Revista "Aquilo que a Gente Sente"

Abril de 2010

Participantes: Membros da Liga dos Amigos

 

do Portal CEN - LAPCCEN

 

 

 

Editora: Iara Melo

 

 


 

 

 

 

 

AMOR MADURO
 
Alba Albarello
 

 


Amadurecido o amor  não é de  principal nível a amplitude. Este amor se recua  excluindo-se silencioso.
Não é mínimo em distância. A transpirar a coloração é igualmente definido e poetizado, presenteia confiança de suas emoções. As feições desenvolvem com as carências expressivas.
O amor maduro vive dos problemas da felicidade, encontradas no trabalho de construir o bem e sua  harmonia.
O infortúnio é repartido em equilíbrio atualizado ao apego particular, o sentimento conviver com o atrativo da prudência e as posição de espírito. 
Estabelecendo alcances inéditos para seus sentimentos antigos, sempre cultivando o seu jardim com novas sementes.
A vida é substantiva, e nós é que somos os  adjetivos.
Carinhoso e marcante..., controlado e  exato.
Em seu jardim o sol conservar-se, aquecendo, até germinar o luar.


***
 
AMOR

Alba Albarello
 
Ocultei uma ternura,  amedrontada em perdê-lo.
E hoje acontece o desconforto deste amor por tê-lo disfarçado.
Senti a minha alma a te procurar
Da saudades a tua falta.
Abri o coração
A vida é assim
O jardim é seus sonhos
Meu coração está falando
Através do que estou pensando
Vicio que me domina o sentido
Não há palavras que explicam
Escorrerem pelos jardins secreto do coração.
Da tua alma, fragrância almejante das rosas
E pétalas de sorrisos como o vento forte e seguro.
Que saiba o que faz e o que quer
Passe o tempo que passar
Viva o mundo que viver
Imagino na estrela, um céu brilhar
Conforme o luar
Que no seu mágico mostra o caminho
Basta você mudar

Mas para sempre
Através do tempo e espaço
No pensamento
Quase tudo saber.

Alba Albarello-Erechim-RS
 

 
 
 
 
 
 
 
 

 

NUVEM DE FADAS
 
(Ari Santos de Campos)
 

Nuvem de fadas há certo momento,
vira miragem por todo luar...
Vulto demente, com o seu talento,
lá faz a minha alma perambular.
 
Junto dos sonhos vou solto no vento,
longe de tudo e de todo zumbar...
Meus desatinos, em são sacramento,      
jazem-se ao fluxo e refluxo do mar.
 
Numa visagem meu bom anjo-bento
mostra seu mundo e me vem reparar
toda mazela do meu sofrimento.
 
Arfam-se os ventos entre o trovejar:
vulto demente se vai...ao relento,
nuvem de fadas vem ao meu sonhar.

 

http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ari_Campos/index.html

 

 

 
 
 
 

 
 
O suspiro da professora

Benedita Azevedo

 
Com a morte do marido, Susana encerrou um capítulo doloroso de sua vida, mas não de fracassos. A década que ficava para trás foi de muito sofrimento, muito trabalho e grandes vitórias. Forjou a própria essência no desespero de ver um ente querido definhando, com a presença de dois jovens que precisavam desabrochar para a vida, apesar da tristeza constante de ver o pai deles sobre uma cama, doente. Estavam juntos, enfrentando tudo com dignidade, respeito e carinho. 
 
Os dissabores daqueles dez anos foram encarados com naturalidade e tratados com seriedade. Dentro de suas possibilidades, fez tudo o que era possível para manter o equilíbrio da família. Os filhos viveram cada fase de suas vidas com harmonia e compreensão. Cada assunto era tratado com equilíbrio e firmeza.
 
Certa vez, Susana não hesitou em pegar o filho pelo braço e ir até a  namorada que pretendia casar-se com ele, aos dezoito anos, mesmo sem concluir os estudos e desempregado. Mostrou aos pais dela que tinha um projeto para seus filhos e que ele não estava preparado para assumir uma família. A mãe da namorada enfrentou-a e disse que sua família o assumiria. Susana ficou decepcionada e voltou preocupada, pois conhecia bem o filho e sabia que teria um futuro promissor, desde que não se precipitasse num casamento precoce.
 
Em casa, conversou com ele, mostrou os prós e os contras que poderiam advir daquela precipitação e, principalmente, da perda da autonomia que poderia ter para tomar as próprias decisões. Dependente dos pais da namorada ele seria sempre um subalterno, um pau-mandado.
 
