Revista "Aquilo
que a Gente Sente"
Abril de 2010
Participantes: Membros
da
Liga dos Amigos
do Portal CEN - LAPCCEN
Editora: Iara Melo

AMOR MADURO
Alba Albarello
Amadurecido o amor não
é de principal nível a
amplitude. Este amor se
recua excluindo-se
silencioso.
Não é mínimo em
distância. A transpirar
a coloração é igualmente
definido e poetizado,
presenteia confiança de
suas emoções. As feições
desenvolvem com as
carências expressivas.
O amor maduro vive dos
problemas da felicidade,
encontradas no trabalho
de construir o bem e
sua harmonia.
O infortúnio é repartido
em equilíbrio atualizado
ao apego particular, o
sentimento conviver com
o atrativo da prudência
e as posição de
espírito.
Estabelecendo alcances
inéditos para seus
sentimentos antigos,
sempre cultivando o seu
jardim com novas
sementes.
A vida é substantiva, e
nós é que somos os
adjetivos.
Carinhoso e marcante...,
controlado e exato.
Em seu jardim o sol
conservar-se, aquecendo,
até germinar o luar.
***
AMOR
Alba
Albarello
Ocultei uma ternura,
amedrontada em perdê-lo.
E hoje acontece o
desconforto deste amor
por tê-lo disfarçado.
Senti a minha alma a te
procurar
Da saudades a tua falta.
Abri o coração
A vida é assim
O jardim é seus sonhos
Meu coração está falando
Através do que estou
pensando
Vicio que me domina o
sentido
Não há palavras que
explicam
Escorrerem pelos jardins
secreto do coração.
Da tua alma, fragrância
almejante das rosas
E pétalas de sorrisos
como o vento forte e
seguro.
Que saiba o que faz e o
que quer
Passe o tempo que passar
Viva o mundo que viver
Imagino na estrela, um
céu brilhar
Conforme o luar
Que no seu mágico mostra
o caminho
Basta você mudar
Mas para sempre
Através do tempo e espaço
No pensamento
Quase tudo saber.
Alba
Albarello-Erechim-RS
NUVEM DE FADAS
(Ari Santos de
Campos)
Nuvem de fadas há
certo momento,
vira miragem por
todo luar...
Vulto demente, com o
seu talento,
lá faz a minha alma
perambular.
Junto dos sonhos vou
solto no vento,
longe de tudo e de
todo zumbar...
Meus desatinos, em
são
sacramento,
jazem-se ao fluxo e
refluxo do mar.
Numa visagem meu bom
anjo-bento
mostra seu mundo e
me vem reparar
toda mazela do meu
sofrimento.
Arfam-se os ventos
entre o trovejar:
vulto demente se
vai...ao relento,
nuvem de fadas vem
ao meu sonhar.
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ari_Campos/index.html
O suspiro da professora
Benedita Azevedo
Com a morte do marido,
Susana encerrou um
capítulo doloroso de sua
vida, mas não de
fracassos. A década que
ficava para trás foi de
muito sofrimento, muito
trabalho e grandes
vitórias. Forjou a
própria essência no
desespero de ver um ente
querido definhando, com
a presença de dois
jovens que precisavam
desabrochar para a vida,
apesar da tristeza
constante de ver o pai
deles sobre uma cama,
doente. Estavam juntos,
enfrentando tudo com
dignidade, respeito e
carinho.
Os dissabores daqueles
dez anos foram encarados
com naturalidade e
tratados com seriedade.
Dentro de suas
possibilidades, fez tudo
o que era possível para
manter o equilíbrio da
família. Os filhos
viveram cada fase de
suas vidas com harmonia
e compreensão. Cada
assunto era tratado com
equilíbrio e firmeza.
Certa vez, Susana não
hesitou em pegar o filho
pelo braço e ir até a
namorada que pretendia
casar-se com ele, aos
dezoito anos, mesmo sem
concluir os estudos e
desempregado. Mostrou
aos pais dela que tinha
um projeto para seus
filhos e que ele não
estava preparado para
assumir uma família. A
mãe da namorada
enfrentou-a e disse que
sua família o assumiria.
