheira que não
comentasse nada com o marido
dela e que para todos os
efeitos estavam em Bacabal e
o ônibus se atrasou.
Solange estava muito
cansada. As nádegas ficaram
dormentes no contato com o
cimento duro. Levantou-se,
deu uma volta, massageou o
bumbum e voltou a sentar-se.
Alice dormia com a cabeça
apoiada no colo.
A professora estava
desconfortável. Foi até o
balcão e pediu um café.
Conferiu o relógio. Faltava
mais de uma hora para o
ônibus chegar. Sentiu-se
angustiada, mas procurou se
controlar. Sua companheira
apareceu e também pediu um
café. Solange comentou, o
que pensariam seus alunos se
a vissem sentada na calçada,
às duas horas da manhã,
perdida na estrada.
A coordenadora deu uma
gargalhada tão espalhafatosa
que acordou os que dormiam
sentados nas cadeiras. E
também fez seu comentário:
Veja só onde vieram parar
duas senhoras elegantes, que
acabam de voltar de um
seminário no Rio de Janeiro,
uma semana no Hotel
Nacional, sentadas aqui, em
um lugar do qual nunca
ouviram falar!
Solange recriminou-se por
dar treinamento no domingo.
Disse que isso deveria ser
feito durante a semana ou no
sábado. Assim, poderiam
viajar pela manhã, sem o
desconforto daquela viagem
maluca. Alice disse que,
infelizmente, não poderia
durante a semana, pois tinha
muito que fazer, e não
poderiam deixar a irmã da
professora, com aquelas
mulheres todas, mais uma
semana sem trabalhar.
Solange comunicou que não
teria condições físicas para
ir à reunião das nove e
pediu à coordenadora que
explicasse a seus grupos a
razão da sua falta. Ela
disse que de jeito nenhum
comentaria o acontecido,
diria que ela estava doente.
Solange bateu na madeira
e pediu que Deus a livrasse
de doenças, mas como poderia
chegar às cinco e meia e
estar na reunião às nove?
Disse que tomaria um banho e
dormiria até o meio-dia.
Ainda bem que estava de
férias no colégio, festejou.
Alice disse que o marido
as apanharia na rodoviária e
deixariam Solange em casa,
pois era passagem.
O ônibus saiu de Peritoró
às três horas. Teriam duas
horas de viagem até à
rodoviária de São Luís. Só
iriam chegar às cinco.
Vencidas pelo cansaço,
adormeceram logo que
sentaram nas poltronas. Só
acordaram quando chegaram ao
destino, pouco antes do
previsto.
Solange abriu o portão da
sua casa, no Maranhão Novo,
às cinco da manhã. Entrou,
largou a bagagem na sala e
deitou do jeito que estava.
Acordou às oito horas com o
toque do telefone. Era da
parte de Alice pedindo que
lhe avisassem para não
faltar à reunião de jeito
nenhum, acontecera algo
muito sério. Levantou-se,
fez alongamento, tomou
banho, telefonou para o
mecânico trazer o carro e
tomou um café reforçado.
Pegou no escritório a sacola
com o kit de mostruário e
saiu. Eram oito horas e
trinta minutos. A
distribuição não era longe.
Ao estacionar o carro
percebeu um movimento
estranho à porta.
Pegou a sacola e se
aproximou. As gerentes
estavam todas nervosas. Ela
perguntou ao secretário o
que estava acontecendo para
tamanho alvoroço. Ele contou
que o marido da coordenadora
sofrera um infarto
fulminante e ela estava com
ele no hospital. Deixara
para Solange o roteiro para
que dirigisse a Assembléia e
que começasse na hora certa,
pois às segundas feiras, às
nove horas, no mundo
inteiro, respeitando as
diferenças de fusos
horários, acontecia a
Assembléia. Não deveria
fazer nenhum comentário
sobre o assunto e fazer de
conta que nada acontecera.
Praia do Anil, Magé – RJ,
21/03/2010
Benedita Silva de Azevedo

Um doloroso
incidente
Ilda Maria Costa
Brasil
Num final de manhã do mês de agosto, uma professora
se desloca de uma
escola a outra
carregada de
material escolar,
testes e provas a
serem corrigidos.