Ao final, ela disse ao filho que não voltaria a comentar aquele assunto. Que, com a doença do pai, ele muito cedo começara a enfrentar junto com ela os problemas da família e que era admirado por todos por ser um rapaz equilibrado. Mas era diferente a responsabilidade que dividia com a mãe e a irmã na administração das coisas da casa, com o dinheiro da mãe, e a submissão de um casamento para depender do sogro, um fazendeiro mau-humorado. Afirmou que confiava na formação que dera a ele.
 
Pouco depois, o colégio onde ela lecionava a inscreveu num Seminário de Educadores Maristas, no Rio de Janeiro. O filho e a filha cuidariam de tudo nos vinte dias que passaria fora. Susana ficou hospedada no Convento Assunção, em Santa Teresa. Foi nessa ocasião que, no convívio com muitos educadores, percebeu que a vida era maravilhosa e que até ali tinha se anulado em razão dos filhos e da doença do marido. A viagem a despertara para uma nova realidade. Sentiu que ainda era jovem, 38 anos, e tinha uma vida inteira pela frente. Aqueles dez anos de luta foram sua preparação para caminhar com mais tranqüilidade. Os filhos estavam concluindo o 2º grau e fariam o vestibular no ano seguinte. Susana percebeu que era uma mulher independente e livre para refazer a vida, se quisesse, mas seus filhos ainda eram a sua prioridade, queria cuidar deles sem a interferência de ninguém. Queria vê-los formados e assumindo as próprias responsabilidades. Esperava que o filho acordasse e não estragasse seu futuro com a proposta indecente dos pais da namorada para se casar sem ter completado a formação. Era apenas um adolescente que ainda não sabia o que estava fazendo.
 
Na volta a casa, todos perceberam um novo brilho no olhar de Susana. Alguns amigos perguntaram se estava namorando, pois a transformação era visível. Até o diretor do colégio comentou que ela voltara mais animada. Ela atribuiu a leveza aos novos conhecimentos e ao convívio com quase cem professores de todo o Brasil. Levou tempo para perceber que a rotina com o marido doente acabara havia dois anos. A morte libertou a ambos.
 
Os alunos também perceberam a mudança de sua professora de Português e Literatura. Um dia, ela escrevia no quadro o esquema das escolas literárias quando foi surpreendida pela declaração à queima-roupa de um aluno novo, vindo do Paraná: “Professora, a senhora sabia que é muito enxuta?” O silêncio tomou conta da sala de 45 adolescentes. Todos prenderam a respiração. Susana engoliu em seco, encarou o jovem loiro de olhos azuis, um ano mais novo que seu filho, e respondeu tranquilamente: “Sei, Paraná. Obrigada pelo elogio... Anote o esquema do quadro. É matéria de prova.” As respirações da classe voltaram com a resposta serena da mestre.
 
Enquanto dirigia de volta, ela ia pensando no que acontecera e nas observações dos colegas, de que estava mais bonita depois do seminário. Respirou fundo, sentiu-se plena de juventude e, ao chegar, olhou-se no espelho da sala. Falou alto, sem perceber que o filho chegara à porta:  “Realmente, estou bem para meus 38 anos.” O filho explodiu de alegria, levantou-a no colo e rodopiaram pelo quarto. Ele disse que ela era a melhor mãe do mundo e nem parecia ter um filho tão grande e forte. Riram juntos.
 
A mãe o abraçou com carinho e perguntou o que acontecera, pois ele deveria estar no colégio. Ele disse que precisava lhe contar que conseguira um estágio remunerado, no laboratório de análise clínica do colégio, e que terminara o namoro. Só queria estudar e passar no vestibular.
 
Susana ficou muito feliz e tornaram a se abraçar. Com a cabeça apoiada nas costas largas do filho, ela fechou os olhos e liberou o suspiro que vinha prendendo desde a visita à casa dos agora ex-futuros sogros. Mentalmente, agradeceu: “Obrigado, Senhor.”
 
Ela ainda não sabia, mas um louro de olhos azuis, mais velho, estava para entrar na sua vida. Um belo crianção.
 
Voltou a sorrir, segurando a lágrima de felicidade.
 
Praia do Anil, 02 de abril de 2010.

 

 

 
 

 

 

NO PALCO


Célia Lamounier de Araújo

Estamos todos sozinhos,
entregues a nosso destino:
vede uma dor que aparece,
uma criança que chora,
um grande amor que se esquece,
um homem velho que tomba!

