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SEBO LITERÁRIO
autor
Dedico este livro aos meus quatro netos, crianças extraordinárias
que vieram dar um signifcado ainda maior à minha vida:
• Gabriel Adler Costa e Silva, o mais velho dos rebentos, minha
primeira grande paixão, menino belo e brilhante que me chama de
Memema e com o qual sinto tanta afnidade;
• Clarice Adler Costa e Silva, criança linda, com um belo olhar,
possuidora de imensa inteligência e carisma pessoal, pela qual nutro
um grande amor;
• Camila Adler Vainsencher Amorim, bela e meiga fofurinha, minha
linda morena brejeira, pela qual expresso muito amor e sempre encho
de carinhos e mimos; e
• Davi Adler Vainsencher Amorim, luz e amor puros de minha vida,
verdadeiro anjo de olhos azuis, que dá e recebe tantos beijos e
mimos de sua avó.
Não poderia deixar de lembrar, aqui, duas outras crianças lindas,
que surgiram em meu caminho, e que eu tanto quero bem:
• Manassés Ramos da Silva e
• Viviane Ramos da Silva
A Cultura é o élan vital de um povo, seu pulso, sua alma imortal. É
aquilo pelo qual uma nação será lembrada (ou, esquecida), o conjunto
de padrões de comportamentos, crenças e valores, vivos e pulsantes,
e que caracterizam uma sociedade.
Não é surpreendente que a Cultura, mesmo quando desvalorizada, em
certas ocasiões, ou tenha seu papel diminuído, volte a ocupar um
lugar central nas decisões de um país. Hoje, é crescente a percepção
da importância da Cultura e de suas relações com as transformações
econômicas e sociais. No processo de desenvolvimento, ela vem sendo
reconhecida como um elemento chave, e os Governos e instituições
internacionais levam-na em conta, ao incorporar novas estratégias e
programas de trabalho.
No presente, a riqueza da criação cultural (incluindo-se, sob esse
rótulo, tanto as manifestações artísticas, de vários tipos, quanto
as produções intelectuais e científicas), passou a representar um
elemento de suma relevância na avaliação do desenvolvimento de um
país, sendo reconhecida como um bem econômico fundamental. O desafio
para as nações passou a ser, além do desenvolvimento econômico, a
criação de um ambiente favorável, também, ao desenvolvimento
intelectual das pessoas.
Outro fato, este de mais lenta e difícil aceitação, é o de que as
formas mais intangíveis de desenvolvimento cultural, são como fores
raras e de difícil cultivo: não podem ser criadas, de forma
artificial, ou por imposições do mercado e, tampouco, podem surgir
mediante decretos de qualquer Governo. Florescem, tão-somente, em um
ambiente socioeconômico livre, com investimentos de longo prazo na
Educação, e inteligentemente planejados, acompanhados de renúncia a
resultados imediatos ou, por demais, específicos.
A postura oficial do Governo brasileiro vem dando, maior atenção, à
uma noção menos elitizada de Cultura e, assim, adotando um paradigma
conducente à livre expressão e à criatividade. Nessa nova visão,
todas as pessoas são percebidas como produtoras culturais.
Destacam-se dois exemplos concretos que refetem mudanças na ação
governamental, com relação aos investimentos culturais. Um deles, é
o surgimento de uma mídia oficial de qualidade, como a TV Educativa
e a TV Cultura, que tem servido para difundir as diversas
manifestações culturais do país. Outro exemplo é o crescimento do
apoio oficial à produção e à comercialização de artesanato, através
da promoção de eventos, de exposições permanentes e de cadastramento
dos artesãos.
A sociedade civil vem contribuindo, decisivamente, para o avanço dos
“direitos culturais”. É o caso da organização e disseminação de
rádios
comunitárias que, apesar da falta de apoio e, mesmo, da oposição dos
poderes públicos, têm se expandido e já apresentam uma espécie de
código de ética próprio, cujos núcleos se baseiam na valorização e
na divulgação das manifestações folclóricas. Outras produções
artísticas locais, dentre elas, as expressões populares da
juventude, assumem, ainda, um importante papel histórico.
A Cultura Popular - objeto deste livro - está inserida no contexto
da Cultura lactu sensu e corresponde a uma parte importante do
aspecto humano do desenvolvimento do Brasil. Ela possui um amplo
leque de manifestações, sendo considerada como um bem imaterial e de
uso comum do povo, compreendendo um conjunto de tradições, mitos,
crenças, histórias populares, costumes, procedimentos terapêuticos,
cultos, religiosidades, culinárias, folguedos, fora e fauna, novas
formas de expressões populares, entre outros, que é transmitido de
geração em geração, ou criado pelas novas gerações.