Susana ficou
decepcionada e voltou
preocupada, pois
conhecia bem o filho e
sabia que teria um
futuro promissor, desde
que não se precipitasse
num casamento precoce.
Em casa, conversou com
ele, mostrou os prós e
os contras que poderiam
advir daquela
precipitação e,
principalmente, da perda
da autonomia que poderia
ter para tomar as
próprias decisões.
Dependente dos pais da
namorada ele seria
sempre um subalterno, um
pau-mandado.
Ao final, ela disse ao
filho que não voltaria a
comentar aquele assunto.
Que, com a doença do
pai, ele muito cedo
começara a enfrentar
junto com ela os
problemas da família e
que era admirado por
todos por ser um rapaz
equilibrado. Mas era
diferente a
responsabilidade que
dividia com a mãe e a
irmã na administração
das coisas da casa, com
o dinheiro da mãe, e a
submissão de um
casamento para depender
do sogro, um fazendeiro
mau-humorado. Afirmou
que confiava na formação
que dera a ele.
Pouco depois, o colégio
onde ela lecionava a
inscreveu num Seminário
de Educadores Maristas,
no Rio de Janeiro. O
filho e a filha
cuidariam de tudo nos
vinte dias que passaria
fora. Susana ficou
hospedada no Convento
Assunção, em Santa
Teresa. Foi nessa
ocasião que, no convívio
com muitos educadores,
percebeu que a vida era
maravilhosa e que até
ali tinha se anulado em
razão dos filhos e da
doença do marido. A
viagem a despertara para
uma nova realidade.
Sentiu que ainda era
jovem, 38 anos, e tinha
uma vida inteira pela
frente. Aqueles dez anos
de luta foram sua
preparação para caminhar
com mais tranqüilidade.
Os filhos estavam
concluindo o 2º grau e
fariam o vestibular no
ano seguinte. Susana
percebeu que era uma
mulher independente e
livre para refazer a
vida, se quisesse, mas
seus filhos ainda eram a
sua prioridade, queria
cuidar deles sem a
interferência de
ninguém. Queria vê-los
formados e assumindo as
próprias
responsabilidades.
Esperava que o filho
acordasse e não
estragasse seu futuro
com a proposta indecente
dos pais da namorada
para se casar sem ter
completado a formação.
Era apenas um
adolescente que ainda
não sabia o que estava
fazendo.
Na volta a casa, todos
perceberam um novo
brilho no olhar de
Susana. Alguns amigos
perguntaram se estava
namorando, pois a
transformação era
visível. Até o diretor
do colégio comentou que
ela voltara mais
animada. Ela atribuiu a
leveza aos novos
conhecimentos e ao
convívio com quase cem
professores de todo o
Brasil. Levou tempo para
perceber que a rotina
com o marido doente
acabara havia dois anos.
A morte libertou a
ambos.
Os alunos também
perceberam a mudança de
sua professora de
Português e Literatura.
Um dia, ela escrevia no
quadro o esquema das
escolas literárias
quando foi surpreendida
pela declaração à
queima-roupa de um aluno
novo, vindo do Paraná:
“Professora, a senhora
sabia que é muito
enxuta?” O silêncio
tomou conta da sala de
45 adolescentes. Todos
prenderam a respiração.
Susana engoliu em seco,
encarou o jovem loiro de
olhos azuis, um ano mais
novo que seu filho, e
respondeu
tranquilamente: “Sei,
Paraná. Obrigada pelo
elogio... Anote o
esquema do quadro. É
matéria de prova.” As
respirações da classe
voltaram com a resposta
serena da mestre.
Enquanto dirigia de
volta, ela ia pensando
no que acontecera e nas
observações dos colegas,
de que estava mais
bonita depois do
seminário. Respirou
fundo, sentiu-se plena
de juventude e, ao
chegar, olhou-se no
espelho da sala. Falou
alto, sem perceber que o
filho chegara à porta:
“Realmente, estou bem
para meus 38 anos.” O
filho explodiu de
alegria, levantou-a no
colo e rodopiaram pelo
quarto. Ele disse que
ela era a melhor mãe do
mundo e nem parecia ter
um filho tão grande e
forte. Riram juntos.