Vede também quanta guerra,
quanta ambição desmedida
e tanta luta perdida!

Sozinhos...
no palco da terra.
 
 

 

MINHAS CANÇÕES
 
Eliane Arruda - CE

Quem não se alegra com um passarinho
Cantando sempre no topo de u`a árvore?
Ouvindo-o, penso que são todas minhas
Suas canções e acordes belos... suaves.

Quando gorjeiam todos em revoada,
Apologizam, talvez, liberdade...
Sem eles, na manhã, ou numa tarde,
 Ah, tudo é triste...Não há novidade.

Quero entender o que dizem no canto:
Se estão alegres ou apreensivos...
Nunca conheçam a dor e o desencanto!

Por que me adulam com leves gorjeios,
Querem dizer-me que ainda estou viva?
Isso compreendo... E o quanto sei!

 

 

 

AMO

Gislaine Canales
 
 
Amo com toda a força do meu ser.
Amo a beleza, a arte, uma canção.
Amo o eterno desejo de vencer.
Amo os versos que vêm do coração.
 
Amo as flores, é grande o  meu querer.
Amo essa amarga e triste solidão.
Amo os sonhos que estou sempre a tecer.
Amo o infinito em sua imensidão.
 
Amo também a morte, dura e fria.
Amo na morte, toda a ausência e dor.  
Amo meu mundo em meio à fantasia.
 
Amo a tristeza, e mais, amo a alegria.
Amo a vida e esse mundo encantador.
Amo o amor, amo a paz, amo a poesia.
 

***

EU
 
Gislaine Canales
 
          
Ao meu redor, tudo desmoronou,
como se hoje eu vivesse um outro dia
em que a bomba terrível detonou
dentro de mim, trazendo  nostalgia.  
 
Até a solidão me abandonou.
O pranto não me faz mais companhia.
Todos os sonhos - tudo, terminou.
Não sinto dor, tristeza ou alegria.
 
Estou como um zumbi - sou morta-viva,  
que não morre, nem vive - não decide,
não ama, nem odeia - como outrora!
 
Sinto fugir da boca até a saliva,
até meu pensamento, hoje me agride:
Não sei quem fui ou o que sou agora!
 

 
***

OLHAR DE POETA

Gislaine Canales

Sei que o olhar do Poeta é fascinante,
tem o brilho do Sol, tem seu calor;
possui uma alegria cativante,
em verdade, é um imenso mar de amor!

Esse olhar tem um “quê”, de embriagante,
tem perfume, beleza e tem frescor,
parece com o olhar quente de amante,   
que, em momentos, se faz conquistador!

Nasce o poema no seu coração,
aflora livre no seu pensamento,
em ondas e mais ondas de emoção!

Pelas estradas todas do Universo
o Poeta verseja o sentimento
poetizando tudo com seu verso! 
 

http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Gislaine_Canales/index.html

 

 


 

 

 

UNIVERSO DE TRISTES DESCOBERTAS!

 Ilda Maria Costa Brasil

 
A tarde está silenciosa e um simples ruído provocou-me um grande susto. Meus batimentos cardíacos aceleraram, apossando-se de uma sonoridade alarmante.
De tão fortes e desritmados, pareciam ruídos de uma picareta quebrando o asfalto bruscamente.
A cada momento, a certeza de que a autenticidade e a sinceridade são valores que não estão em moda. As pessoas estão tomando como princípio a dissimulação. Isso coloca em dúvida suas personalidades e caracteres.
Estamos caminhando em terrenos movediços e arenosos.
Palavras, gestos e olhares estão sendo veículos de traição, de mentiras e de falsidades; baixando a qualidade de vida. À medida que aumenta a degeneração
dos bons valores, muitos deixam de usar da razão e da sensibilidade, equivalendo-se aos mais ferozes animais, já que passam a agir por instinto.
Estão sempre prontos a atacar aos demais, independente desses lhes demonstrarem ou não perigo. Infelizmente, aqueles que não seguem essa teoria patológica são tão poucos que, em breve, serão ilhas.

 

***


MANHÃ INESPERADA!

