Revista "Aquilo que a Gente Sente"

Maio de 2010

Participantes: Membros da Liga dos

 

Amigos do Portal CEN

 

Edição e Arte Final: Iara Melo

 


 

 

 

 

 
 
Perdidas na estrada

Benedita Azevedo


          Naquele ano, como tivesse deixado o colégio no turno da tarde, convencida por um casal amigo de que poderia ganhar muito dinheiro, com o lançamento, na praça, de um produto americano, a professora Solange formou uma equipe de vendas e passou a gerenciá-la. Recrutou professores das escolas onde trabalhava e durante seis meses ficou entre o 2º e 5º lugares, a nível nacional. A gerente que a recrutou estava sempre no 1º lugar.
 
          Cada pessoa da sua equipe que recrutasse um número x de vendedoras, também passaria a gerente, e, durante seis meses, ela ganhava uma porcentagem sobre a venda daquele grupo e tinha de dar treinamento à nova equipe, assim como recebia da sua gerente e lhe pagava uma porcentagem.
 
          A pirâmide chegou a uma de suas irmãs, que formou um grupo na cidade onde morava. Alice, a coordenadora regional foi com Solange treinar o novo grupo num domingo e precisavam estar de volta no mesmo dia, já que tinham reunião semanal de todas as equipes na segunda-feira cedo, na sede da empresa, na capital.  Aquela seria a quarta equipe remanescente de seu grupo. Em três meses ganhara três vezes mais do que na escola. Sua casa ganhara piso, portas, cortinas e móveis novos. Chegava a entregar dois marajós lotados de encomendas, na sexta feira. Não tinha tempo de separar os pedidos e pagava um salário mínimo para que seu filho e a esposa o fizessem às quintas feiras à noite. Até então tinha atingido todos os objetivos propostos pela distribuidora. E já participara de dois congressos nacionais. Uma semana em Águas de Lindóia, em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, no Hotel Nacional.
 
          Solange não estava no seu carro, que ficara na revisão. Teriam de ir de ônibus, que saía apenas uma vez por dia, da rodovia. Na volta para São Luís, após a reunião, perderam o da rodoviária e foram com a irmã da professora tentar apanhar um na rodovia. E quem disse que aparecia algum? Desanimadas a quatrocentos quilômetros de casa, quase meia noite, surgiu um ônibus ao longe na estrada. A irmã disse que ele as levaria até Peritoró e de lá seria mais fácil apanhar outro para a capital.
 
          Elas sentaram-se nos dois únicos assentos vagos. Cansadas, logo adormeceram. Acordaram com o motorista anunciando que os passageiros teriam vinte minutos para tomar café. Estavam justamente em Peritoró. Quase passaram do ponto! Era quase uma hora. Desceram e dirigiram-se ao balcão, onde perguntaram a que horas teria ônibus para São Luís. Souberam que só dali a duas horas. Ficaram desconsoladas. Iriam chegar a casa às cinco da manhã. Alice ficou desesperada e comentou que seria difícil fazer a reunião às nove horas.
          Solange perguntou se ela não tinha ninguém que a substituísse numa emergência. Ela disse que o marido o fazia, mas que, no dia anterior não se sentira bem, pois tinha problemas cardíacos. A companheira sugeriu que ela o avisasse, por telefone, do atraso do ônibus, o que foi feito de imediato. Alice quis saber se Solange queria telefonar e ficou sabendo que ela morava sozinha.
 
          Procuraram um lugar para sentar. Não tinha. As poucas cadeiras do lugar estavam ocupadas. Sentaram-se na calçada. A coordenadora pediu à companheira que não comentasse nada com o marido dela e que para todos os efeitos estavam em Bacabal e o ônibus se atrasou.
 
          Solange estava muito cansada. As nádegas ficaram dormentes no contato com o cimento duro. Levantou-se, deu uma volta, massageou o bumbum e voltou a sentar-se. Alice dormia com a cabeça apoiada no colo.
 
          A professora estava desconfortável. Foi até o balcão e pediu um café. Conferiu o relógio. Faltava mais de uma hora para o ônibus chegar. Sentiu-se angustiada, mas procurou se controlar. Sua companheira apareceu e também pediu um café. Solange comentou, o que pensariam seus alunos se a vissem sentada na calçada, às duas horas da manhã, perdida na estrada.
 
          A coordenadora deu uma gargalhada tão espalhafatosa que acordou os que dormiam sentados nas cadeiras. E também fez seu comentário: Veja só onde vieram parar duas senhoras elegantes, que acabam de voltar de um seminário no Rio de Janeiro, uma semana no Hotel Nacional, sentadas aqui, em um lugar do qual  nunca  ouviram falar!
 