Esse processo
envolvia o descer de
um ônibus, andar
quatro quadras e
pegar outro. No
trajeto em que
caminhava, ao apoiar
o pé na calçada,
sentiu o frio da
laje e o desconforto
de estar descalça na
rua, local onde
circulam estudantes
das escolas em que
trabalha. Num
momento, não sabia o
que fazer: parar e
recolher o solado do
sapato, ou continuar
andando como se nada
tivesse acontecido;
porém, ao ouvir
risos e expressões
como: "Coitada!",
"Que azar!", Que
humilhação!",
recuou, sem
virar-se, até
tropeçar em algo.
Agachou-se, usando
como apoio, um
guarda-chuva,
comprado na esquina
da Borges de
Medeiros com a
Salgado Filho por
dois reais no dia
anterior, o qual foi
dobrando lentamente
para o lado
esquerdo, agravando
a situação da
infeliz educadora
que se vê estendida
na calçada.
O sentimento de
vergonha e de
tristeza tomaram-lhe
conta e a levaram a
retirar o outro
sapato, juntar o
danificado,
erguer-se e sair em
busca de uma loja de
calçados.
Ao andar descalça
por duas quadras no
Bairro Azenha, mil
ideias lhe passaram
pelo pensamento, mas
uma delas a levou ao
pânico: "Como
comprar um par de
sapatos se estava
sem dinheiro?"
Alguém percebeu a
sua palidez e lhe
perguntou se
precisava de ajuda.
Virou-se, pois a voz
vinha do interior de
uma loja. Olhou
aflitamente para a
garota que havia
falado, parou e
disse:
- Preciso de um
sapato, porém estou
sem dinheiro!
A balconista sugeriu
que usasse cartão de
crédito ou talão de
cheque, o que a
azarada profissional
não dispunha, pois,
certa ocasião em que
foi assaltada,
enfrentou vários
transtornos. A jovem
lhe explica que
assim não é possível
negociar. No
entanto, a gerente,
a qual ouvira a
conversa,
sensibilizada com a
triste realidade,
autoriza a venda. A
professora propõe
deixar como garantia
sua pasta com os
trabalhos escolares
enquanto vai ao
banco. Entre a
escolha e os
acertos, passaram-se
poucos minutos. De
pés "vestidos" e um
leve sorriso no
rosto, Vera sai
apressadamente da
loja. Ao pisar na
calçada, percebe que
está começando a
chover, volta e
apavorada pergunta à
vendedora:
- Este sapato não
corre o risco de
desmanchar-se com a
chuva?
A garota, sorrindo,
assegurou que não e
que poderia ir
tranquila. Quase
correndo, foi ao
Banrisul, sacou o
dinheiro e retornou
ao local. Chegando,
efetuou o pagamento
e, ainda, comprou
uma sombrinha.
Agradeceu aos
funcionários, pegou
sua pasta e
dirigiu-se a outra
escola com uma
grande sensação de
fracasso e de
tristeza.
***
Uma situação
inesperada
Ilda Maria Costa
Brasil
Um adolescente
desperta cedinho,
prepara-se e corre
para o trabalho, o
qual fica no Bairro
Santa Tereza. Do
morro, aprecia o
amanhecer. Mariana,
todos os dias,
agradece a Deus por
começar o seu dia
admirando a
natureza, na maioria
das vezes, o sol e,
quando isso não
acontece, sente-se
triste. Passa suas
manhãs cuidando de
uma bebezinha de
seis meses. Após o
almoço, dirige-se à
escola onde cursa a
1ª série do Ensino
Médio. No
deslocar-se de um
lugar ao outro, às
vezes, lê um pouco;
outras, fica atenta
ao que os demais
passageiros falam.
Ritual esse que faz
com prazer e que lhe
permite ousar,
imaginando-se
passear por imensos
campos ou caminhar
firme nas areias das
praias gaúchas.
Certo dia, essa
rotina foi quebrada
pelo lamento de uma
senhora que dizia
estar cansada.
Trabalhava em três
empresas diferentes
para se sustentar e
a seus três filhos -
era separada e o
ex-marido não a
ajudava. Seu esforço
não era reconhecido
pelos filhos.
O ar frio que havia
no interior do
coletivo é,
gradativamente,
substituído pelo
calor humano, todos
se sensibilizam com
o sofrimento da
pobre mulher que
fala
compulsivamente.