A mãe o abraçou com
carinho e perguntou o
que acontecera, pois ele
deveria estar no
colégio. Ele disse que
precisava lhe contar que
conseguira um estágio
remunerado, no
laboratório de análise
clínica do colégio, e
que terminara o namoro.
Só queria estudar e
passar no vestibular.
Susana ficou muito feliz
e tornaram a se abraçar.
Com a cabeça apoiada nas
costas largas do filho,
ela fechou os olhos e
liberou o suspiro que
vinha prendendo desde a
visita à casa dos agora
ex-futuros sogros.
Mentalmente, agradeceu:
“Obrigado, Senhor.”
Ela ainda não sabia, mas
um louro de olhos azuis,
mais velho, estava para
entrar na sua vida. Um
belo crianção.
Voltou a sorrir,
segurando a lágrima de
felicidade.
Praia do Anil, 02 de
abril de 2010.

Célia Lamounier de
Araújo
Estamos todos
sozinhos,
entregues a nosso
destino:
vede uma dor que
aparece,
uma criança que
chora,
um grande amor que
se esquece,
um homem velho que
tomba!
Vede também quanta
guerra,
quanta ambição
desmedida
e tanta luta
perdida!
Sozinhos...
no palco da terra.

MINHAS CANÇÕES
Eliane Arruda - CE
Quem não se alegra
com um passarinho
Cantando sempre no
topo de u`a árvore?
Ouvindo-o, penso que
são todas minhas
Suas canções e
acordes belos...
suaves.
Quando gorjeiam
todos em revoada,
Apologizam, talvez,
liberdade...
Sem eles, na manhã,
ou numa tarde,
Ah, tudo é
triste...Não há
novidade.
Quero entender o que
dizem no canto:
Se estão alegres ou
apreensivos...
Nunca conheçam a dor
e o desencanto!
Por que me adulam
com leves gorjeios,
Querem dizer-me que
ainda estou viva?
Isso compreendo... E
o quanto sei!

AMO
Gislaine Canales
Amo com toda a força
do meu ser.
Amo a beleza, a
arte, uma canção.
Amo o eterno desejo
de vencer.
Amo os versos que
vêm do coração.
Amo as flores, é
grande o meu
querer.
Amo essa amarga e
triste solidão.
Amo os sonhos que
estou sempre a
tecer.
Amo o infinito em
sua imensidão.
Amo também a morte,
dura e fria.
Amo na morte, toda a
ausência e dor.
Amo meu mundo em
meio à fantasia.
Amo a tristeza, e
mais, amo a alegria.
Amo a vida e esse
mundo encantador.
Amo o amor, amo a
paz, amo a poesia.
***
EU
Gislaine Canales
Ao meu redor, tudo
desmoronou,
como se hoje eu
vivesse um outro dia
em que a bomba
terrível detonou
dentro de mim,
trazendo
nostalgia.
Até a solidão me
abandonou.
O pranto não me faz
mais companhia.
Todos os sonhos -
tudo, terminou.
Não sinto dor,
tristeza ou alegria.
Estou como um zumbi
- sou morta-viva,
que não morre, nem
vive - não decide,
não ama, nem odeia -
como outrora!
Sinto fugir da boca
até a saliva,
até meu pensamento,
hoje me agride:
Não sei quem fui ou o que sou agora!
***
OLHAR DE POETA
Gislaine Canales
Sei que o olhar do
Poeta é fascinante,
tem o brilho do Sol,
tem seu calor;
possui uma alegria
cativante,
em verdade, é um
imenso mar de amor!
Esse olhar tem um
“quê”, de
embriagante,
tem perfume, beleza
e tem frescor,
parece com o olhar
quente de amante,
que, em momentos, se
faz conquistador!
Nasce o poema no seu
coração,
aflora livre no seu
pensamento,
em ondas e mais
ondas de emoção!