          Solange recriminou-se por dar treinamento no domingo. Disse que isso deveria ser feito durante a semana ou no sábado. Assim, poderiam viajar pela manhã, sem o desconforto daquela viagem maluca. Alice disse que, infelizmente, não poderia durante a semana, pois tinha muito que fazer, e não poderiam deixar a irmã da professora, com aquelas mulheres todas, mais uma semana sem trabalhar.
Solange comunicou que não teria condições físicas para ir à reunião das nove e pediu à coordenadora que explicasse a seus grupos a razão da sua falta. Ela disse que de jeito nenhum comentaria o acontecido, diria que ela estava doente.
 
          Solange bateu na madeira e pediu que Deus a livrasse de doenças, mas como poderia chegar às cinco e meia e estar na reunião às nove? Disse que tomaria um banho e dormiria até o meio-dia. Ainda bem que estava de férias no colégio, festejou.
 
          Alice disse que o marido as apanharia na rodoviária e deixariam Solange em casa, pois era passagem.
 
          O ônibus saiu de Peritoró às três horas. Teriam duas horas de viagem até à rodoviária de São Luís. Só iriam chegar às cinco. Vencidas pelo cansaço, adormeceram logo que sentaram nas poltronas. Só acordaram quando chegaram ao destino, pouco antes do previsto.
 
          Solange abriu o portão da sua casa, no Maranhão Novo, às cinco da manhã. Entrou, largou a bagagem na sala e deitou do jeito que estava. Acordou às oito horas com o toque do telefone. Era da parte de Alice pedindo que lhe avisassem para não faltar à reunião de jeito nenhum, acontecera algo muito sério. Levantou-se, fez alongamento, tomou banho, telefonou para o mecânico trazer o carro e tomou um café reforçado. Pegou no escritório a sacola com o kit de mostruário e saiu. Eram oito horas e trinta minutos. A distribuição não era longe. Ao estacionar o carro percebeu um movimento estranho à porta.
 
          Pegou a sacola e se aproximou. As gerentes estavam todas nervosas. Ela perguntou ao secretário o que estava acontecendo para tamanho alvoroço. Ele contou que o marido da coordenadora sofrera um infarto fulminante e ela estava com ele no hospital. Deixara para Solange o roteiro para que dirigisse a Assembléia e que começasse na hora certa, pois às segundas feiras, às nove horas, no mundo inteiro, respeitando as diferenças de fusos horários, acontecia a Assembléia. Não deveria fazer nenhum comentário sobre o assunto e fazer de conta que nada acontecera.
 
Praia do Anil, Magé – RJ, 21/03/2010
Benedita Silva de Azevedo
 
 
 

 
 

 

  

 

Um doloroso incidente

Ilda Maria Costa Brasil
 

Num final de manhã do mês de agosto, uma professora se desloca de uma escola a outra carregada de material escolar, testes e provas a serem corrigidos. Esse processo envolvia o descer de um ônibus, andar quatro quadras e pegar outro. No trajeto em que caminhava, ao apoiar o pé na calçada, sentiu o frio da laje e o desconforto de estar descalça na rua, local onde circulam estudantes das escolas em que trabalha. Num momento, não sabia o que fazer: parar e recolher o solado do sapato, ou continuar andando como se nada tivesse acontecido; porém, ao ouvir risos e expressões como: "Coitada!", "Que azar!", Que humilhação!", recuou, sem virar-se, até tropeçar em algo. Agachou-se, usando como apoio, um guarda-chuva, comprado na esquina da Borges de Medeiros com a Salgado Filho por dois reais no dia anterior, o qual foi dobrando lentamente para o lado esquerdo, agravando a situação da infeliz educadora que se vê estendida na calçada.
O sentimento de vergonha e de tristeza tomaram-lhe conta e a levaram a retirar o outro sapato, juntar o danificado, erguer-se e sair em busca de uma loja de calçados.
Ao andar descalça por duas quadras no Bairro Azenha, mil ideias lhe passaram pelo pensamento, mas uma delas a levou ao pânico: "Como comprar um par de sapatos se estava sem dinheiro?" Alguém percebeu a sua palidez e lhe perguntou se precisava de ajuda. Virou-se, pois a voz vinha do interior de uma loja. Olhou aflitamente para a garota que havia falado, parou e disse:
- Preciso de um sapato, porém estou sem dinheiro!
A balconista sugeriu que usasse cartão de crédito ou talão de cheque, o que a azarada profissional não dispunha, pois, certa ocasião em que foi assaltada, enfrentou vários transtornos. A jovem lhe explica que assim não é possível negociar. No entanto, a gerente, a qual ouvira a conversa, sensibilizada com a triste realidade, autoriza a venda. A professora propõe deixar como garantia sua pasta com os trabalhos escolares enquanto vai ao banco. Entre a escolha e os acertos, passaram-se poucos minutos. De pés "vestidos" e um leve sorriso no rosto, Vera sai apressadamente da loja. Ao pisar na calçada, percebe que está começando a chover, volta e apavorada pergunta à vendedora:
- Este sapato não corre o risco de desmanchar-se com a chuva?
A garota, sorrindo, assegurou que não e que poderia ir tranquila. Quase correndo, foi ao Banrisul, sacou o dinheiro e retornou ao local. Chegando, efetuou o pagamento e, ainda, comprou uma sombrinha. Agradeceu aos funcionários, pegou sua pasta e dirigiu-se a outra escola com uma grande sensação de fracasso e de tristeza.