Este livro reúne vários textos concernentes à Cultura brasileira, em
particular, à nordestina, e visa a dar, no espírito dos novos
tempos, uma pequena contribuição, como material
educativo-informativo, bem como fazer um manifesto favorável à sua
valorização, em um espaço privilegiado de socialização dos
indivíduos, que é aquele do ensinoaprendizagem. Tanto porque aborda
temas integrantes do currículo escolar formal, quanto porque, muitas
vezes, alguns desses assuntos não são disponibilizados, de forma
adequada e/ou atraente, para o público que frequenta as bibliotecas
das escolas e instituições públicas e privadas.
O acervo apresentado é fruto de um amálgama deliberado, revelador da
pluralização dos elementos culturais existentes, através da
miscigenação das culturas europeia, indígena e africana, que
formaram a brasileira.
A maior parte dos textos foram produzidos no âmbito da Diretoria de
Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco. Muitos já foram
publicados,
virtualmente, no site Pesquisa Escolar, ou, impressos e divulgados,
sob forma de micromonografas, pelo Centro de Estudos Folclóricos
Mário Souto Maior.
Outros trabalhos, porém, são inéditos ao público; e, alguns deles,
apresentam ilustrações desenhadas pela autora, em bico de pena. Os
textos publicados, anteriormente, sofreram pequenas alterações em
seu formato e conteúdo.
Espero que vocês, leitores, consigam apreender a variedade, a beleza
e a riqueza da Cultura Popular do Brasil. E jamais esqueçam de que
eu, uma judia nordestina, elaborei este livro com muito amor e
dedicação.
Semira Adler Vainsencher
Não acredito e
nem gosto de prefácios. Se o livro é ruim, o prefácio não adianta e,
se o livro é bom, ele é desnecessário. Porém, como negar ao convite
de uma amiga tão querida, do porte da intelectual Semira Adler
Vainsencher?
Como já dizia o psicanalista Sigmund Freud: o escritor faz o mesmo
que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que leva muito a
sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção,
enquanto conserva uma separação nítida entre o mesmo e a realidade
(...) não importando se esse mundo é ou não criativo... Este livro
conserva uma independência, que se manifesta na escolha do material,
e nas alterações do mesmo. Ele procede do tesouro popular, dos
mitos, das lendas, dos contos de fadas, em uma nova abordagem, de
vestígios distorcidos de fantasias, plenas dos desejos do povo.
Pouco se tem escrito sobre o destino dos flhos e dos netos dos
prestamistas judeus, que chegaram ao Recife, no princípio do século
passado, e após a Segunda Guerra Mundial. A maioria dos
pesquisadores, que estuda a importância da influência hebréia na
historiografia brasileira, se dedica a analisar os acontecimentos
que ocorreram no passado, a exemplo da importância da Inquisição,
dos marranos, dos conversos forçados ao catolicismo, dos nomes e
costumes dos seus descendentes, entre outros. Neste sentido,
esquecem, ou evitam estudar, as ocorrências atuais, como se os fatos
passados não continuassem infuenciando o futuro nacional. São poucos
aqueles que se dedicam ao folclore e à Cultura da Região Nordeste.
Os responsáveis por esta seleção e estudos, chegam a acentuar, por
vezes, acontecimentos sem muita importância, provindos do pretérito,
e deixam de destacar, até, acontecimentos, de maior relevância, seja
por serem contemporâneos próximos às suas vivências, seja porque
ameaçam a posição que alcançaram na sociedade onde estão integrados.
É pertinente lembrar que, na década de 1920, escreveu o Mestre dos
Apipucos (Gilberto Freyre), na crônica O Elemento Israelita,
publicada no Jornal Diário de Pernambuco:
Vai crescendo em nossas cidades do Nordeste o elemento israelita - o
que apresenta ao mesmo tempo uma vantagem e a sombra do perigo. O
perigo está nas tendências desse bom elemento para o exclusivismo:
no ser em geral, num ser que não se vincula à terra que o acolhe. No
ser um elemento móbil como uma bola de borracha. E como a bola de
borracha, fácil de dilatar-se...Na década de 1940, prossegue o
consagrado sociólogo, na crônica A Propósito de Semitismo e
Anti-Semitismo:
“Quase toda a gente conhece a frase celebre do espanhol. Eu não
creio em bruxas. Mas que elas existem, existem”. Tenho vontade às
vezes de dizer cousa semelhante com relação ao semitismo. Eu não
creio nos judeus das caricaturas anti-semíticas. Mas “que eles
existem, existem”
(conferir no livro: Crônicas do Cotidiano - a vida cultural de
Pernambuco, nos artigos de Gilberto Freire (organização) Lydia
Barros e Carolina Leão. Recife: Diário de Pernambuco, 2009, pgs. 56
e 105.