Pelas estradas todas
do Universo
o Poeta verseja o
sentimento
poetizando tudo com
seu verso!
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Gislaine_Canales/index.html

UNIVERSO DE TRISTES
DESCOBERTAS!
Ilda Maria Costa
Brasil
A tarde está
silenciosa e um
simples ruído
provocou-me um
grande susto. Meus
batimentos cardíacos
aceleraram,
apossando-se de uma
sonoridade
alarmante.
De tão fortes e
desritmados,
pareciam ruídos de
uma picareta
quebrando o asfalto
bruscamente.
A cada momento, a
certeza de que a
autenticidade e a
sinceridade são
valores que não
estão em moda. As
pessoas estão
tomando como
princípio a
dissimulação. Isso
coloca em dúvida
suas personalidades
e caracteres.
Estamos caminhando
em terrenos
movediços e
arenosos.
Palavras, gestos e
olhares estão sendo
veículos de traição,
de mentiras e de
falsidades; baixando
a qualidade de vida.
À medida que aumenta
a degeneração
dos bons valores,
muitos deixam de
usar da razão e da
sensibilidade,
equivalendo-se aos
mais ferozes
animais, já que
passam a agir por
instinto.
Estão sempre prontos
a atacar aos demais,
independente desses
lhes demonstrarem ou
não perigo.
Infelizmente,
aqueles que não
seguem essa teoria
patológica são tão
poucos que, em
breve, serão ilhas.
***
MANHÃ INESPERADA!
Ilda Maria Costa
Brasil
Tequila, a minha
gatinha, tem 16
anos, é altiva e
prudente. Quando
fareja algo
estranho, senta ou
deita junto à porta,
atenta a quaisquer
ruídos. Em face do
perigo, refugia-se
dentro de casa,
donde passa a
observar o inimigo
com um olhar feroz,
segura de que esse
não poderá
alcançá-la, mas se
não vê saída, não
hesita em
defender-nos com
muita coragem.
Arqueia o dorso e
eriça os pelos, a
fim de intimidar o
adversário, fazendo
com que se pareça
mais
feroz e agressiva do
que realmente
é. Nesse dia,
enquanto eu tomava
banho, ela ia e
vinha até a porta
furiosa e de pelos
em pé. Achei que
havia pressentido a
presença do gato
preto que,
frequentemente,
entrava no nosso
pátio e lhe disse:
“Calma filha, a
mamãe vai jogar água
fria nesse gato
abusado.” Mas, ao
abrir a cortina da
porta, que dá acesso
ao pátio, levei um
susto enorme, dei de
cara com um rapaz
mexendo na fechadura
da porta de ferro.
Boné, calça de
abrigo marrom, sem
camisa e pés
descalços. Sua pele
era queimada pelo
sol.
– Como viera parar
ali àquela hora da
manhã, já que eram 6
horas?!
Por alguns segundos,
ficamos um a olhar
para o outro. Eu, de
um lado; ele, do
outro, cara a cara.
Então lhe
questionei: “– Cara,
o que fazes aqui?”
Ao longo da
pergunta, dei-me
conta do que estava
acontecendo e que o
rapaz era um ladrão.
Gritei... gritei
desesperadamente.
Ele, em seguida,
esgueirou-se pelo
pátio, alcançando o
muro e pulando a
grade de ferro, que
fica acima do mesmo.
Muro e grade somam
uma altura de 3 m e
20 cm; parecia um
bicho saltando,
tamanha era a sua
velocidade. Esse,
enquanto fugia,
virou-se e me olhou
com desdém. Ainda
aos berros, corri
para a porta da
frente, a fim de
pedir ajuda.
Somente, três
vizinhas vieram em
meu socorro.
Meu sono me traíra,
pois não ouvi nem um
ruído estranho; no
entanto, minha fiel
gatinha me protegeu
ao farejar alguém
estranho no local.