 

***
 

Uma situação inesperada


Ilda Maria Costa Brasil


Um adolescente desperta cedinho, prepara-se e corre para o trabalho, o qual fica no Bairro Santa Tereza. Do morro, aprecia o amanhecer. Mariana, todos os dias, agradece a Deus por começar o seu dia admirando a natureza, na maioria das vezes, o sol e, quando isso não acontece, sente-se triste. Passa suas manhãs cuidando de uma bebezinha de seis meses. Após o almoço, dirige-se à escola onde cursa a 1ª série do Ensino Médio. No deslocar-se de um lugar ao outro, às vezes, lê um pouco; outras, fica atenta ao que os demais passageiros falam. Ritual esse que faz com prazer e que lhe permite ousar, imaginando-se passear por imensos campos ou caminhar firme nas areias das praias gaúchas.
Certo dia, essa rotina foi quebrada pelo lamento de uma senhora que dizia estar cansada. Trabalhava em três empresas diferentes para se sustentar e a seus três filhos - era separada e o ex-marido não a ajudava. Seu esforço não era reconhecido pelos filhos.
O ar frio que havia no interior do coletivo é, gradativamente, substituído pelo calor humano, todos se sensibilizam com o sofrimento da pobre mulher que fala compulsivamente. Comenta ter casado aos dezoito anos e que o filho mais velho está com dezessete. No entanto, aparenta bem mais idade.
Mariana que irradia imensa luz e muita tranqüilidade num gesto rápido e infantil, abraça-a e repousa sua cabeça no ombro da mulher. Um belo quadro a ser visto... Para brindar a magia e o encanto do momento, um pássaro passa a compartilhar o interior do ônibus, indo pousar na mesinha do cobrador e cantando como se o local fosse o seu habitat.
O coletivo roda mais alguns minutos, antes de entrar na Avenida João Pessoa - rua que nasceu para a cultura: escolas, editoras, livrarias, cinemas e universidades. Na segunda parada, senhora e menina se levantam e descem. Despedem-se com um abraço carinhoso e, calmamente, Mariana se afasta. Essa, ao ouvir um grito, vira-se e percebe que aquela infeliz mulher está com a mão direita no peito e cai lentamente. Corre à tempo de segurar sua cabeça para não bater na laje. Sol e calor parecem ser os únicos a fazer-lhes companhia. A menina custa a compreender que a morte chegara para aquela senhora, dando fim ao seu sofrimento.
A ambulância chega, recolhe o corpo e parte com a sirene alerta. A menina cheia de sonhos e de calor humano, sem entender muito da vida, segue o seu caminho com lágrimas nos olhos e um grande aperto no coração.
Mariana, ao atravessar a Praça Piratini, tem uma certeza: "Por alguns minutos conhecera um mundo frio e triste, até então desconhecido".