No entanto, vamos aos fatos históricos: “Antes da II Guerra Mundial,
em decorrência do anti-semitismo e das graves perseguições contra os
judeus, ocorre uma grande migração para Pernambuco, principalmente
por parte da população judaicoeuropeia. Essas famílias se instalam
de início no bairro da Boa Vista. Por sua condição geográfca, a
Praça Maciel Pinheiro se torna o reduto da colônia judaica do
Estado, representando o principal fórum de encontros e debates,
tanto por parte dos imigrantes, quanto ainda, dos pernambucanos
residentes em seus arredores. Além do português, o que mais se ouvia
ali era o iídiche, língua falada pelos judeus askenazim - aqueles
provenientes da Europa Oriental. E, nos bancos da Praça,
discutiam-se as últimas novas relativas à política, ao comércio, às
artes, à literatura, e outros assuntos. A população não judia e
menos escolarizada, residente no Recife, devido à falta de
conhecimento, costumava referir-se àqueles judeus como os russos.
Inclusive, caberia salientar o seguinte: no último andar de um
prédio, que se localiza na esquina da Travessa do Veras com a Praça
Maciel Pinheiro, viveu Clarice Lispector (1925 -1977), uma das mais
importantes escritoras do século XX, e aquela que possui o maior
número de obras traduzidas. Apesar de ter nascido na Ucrânia, ela
veio com os seus pais para o Brasil, aos dois meses de idade,
fugindo do antissemitismo. Clarice Lispector residiu, a maior parte
da sua vida, entre o Recife e Maceió, e fez questão de
naturalizar-se brasileira.”
A Praça Maciel Pinheiro, para este prefaciador, é considerada a
Ágora da comunidade hebraica recifense.
Neste sentido, penso que o Mestre de Apipucos se enganou. Os judeus
se adaptaram, muito bem, ao Brasil. As novas gerações deram, e dão,
notáveis contribuições nas áreas científcas e literárias, a exemplo
de matemáticos, físicos, médicos, economistas, cientistas políticos,
escritores, jornalistas, e outros.
Feito tal esclarecimento, pertinente será dizer que, o livro, Colcha
de Retalhos, é uma seleção dos numerosos trabalhos de Semira Adler
Vainsencher, coletados ao longo de sua brilhante carreira. Começa
com a fofura do Algodão, segue para o Artesanato Nordestino, voando
para alcançar as alturas do Boi Voador, para, então, plainar em
plena Amazônia, e aterrissar em uma imensa Vitória-Régia. Da dança
do Bumba-meu-boi, salteia, graciosamente, à terra do Cacau, do Coco,
de dar água na boca, e dançar com o leitor, além de cozinhar as
receitas da Culinária Nordestina, incluindo o pé de moleque, o bolo
de macaxeira, o mungunzá e o arroz doce. O Dendê, da escrita de
Semira, não faz mal aos estômagos
sensíveis, quando dosado pela quituteira de mão cheia que a autora
é. Aconselho ao leitor que, sem pressa, viaje neste livro, lendo e
matutando sobre a sabedoria das Legendas dos Caminhões. Depois, não
deixem de ler os ensaios começados com a letra M: Macambira, Mamona,
Mandacaru, e não deixem de assistir ao Mamulengo, e outros tantos,
porém, sem se importar com a ordem dos capítulos. Não tenham medo de
escutar o canto do Uirapuru. Está tudo muito bem socado pelo Pilão
de Monjolo. E, por fm, não venha me dizer, leitor amigo, que a moça
bonita engravidou, por gosto e conhecimento, lendo a tal estória do
Boto, que encanta as moças donzelas... Prenhos, vamos ficar, todos
nós, mas, de Nordestinidade.
O presente escrito, selecionado pela autora, é, apenas, uma amostra
dos seus trabalhos. Vocês verão que, a escrita dessa pesquisadora é
muito forte, à vista de um simples curandeiro de província. A
perspectiva contrapõe o todo, para ganhar um relevo que, cada
leitor, irá criar em seu mundo virtual, Mundo construído entre ele,
leitor, e o texto. O Retalho é, sobretudo, o somatório do nosso rico
folclore. Creio que, quando um povo começa a estudar e a contar suas
verdadeiras raízes, deixa para trás o subdesenvolvimento.
Boa leitura! Bom proveito!
Meraldo Zisman
Sociedade Brasileira de Medico Escritores (SOBRAMES/PE)
União Brasileira de Escritores (UBE/PE)
União de Médicos e Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL)
Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES)
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