Por uma semana, fui
para a casa de meu
filho, mas sempre
que eu saia de meu
apartamento, um
intenso sentimento
de culpa apossava-se
de mim, pois estava
deixando a minha
protetora só. Ao
longo desses dias,
senti o meu coração
atormentado e o medo
tomar conta de mim.
Hoje, oito dias após
o ocorrido, estou em
casa fazendo
companhia a Teca e
me sentindo mais
tranquila, pois a
síndica do prédio
mandou colocar cerca
elétrica. Serei
eternamente grata à
Teca, às vizinhas e
à polícia que, ao
ser chamada, veio
rapidamente.

DESAMOR
Iraí Verdan
Tento esconder
o meu amor por
ti...
Desdobro-me em
duas
ou três Iraís...
Para me
diminuir,
encurtar o Meu
Tempo,
e te esquecer um
pouquinho...
Mas, não consigo
mudar
o paradígma:
amar-te...
Amar-te sempre!
Sem saber,
se isto é bom ou
ruim,
vou voando nas
asas
da louca paixão
de te querer,
todo dia, toda
hora,
para que saibas
mais de mim.
Nessa lida de
amar
e de querer
desamar-te,
vou querendo
desvoar
este pássaro
triste,
sem forças, sem
coragem
de voar,
que agora mora
em mim,
e sem querer me
alucina!
Aparece em meus
sonhos
ou pesadelos,
talvez...
Arquivo-o na
memória,
mas acabo por
revê-los,
tal a força que
me fascina.
Nestes mágicos
momentos,
entre o sono e
os sonhos,
desperto!
E meus
pensamentos
viajam,
por caminhos da
saudade,
onde o desamor
nos uniu.
A CHUVA
Iraí Verdan
Olho pela
vidraça
a chuva fina que
cai.
Que com
insistência
de gota em gota,
molhando o chão,
vai...
Olho ao longe.
Avisto a praça,
os bancos, a rua
e o jardim.
Penso no bem da
chuva
e nos seus
dissabores.
Desperta a
alegria das
flores,
dá mais brilho
ao verde das
folhas,
e traz-nos calma
sem fim.
Faz tudo parecer
triste,
sem ser tristeza
a chuva.
Esconde o sol
e o seu calor
esfria.
Faz no ar uma
estranha
melancolia,
que invade a
alma da gente...
Põe os pincéis
nas mãos do
pintor,
que para dar
mais vida na cor
faze-os deslizar
suavemente...
Libera de si, o
poeta
e o leva pra
vida.
Aquece de
emoções
o seu ser!
Chama do seu
peito
a fantasia,
e mansamente
espera,
que nele
desperte
uma POESIA!...
(Dedicada ao
poeta e pintor
Geraldo Mattos)
Magé - RJ
Iraí Verdan
Tua prisão pode ser
uma sala,
Um quarto, ou um
banco de jardim...
Prisão sem grades,
tal senzala!
De algemas
invisíveis e solidão
sem fim.
Perguntas a todo
instante: o que
fizeste a mim?
Deixastes-me na cela
fria, onde a voz se
cala!
Tua prisão pode ser
uma sala,
Um quarto, ou um
banco de jardim...
Agora, prisioneiro
do coração, soltas a
fala,
No aconchego da tua
sala, entre cortinas
de cetim...
A recordar o amor
perdido, sem garbo,
sem gala,
Entre grades,
esquecido, dizer:
existe exílio assim?
A tua prisão pode
ser uma sala...
Magé-RJ
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RAINHA DO ABISMO Lairton Trovão de
Andrade
“Eis que meu amado
vem aí, Saltando sobre os
montes, Pulando sobre as
colinas” (Cântico dos
Cânticos)
* * *
Solitária orquídea
do rochedo altivo,
Que o penhasco
alegras com teu
magnetismo,
Tens a pedra tosca,
por trono cativo,
Onde vives presa,
rainha do abismo.
Muito maravilhas o
penhasco feio,
Do surgir da aurora
até ao entardecer;
Mas teu coração está
de angústia cheio
Por não ter aquele
que desejas ter.
Que vale o sorrir da
brisa em teu
semblante,
Que se faz presente
pra te acariciar?