 

***
 

Um passeio de bonde


Ilda Maria Costa Brasil

 

1967, milhares de fantasias passavam pelos pensamentos de uma garota interiorana, ao saber que conheceria a capital gaúcha. Imaginava que iria ver pessoas e coisas diferentes das de sua cidade.
Daniela viajou para Porto Alegre no trem Minuano, por ser mais confortável e rápido. Curtia minissaias, vestidos tubinhos, sapatos de saltos altíssimos e uma boa maquiagem. Tudo a deslumbrava!
Numa manhã de primavera do mês de outubro, fez seu "dramático" passeio de bonde. Usava, na ocasião, um minúsculo vestido amarelo ouro, sandália e bolsa gelos. Acompanhava-a sua futura cunhada. Dany acomodou-se rapidamente, deixando Beatriz à sua esquerda.
No momento que o bonde se pôs em movimento, faíscas foram percebidas pela jovem, a qual deduziu que o transporte estava incendiando e, ainda na Praça XV, jogou-se do veículo aos gritos. Na confusão que criara, perdeu os sapatos e a bolsa e quebrou o pé esquerdo. Alguns riram; outros a olharam surpresos. O clima constrangedor foi quebrado por um rapaz moreno, alto e atencioso que lhe perguntou se precisava de ajuda, prontificando-se a acompanhá-las de táxi ao Pronto Socorro.
Durante o trajeto até o hospital, por vários momentos, o garoto emprestou seu lenço para Dany enxugar as lágrimas; algumas de dor, outras de vergonha.
Após o atendimento médico, despediram-se com um forte aperto de mão.
Daniela guardou o lenço do "trágico passeio" junto a outras lembranças de sua adolescência. Nele havia um nome bordado em ponto cruz que, com o passar do tempo, foi esquecido.
Trinta anos depois, radicada em Porto Alegre, precisou trocar as lentes dos óculos. Suas colegas de trabalho lhe recomendaram um excelente oftalmologista. Marcou a consulta e, na data agendada, compareceu.
Ao sentar-se diante do médico, reconheceram-se como os jovens do "desastroso passeio de bonde". Entre risos e a alegria do reencontro, relembraram o fato até serem interrompidos pela secretária que avisava que a paciente das 17 horas queria saber se seria ou não atendida.

 

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Iraí Verdan


OUTONO
 
Rondel
  
Ensolarados são, Outono, os seus dias...
Que se estendem até ao entardecer!...
Traz sensações de solidão, de melancolias.
Ao ocaso se arrastam, até ao amanhecer.
 
As horas passam, num padecer...
Até ao soar no rádio as Ave-Marias.
Ensolarados são, Outono, os seus dias...
Que se estendem até ao entardecer!...
 
Se, o tempo declina as suas alegrias,
Não deixa o seu coração emudecer.
Se for Outono o Sol é garantia – rias!
Mesmo que chuvoso ao anoitecer,
Ensolarados são, Outono, os seus dias...

 Iraí Verdan
Magé, 28 de abril de 2010.

 

***
 

NOITE OUTONAL

 
Iraí Verdan
 
De mãos dadas,
Nós dois, juntinhos,
Percorremos os mesmos
Caminhos...

Junto a nós
Um cenário mágico –
Propício pra sonhar...
O céu, ao longe,
Montanhas à beira mar!
 
Sonhamos
Nosso sonho impudico...
Tornando-o, porém,
No pensamento,
Suave, gracioso,
Angelical!
Ao começo
Da bela Noite Outonal!...

Magé, 23/04/2010

 

***
 

Haicai
 

Iraí Verdan
 
Silêncio na noite...
Na lareira apagada
cascas de pinhões.

Magé, 22 de maio de 2010.

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Das surpresas amorosas
              
Lígia Antunes Leivas

Junho inaugura-se. Enrola-nos em lãs.
Na aragem prismas luminosos
dançam com a natureza.
Frio minuano sonha noites de verão.
 
Pelo bosque a relva madrepérola
faz ajustes com as luzes do céu
...o encontro é dourado,
na saudação a nossas próprias ânsias.
 
Te aproximas.
Passos calmos, pisadas macias.
Centelhas de alegria crepitam!
Gotas de arco-íris nos acendem!

O sonho tem manto e coroa !
E o cetro contagia a alma
na contagiante calma
da tarde de domingo!
 
Sob as lentes o sorriso
e o poema em tua voz...
O  amor sequer obedece
à irrecorrível sentença do tempo!

Pelotas, RS, BR
 

***
 

Onde me descubro sem teu olhar?

Lígia Antunes Leivas

A mente vasculha distâncias
as madrugadas se aceleram
nuas de presenças
plenas de desejos...
Nos labirintos das incertezas
luas reafirmam palavras mortas
e o coração segue esse vento frio de maio.
Suportaremos tão louco exílio
sem adormecer destroços
estilhaços de nós mesmos?
Quem eras tu antes daquele espelho
multifacetado em imagens imagináveis
desequilibradas na mudez do mundo?
 
No chão, as cinzas vêm...
Varrem as ruas... solitárias...

- Onde me descubro sem teu olhar?