Comenta ter casado
aos dezoito anos e
que o filho mais
velho está com
dezessete. No
entanto, aparenta
bem mais idade.
Mariana que irradia
imensa luz e muita
tranqüilidade num
gesto rápido e
infantil, abraça-a e
repousa sua cabeça
no ombro da mulher.
Um belo quadro a ser
visto... Para
brindar a magia e o
encanto do momento,
um pássaro passa a
compartilhar o
interior do ônibus,
indo pousar na
mesinha do cobrador
e cantando como se o
local fosse o seu
habitat.
O coletivo roda mais
alguns minutos,
antes de entrar na
Avenida João Pessoa
- rua que nasceu
para a cultura:
escolas, editoras,
livrarias, cinemas e
universidades. Na
segunda parada,
senhora e menina se
levantam e descem.
Despedem-se com um
abraço carinhoso e,
calmamente, Mariana
se afasta. Essa, ao
ouvir um grito,
vira-se e percebe
que aquela infeliz
mulher está com a
mão direita no peito
e cai lentamente.
Corre à tempo de
segurar sua cabeça
para não bater na
laje. Sol e calor
parecem ser os
únicos a fazer-lhes
companhia. A menina
custa a compreender
que a morte chegara
para aquela senhora,
dando fim ao seu
sofrimento.
A ambulância chega,
recolhe o corpo e
parte com a sirene
alerta. A menina
cheia de sonhos e de
calor humano, sem
entender muito da
vida, segue o seu
caminho com lágrimas
nos olhos e um
grande aperto no
coração.
Mariana, ao
atravessar a Praça
Piratini, tem uma
certeza: "Por alguns
minutos conhecera um
mundo frio e triste,
até então
desconhecido".
***
Um
passeio de bonde
Ilda Maria Costa
Brasil
1967,
milhares de
fantasias passavam
pelos pensamentos de
uma garota
interiorana, ao
saber que conheceria
a capital gaúcha.
Imaginava que iria
ver pessoas e coisas
diferentes das de
sua cidade.
Daniela viajou para
Porto Alegre no trem
Minuano, por ser
mais confortável e
rápido. Curtia
minissaias, vestidos
tubinhos, sapatos de
saltos altíssimos e
uma boa maquiagem.
Tudo a deslumbrava!
Numa manhã de
primavera do mês de
outubro, fez seu
"dramático" passeio
de bonde. Usava, na
ocasião, um
minúsculo vestido
amarelo ouro,
sandália e bolsa
gelos. Acompanhava-a
sua futura cunhada.
Dany acomodou-se
rapidamente,
deixando Beatriz à
sua esquerda.
No momento que o
bonde se pôs em
movimento, faíscas
foram percebidas
pela jovem, a qual
deduziu que o
transporte estava
incendiando e, ainda
na Praça XV,
jogou-se do veículo
aos gritos. Na
confusão que criara,
perdeu os sapatos e
a bolsa e quebrou o
pé esquerdo. Alguns
riram; outros a
olharam surpresos. O
clima constrangedor
foi quebrado por um
rapaz moreno, alto e
atencioso que lhe
perguntou se
precisava de ajuda,
prontificando-se a
acompanhá-las de
táxi ao Pronto
Socorro.
Durante o trajeto
até o hospital, por
vários momentos, o
garoto emprestou seu
lenço para Dany
enxugar as lágrimas;
algumas de dor,
outras de vergonha.
Após o atendimento
médico,
despediram-se com um
forte aperto de mão.
Daniela guardou o
lenço do "trágico
passeio" junto a
outras lembranças de
sua adolescência.
Nele havia um nome
bordado em ponto
cruz que, com o
passar do tempo, foi
esquecido.
Trinta anos depois,
radicada em Porto
Alegre, precisou
trocar as lentes dos
óculos. Suas colegas
de trabalho lhe
recomendaram um
excelente
oftalmologista.
Marcou a consulta e,
na data agendada,
compareceu.
Ao sentar-se diante
do médico,
reconheceram-se como
os jovens do
"desastroso passeio
de bonde". Entre
risos e a alegria do
reencontro,
relembraram o fato
até serem
interrompidos pela
secretária que
avisava que a
paciente das 17
horas queria saber
se seria ou não
atendida.
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ilda_Brasil/index.html

Iraí Verdan
OUTONO
Rondel
Ensolarados são, Outono,
os seus dias...