Sem meigos carinhos
deste amor distante,
Tudo, tudo vem pra
te fazer penar.
O que mais fazer
para te libertar?
Escalar montanha,
além do abismo o
horror?
Arriscarei tudo –
quero te buscar!
Dar-te-ei uma vida
repleta de amor.
Arriscarei tudo –
vencerei o dragão!
Galgarei a escarpa –
direção do norte;
Lutarei co´o vento –
vencerei o tufão...
Vou salvar o amor –
libertar-te-ei da
morte!
Por que poesia?
Lígia Antunes Leivas
Por que poesia de
amor?
...simplesmente
porque tudo na vida
- traga a máscara
que trouxer - tem o
traço poético que
poderá ser
descoberto com a
sensibilidade dos
que tem a 'arte da
palavra'
latente-latejante.
...porque o natural,
o normal, o comum é
sentir amor.
Nascemos com essa
'propriedade', de
tal forma que
anormal, excepcional
mesmo é não ter
capacidade para
amar.
***
Deserto
Lígia Antunes Leivas
Quantos olhos te
veem passar tão
perto
sem nunca poder
serem os meus?
Não... não é ciúme
nem desdém nem
desalento
...é tristeza,
saudade pura,
constrangimento
e essa indagação ao
pensamento:
-Por que há os
outros olhos que te
veem...
e eu aqui... na luta
vã... a desfolhar
essa distância
tanta?
Que fado tirou-nos
um do outro naquele
tempo longe
em que o viço, a
gana de seres meu e
eu ser tua
entregaria a nós
toda a felicidade
apetecida?
O tempo... tanto
tempo!
Esse mesmo tempo que
hoje vem tão
apressado
a querer ganhar para
si aquele tempo
longínquo do
passado...
...assim vivo...
nesse mesmo tempo...
sabendo que há os
olhos que te veem
tão perto
...e eu aqui, tão
longe, sem rumo...
Tudo é deserto.
***
Julgamento
Lígia Antunes Leivas
Haverá o tempo de o
tempo ter-se ido.
Então, não caberás
mais em mim
e eu?... não beberei
essas lágrimas.
O amor será sílabas,
monossílabos entre
nós.
... ... ...
Tantas vezes (já
aprendi !),
tem sido ele
tão-somente
pulsações escarlates
acorrentadas à tua
ausência.
Lígia Antunes Leivas
Pelotas, RS, BR
liluleivas@hotmail.com
http://www.caestamosnos.org/Liga_Amigos_CEN/Ligia_Leivas/index.html

SE PENSO
Tito Olívio
Se penso neste mundo
de vaidades,
Na importância vã
que é vulgo ver,
Nos que adormecem ao
amanhecer,
Nos que vivem
fazendo só maldades;
Se penso no que foi
e nas saudades,
No quanto ganharia
em mais saber,
No muito que eu vi
acontecer
E nas perdidas
oportunidades;
Se tenho perto a
meta, na corrida,
São horas de fazer
contas à vida
No que teve de pior
e de melhor;
Se penso nisto tudo,
fico triste,
Porque o que fiz de
mal é que persiste
E ao bem que fiz não
dou nenhum valor.
***
A PALMEIRA
Tito Olívio
Esguia e esbelta na
sua altura,
parecendo uma modelo
com saltos altos e
fina cintura, a
palmeira vivia em
grande solidão,
desde que os homens
a deslocaram do
sertão, que é o seu
habitat natural,
trazendo-a para o
movimento das ruas
citadinas do
litoral, como
exótico ornamento.
Também como as
modelos, ela é seca
de carnes e
desprovida de peito,
o que, para alguns,
é uma beleza e, para
outros, uma coisa
sem jeito,
indiferentes estes à
fama que a moda lhes
dá e aqueles
gostando do que não
há. O que mais se
nota na palmeira, o
que mais chama a
nossa atenção é a
cabeleira, aquele
caramanchão de
folhas esfiapadas,
que são, afinal, o
seu ornamento
principal. É
precisamente a
cabeleira de verdes
olas esfarrapadas,
que se entretém a
dar sombra aos
namorados, à falta
de outros locais
mais ensombrados no
quente sol de Verão,
servindo de chapéu
ou de sombrinha a
quem ali se aninha
nos braços amorosos,
na reciprocidade do
dar e receber que se
julga ser a
felicidade.