Ilda Maria Costa Brasil


Tequila, a minha gatinha, tem 16 anos, é altiva e prudente. Quando fareja algo estranho, senta ou deita junto à porta, atenta a quaisquer ruídos. Em face do perigo, refugia-se dentro de casa, donde passa a observar o inimigo com um olhar feroz, segura de que esse não poderá alcançá-la, mas se não vê saída, não hesita em defender-nos com muita coragem. Arqueia o dorso e eriça os pelos, a fim de intimidar o adversário, fazendo com que se pareça mais
feroz e agressiva do que realmente é. Nesse dia, enquanto eu tomava banho, ela ia e vinha até a porta furiosa e de pelos em pé. Achei que havia pressentido a presença do gato preto que, frequentemente, entrava no nosso pátio e lhe disse: “Calma filha, a mamãe vai jogar água fria nesse gato abusado.” Mas, ao abrir a cortina da porta, que dá acesso ao pátio, levei um susto enorme, dei de cara com um rapaz mexendo na fechadura da porta de ferro. Boné, calça de abrigo marrom, sem camisa e pés descalços. Sua pele era queimada pelo sol.
– Como viera parar ali àquela hora da manhã, já que eram 6 horas?!
Por alguns segundos, ficamos um a olhar para o outro. Eu, de um lado; ele, do outro, cara a cara. Então lhe questionei: “– Cara, o que fazes aqui?” Ao longo da pergunta, dei-me conta do que estava acontecendo e que o rapaz era um ladrão. Gritei... gritei desesperadamente. Ele, em seguida, esgueirou-se pelo pátio, alcançando o muro e pulando a grade de ferro, que fica acima do mesmo. Muro e grade somam uma altura de 3 m e 20 cm; parecia um bicho saltando, tamanha era a sua velocidade. Esse, enquanto fugia, virou-se e me olhou com desdém. Ainda aos berros, corri para a porta da frente, a fim de pedir ajuda. Somente, três vizinhas vieram em meu socorro.
Meu sono me traíra, pois não ouvi nem um ruído estranho; no entanto, minha fiel gatinha me protegeu ao farejar alguém estranho no local. Por uma semana, fui para a casa de meu filho, mas sempre que eu saia de meu apartamento, um intenso sentimento de culpa apossava-se de mim, pois estava deixando a minha protetora só. Ao longo desses dias, senti o meu coração atormentado e o medo tomar conta de mim.
Hoje, oito dias após o ocorrido, estou em casa fazendo companhia a Teca e me sentindo mais tranquila, pois a síndica do prédio mandou colocar cerca elétrica. Serei eternamente grata à Teca, às vizinhas e à polícia que, ao ser chamada, veio rapidamente.
 
 

 

 

 

 

 
DESAMOR
 
Iraí Verdan

Tento esconder
o meu amor por ti...
Desdobro-me em duas
ou três Iraís...
Para me diminuir,
encurtar o Meu Tempo,
e te esquecer um pouquinho...
Mas, não consigo mudar
o paradígma: amar-te...
Amar-te sempre!

Sem saber,
se isto é bom ou ruim,
vou voando nas asas
da louca paixão
de te querer,
todo dia, toda hora,
para que saibas
mais de mim.

Nessa lida de amar
e de querer desamar-te,
vou querendo desvoar
este pássaro triste,
sem forças, sem coragem
de voar,
que agora mora em mim,
e sem querer me alucina!
Aparece em meus sonhos
ou pesadelos, talvez...
Arquivo-o na memória,
mas acabo por revê-los,
tal a força que me fascina.

Nestes mágicos momentos,
entre o sono e os sonhos,
desperto!
E meus pensamentos
viajam,
por caminhos da saudade,
onde o desamor nos uniu.

Magé - RJ

***
 

A CHUVA
 
Iraí Verdan

Olho pela vidraça
a chuva fina que cai.
Que com insistência
de gota em gota,
molhando o chão, vai...

Olho ao longe.
Avisto a praça,
os bancos, a rua
e o jardim.

Penso  no bem da chuva
e nos seus dissabores.
Desperta a alegria das flores,
dá mais brilho
ao verde das folhas,
e traz-nos calma sem fim.

Faz tudo parecer triste,
sem ser tristeza
a chuva.
Esconde o sol
e o seu calor esfria.
Faz no ar uma estranha
melancolia,
que invade a alma da gente...

Põe os pincéis
nas mãos do pintor,
que para dar
mais vida na cor
faze-os deslizar
suavemente...

Libera de si, o poeta
e o leva pra vida.
Aquece de emoções
o seu ser!
Chama do seu peito
a fantasia,
e mansamente espera,
que nele desperte
uma POESIA!...