Que se estendem até ao
entardecer!...
Traz sensações de
solidão, de melancolias.
Ao ocaso se arrastam,
até ao amanhecer.
As horas passam, num
padecer...
Até ao soar no rádio as
Ave-Marias.
Ensolarados são, Outono,
os seus dias...
Que se estendem até ao
entardecer!...
Se, o tempo declina as
suas alegrias,
Não deixa o seu coração
emudecer.
Se for Outono o Sol é
garantia – rias!
Mesmo que chuvoso ao
anoitecer,
Ensolarados são, Outono,
os seus dias...
Iraí
Verdan
Magé, 28 de abril de
2010.
***
NOITE OUTONAL
Iraí Verdan
De mãos dadas,
Nós dois, juntinhos,
Percorremos os
mesmos
Caminhos...
Junto a nós
Um cenário mágico –
Propício pra sonhar...
O céu, ao longe,
Montanhas à beira mar!
Sonhamos
Nosso sonho impudico...
Tornando-o, porém,
No pensamento,
Suave, gracioso,
Angelical!
Ao começo
Da bela Noite
Outonal!...
Magé, 23/04/2010
***
Haicai
Iraí Verdan
Silêncio na noite...
Na lareira apagada
cascas de pinhões.
Magé, 22 de maio de
2010.
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Irai_Verdan/index.html
Das surpresas
amorosas
Lígia Antunes Leivas
Junho inaugura-se.
Enrola-nos em lãs.
Na aragem prismas
luminosos
dançam com a
natureza.
Frio minuano sonha
noites de verão.
Pelo bosque a relva
madrepérola
faz ajustes com as
luzes do céu
...o encontro é
dourado,
na saudação a nossas
próprias ânsias.
Te aproximas.
Passos calmos,
pisadas macias.
Centelhas de alegria
crepitam!
Gotas de arco-íris
nos acendem!
O sonho tem manto e
coroa !
E o cetro contagia a
alma
na contagiante calma
da tarde de domingo!
Sob as lentes o
sorriso
e o poema em tua
voz...
O amor sequer
obedece
à irrecorrível
sentença do tempo!
Pelotas, RS, BR
***
Onde me descubro
sem teu olhar?
Lígia Antunes
Leivas
A mente vasculha
distâncias
as madrugadas se
aceleram
nuas de
presenças
plenas de
desejos...
Nos labirintos
das incertezas
luas reafirmam
palavras mortas
e o coração
segue esse vento
frio de maio.
Suportaremos tão
louco exílio
sem adormecer
destroços
estilhaços de
nós mesmos?
Quem eras tu
antes daquele
espelho
multifacetado em
imagens
imagináveis
desequilibradas
na mudez do
mundo?
No chão, as
cinzas vêm...
Varrem as
ruas...
solitárias...
- Onde me
descubro sem teu
olhar?
Pelotas, RS
***
Um homem do
mundo
Lígia Antunes
Leivas
Da margem
avistava-se a
minúscula casa
em meio à
vegetação. Só
ela fazia o
contraste
naquela pintura
completamente
branca. Verde o
resto, todo. Era
tanto o
silêncio, que
dava tempo de
cochilar...
apenas o vento,
de vez em
quando, fazia a
diferença a
embalar folhas,
galhos e a
insistir na
batida de uma
porta que, sem
se saber por
que, ficara
aberta. E o rio
com águas cor de
cinza
estirava-se
calmamente entre
nós, deste lado,
e o lado de lá.
A espera não era
confortável;
compulsória
porém. O que
teria
acontecido?
Aquele homem do
mundo decidira
retirar-se da
vida, isolar-se.
Ainda estaria
vivo? ... quando
a balsa chegasse
para fazer a
travessia é que
os fatos seriam
esclarecidos.
Tempo comprido
estivemos ali
até a hora do
embarque.
Ao receber-nos,
tremia com um
relógio e o
diário na mão.
A casa branca
ficou para trás
em meio ao
verde.
E o vento batia
em nós e o rio
acompanhava-nos
na volta.
E o silêncio
apoderou-se até
de nosso
pensamento.
Pelotas, RS
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ligia_Leivas/index.html
AQUILO QUE VI E SENTI DA
INCOERÊNCIA
HUMANA!