Pelotas, RS
 

 

***

 

Um homem do mundo

Lígia Antunes Leivas


Da margem avistava-se a minúscula casa em meio à vegetação. Só ela fazia o contraste naquela pintura completamente branca. Verde o resto, todo. Era tanto o silêncio, que dava tempo de cochilar... apenas o vento, de vez em quando, fazia a diferença a embalar folhas, galhos e a insistir na batida de uma porta que, sem se saber por que, ficara aberta. E o rio com águas cor de cinza estirava-se calmamente entre nós, deste lado, e o lado de lá.
A espera não era confortável; compulsória porém. O que teria acontecido? Aquele homem do mundo decidira retirar-se da vida, isolar-se. Ainda estaria vivo? ... quando a balsa chegasse para fazer a travessia é que os fatos seriam esclarecidos. Tempo comprido estivemos ali até a hora do embarque.
       
Ao receber-nos, tremia com um relógio e o diário na mão.
 
A casa branca ficou para trás em meio ao verde.
E o vento batia em nós e o rio acompanhava-nos na volta.
E o silêncio apoderou-se até de nosso pensamento.

Pelotas, RS

 

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AQUILO QUE VI E SENTI DA INCOERÊNCIA

HUMANA!

Maria Granzoto

 


Rua Dançarino Rosado – Arapongas – PR
Ao fundo, o Parque Ecológico Rabitolândia
O tronco de uma das árvores recém cortada que não foi respeitada pela
LEI Municipal No 3.154, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2004



A ÁRVORE DA SERRA

Augusto dos Anjos

- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
 
- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minha’alma!...
 
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
 
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

 
***

Restos de tronco decepados e amontoados na rua Fruteiro – Arapongas -PR


        Há uma história estarrecedora — embora não comprovada — em torno do soneto "A Árvore da Serra". Conta-se que Augusto dos Anjos teria se apaixonado por uma jovem retirante, filha de um vaqueiro. Isso era simplesmente intolerável para a família de Augusto, dona de engenho de açúcar. A mãe dele teria mandado dar uma surra na moça, que estava grávida (do poeta?), e  então abortou e morreu.
           Alguns especialistas na obra de Augusto dos Anjos interpretam o soneto "A Árvore da Serra" não como uma cena ecológica, mas como a transposição, em versos, dessa história tenebrosa. Dizem que o amargor e o pessimismo de Augusto vêm daí.
          Conta-se também que o pai, no episódio, teria ficado ao lado de Augusto, mas era dominado pela mãe. Para esses especialistas, isso também explicaria por que o poeta escreveu vários textos citando o pai e nunca falou sobre a mãe. Então, a árvore cortada seria a amada do poeta. E o próprio Augusto é que se teria abraçado àquele tronco "e nunca mais se levantou da terra". Consta também que, embora não haja registro histórico, o caso era de amplo conhecimento na região.
          Agora, os créditos: retirei a história sobre "A Árvore da Serra" de dois artigos que estão no site do Jornal de Poesia: um do contista baiano Hélio Pólvora e o outro do poeta cearense Soares Feitosa, fundador e editor do Jornal de Poesia.
         Porém, a minha história estarrecedora é real! Aconteceu no final do ano de 2009,  na rua Fruteiro, esquina com a rua Dançarino Rosado (aonde resido, em Arapongas-PR), próximas à reserva ecológica chamada de Parque Rabitolândia! Três árvores de uns 20 anos, aproximadamente, foram “ecologicamente” decepadas! E nesse dia não havia expediente nos órgãos públicos municipais! E ainda querem falar da Amazônia...
 


Parque Rabitolândia à direita
Os três círculos vermelhos ERAM TRÊS ÁRVORES ATÉ O DIA 20/04/09
O retângulo vermelho é a minha residência há 20 anos...

Com desmedida indignação, as fotos que eu não quisera registrar!

Maria Granzoto

 
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INQUIETUDE

Tito Olívio
 
As mãos que me afagam têm pouca doçura;
A boca que ri bem se esforça pra ser
O naco de mel que esta sede procura;
Os lábios que beijam só sabem morder,
 
São frios de neve na sua secura;
A língua, de doce, nada pode ter,
É mole e insonsa, morta e sem gordura,
Não tem a genica que a fome requer;
 
Se vou procurar, pra achar, num mundo louco,
O muito que quero e é sempre tão pouco,
Melhor é ficar por aqui a pensar.
 
Só posso dizer que o tempo é perverso
E não sei, na escrita do Deus do Universo,
Se inda há muito tempo para eu esperar.

 
 
 
 

 

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