(Dedicada ao poeta e pintor Geraldo Mattos)

Magé - RJ


 

***


PRISÃO
Rondel
 

Iraí Verdan

Tua prisão pode ser uma sala,
Um quarto, ou um banco de jardim...
Prisão sem grades, tal senzala!
De algemas invisíveis e solidão sem fim.

Perguntas a todo instante: o que fizeste a mim?
Deixastes-me na cela fria, onde a voz se cala!
Tua prisão pode ser uma sala,
Um quarto, ou um banco de jardim...

Agora, prisioneiro do coração, soltas a fala,
No aconchego da tua sala, entre cortinas de cetim...
A recordar o amor perdido, sem garbo, sem gala,
Entre grades, esquecido, dizer: existe exílio assim?
A tua prisão pode ser uma sala...

Magé-RJ

 

http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Irai_Verdan/index.html
 
 
 

 
 

 
 
RAINHA DO ABISMO

Lairton Trovão de Andrade

“Eis que meu amado vem aí,
Saltando sobre os montes,
Pulando sobre as colinas”
(Cântico dos Cânticos)


* * *

Solitária orquídea do rochedo altivo,
Que o penhasco alegras com teu magnetismo,
Tens a pedra tosca, por trono cativo,
Onde vives presa, rainha do abismo.

Muito maravilhas o penhasco feio,
Do surgir da aurora até ao entardecer;
Mas teu coração está de angústia cheio
Por não ter aquele que desejas ter.

Que vale o sorrir da brisa em teu semblante,
Que se faz presente pra te acariciar?
Sem meigos carinhos deste amor distante,
Tudo, tudo vem pra te fazer penar.

O que mais fazer para te libertar?
Escalar montanha, além do abismo o horror?
Arriscarei tudo – quero te buscar!
Dar-te-ei uma vida repleta de amor.

Arriscarei tudo – vencerei o dragão!
Galgarei a escarpa – direção do norte;
Lutarei co´o vento – vencerei o tufão...
Vou salvar o amor – libertar-te-ei da morte!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Por que poesia?
 
Lígia Antunes Leivas

Por que poesia de amor?

...simplesmente porque tudo na vida - traga a máscara que trouxer - tem o traço poético que poderá ser descoberto com a sensibilidade dos que tem a  'arte da palavra' latente-latejante.

...porque o natural, o normal, o comum é sentir amor. Nascemos com essa 'propriedade', de tal forma que anormal, excepcional mesmo é não ter capacidade para amar.

 

***
 
Deserto

 
Lígia Antunes Leivas

Quantos olhos te veem passar tão perto
sem nunca poder serem os meus?
Não... não é ciúme nem desdém nem desalento
...é tristeza, saudade pura, constrangimento
e essa indagação ao pensamento:
-Por que há os outros olhos que te veem...
e eu aqui... na luta vã... a desfolhar essa distância tanta?
Que fado tirou-nos um do outro naquele tempo longe
em que o viço, a gana de seres meu e eu ser tua
entregaria a nós toda a felicidade apetecida?

O tempo... tanto tempo!
Esse mesmo tempo que hoje vem tão apressado
a querer ganhar para si aquele tempo longínquo do passado...

...assim vivo... nesse mesmo tempo...
sabendo que há os olhos que te veem tão perto
...e eu aqui, tão longe, sem rumo...

Tudo é deserto.

***
Julgamento
 
Lígia Antunes Leivas

Haverá o tempo de o tempo ter-se ido.
Então, não caberás mais em mim
e eu?... não beberei essas lágrimas.
O amor será sílabas, monossílabos entre nós.
... ... ...
Tantas vezes (já aprendi !),
tem sido ele tão-somente
pulsações escarlates
acorrentadas à tua ausência.
 
Lígia Antunes Leivas
Pelotas, RS, BR
liluleivas@hotmail.com

 
 
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ligia_Leivas/index.html
 
 

 
 
 
 

 
SE PENSO

Tito Olívio
 
Se penso neste mundo de vaidades,
Na importância vã que é vulgo ver,
Nos que adormecem ao amanhecer,
Nos que vivem fazendo só maldades;
 
Se penso no que foi e nas saudades,
No quanto ganharia em mais saber,
No muito que eu vi acontecer
E nas perdidas oportunidades;
 
Se tenho perto a meta, na corrida,
São horas de fazer contas à vida
No que teve de pior e de melhor;
 
Se penso nisto tudo, fico triste,
Porque o que fiz de mal é que persiste
E ao bem que fiz não dou nenhum valor.
 