Maria
Granzoto
Rua Dançarino Rosado – Arapongas
– PR
Ao fundo, o Parque Ecológico
Rabitolândia
O tronco de uma das árvores
recém cortada que não foi
respeitada pela
LEI Municipal
No 3.154, DE 23 DE NOVEMBRO DE
2004
A ÁRVORE
DA SERRA
Augusto dos
Anjos
- As árvores, meu filho, não têm
alma!
E esta árvore me serve de
empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu
filho,
Para que eu tenha uma velhice
calma!
- Meu pai, por que sua ira não
se acalma?!
Não vê que em tudo existe o
mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no
junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui
minha’alma!...
- Disse - e ajoelhou-se, numa
rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para
que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a
pátria serra,
Caiu aos golpes do machado
bronco,
O moço triste se abraçou com o
tronco
E nunca mais se levantou da
terra!
***
Restos de tronco
decepados e amontoados na rua
Fruteiro – Arapongas -PR
Há uma
história estarrecedora — embora
não comprovada — em torno do
soneto "A Árvore da Serra".
Conta-se que Augusto dos Anjos
teria se apaixonado por uma
jovem retirante, filha de um
vaqueiro. Isso era simplesmente
intolerável para a família de
Augusto, dona de engenho de
açúcar. A mãe dele teria mandado
dar uma surra na moça, que
estava grávida (do poeta?), e
então abortou e morreu.
Alguns especialistas
na obra de Augusto dos Anjos
interpretam o soneto "A Árvore
da Serra" não como uma cena
ecológica, mas como a
transposição, em versos, dessa
história tenebrosa. Dizem que o
amargor e o pessimismo de
Augusto vêm daí.
Conta-se também que o
pai, no episódio, teria ficado
ao lado de Augusto, mas era
dominado pela mãe. Para esses
especialistas, isso também
explicaria por que o poeta
escreveu vários textos citando o
pai e nunca falou sobre a mãe.
Então, a árvore cortada seria a
amada do poeta. E o próprio
Augusto é que se teria abraçado
àquele tronco "e nunca mais se
levantou da terra". Consta
também que, embora não haja
registro histórico, o caso era
de amplo conhecimento na região.
Agora, os créditos:
retirei a história sobre "A
Árvore da Serra" de dois artigos
que estão no site do Jornal de
Poesia: um do contista baiano
Hélio Pólvora e o outro do poeta
cearense Soares Feitosa,
fundador e editor do Jornal de
Poesia.
Porém, a minha história
estarrecedora é real! Aconteceu
no final do ano de 2009, na rua
Fruteiro, esquina com a rua
Dançarino Rosado (aonde resido,
em Arapongas-PR), próximas à
reserva ecológica chamada de
Parque Rabitolândia! Três
árvores de uns 20 anos,
aproximadamente, foram
“ecologicamente” decepadas! E
nesse dia não havia expediente
nos órgãos públicos municipais!
E ainda querem falar da
Amazônia...
Parque Rabitolândia à direita
Os três círculos vermelhos ERAM
TRÊS ÁRVORES ATÉ O DIA 20/04/09
O retângulo vermelho é a minha
residência há 20 anos...
Com desmedida
indignação, as fotos que eu não
quisera registrar!
Maria Granzoto
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Maria_Granzoto/index.html
INQUIETUDE
Tito Olívio
As mãos que me afagam têm
pouca doçura;
A boca que ri bem se esforça
pra ser
O naco de mel que esta sede
procura;
Os lábios que beijam só
sabem morder,
São frios de neve na sua
secura;
A língua, de doce, nada pode
ter,
É mole e insonsa, morta e
sem gordura,
Não tem a genica que a fome
requer;
Se vou procurar, pra achar,
num mundo louco,
O muito que quero e é sempre
tão pouco,
Melhor é ficar por aqui a
pensar.
Só posso dizer que o tempo é
perverso
E não sei, na escrita do
Deus do Universo,
Se inda há muito tempo para
eu esperar.
Livro de Visitas
Recomende
Índice
Página criada para ser visualizada no Internet Explorer
Resolução do Ecrã, acima de 1024 pixels
Formatação e
Arte Final:
Iara Melo

***
Liga dos Amigos do Portal CEN Web Page ***
Todos os Direitos Reservados
|
|
|
|