Não é feliz a
palmeira, porque
vive em solidão, lhe
falta companheira e,
então, gosta de ser
guarida aos carros
com namorados, que
ali, como que
emboscados, se
beijam de fugida,
curtem ilusões. São
os de outras
gerações, os
escravos de tabus e
de conveniências,
temerosos de
escândalos e de
maledicências, do
que possam dizer as
pessoas que falam na
vizinhança.
Há outros, os que
têm de se amar nos
vales das cidades,
em vez de se
encontrarem nos
recantos sossegados
do campo, onde o
denso arvoredo se
faz céu dos amores,
para que olhos
indiscretos não
vejam o calor dos
beijos trocados, o
brilho dos olhares
quentes e o palpitar
da pele sedosa.
Impávida, serena, a
palmeira projecta-se
no alcatrão com que
os homens revestem
os vales da cidade,
onde não podem
crescer nem as ervas
verdejantes nem as
plantas floridas.
Desempenha o seu
papel, sem dor nem
alegria. Um ou outro
casal de namorados
acolhe-se à sua
sombra amena e ela,
então, sente-se
feliz por ver que
não é de todo inútil
no isolamento em que
a colocaram.
Dali podem ver-se os
montes alvos de
leite a que chamam
Montes do Amor,
porque nas suas
encostas lisas
perpassam as brisas
mornas que dão calor
à alma e frémitos de
prazer ao corpo. Se
os sentimentos se
medissem pelo tempo,
poderia dizer-se que
não duravam mais que
escassos segundos,
porque apenas a
eternidade é medida
suficiente para os
amantes.
Nem o sol se atreve
a atravessar a
verdura da cabeleira
da esguia árvore
africana e, assim, a
brisa fresca é
senhora e dona do
espaço e carícia
sensual para quem a
ela se acolhe, na
esperança de que o
tempo se esqueça e
pare na sua corrida
impiedosa e cruel.
Há olhares que se
trocam,
elanguescidos, e
podiam movimentar o
mundo no seu
corrupio louco, se
se vestissem de
ousadia, mas a
mornaça estival
parece adormecer-lhe
a vontade e ali
permanecem,
dormentes, estáticos
como estátuas de
róseo mármore, que o
criador tivesse
esculpido só para
serem admiradas com
os olhos.
Há sorrisos que
bailam em lábios de
carmim para dizerem
as coisas a que a
boca foge, com
receio de que o
vento espalhe e
denuncie os seus
pensamentos mais
profundos, porque o
pensamento também se
pode escrever na
alvura das paredes e
até no azul do céu.
Amo-te – parece
murmurar baixinho a
brisa tentadora, na
sua passagem
silenciosa, como se
as letras fossem
toques de mão, que
nunca chegam a
completar a palavra
desejada. E o que é
o desejo, senão o
calor suave da brisa
que passa e roça o
corpo em carícias de
volúpia, para depois
fugir apressada, sem
deixar mais que o
rasto da memória e
da saudade...
Deus mandou que o
Sol se imobilizasse
no seu giro para que
José vencesse os
seus inimigos, mas a
palmeira não tem
poderes para mandar
parar o astro-rei e
tem de ficar a ver a
estrela da Terra a
girar na sua órbita,
fazendo rodar no
chão a sombra da sua
cabeleira verde.
Ninguém pode mandar
parar a luz que
movimenta o tempo,
nem as ondas que
beijam a areia das
praias, nem o vento
que abana a
folhagem, nem o
calor do Verão que
faz suar os corpos;
por isso, sábio é
aquele que conta
minutos nos segundos
e horas nos minutos,
sem desperdiçar um
naco do que Deus lhe
oferece em pura
dádiva.

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Formatação e
Arte Final:
Iara Melo

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