 

***

 

A PALMEIRA

 

Tito Olívio

 

 

Esguia e esbelta na sua altura, parecendo uma modelo com saltos altos e fina cintura, a palmeira vivia em grande solidão, desde que os homens a deslocaram do sertão, que é o seu habitat natural, trazendo-a para o movimento das ruas citadinas do litoral, como exótico ornamento.

Também como as modelos, ela é seca de carnes e desprovida de peito, o que, para alguns, é uma beleza e, para outros, uma coisa sem jeito, indiferentes estes à fama que a moda lhes dá e aqueles gostando do que não há. O que mais se nota na palmeira, o que mais chama a nossa atenção é a cabeleira, aquele caramanchão de folhas esfiapadas, que são, afinal, o seu ornamento principal. É precisamente a cabeleira de verdes olas esfarrapadas, que se entretém a dar sombra aos namorados, à falta de outros locais mais ensombrados no quente sol de Verão, servindo de chapéu ou de sombrinha a quem ali se aninha nos braços amorosos, na reciprocidade do dar e receber que se julga ser a felicidade.

Não é feliz a palmeira, porque vive em solidão, lhe falta companheira e, então,  gosta de ser guarida aos carros com namorados, que ali, como que emboscados, se beijam de fugida, curtem ilusões. São os de outras gerações, os escravos de tabus e de conveniências, temerosos de escândalos e de maledicências, do que possam dizer as pessoas que falam na vizinhança.

Há outros, os que têm de se amar nos vales das cidades, em vez de se encontrarem nos recantos sossegados do campo, onde o denso arvoredo se faz céu dos amores, para que olhos indiscretos não vejam o calor dos beijos trocados, o brilho dos olhares quentes e o palpitar da pele sedosa.

Impávida, serena, a palmeira projecta-se no alcatrão com que os homens revestem os vales da cidade, onde não podem crescer nem as ervas verdejantes nem as plantas floridas. Desempenha o seu papel, sem dor nem alegria. Um ou outro casal de namorados acolhe-se à sua sombra amena e ela, então, sente-se feliz por ver que não é de todo inútil no isolamento em que a colocaram.

Dali podem ver-se os montes alvos de leite a que chamam Montes do Amor, porque nas suas encostas lisas perpassam as brisas mornas que dão calor à alma e frémitos de prazer ao corpo. Se os sentimentos se medissem pelo tempo, poderia dizer-se que não duravam mais que escassos segundos, porque apenas a eternidade é medida suficiente para os amantes.

Nem o sol se atreve a atravessar a verdura da cabeleira da esguia árvore africana e, assim, a brisa fresca é senhora e dona do espaço e carícia sensual para quem a ela se acolhe, na esperança de que o tempo se esqueça e pare na sua corrida impiedosa e cruel.

Há olhares que se trocam, elanguescidos, e podiam movimentar o mundo no seu corrupio louco, se se vestissem de ousadia, mas a mornaça estival parece adormecer-lhe a vontade e ali permanecem, dormentes, estáticos como estátuas de róseo mármore, que o criador tivesse esculpido só para serem admiradas com os olhos.

Há sorrisos que bailam em lábios de carmim para dizerem as coisas a que a boca foge, com receio de que o vento espalhe e denuncie os seus pensamentos mais profundos, porque o pensamento também se pode escrever na alvura das paredes e até no azul do céu.

Amo-te – parece murmurar baixinho a brisa tentadora, na sua passagem silenciosa, como se as letras fossem toques de mão, que nunca chegam a completar a palavra desejada. E o que é o desejo, senão o calor suave da brisa que passa e roça o corpo em carícias de volúpia, para depois fugir apressada, sem deixar mais que o rasto da memória e da saudade...

Deus mandou que o Sol se imobilizasse no seu giro para que José vencesse os seus inimigos, mas a palmeira não tem poderes para mandar parar o astro-rei e tem de ficar a ver a estrela da Terra a girar na sua órbita, fazendo rodar no chão a sombra da sua cabeleira verde. Ninguém pode mandar parar a luz que movimenta o tempo, nem as ondas que beijam a areia das praias, nem o vento que abana a folhagem, nem o calor do Verão que faz suar os corpos; por isso, sábio é aquele que conta minutos nos segundos e horas nos minutos, sem desperdiçar um naco do que Deus lhe oferece em pura dádiva.

 

 

 

 

 

 

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Formatação e Arte Final: Iara Melo

 

 

 

 

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